segunda-feira, junho 23, 2025

#TOLERÂNCIA176 - A TOLERÂNCIA EM PAULO FREIRE

 #TOLERÂNCIA176 - A TOLERÂNCIA EM PAULO FREIRE

Tirei este trecho do livro "Por uma Pedagogia da Pergunta" (Por uma Pedagogia da Pergunta / Paulo Freire, Antonio Faundez. – Rio e Janeiro: Paz e Terra, 1985. (Coleção Educação e Comunicação: v. 15)). Paulo Freire (brasileiro) e Antonio Faundez (chileno) conversam (Mantenho integralmente a escrita no português do Brasil desta edição).

Tenho amigos e colegas (colegas "psi's" e colegas professores que reagem repulsivamente, por instinto, à palavra tolerância). Espero que leiam este trecho:

«Se não tentamos, Antonio, uma compreensão crítica do diferente, corremos o risco de, na necessária comparação que fazemos entre as expressões culturais, as de nosso contexto e as do de empréstimo, aplicar rangidos juízos de valor sempre negativos à cultura que nos é estranha.

»Para mim, esta é sempre uma posição falsa e perigosa. Respeitar a cultura diferente, respeitando a nossa também, não significa, porém, negar a nossa preferência por este ou aquele traço de nosso contexto de origem ou por este ou aquele traço do contexto de empréstimo. Uma tal atitude revela, inclusive, um certo grau de amadurecimento indispensável que alcançamos e às vezes não, ao nos expor criticamente às diferenças culturais.

»De uma coisa temos sempre de estar advertidos, no aprendizado destas lições das diferenças - a cultura não pode, com ligeireza, estar sendo ajuizada desta forma: isso é pior, isso é melhor. Não quero, contudo, afirmar que não haja negatividades nas culturas, negatividades que precisam ser superadas.

»Um exercício anterior a que me havia entregue há alguns anos no Brasil, o de me expor, como educador, às diferenças culturais do ponto de vista das classes sociais, sem que imaginasse, me preparava, em certo sentido, para a necessidade que tive no exílio de entender as diferenças culturais. Diferenças de classe e também de região. Questões 'de gosto, não apenas das cores das roupas, do arranjo da casa simples, do uso, para mim abusivo, de retratinhos nas paredes, mas também do gosto das comidas, dos temperos. A preferência, nos bailes, pelo volume exagerado no som das músicas. Diferenças marcantes na linguagem, no nível da sintaxe e da semântica. Minha longa convivência com estas diferenças me ensinou que manter preconceitos de classe diante delas seria contra-dizer funestamente a minha opção política. Me ensinou também que a própria superação das suas negatividades, exigindo uma transformação nas bases materiais da sociedade, coloca o papel de sujeito que as classes trabalhadoras devem assumir no esforço da reinvenção de suas expressões culturais.

»Mas isto já é outra conversa…

»No fundo, tudo isso me ensinou e tem me ensinado muito. Me ensinou a viver, a encarnar uma posição ou uma virtude que considero fundamental não só do ponto de vista político, mas também existencial: a tolerância.

»A tolerância não significa de maneira nenhuma a abdicação do que te parece justo, do que te parece bom e do que te parece certo. Não, não, o tolerante não abdica do seu sonho pelo qual luta intransigentemente, mas respeita o que tem sonho diferente do dele.

»Para mim, a nível político, a tolerância é a sabedoria ou a virtude de conviver com o diferente para poder brigar com o antagônico. Neste sentido, ela é uma virtude revolucionária e não liberal-conservadora.

»Olha, Antonio, o exílio, a minha experiência na cotidianeidade diferente, me ensinou a tolerância de maneira extraordinária. Este aprendizado de viver no cotidiano diferente, como já disse, começou no Chile, se estendeu aos Estados Unidos, no meu ano em Cambridge, e me acompanhou nos dez de vida em Genebra. E é impressionante como consegui, o que não foi fácil, vir propriamente me integrando ao diferente, à cotidianeidade distinta, a certos valores que marcam, por exemplo, o dia-a-dia de uma cidade como Genebra, fazendo parte de uma cultura, como a Suíça, multicultural.

»É formidável como fui aprendendo as regras do jogo, conscientemente, sem renunciar àquilo que me parecia fundamental, sem recusar o mais básico de mim mesmo e, por isso, sem me adaptar ao cotidiano de empréstimo. Assim, aprendi a lidar com o diferente que às vezes incomodava.»

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