#TOLERÂNCIA168 - TOLERAR, O PRIMEIRO PASSO PARA IR AO ENCONTRO DOS OUTROS
As circunstâncias de hoje juntaram uma olhadela na Metafísica de Aristóteles (aproxima-se a disponibilidade de tempo para a ler integralmente, e a edição com 50% de desconto na Feira do Livro surgiu plena de oportunidade), outra olhadela em "As Minhas Invenções", a autobiografia de Nikola Tesla (também com 50% de desconto), e a terceira olhadela foi para "As Sensações e as Emoções na Arquitectura", de Pedro Araújo Napoleão (ao preço pechincha de 5 euros).
A primeira frase da Metafísica diz que «Todos os homens desejam por natureza conhecer.» e logo a seguir argumenta que é a visão o sentido que melhor nos auxilia a conhecer as coisas.
Nikola Tesla, praticamente a terminar a autobiografia, afirma: «A observação deficiente é meramente
uma forma de ignorância e é responsável pelas muitas noções mórbidas e ideias tolas prevalecentes.»Pedro Araújo Napoleão, na 2.ª parte do seu livro, no capítulo "Expressão. A relação que o sujeito e o desenho estabelecem na Arquitectura", cita Rocha de Sousa (1980) e escreve: «Quando se fala de visão não se fala apenas da capacidade de olhar, essa espantosa capacidade que nos permite registar as sensações e percepções visuais. Nós podemos passar dias seguidos numa certa rua, sensíveis visualmente ao seu aspecto global, sem tomar consciência de muitos sinais e características particulares dessa parte do meio urbano. De certa maneira podemos então dizer que o nosso olhar funcionou ao nível das sensações, e mesmo das percepções, mas que não tivemos uma consciência profunda do lugar. Ver é ir ao encontro das coisas, é a coordenação dos diferentes olhares, das diferentes sensações, das diferentes percepções, das próprias memórias que nos informam os actos e as escolhas. Ver é escolher e é julgar. Ver é compreender.»
Em síntese: temos a importância do olhar (Aristóteles), a importância de observar correctamente (Tesla) e temos a motivação de olhar para ver (Sousa). Olhar as coisas e, acrescento eu, as pessoas, o Outro.
Se não olharmos correctamente, se não percepcionarmos adequadamente, como diz Tesla, ficamos à mercê das ideias distorcidas e repulsivas ("mórbidas" e "tolas", diz ele) prevalecentes. Apetece dizer que, nesta conjugação, tolerar é o primeiro passo do caminho que vai do reconhecimento da existência do Outro à aceitação de observar esse Outro de forma adequada, não deficiente. O ir ao encontro dele, do Outro, pede mais um esforço, mais uma decisão, mais um olhar não ignorante.
É mais fácil o esforço, a decisão e o olhar sobre uma coisa do que sobre um Outro. A coisa é um objecto passivo, a invenção de Tesla ou o edifício do arquitecto não se move e não se vê senão à medida do que o observador (nós) solicitamos dele e queremos ver dele. O Outro não é uma coisa, é um sujeito que também nos observa e não age passivamente à nossa solicitação, por isso , tantas vezes evitamos olhar o Outro, para não nos pormos à mercê de sermos vistos e reconhecidos por ele. Em rigor, não podemos observar o Outro sem sermos também observados por ele, e isso inquieta-nos (seja por insegurança, medo, rivalidade, sobranceria, desconhecimento; seja porque seja).
A constatação a que assim chegamos é a que encontrámos já noutros lugares desta viagem: a Tolerância, a que é positiva, pede esforço pessoal. Podemos acrescentar agora com mais clareza que pede também reciprocidade.
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