#TOLERÂNCIA175 - UMA TIA-AVÓ... INTOLERÁVEL?
São as pequeninas intolerâncias do dia-dia, em família. Que acabam em discussões passageiras, ou se suportam... tolerantemente.
Termina hoje a Feira do Livro de Lisboa. Habituei-me, ao longo dos anos, a ir escrevendo, ao longo do ano, no bloquinho de apontamentos, os livros que fico a querer comprar na Hora H da Feira do ano seguinte. Este ano, assim fiz mais uma vez.
A Feira ainda não acabou e de entre os que comprei nesta edição, na Hora H, em dois dias li a autobiografia de Nikola Tesla, o "Nós, refugiados" de Hanna Harendt (e o texto complementar de Giorgio Agamben) e certamente acabarei ainda hoje de ler o "Sobre a Leitura" de Marcel Proust. São livros pequeninos, lêem-sebem, nem precisam de ser lidos como quem devora.
É deste último que extraio este pedacinho de memória reconstruída do autor, o qual, pelos vistos, em pequeno se deliciava com as leituras, e em grande se deliciava com as memórias de ser em pequeno.
«O meu avô tinha tanto amor-próprio que teria querido que todos os pratos fossem um sucesso, e sabia demasiado pouco sobre cozinha para poder alguma vez dar-se conta de que tivessem saído mal.
Admitia sem dúvida que por vezes fosse esse o caso, muito raramente de resto, mas somente por simples efeito do acaso. As críticas sempre motivadas da minha tia-avó, implicando pelo contrário que a cozinheira não soubera fazer certo prato, não podiam deixar de parecer particularmente intoleráveis ao meu avô. Muitas vezes, para evitar discussões com ele, a minha tia-avó, depois de levar ao de leve aos lábios e provar o primeiro bocado, não dava a sua opinião, o que, de resto, nos fazia reconhecer imediatamente ser desfavorável aquela. Calava-se, mas nós líamos nos seus olhos doces uma reprovação inabalável e reflectida que tinha o dom de pôr o meu avô furioso. Rogava-lhe ironicamente que desse a sua opinião, impacientava-se com o seu silêncio, assediava-a com perguntas, exaltava-se, mas sentia-se que ele mais fácil conduzi-la ao martírio do que fazê-la confessar a crença do meu avô: que a sobremesa não tinha açúcar a mais.»
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