#TOLERÂNCIA164 - UM PERFIL TOLERANTE
Como é que se pode definir uma pessoa tolerante?
Hoje encontrei um exemplo de que gostei. Encontrei-o na edição de hoje do Jornal de Letras. Entre a página 11 e a 14, é homenageado o "editor 'inventor' de livros" José da Cruz Santos.
Dei especial atenção ao que sobre ele Vasco Graça Moura escreveu (depois explico porquê), que transcrevo já a seguir:
UM MODO ATIVO DE SONHAR Culto, tolerante e entusiasta, este homem revolucionou a edição portuguesa a partir dos anos 60. Já teria garantido, só por isso, um lugar nos anais da nossa cultura.
Mas ele foi muito mais longe. Desenvolveu empenhadamente uma relação com os agentes do processo, com os escritores, com os artistas, com os gráficos. Teve ideias de edições. Teve ideias de criações. Teve ideias de colecções e de tiragens especiais. Pôs uns em contacto com os outros. Promoveu estímulos e apoios. A pretexto de livros e de autores, encenou lançamentos e cerimoniais memoráveis. Com cada um soube falar em nome da cultura e da amizade, fazendo esse blending único que todos lhe ficamos a dever. Inventou e prossegue incansavelmente uma poética do livro. Entrega-se a cada novo projeto como se ele fosse o início do mundo. Viveu e vive intensamente nesse plano, em que interiorizou também o que é ser do Porto, viver no Porto, lutar e trabalhar no Porto, ser solidário no Porto. Soube enfrentar dificuldades de toda a ordem e não desanimar. Há 40 anos que faz assim, sem abdicar das suas fidelidades (...). Sabendo ser crítico e directo, sabe sobretudo admirar de alma e coração, apagando-se discreta e afectuosamente e deixando todo o espaço para a presença e afirmação daquilo que admira (...). Pessoalmente, devo à sua generosidade grande parte do que sou como autor e algumas das mais belas edições dos meus livros. E também algumas das mais belas cartas que recebi. E também alguns gestos de uma delicadeza inexcedível (...). Sonhos. Sei que ele detesta que o ponham na berlinda e prefere que não se fale no seu modo ativo, interactivo e conspirativo de sonhar acordado. Mas 40 anos de actividade são 40 anos de actividade e, pedindo vénia a Sebastião da Gama, posso dizer, como de uma fiel intransigência, que, com José Domingos da Cruz Santos, “pelo sonho é que vamos”.(1)Cheguei ainda a conhecer Vasco Graça Moura e tive com ele uma pequenina troca epistolar entre Abril e Novembro de 2013. Iniciada por ele!, o que muito me honrou e de que lhe fiquei sempre profundamente grato. O duplo cancro que lhe foi tirando a saúde impediu que a conversa e a escrita entre ambos pudessem ter durado mais tempo, foi pena.
Achei interessante que a segunda palavra deste texto de reconhecimento do valor especial de José da Cruz Santos fosse "tolerante" porque eu tinha (digo tinha, porque, depois de o conhecer pessoalmente, amaciei um pouco a minha imagem de VGM) a ideia de VGM ser uma pessoa contundente e... intolerante!
Talvez por isso mesmo me agrade especialmente que seja este vulto enorme da Cultura Portuguesa a dar-nos, neste pequenino texto, os componentes mais importantes do perfil da pessoa tolerante. Na minha opinião, estão todos: "culto... entusiasta... empenhado na relação com os outros... pôs uns em contacto com os outros... promoveu estímulos e apoios..." E mais 4 ou 5, que não enumero, senão faço todo o trabalho sozinho, e o que é de valor sólido e duradouro é a construção colectiva.
Identificá-los, listá-los e reflectir acerca deles é o tempo de mais outra sessão de boa Pedagogia e boa Educação da Tolerância.
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(1) Corrigi na transcrição um erro ortográfico; e mudei a escrita do AO em vigor para o anterior. Ao mudar a escrita, penso que estarei a ser mais respeitoso em relação à escrita livremente assumida pelo autor, em vida, do que os editores deste número do JL.
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