#TOLERÂNCIA170 - TOLERAR A AUSÊNCIA DE NOVIDADE
Ora aqui está uma coisa cada vez mais difícil nas sociedades em que eu e as pessoas que lêem o que eu escrevo vivemos: com tantos ecrãs (todos eles facilmente disponíveis, à distância dum simples toque do dedo indicador), com tantas notícias de última hora, com tanta publicidade agressiva: tolerar a ausência de novidades. Nem que seja preciso ir mesmo ao fim do mundo! Há-de lá estar a novidade que é preciso agora pôr à disposição dos adictos da informação (já noutra paragem desta viagem abordei o tema da dieta da informação) para os aliviar da ansiedade da dose de que se sente carência.
Cal Newport, num muito contundente livro sobre "A Concentração Máxima num Mundo de Distracções" (Actual, 2024) escreve, a páginas tantas (traduzi directamente do inglês com a ajuda do Deepl.com):
Proponho uma alternativa ao Sabbath da Internet. Em vez de programar a pausa ocasional da distracção para se poder concentrar, deve programar a pausa ocasional da concentração para ceder à distracção. Para tornar esta sugestão mais concreta, vamos partir do pressuposto simplificador de que
a utilização da Internet é sinónimo de procura de estímulos de distracção. (É claro que se pode usar a Internet de uma forma focada e profunda, mas para um viciado em distracção, esta é uma tarefa difícil). Da mesma forma, vamos considerar que trabalhar na ausência da Internet é sinónimo de um trabalho mais concentrado. (É claro que é possível encontrar formas de se distrair sem uma ligação à rede, mas estas tendem a ser mais fáceis de resistir).Com estas categorizações aproximadas estabelecidas, a estratégia funciona da seguinte forma: marque com antecedência quando vai usar a Internet e evite-a completamente fora desses horários. Sugiro que mantenha um bloco de notas perto do seu computador no trabalho. Nesse bloco, registe a próxima vez que pode utilizar a Internet. Até chegar a essa altura, não é permitida qualquer ligação à rede - por mais tentadora que seja.
A ideia que motiva esta estratégia é que a utilização de um serviço de distracção não reduz, por si só, a capacidade de concentração do cérebro. Em vez disso, é a mudança constante de actividades de baixo estímulo/alto valor para actividades de alto estímulo/baixo valor, ao menor sinal de aborrecimento ou desafio cognitivo, que ensina a sua mente a nunca tolerar uma ausência de novidade. Esta mudança constante pode ser entendida de forma análoga como enfraquecer os músculos mentais responsáveis por organizar as muitas fontes que disputam a sua atenção. Ao separar a utilização da Internet (e, por conseguinte, as distracções) está a minimizar o número de vezes que cede à distracção e, ao fazê-lo, permite que estes músculos de selecção da atenção se fortaleçam.
Repare-se no que o escritor e professor de Ciências Informáticas está a dizer: o busílis da questão não está no foco (distracção ou concentração), mas no processo (mudar constantemente duma coisa para a outra).
Em síntese: sim, façam-se pausas (da concentração e embarque-se na distracção); procure-se aumentar, aos pouquinhos, os períodos de concentração; usem-se pensamentos auto-induzidos a convencer que, na verdade, não se necessita de se ter conhecimento de tantas novidades — até porque muitas das novidades são falsas (desinformação) e dá-se tempo para que sejam filtradas e muitas das aparentes novidades sejam eliminadas.
A regulação (ou terapia, já que estamos perante comportamentos adictivos) auto-induzida habitualmente é mais fácil do que a regulação (terapia) imposta de fora.
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