#TOLERÂNCIA161 - NISTO, SOU MAIS TOLERANTE DO QUE O MEU PAI
Sou, mas não sei se é ele quem tem razão!... Digam de vossa justiça.
Hoje de manhã, em 3 lojas do centro comercial Vasco da Gama (a primeira das quais já bem perto das 11 horas), à despedida, os simpáticos empregados desejaram-me um bom fim-de-semana.Tenho a certeza, certezinha, de que o meu pai não ficaria calado e alguma coisa deste tipo ele diria: «Bom fim-de-semana?... Só se for o da semana que vem, depois do Santo António, é que este está já mais acabado do que a começar. Já reparou que já passou bem mais de metade do fim-de-semana? Por mim, desejo-lhe boa continuação deste domingo, e que Portugal ganhe logo à Espanha; e, se lhe quiser desejar um bom fim-de-semana, terei de invocar o Santo António, de Lisboa, note bem, de Lisboa!, não é o de Pádua, e então sim, que esse fim-de-semana, repito, esse fim-de-semana, o que vem depois do Santo António, lhe seja como bem desejar e aprouver!»
Pois eu, mesmo pensando o mesmo que o meu pai, não disse nada. Sorri nas 3 ocasiões (na Worten, na FNAC e no Spacio) e saí das lojas.
Se os meus interlocutores fossem alunos do ano lectivo que está a acabar? Sim, de certeza, tinha-lhes falado ao jeito do meu pai. E se não fossem? Se não fossem, duvido que os tivesse corrigido.
São «as malhas que o Império tece», diria o Poeta dos Heterónimos. As malhas são as eventuais contradições e o Império é a mente de cada um de nós.
Os professores, sobretudo os mais velhos, observam mudanças nas relações da Língua com o Pensamento e nas construções frásicas (faladas e escritas), mudanças marcadas pelo empobrecimento vocabular, o sincretismo; a banalidade e o laxismo.
Pensar exige esforço (pela enésima vez repito que o cérebro é o órgão do corpo que mais energia consome; e se consome muita energia é porque muito trabalha); e cada vez mais, logo desde pequeninas, os jeitos educativos parentais, depois continuados nas escolas, são de solicitar cada vez menos o esforço de pensar, falar e bem comunicar, tanto com as outra pessoas como consigo próprio.
Abunda, nas aulas, o remate preguiçoso dos alunos aos professores: «O 'stôr' percebeu o que eu quis dizer...» E muitos dos alunos acrescentam ainda, uns quantos bem-humoradamente, mas muitos reclamando a justeza da sua posição: «Por isso está bem o que eu disse, o 'stôr' não pode dizer que está mal.»
Nas expressões de saudação, quando duas pessoas se encontram, há uma em que eu cheguei a pensar que se tinha chegado à formulação mais simples: da original «Então, está tudo bem?», evoluiu-se para «Então, 'tá tudo bem?»; a seguir para «'Atão, tá tudo?». Eu pensava que iria ficar por aqui, mas não. Evoluiu para «'Tão, tá tudo?»; depois para «Tão, tudo?»; e ainda, machadada final, «Tudo?».
Não quero falar da culpa dos telemóveis, dos SMS, do WhatsApp, nem dos ecrãs.
Os meus alunos sabem que há na vida momentos críticos do desenvolvimento do cérebro em que este notável órgão se serve duma bem impiedosa lei: "Se não usa, corta". A velha neurofisiologia também sabia por que razão dizia que "a função faz o órgão". Da tradição walloniana (Henry Wallon, o "pai" da Psicomotricidade), sabemos quão importante é o falar nas relações entre a Linguagem e o Pensamento.
Para Wallon, a linguagem e o pensamento estão em uma relação de reciprocidade. Isso significa que a linguagem não é apenas um meio para expressar o pensamento, mas também age como um instrumento e suporte indispensável para o seu progresso e estruturação.
Por isso, confesso que estou mesmo à beirinha de reconhecer que a minha Tolerância ao laxismo da expressão verbal não é amigo do bom desenvolvimento, e do bom uso da Inteligência e da Comunicação.
A falar, falar bem, é que a gente se entende; e a falar, a falar bem, é que a gente se entende a si própria (e alimenta a sua própria inteligência).
As crianças, quando aprendem a falar, naturalmente se dispõem a aprender tudo, mesmo tudo, até as palavras mais difíceis. Que os pais e os educadores aproveitem esse momento sensível em que todas as crianças se empenham com prazer, saboreando cada nova aprendizagem. Não desdenhemos das capacidades de aprendizagem das crianças! Às tantas, o que não suportamos é o esforço das nossas obrigações educativas. Temos pressa e não toleramos o tempo natural das aprendizagens.
Já há muito que anda por aí, famosa, a frase de «O Inferno somos nós». É, os laxistas, os relaxados, os preguiçosos somos nós.
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