#TOLERÂNCIA 59 - A TOLERÂNCIA NA SABEDORIA ORIENTAL
Há pouco pousei os olhos no precioso livrinho de cerca de 750 páginas, um daqueles muito úteis dicionários, escritos em francês, da editora Robert Laffont: "Dictionaire de la sagesse orientale, bouddhisme - hindouisme - taoïsme - zen", publicado 1986 (original alemão) e 1989 (tradução francesa).
Que fui eu procurar? Pois claro, a Tolerância. É claro, não a encontrei...
Fui à procura de ajuda, noutros livros e na Internet.
Pois, parece que não há um conceito específico nesta "Sabedoria Oriental" que possa ser o equivalente directo da Tolerância... Será que procurei mal? Será que na mundividência da Sabedoria Oriental a Tolerância não ascende, enquanto atitude ou comportamento humano a uma ideia ou conceito que justifique uma entrada no dicionário? Bem, são perguntas que ficarão na minha mente a ruminar. Pode ser que noutro momento do futuro voltem à consciência e delas me ocupe.
Para já, parece que nas tradicões orientais a Tolerância está ligada, ou está implícita, a conceitos que põem o acento tónico na harmonia, na compaixão (ui!, palavra de tradução difícil...) e na aceitação das diferenças. Parece também que estes princípios da Sabedoria Oriental não se satisfazem com a Tolerância passiva, mas convidam à atitude activa de respeito e de gentileza para com os Outros. Os outros seres, não apenas os humanos.
Entre várias fontes consultadas, a ideia (conceito ou princípio) que mais vezes surgiu quando pesquisei sobre a Tolerância foi a de "Mettâ-Sutta", que é um conceito budista directamente ligado à bondade.
O conceito é apresentado na forma de uma reza ou oração, qualificada como popular. Encontrei versões diferentes. Optei por uma sem qualquer critério que não fosse o de me parecer fidedigna e de ser fácil traduzi-la para português.
Aqui está ela:
Eis o que deve fazer o homem que é hábil na busca da felicidade
E quer viver em paz:
Ser capaz, íntegro, perfeitamente íntegro
Conciliador, gentil e humilde.
Satisfeito com tudo e suportando facilmente a sua sorte
Que ele não se deixe dominar pelos assuntos mundanos e viva com simplicidade
Que os seus sentidos sejam controlados e que ele permaneça prudente
Não seja arrogante nem ávido de prazeres mundanos.
Que ele não faça nada que seja mesquinho
E que possa ser desaprovado pelos sábios
Que todos os seres vivam em alegria e segurança
Que todos sejam felizes
Que todos os seres, sem exceção
Os fracos e os fortes
O gordo e o alto
O médio, o pequeno, o grosseiro
Sejam visíveis ou invisíveis
Quer estejam perto ou longe
Quer já tenham nascido ou ainda estejam para nascer.
Que todos sejam felizes.
Para qualquer pessoa e em qualquer circunstância
Nunca enganar ou desprezar
Com ódio ou raiva
Nunca desejar mal aos outros
Como uma mãe ama o seu único filho
Pronta a fazer qualquer sacrifício para o proteger
Assim, com um amor que não tem limites
Devemos acarinhar todos os seres
Devemos cultivar uma bondade ilimitada para com o mundo inteiro
Para cima e para baixo, bem como horizontalmente
Sem ódio ou inimizade
De pé ou a andar, sentados ou deitados
E enquanto a mente permanecer lúcida e desperta
Esta atenção correta deve ser desenvolvida
Pois é a forma suprema de viver.
Não te percas em falsas visões
Cultivar uma vida virtuosa, ter uma visão interior profunda
Afastarmo-nos dos apetites dos sentidos
Então não haverá mais renascimento neste mundo.(1) (2)
Pronto, estou apenas a ir um pouco mais fundo na minha permanente necessidade: entender mais, entender mais profundamente, qual Ícaro buscando o sonho duma universalidade. Sim, consciente de que, num certo sentido, buscar a Universalidade é desvalorizar a Diversidade — lá estou eu a meter um pezinho da Ambiguidade (ver #TOLERÂNCIA 51)
(1) https://bouddhanews.fr/le-metta-sutta/
(2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com
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