#TOLERÂNCIA 37 - EXISTE UMA INTOLERÂNCIA MANSA?
Acho que sim, acho que existe uma intolerância mansa. É como se diz em relação, por exemplo, às mentiras: há mentiras mansas, aquelas que são ditas por amor, para não magoar, para não preocupar. Poderei estar a deixar-me ser levado por estereótipos e preconceitos sociais e culturais, mas não é por isso que deixo de dizer que as mais usadoras e abusadoras das mentiras mansas são as mães; as mães e as esposas. Pronto, sobretudo as mães.
A Tolerância não é daquelas coisas que, uma vez a ela chegada, nela se fica para sempre. Nem a Tolerância é uma coisa que, depois de bem estudada e bem conhecida, obriga o sujeito que a conhece a ser-lhe sempre fiel cumpridor.
A este propósito, trago hoje o, digamos, desabafo que uma pessoa insuspeita no tema dos afectos e motivações conscientes e conscientes que conduzem os comportamentos humanos um dia escreveu.
A pessoa insuspeita é Sigmund Freud, o fundador da Psicanálise.
Numa carta a Pfizer, em 26 de Fevereiro de 1911, ele, a propósito das divergências e dissidências com alguns dos seus seguidores, escreve assim: «Sempre tive como princípio ser tolerante e não exercer autoridade, mas na prática isso nem sempre funciona. É como os carros e os peões. Quando comecei a andar de carro [carruagem], ficava tão zangado com a falta de cuidado dos peões como costumava ficar com a imprudência dos condutores [cocheiros].»(1)(2)
«Mas na prática isso nem sempre funciona». Ora bem, este não é o caso em que alguém consegue encontrar o momento em que diz «Basta!» à tolerância, e que diz, justamente, que não há espaço ou oportunidade para mais tolerância. É mais um reconhecimento de que a pessoa falha. Talvez se pudesse ser um pouco mais tolerante, mas, cá está, errar é humano, ou, doutra maneira, «Uma pessoa não é de ferro.»
Não, não perdemos a coerência de nós para nós mesmos se tivermos estas, digamos, falhas mansas na Tolerância; nem se justifica entrarmos em processos de autorrecriminação e perda de auto-estima por causa delas. Somos humanos e, repito, errar é humano. Negá-lo é negar a nossa própria humanidade, e isso é que é perigoso! Põe-nos por tortuosos caminhos de distorção do bom-senso e da percepção correcta da realidade que nos rodeia ou em que participamos.
Há também uma Pedagogia e uma Educação para este género de falhas humanas, que têm a ver com o que se costuma dizer ser "perder a paciência". Há uma Pedagogia Preventiva e uma Pedagogia Correctiva. Uma e outra podem ser treinadas, podem ser objecto de aprendizagem. Muitas vezes não basta a consciência da falha e do arrependimento de a ter cometido. O que certamente mais importará é o jeito e a eficácia da sua reparação.
Pedagogia Preventiva e Pedagogia Correctiva da falência extemporânea da Tolerância, do tal perder a paciência — temas para um ou dois dos mais 300 escritos que ainda me falta compor no desafio que impus a mim próprio.
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(1) Freud, Sigmund; Pfister, Oskar. Sigmund Freud Psychoanalysis and Faith: The Letters of Sigmund Freud and Oskar Pfister (p. 47). Porirua Publishing. Kindle edition.
(2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com
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