quarta-feira, fevereiro 19, 2025

#TOLERÂNCIA 52 - A TOLERÂNCIA E O GOVERNO DOS POVOS

#TOLERÂNCIA 52 - A TOLERÂNCIA E O GOVERNO DOS POVOS

Recebi ontem a edição da NG History de Março-Abril 2025. Um dos 4 títulos secundários da capa diz assim: "O conquistador persa tolerante, rei Ciro, o Grande". Previ logo um tempinho hoje para ver o texto, ler o artigo.

Mesmo antes de o ler, e tendo na cabeça coisas que já escrevi neste caminho, verifico novamente o que, como muitos outros também o fizeram, que a acção vem antes da palavra. Lá para trás, eu disse que a palavra tolerante é de invenção recente, mas o comportamento de tolerância é tão velho quanto os grupos humanos, as relações entre as pessoas e entre os grupos de pessoas.

Já agora, a propósito das pessoas e dos grupos, ainda hoje falei numa das minhas turmas das relações intra-grupais (dentro de cada grupo) e das relações inter-grupais (entre os grupos), umas e outras sempre pedindo comportamentos tolerantes, mesmo que de formas diferentes, mais do que naturezas diferentes. Mas adiante.

O autor do texto "Ciro, o Grande ", Jorge Pisa Sánchez, apresenta Ciro como o fundador do do império persa, seis centenas de anos antes da Era Cristã, e o subtítulo do artigo diz que as fontes documentais da Grécia Antiga apresentavam os reis da Pérsica, todos, como déspotas implacáveis, excepto Ciro, que eles elogiavam como líder modelo..

O texto fala da Tolerância de Ciro, o Grande, como sendo uma característica marcante do seu reinado. Procuro na Internet, aqui e ali, afinam praticamente todos pelo mesmo diapasão: o respeito dos ritos e credos religiosos e o respeito pelos costumes dos povos conquistados e das populações submetidas.

No artigo, o autor afirma que Ciro acreditava que permitir que as culturas locais mantivessem suas tradições e práticas religiosas contribuía para a estabilidade e a paz em seu vasto império. Num dos parágrafos lemos assim: «Xenofonte afirma que o grande rei exortou os seus súbditos, dizendo: “Ao lado dos deuses, porém mas mostrai respeito também por toda a raça dos homens pois eles continuam em sucessão perpétua". Esta era uma indicação das qualidades humanitárias de que o exaltaram tanto aos olhos do historiador grego.»

O famoso Cilindro de Ciro, encontrado em 1879 no Templo de Marduk, na Babilónia, pelo arqueólogo assírio Hormuzdd Rassam, é amplamente reconhecido — inclusivamente, pelas Nações Unidas —, como a primeira carta dos Direitos Humanos, sendo um testemunho concreto que chegou aos nossos dias do compromisso do rei Ciro com a justiça e a tolerância, ao prometer a liberdade e o respeito para todas as nações sob seu domínio.

Numa versão inglesa que quero tomar como fidedigna, Ciro faz escrever assim na argila do Cilindro: «Devolvi aos seus lugares as imagens dos deuses que aí residiam e deixei-as habitar em moradas eternas. Reuni todos os seus habitantes e devolvi-lhes as suas habitações.»(1)

Não serei exageradamente especulativo se disser que que os grupos humanos, em geral, entendem a necessidade da liderança dos grupos, e tais grupos, na agregação de pessoas que os constituem, conformam-se a ela, sobretudo se sentirem que têm condições para proverem ao seu sustento material, agirem em consonância com as suas tradições, ritos e práticas culturais, passadas de geração em geração, e sentirem que as suas opções de crenças e práticas espirituais e religiosas são respeitadas.

Num tempo em que os reis — os verdadeiros, os das chamadas Casas Reais — são cada vez menos poderosos, no sentido de serem cada vez menos influentes nas decisões de governação das suas nações e dos seus países, vamos assistindo, em nações e países formalmente republicanos, ao aparecimento de "reis" e "imperadores" sem ceptros reais, tão ou mais déspotas do que aqueles reis persas que os historiadores da Grécia Antiga falaram e opuseram a Ciro, o Grande.

Por que razão chegam líderes déspotas assim ao governo dos Povos e das Nações? Foi porque a Educação falhou lá atrás, nos anos da escola, na formação humanística e dos valores de convivência social? Será que a Educação não falhou, mas, entretanto, há sempre um pequeno número de indivíduos "imunes" à influência da Educação, que se alcandoram à liderança política dos grupos humanos? Como pode a Pedagogia e a Educação fazerem, digamos, preventivamente, enquanto se é pequeno, para que sejam os "bons" cidadãos a liderarem a Governação?

Não sei... Tenho de continuar a caminhar, talvez lá mais para a frente tenha algum esclarecimento ou iluminação desta questão.

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(1) https://www.livius.org/sources/content/cyrus-cylinder/cyrus-cylinder-translation/

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