#TOLERÂNCIA 49 - PARA UMA MAIOR TOLERÂNCIA PRECISAMOS... DE MAIS TURISMO?
Passei a andar com uma bracelete da Palestina no pulso esquerdo, o lugar do relógio. Até quando, não sei...
De vez em quando vou ao site da série TED, há por lá alguns vídeos interessantes para explorar nas minhas aulas.
Há poucos minutos dei com esta conferência: um palestiniano a falar de Tolerância. Reparei que eram pouco mais de 4 minutos, não custava vê-la imediatamente. Transcrevo-a a seguir, integralmente:
«Eu sou empresário de turismo e promotor da paz, mas não foi assim que comecei. Quando tinha sete anos, lembro-me de estar a ver televisão, ver pessoas a atirar pedras e pensar: "Isto deve ser engraçado". (Risos) Então fui para a rua atirar pedras, sem ter percebido que era suposto acertar em carros israelitas. Em vez disso, acabei por acertar nos carros dos meus vizinhos. (Risos) Eles não acharam piada ao meu patriotismo.
«Isto é uma foto minha com o meu irmão. O pequenito sou eu e sei o que estão a pensar: "Eras tão fofinho, que raio aconteceu?" Mas o meu irmão, que era mais velho, foi detido quando tinha 18 anos, levado para a prisão por ter atirado pedras. Foi espancado quando se recusou a confessar que tinha atirado as pedras, tendo acabado com lesões internas que lhe causaram a morte pouco depois de ter sido libertado.
«Eu fiquei furioso, amargurado e só queria a vingança.
«Mas isso mudou quando eu tinha 18 anos. Decidi que precisava de hebraico para arranjar trabalho. Ao estudar hebraico naquela sala, foi a primeira vez que conheci judeus que não eram soldados. Ficámos ligados por coisas pequenas como o meu gosto por música "country", o que é estranho para palestinianos. Mas também foi aí que me apercebi de que temos um muro de raiva, de ódio e de ignorância que nos separa. Decidi que o importante não é o que me acontece, o que é realmente importante é como lido com isso. Assim, decidi dedicar a minha vida a derrubar os muros que separam as pessoas.
«Faço-o de muitas formas. Uma delas é o turismo, mas também os "media" e a educação. Talvez estejam a pensar: "A sério? O turismo pode mudar as coisas?" Se pode derrubar muros? Sim. O turismo é o melhor modo sustentável de derrubar esses muros e de criar um modo sustentável de nos relacionarmos uns com os outros e criar amizades.
«Em 2009 fui o co-fundador da Mejdi Tours, uma empresa social que procura ligar as pessoas — a propósito, com dois amigos judeus. Criámos um modelo. Por exemplo, em Jerusalém, tínhamos dois guias turísticos, um israelita e outro palestiniano, a orientarem as visitas em conjunto. A contarem a história e a narrativa, a arqueologia e o conflito de perspetivas completamente diferentes. Lembro-me de organizar uma viagem com um amigo chamado Kobi para uma congregação judaica de Chicago — a viagem foi em Jerusalém — e levámo-los a um campo de refugiados palestinianos. Comemos lá uma comida fantástica. Já agora, esta é a minha mãe. Ela é porreira. Aquilo é comida palestiniana, chamada "maqluba". Significa "virada do avesso". É cozinhada com arroz e frango, e vira-se ao contrário. É a melhor refeição de sempre. E vamos comê-la em conjunto. Depois tivemos uma banda conjunta, com músicos israelitas e palestinianos, e fizemos danças do ventre. Se não souberem fazer eu depois ensino-vos. Mas quando saímos, ambos os lados ficaram a chorar porque não queriam que nos fôssemos embora. Três anos depois e essas relações ainda existem.
«Pensem comigo: Se os mil milhões de pessoas, que viajam internacionalmente todos os anos, fizessem isto — em vez de andarem de autocarro de um lado para o outro, de um hotel para outro, a tirar fotografias das janelas dos autocarros, a pessoas e culturas — se se relacionassem realmente com as pessoas…
«Sabem, eu lembro-me de ter levado um grupo muçulmano do Reino Unido. a casa de uma família judia ortodoxa, a assistir ao primeiro jantar de sexta-feira, aquele jantar de "Shabat", e a comer "hamin" em conjunto, que é uma comida judaica, um estufado, Acabaram por perceber, pouco depois, que há centenas de anos, as suas famílias tinham vindo do mesmo sítio no Norte de África. Isto não é uma foto de perfil para o vosso Facebook. Não é turismo de catástrofes. É o futuro das viagens. Convido-vos a juntarem-se a mim, a mudar a vossa viagem. Estamos agora a fazê-lo em todo o mundo, desde a Irlanda até ao Irão e à Turquia. Vemo-nos a ir a todo o lado para mudar o mundo. Obrigado.»
A conferência é de Março de 2014, quer dizer, tem praticamente 11 anos. O perfil de apresentação do autor começa por dizer que «Aziz Abu Sarah é um ativista palestiniano com uma abordagem invulgar para a manutenção da paz: Ser turista. O bolseiro TED mostra como simples interações com pessoas de diferentes culturas podem corroer décadas de ódio. Começa com palestinianos a visitar israelitas e vai ainda mais longe…»
Não vou, para já, pensar em mais nada, não vou fazer nenhuma crítica ou julgamento... Apenas me parece que estes quatro minutos e meio de fala, em que se fala de palestinianos, judeus, muçulmanos, ortodoxos, música, espancamento, morte, ódio, raiva, ignorância, educação, história, conflito, dança, comidas tradicionais, interacção pessoal, etc., bem, esta fala, que pode ser vista e revista sem obrigar a muito tempo e esforço, justifica perfeitamente uma sessão de dinâmica de reflexão em grupo.
Também já escrevi ao Aziz (ele tem agora 44-45 anos), se ele me responder, pode ser que aconteça uma aula de Psicologia entre ele e os meus alunos. Estou de boa fé. Convicto de que é preciso tentar tudo para aproximar as pessoas, para que vivam vencendo ódios, raivas e rivalidades; e com mais respeito e Tolerância. Quando o Aziz responder, aqui darei notícia.
Ah! O título deste escrito é o título da conferência do Aziz no TED.(1)
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(1) https://www.ted.com/talks/aziz_abu_sarah_for_more_tolerance_we_need_more_tourism
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