terça-feira, fevereiro 11, 2025

#TOLERÂNCIA 44 - SHOAH, NAZISMO, ACEITAÇÃO

 #TOLERÂNCIA 44 - SHOAH, NAZISMO, ACEITAÇÃO

Vi hoje à hora do almoço o 5.º e último episódio da brilhante série

A série estrutura-se à volta dos testemunhos de 44 sobreviventes do campo de concentração e extermínio de Auschwitz. Os testemunhos foram recolhidos em 2006, a série foi agora lançada publicamente, por ocasião do 80.º aniversário da libertação do campo, em 27 de Janeiro de 1945.

O primeiro episódio é "A Perseguição"; o segundo, "A Deportação"; o terceiro, "O Campo", o quarto,
"O Extermínio"; e o 5.º, "Depois de Auschwitz".

Já li muito e vi muito (entre filmes, documentários e séries) acerca de Auschwitz, outros campos de concentração e extermínio; a perseguição aos judeus, o antissemitismo; e o Shoah (Holocausto).

Visitei, com colegas professores e grupos de alunos, os campos de concentração de Auschwitz (Polónia) e de Natzweiler-Struthof (França); e proporcionei a cerca de 100 alunos a oportunidade de falarem, via Internet, com a neerlandesa Nanette Blitz Konig (que domina muito bem o português do Brasil porque vive lá há muitos anos).

A minha curiosidade especial ao ver esta série da realizadora francesa Catherine Bernstein estava especialmente ligada ao tema da Tolerância, que agora mantenho no centro das minhas motivações pedagógicas e educativas.

Posso ter falhado uma frase ou uma palavra, mas penso que nem uma vez algum dos sobreviventes, e a própria narradora, falou de tolerância. Pois, de facto, não há nada que possa ser tolerado, tal a intensidade hedionda da bem deliberada, bem planeada e bem executada acção de extermínio levada a cabo por Hitler, os seus militares e a ambiência de intolerância que grassava na sociedade alemã daquela altura.

Para a minha especial motivação, retive para guardar aqui dois pormenores, ambos do último episódio (precisamente aquele em que eu punha mais expectativas de que o tema da tolerância viesse à fala dos sobreviventes):

— o primeiro é o testemunho dum dos sobreviventes, que diz acabou por se empenhar na realização de palestras por todo o lado, para dar testemunho vivo do que foi o Holocausto e os campos de concentração e extermínio. É curioso que ele tivesse vindo a tomar consciência do que, no documentário, veio a dizer mais ou menos assim: eu, primeiro, pensava que estava a falar de antissemitismo e que era isso que era importante falar; depois percebi que o que era importante falar era de racismo; até que finalmente percebi que o que era importante falar era da aceitação do Outro, de aceitá-lo como ele é — mas com uma condição: que o Outro também aceite que eu seja como eu sou.

Aqui está, é esta uma proposta-chave de lição, de Pedagogia e Educação da Tolerância. O que confirma muito do que foi ficando escrito nos anteriores 43 apontamentos desta saga.

— o segundo é o testemunho duma sobrevivente que nos diz que houve judeus que, quando regressaram às suas aldeias na Polónia, foram mortos pelos aldeãos polacos porque eles já se tinham apropriados dos seus bens (penso que estava a falar de terras, casas e pertences pessoais) e não queriam devolver tais coisas. (Veio-me à cabeça o romance "Os Loucos da Rua Mazur" de João Pinto Coelho, penso que ele compreenderá porquê)

Este segundo testemunho traz-me ao pensamento, outra vez, o menino cantor da aldeia polaca, que voltou à aldeia muitos anos depois, e se juntou aos aldeãos à saída da missa. Servindo-se duma tradutora, Claude Lanzmann, a certa altura, pergunta aos aldeãos se sentem a falta dos judeus e os aldeãos responde-lhe que sim. Depois faz-lhes a pergunta que acaba por destapar o milenar antissemitismo: «Porque é que isto tudo aconteceu aos judeus?» Nas respostas atropelaram-se as razões dos judeus serem os mais ricos, de polacos terem morrido (parece que por causa dos judeus), e porque foram os judeus que há 2000 anos denunciaram Jesus Cristo. O plano cinematográfico final desse encontro à porta da igreja, em que aos poucos o rosto do velho menino de linda voz vai ocupando o espaço todo da cena, o espectador vê como a apreensão invade o rosto dele, certamente por tomar consciência do ódio intolerante que ressurgia.

O 5.º e último episódio da série acaba com a realizadora a perguntar a Simone Weill — prisioneira de Auschwitz e que, muitos anos depois, venceu as primeiras eleições para a presidência do Parlamento Europeu realizadas por sufrágio universal direto, em 1979, exercendo o cargo de presidente entre os anos de 1979 e 1982 — que mensagem é que ela gostaria de deixar aos netos. Simone Weil pensou e não encontrou resposta. Olhar o rosto dela deixa-nos presos na angústia de perceber o seu significado: é que é difícil responder, não há respostas satisfatórias, não é possível tomar a Paz e o Bem-Estar como garantidos; e que a luta pela Tolerância, a Aceitação, a Compreensão, a Convivência e a Reciprocidade não pode abrandar, já que nada está garantido para o Futuro. Que os netos podem vir a sofrer; e que os netos também se terão de empenhar na luta pela Tolerância, a que promove o Bem-Estar, a Paz e a Justiça.

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