#TOLERÂNCIA 38 - NÃO À TOLERÂNCIA PARA OS ATEUS
Se o título deste escrito fosse "Não há tolerância com os ateus" o pensamento seria diferente?
Não, no fundo, não. Outra coisa: há diferença entre escrever esta frase no século XVII ou no século XXI? Não vou responder, vou apenas trazer algumas informações e reflexões para se pensar no assunto.
Quem escreveu «Por fim, aqueles que não devem de forma alguma ser tolerados – os que negam a
existência de Deus. As promessas, os pactos e os juramentos, que são os vínculos da sociedade humana, não devem ser mantidos com um ateu. A supressão de Deus, ainda que apenas em pensamento, destrói tudo; além disso, aqueles que por seu ateísmo solapam e destroem toda religião não podem, Pretextando religião, reivindicar para si o privilégio da tolerância. Quanto às outras opiniões práticas, embora não absolutamente isentas de erros, se não tendem a estabelecer uma dominação sobre os outros, ou impunidade civil para a igreja em que são ensinadas, não há razão para que não devam ser toleradas.»(1) foi John Locke (29 de agosto de 1632 – 28 de outubro de 17049).Considerado como o Pai do Liberalismo, John Locke tornou-se sensível à Tolerância quando saiu de Inglaterra e foi para a Holanda (onde se exilou devido a suas ideias políticas.). Fez-lhe bem, na verdade, como faz bem sair de sua casa, da sua terra, do seu país — como sempre advogou o Padre António Vieira —, e foi conhecer outro país, outra dinâmica social, cultural e religiosa.
É precisamente a partir da sua experiência pessoal na Holanda que John Locke escreve a sua célebre "Carta sobre a Tolerância". Ele é claro quanto à intolerância para com os ateus, mas o que ele pensa também acerca da Tolerância em relação aos católicos merecerá que lá mais para a frente eu lhe dê alguma atenção.
Teve um condão, a Carta: na separação entre os poderes do Estado e os poderes da Igreja. Nessa medida, deu um contributo importante para a universalidade dos direitos e dos valores, direitos e valores que podem ser encontrados em opções políticas e religiosas diferentes.
Se a assumpção da "Não Tolerância aos ateus" fosse proclamada hoje, certamente o limite da Tolerância recairia sobre os autores e defensores desta intolerante afirmação. Volto a Camões: «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.»
É importante ter consciência da data e do tempo histórico, e das condições, em que a Carta foi escrita: em 1689, na Holanda; e anonimamente. Por que razão anonimamente? Seria porque admitir a tolerância religiosa, ou político-religiosa, era ainda... intolerada?
Seguramente o que é mais antigo de tudo no que à Tolerância na história dos grupos humanos diz respeito, mesmo que a História deles não tenha guardado registos, são os comportamentos de Tolerância — aconteciam simplesmente quando a bondade e a vontade das pessoas faziam que acontecessem. Só muito mais tarde o conceito de Tolerância surgiu e foi referido ou usado como exemplo ou forma de Valor, ou Direito, ou Princípio, ou Ideal, ou Virtude, ou...
Quer parecer-me, com o que aqui tenho tenho deixado escrito acerca da minha viagem pelo mundo da Tolerância, que John Locke, o tempo (século XVII) e o lugar (Europa) em que ele viveu, estão no âmago do momento do surgimento, digamos, oficial da Tolerância como objectivo social, político e religioso a atingir. Terá sido, não sei, vou investigar melhor, a partir daí que a Tolerância terá começado a constituir-se também como conceito jurídico que a Lei deveria passar a consagrar.
#tolerância, #tolerance, #Tolerancia, #tolérance, #tolleranza, #toleranz, #tolerantie, #宽容, #寛容, #관용, #सहिष्णुता , #סובלנות, #हष्णत, #Ανοχή, #Hoşgörü, #tolerans, #toleranță, #толерантность, #التسامح,
Sem comentários:
Enviar um comentário