sexta-feira, fevereiro 28, 2025

#TOLERÂNCIA 61 - A EDUCAÇÃO DO COMPANHEIRISMO DÁ FRUTOS

 #TOLERÂNCIA 61 - A EDUCAÇÃO DO COMPANHEIRISMO DÁ FRUTOS

O livro "Os filhos de Atena, intelectuais gregos na era de Roma: 250 aC - 400 dC", de Charles Freeman (tenho a edição digital, em inglês, na edição de 2023), é muito interessante.

O capítulo 8 intitula-se "O filósofo e biógrafo: Plutarco (c. 46 dC - depois de 119 dC), e logo a primeira frase do capítulo diz que «Plutarco é talvez a figura mais apelativa de todas de que este livro fala».

A meio do capítulo lê-se assim: Quando se parte para a ação, é essencial abordar com cuidado mesmo

as tarefas mais simples. É igualmente útil ter um mentor, sob a forma de um político que já tenha conquistado a estima pela sua oratória e virtude. A generosidade na partilha de tarefas consolida as relações e acaba por trazer muito mais benefícios para a cidade. Plutarco conta a história de como, quando era jovem, ele e um colega iam ser enviados numa embaixada. Como o colega se atrasou, Plutarco foi sozinho e completou a missão com sucesso. Quando regressou, o pai disse-lhe para dizer que o colega tinha efectivamente ido com ele, para não humilhar o retardatário. O objetivo principal é “assegurar a concórdia e a amizade perpétuas entre os seus semelhantes e eliminar toda a espécie de conflitos, dissensões e hostilidades”. A tolerância, mesmo em relação aos cidadãos mais difíceis, é preferível à discórdia social.(1)

Este parágrafo vale uma aula, vale, por si só, uma sessão de trabalho acerca da tolerância: o pai (na linha do que diz João dos Santos, que «Educar é oferecer-se como modelo»), sensato e avisado com a própria experiência pessoal, procura incutir no filho os valores da compreensão, do companheirismo, da solidariedade e da tolerância.

Esta é a educação autêntica dos mais novos, a que sabe ir deitando sementes em terreno que ainda está nos seus verdes anos; e em que não se valorizam os sucessos imediatos, pelo contrário, valorizam-se os sucessos mais preciosos, mais distantes, que têm a ver com o espírito de concórdia entre os homens. ... generosidade na partilha...

É a tal educação feita sem pressas, pausadamente, em que o que menos importa é o efémero sucesso individual, o que importa é valorizar o companheirismo e a tolerância. Até podemos dar-nos a liberdade de imaginar o pai de Plutarco dizer assim ao filho, inspirando o aparecimento do famoso provérbio africano: «Filho, sozinho foste mais depressa, mas juntos vocês irão mais longe. Pensa nisto, querido filho: "A generosidade na partilha de tarefas — entre ti e o teu colega — consolida as relações — entre vocês os dois — e acaba por trazer muito mais benefícios para a cidade — que somos todos nós

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(1) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

#TOLERÂNCIA 60 - TOLERÂNCIA E CARNAVAL

 #TOLERÂNCIA 60 - TOLERÂNCIA E CARNAVAL

ado popular português mais conhecido é o que diz que "No Carnaval ninguém leva a mal". E com a tradicional tolerância de ponto, a que até o austero 1.º-ministro Cavaco Silva não resistiu, podemos dizer que "No Carnaval, a folia é geral e a tolerância é oficial."

Não, não vou falar das origens culturais e antropológicas do Carnaval, quero apenas manter o foco no que, no âmbito do caminho que estou trilhando, pode ligar o Carnaval à Tolerância.

O que vou listar não tem nada a ver com as 95 teses de Lutero, e mesmo que eu tivesse essa presunção, cá está: no Carnaval ninguém leva a mal.

  1. O Carnaval é, nos países em que é celebrado (penso que são os países de tradição católica e de forte influência europeia ocidental), a festa social e cultural do ciclo anual que, por um lado, mais excessos comportamentais exibe e também a que mais encontra nas pessoas a atitude da Tolerância.
  2. Pessoas felizes são mais tolerantes, logo, se mais satisfação (social, económica, profissional; de saúde pessoal) for proporcionada às pessoas, elas tornam-se mais tolerantes.
  3. O Carnaval é uma oportunidade de fazer a experiência de afinação dos limites dos excessos, e dos limites da Tolerância.
  4. Se a folia for livre, e o respeito for lei, o Carnaval é sucesso que nem sei! (De resto, esta tese eu plagiei, no Instagram encontrei — mas só a primeira parte!, até "lei")
  5. O tempo do Carnaval é curto, não podia ser doutra maneira, os excessos têm de ser sempre sol de pouca dura, no fundo é assim com todas as festividades,(1) os grupos sociais não aguentam funcionar sempre no vermelho. Mas o tempo do Carnaval mostra onde a intolerância pode estar reprimida e dá pistas para estratégias de promoção da Tolerância.(1)
  6. No Carnaval, a fantasia cobre o rosto e revela a alma. Desta ou doutra maneira, muita gente por aí diz a mesma coisa. No fundo, esta tese é irmã gémea da tese n.º 5.
  7. Quem não tolera o frevo(2) alheio, não dança no Carnaval. Também cacei esta tese aí pela Net. Talvez seja uma provocaçãozinha aos indefectíveis do samba, os que professam radicalmente que Carnaval é Samba. Seja como seja, esta tese deve fazer jurisprudência a tantas outras rivalidades que por todo o Mundo vão espicaçando a Intolerância e desafiando a Tolerância.
  8. Carnaval é dissolvência, Tolerância é excelência, Respeito é essência. Vem-me à cabeça os excessos a que chegaram algumas praxes académicas.
  9. Se o Carnaval é inebriante canção, a Tolerância é prudente refrão. Quem quiser, canta, goste ou não da canção; quem não quiser, deixa-se ficar quietinho ou passa ao lado, procura outra reinação.
  10. Carnaval salutar é fácil tolerar. Perverter o Carnaval, fazendo dele oportunidade doutras coisas que não sejam as ancestrais folias pagãs, é estragar a festa e a alegria que as pessoas nele procuram. (É, eu não podia deixar de fazer uma referenciazinha, por muito ao de leve que fosse, ao âmago antropológico da folia carnavalesca).

Fico-me por estas 10 teses, que, afinal, se aparentam mais em número com as Tábuas de Moisés do que com as Folhas de Papel de Lutero.

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(1) Talvez a celebração que mais se tem abastardado seja o Natal, muitas cidades estão já a preparar o Natal no início de Outubro! E porquê? Porque o Natal é cada vez mais uma "celebração" comercial, em que muito dinheiro se gasta, muito de tudo se consome — é a grande oportunidade de negócio para os comerciantes, sejam as grandes lojas sejam os retalhistas, há que esmifrar o subsídio de Natal que, afinal, tanto, ao longo do ano, custou a ganhar aos cidadãos-consumidores.

(2) Segundo o Livro de Registros das Formas de Expressão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do Brasil, o frevo é “uma forma de expressão musical, coreográfica e poética, enraizada no Recife e em Olinda, no estado de Pernambuco”. É Património Cultural Imaterial Brasileiro desde 2007, e da Humanidade desde 2012.

quarta-feira, fevereiro 26, 2025

#TOLERÂNCIA 59 - A TOLERÂNCIA NA SABEDORIA ORIENTAL

 #TOLERÂNCIA 59 - A TOLERÂNCIA NA SABEDORIA ORIENTAL

Há pouco pousei os olhos no precioso livrinho de cerca de 750 páginas, um daqueles muito úteis dicionários, escritos em francês, da editora Robert Laffont: "Dictionaire de la sagesse orientale, bouddhisme - hindouisme - taoïsme - zen", publicado 1986 (original alemão) e 1989 (tradução francesa).

Que fui eu procurar? Pois claro, a Tolerância. É claro, não a encontrei...

Fui à procura de ajuda, noutros livros e na Internet.

Pois, parece que não há um conceito específico nesta "Sabedoria Oriental" que possa ser o equivalente directo da Tolerância... Será que procurei mal? Será que na mundividência da Sabedoria Oriental a Tolerância não ascende, enquanto atitude ou comportamento humano a uma ideia ou conceito que justifique uma entrada no dicionário? Bem, são perguntas que ficarão na minha mente a ruminar. Pode ser que noutro momento do futuro voltem à consciência e delas me ocupe.

Para já, parece que nas tradicões orientais a Tolerância está ligada, ou está implícita, a conceitos que põem o acento tónico na harmonia, na compaixão (ui!, palavra de tradução difícil...) e na aceitação das diferenças. Parece também que estes princípios da Sabedoria Oriental não se satisfazem com a Tolerância passiva, mas convidam à atitude activa de respeito e de gentileza para com os Outros. Os outros seres, não apenas os humanos.

Entre várias fontes consultadas, a ideia (conceito ou princípio) que mais vezes surgiu quando pesquisei sobre a Tolerância foi a de "Mettâ-Sutta", que é um conceito budista directamente ligado à bondade.

O conceito é apresentado na forma de uma reza ou oração, qualificada como popular. Encontrei versões diferentes. Optei por uma sem qualquer critério que não fosse o de me parecer fidedigna e de ser fácil traduzi-la para português.

Aqui está ela:

Eis o que deve fazer o homem que é hábil na busca da felicidade
E quer viver em paz:
Ser capaz, íntegro, perfeitamente íntegro
Conciliador, gentil e humilde.
Satisfeito com tudo e suportando facilmente a sua sorte
Que ele não se deixe dominar pelos assuntos mundanos e viva com simplicidade
Que os seus sentidos sejam controlados e que ele permaneça prudente
Não seja arrogante nem ávido de prazeres mundanos.
Que ele não faça nada que seja mesquinho
E que possa ser desaprovado pelos sábios
Que todos os seres vivam em alegria e segurança
Que todos sejam felizes
Que todos os seres, sem exceção
Os fracos e os fortes
O gordo e o alto
O médio, o pequeno, o grosseiro
Sejam visíveis ou invisíveis
Quer estejam perto ou longe
Quer já tenham nascido ou ainda estejam para nascer.
Que todos sejam felizes.
Para qualquer pessoa e em qualquer circunstância
Nunca enganar ou desprezar
Com ódio ou raiva
Nunca desejar mal aos outros
Como uma mãe ama o seu único filho
Pronta a fazer qualquer sacrifício para o proteger
Assim, com um amor que não tem limites
Devemos acarinhar todos os seres
Devemos cultivar uma bondade ilimitada para com o mundo inteiro
Para cima e para baixo, bem como horizontalmente
Sem ódio ou inimizade
De pé ou a andar, sentados ou deitados
E enquanto a mente permanecer lúcida e desperta
Esta atenção correta deve ser desenvolvida
Pois é a forma suprema de viver.
Não te percas em falsas visões
Cultivar uma vida virtuosa, ter uma visão interior profunda
Afastarmo-nos dos apetites dos sentidos
Então não haverá mais renascimento neste mundo.
(1) (2)

Pronto, estou apenas a ir um pouco mais fundo na minha permanente necessidade: entender mais, entender mais profundamente, qual Ícaro buscando o sonho duma universalidade. Sim, consciente de que, num certo sentido, buscar a Universalidade é desvalorizar a Diversidade — lá estou eu a meter um pezinho da Ambiguidade (ver #TOLERÂNCIA 51)

(1) https://bouddhanews.fr/le-metta-sutta/

(2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

terça-feira, fevereiro 25, 2025

#TOLERÂNCIA 58 - A ESPERA E A PACIÊNCIA

 #TOLERÂNCIA 58 - A ESPERA E A PACIÊNCIA

Este é ainda o tempo da Paciência.

Por iniciativa da minha colega Paula Faia, esteve hoje na escola o dr. Vítor Madail Herdeiro, o autor do livro RARET - A Guerra Fria Combatida a Partir da Charneca Ribatejana (2021).

No resumo da tese de mestrado que deu origem ao livro, o autor escreveu assim:

"(...) Em 19 de dezembro de 1950, o embaixador dos EUA em Portugal foi recebido em audiência pelo Presidente do Conselho de Ministros Oliveira Salazar. A audiência tinha dois objetivos; por um lado, revelar às autoridades portuguesas os esforços realizados pelos EUA no combate à expansão do comunismo na Europa e, ao mesmo tempo, convidá-lo a participar dessa luta, autorizando a construção de um centro de retransmissão Radio Free Europe (RFE) em Portugal. Nenhuma documentação é conhecida sobre as conclusões daquela audiência, exceto um "Aide Memoire" elaborado na época. No entanto, desde a reunião inicial em São Bento, até a constituição da Sociedade Anônima de Rádio Retransmissão - (RARET), em 10 abril de 1951, cinco meses se passaram. A primeira retransmissão da RARET ocorreu em 4 de julho de 1951, dirigida à Checoslováquia.

A RARET tinha como objetivo retransmitir, a partir do Centro de Emissor da Glória do Ribatejo, as emissões da RFE, organização patrocinada pelo National Committee Free Europe (NCFE), fundado nos EUA em 1949, financiada pela CIA e pelos fundos angariados pela Cruzada pela Liberdade (Crusade for Freedom). A adesão das autoridades portuguesas à iniciativa americana colocou Portugal no epicentro de um combate hertziano, que envolveu os dois blocos ideológicos da Guerra Fria ao longo de quarenta e cinco anos. (...)"

Na escola, ele contou a história toda. Foi uma sessão muito interessante.

Já no período da conversa informal que sempre acontece numa escola após ser o conferencista anunciar o fim da apresentação, já os slides estão esquecidos na projecção que continua ligada, falou-se sobre «aqueles tempos» e «os tempos agora».

A minha colega Paula Faia, professora de História e directora de turma, sempre muito maternal para os alunos, foi dizendo à plateia, composta por alunos de duas turmas de História, como era a comunicação dela com o namorado há quarenta e poucos anos, à distância, um em Lisboa e o outro em Paris, com um deles nas velhas cabines telefónicas públicas e o outro à espera em casa da pessoa que tinha um telefone, fixo (e sem ecrã!), em casa, era naquele momento, de horas antes combinadas, ou a oportunidade da conversa ao telefone passava.

Espontaneamente, ela faz esta afirmação lapidar: «Passava-se mais tempo sem a necessidade de estarmos sempre contactáveis, não é? Não havia essa necessidade e as coisas realizavam-se na mesma, não é?»

É isso: viciámo-nos na necessidade de estarmos sempre contactáveis. O efeito mais trágico, dramático, é que a espera tornou-se-nos insuportável. Perdemos a paciência, ou melhor, não aprendemos a Paciência da espera. As nossas vidas parece que ganharam o absolutismo do aqui-e-agora, para além dele só existe o que vai acontecer no minuto a seguir, quer dizer, no fundo, nunca saímos do aqui-e-agora.

Tornou-se um estereótipo social dizer que para as gerações novas só há direitos, não há obrigações, tudo lhes deve ser servido a tempo e horas, logo que o querem, a isso têm direito, isso lhes é devido. Não, não é isso que quero discutir agora, o meu caminho não é esse.

Mais do direito a tudo terem direito, o que me parece que se distorceu na vida dos mais novos é a experiência humana — ao mesmo tempo vital e animal (quer dizer, é intrínseca à nossa própria natureza) — da espera, do que não é imediato. Quem é capaz da paciência da espera tem outra mundividência, tem outra maneira de estar no mundo, tem outra liberdade.

Curiosamente, isto de que se falou neste final informal toca directamente no que "acrescentei" aos perfis da Tolerância (ver apontamento #TOLERÂNCIA 56), que fala de que os alunos pedem tempo, que não se tenha pressa, que se façam pausas, que se vá mais devagar, que se espere por eles.

Ora, o que hoje ganhámos a oportunidade de lhes levar foi precisamente a de tomarem consciência, a desafiante consciência de que eles também têm de fazer a aprendizagem da espera, da pausa, do contrário da pressa; e não apenas de reclamar isso como um direito. Atenção! Direito esse que espero ter deixado claro no apontamento em que sobre isto escrevi lhes seja respeitado, concretizando as condições para que assim aconteça. Direi que, quem sabe, se trata de ajudar os mais jovens a libertarem-se da escravatura do imediatismo.

Lembro-me de há bem poucos anos um alunos vir ter comigo no final duma aula, com ar a um tempo aflito e desapontado, e dizer-me: «'Stôr', se calhar vou desistir deste sujeito monográfico e escolher outro...» «Então, que se passa?» «Escrevi-lhe, mandei um email ao meu sujeito monográfico, mas ele nunca mais me responde...» «Quando é que lhe escreveste?» «Ontem.» Lapidar, não é?

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segunda-feira, fevereiro 24, 2025

#TOLERÂNCIA 57 - TOLERÂNCIA E... PACIÊNCIA

 #TOLERÂNCIA 57 - TOLERÂNCIA E... PACIÊNCIA

Fui esta tarde, às seis e meia, ao Pavilhão Carlos Lopes, assistir à entrevista ao Professor catedrático de Machine Learning (Universidade de Cambridge) e investigador (Alan Turing Institute) inglês. A entrevista fazia parte do evento "Isto não é assim tão simples - Inteligência Artificial", organizado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, e incluía também o lançamento público do seu livro "Humano Demasiado Humano, o que nos torna únicos na era da inteligência artificial".

Sim, correu tudo bem, sem atrasos e sem delongas, o que, neste tipo de acontecimentos sociais muito se louva.

Não vou fazer uma apresentação das ideias do professor, investigador e autor; nem vou fazer uma reflexão pessoal acerca do que ouvi.

Agora, que soltei uma risadinha gostosa e triunfal, sim, confesso que soltei. Foi, no fundo, uma coisa que senti como uma palmadinha nas costas de alento pelo caminho que me pus a fazer há 2 meses, praticamente por impulso.

O que ele disse toca profundamente o que nos dois últimos apontamentos, centrados numa tarefa escolar que conduzi recentemente com 5 das minhas turmas, ora vejam:

O entrevistador Pedro Pinto, já mesmo no final da entrevista lançou ao entrevistado 3 ou 4 perguntas que os jornalistas gostam muito de fazer, daquelas disparadas para receberem de ricochete respostas rápidas.

Quando ele perguntou a Neil Lawrence o que ele desejava que a Inteligência Artificial trouxesse ao líderes quer governam o mundo, a resposta veio mesmo de ricochete: «Paciência.» Logo a seguir perguntou o que desejava para ele próprio. O Professor-investigador, rindo-se, respondeu também de ricochete, começando assim: «Bem, para não dizer paciência outra vez...»

Notável! Não me levem a mal, vejam outra vez os perfis dos meus alunos; e leiam outra vez o que ontem escrevi aqui acerca da Paciência, como ela foi vivida durante a realização da tarefa pelos alunos.

Do aluno de 16 anos duma escola secundária de Lisboa ao especialista em Inteligência Artificial de 53 anos de idade da Universidade de Cambridge, a mesma motivação, o mesmo desejo, a mesma atitude os associa: a educação da Paciência.

Parece que hoje ganhei legitimidade para dizer que cuidar da Pedagogia da Paciência é cuidar implicitamente da Pedagogia da Tolerância.

Sim, parece que a raiz da Tolerância é a Paciência. Mas uma não se confunde com a outra. Discriminá-las será seguramente tema para uma etapa desta caminhada. Vai-se da Paciência para a Tolerância. E nós vamos também todos aceitar com Paciência a passada calma e pausada da caminhada.

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domingo, fevereiro 23, 2025

#TOLERÂNCIA 56 - A TOLERÂNCIA E O TEMPO

 #TOLERÂNCIA 56 - A TOLERÂNCIA E O TEMPO

Nas aulas em que pedi aos alunos que realizassem a tarefa do "Perfil da Tolerância", houve duas coisas a que fui especialmente sensível, e que estão para além dos perfis finais obtidos por triagem sucessiva em cada uma das turmas.

Uma delas foi a escolha da "Paciência". Foi, em geral, a primeira escolha logo na primeira parte da tarefe, em que não estava ainda nada apurado, em que cada aluno abordava a tarefa sem conhecer fosse o que fosse dos seus colegas. Nessa altura, a escolha da Paciência chegou a ser esmagadora em algumas das turmas. Foram depois as triagem seguintes que modularam a escolha da Paciência, conhecidos que ficaram os pensamentos e as opiniões dos colegas da turma.

Sim, a Paciência é mesmo a primeira coisa que salta à cabeça quando se fala em Tolerância, como que a dizer: «Para se conseguir ser tolerante é preciso ter muita paciência.» Parece uma coisa quase instintiva; parece e deve ser mesmo assim, terei de aprofundar este assunto. Fá-lo-ei, sim, lá mais para a frente.

A outra coisa que me tocou especialmente foi a escolha do Tempo, das Horas, da Pressa e da Pausa. A escolha e os comentários e desabafos que a propósito ouvi nas várias turmas.

Pareceu-me que os alunos pedem que sejam tolerantes com eles... Quem é que eles querem que seja tolerantes com eles? Os pais, os professores, a sociedade. Parece que os jovens sentem que que todos querem que eles façam coisas depressa, mais depressa; que demorem menos Tempo; que não deixem passar as Horas; que não lhes dão pausas suficientes. Os jovens querem ir mais devagar...

É como se eles, alinhados com o Professor Agostinho da Silva — que dizia que o homem não nasceu para trabalhar, mas sim para desfrutar a vida —, estivessem a dizer aos mais velhos «Para quê tanta pressa? É preciso fazer sempre tudo a correr?»

É tentador dizer «Eles não querem é fazer nada... Quanto menos fizerem, melhor para eles, e até se puderem ter tudo já feito, melhor para eles...» Não, não é isso; ou, dito doutra maneira, não é só isso.

Eu tenho um fraquinho muito grande pelo Mestre, o Alberto Caeiro, que era (na concepção de Fernando Pessoa) pouco mais velho que os meus alunos. E tenho uma convicção muito pessoal da razão porque Fernando Pessoa "matou" o Mestre ainda com tão pouca idade (salvo erro, 26 anos): tinha medo de que ele desistisse de ser quem era e se rendesse ao conformismo da vida adulta em que a maioria das sociedades actuais desembocaram. É precisamente de Alberto Caeiro este pequeno poema:

"Eu queria ter o tempo e o sossego suficientes / Para não pensar em coisa nenhuma, / Para nem me sentir viver, / Para só saber de mim nos olhos dos outros, reflectido."

Sabe-se que Alberto Caeiro tinha a obsessão de ser só natureza tanto quanto possível, e que, ao pensar, o indivíduo imediatamente saía da sua natureza, deixava de poder desfrutar o que era na sua natureza corporal, animal, sensacionista. A percepção é a consciência das sensações, ele queria ser, ele queria ser-se, antes dessa consciência.

Penso que os jovens têm uma necessidade cada vez maior de se sentirem como são e no que são a partir da sua própria natureza; e penso que a vida que os crescidos organizam para eles é uma vida cada vez mais de horários impostos, seja para a escola, seja para os "tempos-livres". Sim, tempos livres entre aspas porque tendem a ser muito pouco livres.

«Se eu não tenho o tempo e o sossego suficientes, para não pensar em tanta coisa que querem que eu pense, que me impede de me sentir na minha natureza mais básica, anterior ao meu destino de cumprir, cumprir, cumprir, como é que eu posso saber o que sou, como é que eu posso entender o que querem de mim, como é que eu me harmonizo com quer coisas de mim? E eu quero que queiram coisas de mim! A sério que quero! Mas para isso, por favor, vamos mais devagar, deixem-me descobrir-me na minha natureza mais básica, mais antes de tudo o resto — o resto que pensa, que faz, que cria, constrói, sonha, erra, corrige; e envolve-se, sim, eu sei que, como dizia Ortega e Gasset, «Eu sou eu e a minha circunstância, e se não a salvo a ela, não me salvo a mim.» E os outros são a parte mais importante da minha circunstância.»

«Se eu sinto que não tenho de andar a correr atrás do tempo, fico menos ansioso, fico menos irritadiço, fico menos impaciente [aqui está a Paciência!]. É fico mais tolerante e dialogante. Vamos experimentar? Vá, por favor!»

Não é por acaso que tantos professores, hoje em dia, pedem programas escolares menos extensos, com menos conteúdos, mas mais aprofundamento nalguns deles.

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sábado, fevereiro 22, 2025

#TOLERÂNCIA 55 - O PERFIL DA TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA 55 - O PERFIL DA TOLERÂNCIA

Usando o chamado "método da triagem sucessiva" (numa versão adaptada ao meu propósito), pedi aos
meus alunos que fizessem uma lista de 6 palavras que rapidamente, quase automaticamente, associassem à palavra Tolerância.

A primeira fase foi de trabalho individual; as seguintes também foram, mas orientadas na base de instruções fechadas. Oportunamente, numa espécie de apêndice, explicarei com detalhe o pensamento que tenho acerca do "método da triagem sucessiva"; e também como o usei nesta aplicação em específico.

A seguir apresento os resultados das 5 turmas:

11.º INT (6)11.º OE (5)12.º C2 (18)12.º H1 (25)12.º H2 (18)
Aceitação
Respeito
Limites
Compreensão
Paciência
Preconceito
Educação
Amar
Paciência
Limites
Respeito
Compreensividade
Calma
Humildade
Tempo / Horas
Empatia
Compreensão
Paciência
Respeito
Calma
Abertura
Suportar
Compreensão
Empatia
Paciência
Respeito
Flexibilidade
Limites
Aceitação
Maturidade
Compreensão
Respeito
Maturidade Paciência
Empatia
Controlo
Cooperação
Ouvir  

Algumas informações de contextualização:

  • A tarefa foi realizada nas 5 turmas no espaço de 2 semanas de aulas seguidas, aproveitando a oportunidade duma aula no horário da turma.
  • Em nenhuma das turmas a tarefa foi realizada na sequência directa da exploração dum conteúdo programático específico.
  • As 3 turmas do 12.º ano (prosseguimento de estudos) têm um programa de conteúdos de aprendizagem, o 11.º do curso profissional de Interpretação Actor/Actriz tem outro, e o curso profissional de Organização de Eventos tem outro.
  • Os alunos mais novos têm 16 anos e há 2 com 20 anos.
  • São 47 raparigas e 25 rapazes.
  • Em todas as turmas faltou, no dia da tarefa, pelo menos 1 aluno; em três turmas faltaram 2.
  • A lista está organizada por pontuação: estas foras as características, ou descritores, que receberam mais escolhas individuais nas etapas finais da triagem sucessiva. A primeira da lista foi a que recebeu mais escolhas, e assim sucessivamente, sem que haja duas características com o mesmo número de escolhas (quando tal acontecia, procedia-se a um desempate, sempre por escolha individual escrita).
  • A presença do conceito "compreensividade" testemunha que os alunos eram livres de escreverem o que quisessem, excepto palavras da mesma família (tolerante, intolerância, tolerar, etc.); testemunha também que, mesmo que estranhos ou pouco usuais, quaisquer conceitos poderiam ser assimilados pelo grupo-turma. Assimilados, aceites e adoptados.
  • Finalmente, fui sempre eu a conduzir a tarefa em sala de aula.

Numa primeira análise, simples, como aqui não pode deixar de ser, que se pode constatar?

  • Há uma grande homogeneidade de resultados.
  • O tamanho do grupo não parece afectar os resultados globais, a homogeneidade mantém-se.
  • Há 3 características, ou descritores, comuns às 5 turmas: paciência, respeito e compreensão.
  • Uma conclusão parece óbvia: a rapaziada tem um entendimento acerca do que é a tolerância que está perfeitamente alinhado com o que os adultos, em geral, e os especialistas (da Psicologia, da Sociologia e da Educação), em particular, entendem por Tolerância.
  • As características (descritores) divergentes são mais-valias que enriquecem o universo da composição, variáveis e dimensões da Tolerância, ajudando a fazer pontes, ligações, a outros conceitos das dinâmicas das relações entre as pessoas e os grupos.

À Pedagogia e à Educação da Tolerância, parece que se torna evidente que tarefas, exercícios, actividades, jogos, ou dinâmicas de grupo com o foco na educação da Paciência, do Respeito e da Compreensão interpessoal podem trazer ganhos na atitude e nos comportamentos de Tolerância.

No futuro, noutras ocasiões, voltaremos a estes perfis, para reflexões e análises mais finas; e também para a partir deles criarmos propostas de trabalho.

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sexta-feira, fevereiro 21, 2025

#TOLERÂNCIA 54 - COMO SE FALA DA TOLERÂNCIA NA LÍNGUA MATERNA?

#TOLERÂNCIA 54 - COMO SE FALA DA TOLERÂNCIA NA LÍNGUA MATERNA?

Hoje é o Dia Internacional da Língua Materna, mas já lá vamos.

Já não é a primeira vez que digo que o conhecimento, o domínio dos 'chatbots' (de que o ChatGPT é o exemplo mais falado) pelos alunos é uma das minhas preocupações principais actualmente.

A sexta-feira é o dia da semana em que tenho as 3 turmas de Psicologia do 12.º ano. Hoje, nas 3 turmas fizemos a correcção do teste de avaliação sumativa das aulas passadas.

Nos testes, basicamente, os alunos, servindo-se dos conhecimentos adquiridos sobre a percepção e a psicologia dos fenómenos perceptivos, tinham de descrever e analisar uma fotografia (a preto e branco, do século XX, sendo protagonistas jovens da Lisboa de antes do 25 de Abril de 1974).

Em jeito de matar dois coelhos duma só cajadada, depois de os levar a tomarem consciência do que estaria em causa nos critérios de correcção dos testes, levei-os a mostrarem as fotografias ao ChatGPT e colocarem-lhe as perguntas do teste exactamente como estavam no enunciado. Foi, ou melhor, foram aulas de aprendizagem muito rica — até porque os alunos tiveram oportunidade de perceber por que razões o "aluno excepcional" que o ChatGPT é não podia ter 20 valores no teste.

Na minha própria aprendizagem do potencial de aprendizagem e controlo pessoal dos 'chatbots', aproveitei a embalagem e pedi ao ChatGPT que me fizesse um poema sobre a Tolerância; e ele fez 3 poemas. Perguntei-lhe depois quem eram os autores, ele respondeu-me: «Os poemas que te apresentei acima são originais, escritos por mim especialmente para ti, com base no tema da tolerância. Por isso, o autor seria: 📜 Autor: ChatGPT (OpenAI)»

Aproveitei a embalagem e escrevi: «Quero um poema que junte a palavra "tolerância" com as palavras "língua materna"».

Muito prontamente, o ChatGPT enviou-me outro poema «original». Ora vejam, o rapazinho desenrasca-se na poda...

🌎 Tolerância em Língua Materna

"Na língua materna aprendi o primeiro som,
palavras de colo, de casa, de chão.
É nela que o mundo se torna razão
e o coração encontra o seu tom.

Mas o mundo é vasto, é voz plural,
cada boca pronuncia o essencial
de um sonho, um medo, uma esperança.
E é aí que nasce a tolerância.

Tolerância é escutar com o peito aberto
a língua materna de um ser desperto,
sabendo que em cada sílaba estrangeira
bate um coração que também é bandeira.

Se a língua do outro me soa estranha,
é ponte que convida, não muralha tamanha.
Pois entender é mais que tradução:
é abraçar o outro em sua canção.

Na tolerância das línguas, a humanidade dança,
falando mil mundos com a mesma esperança."

Ora bem, temos ou não temos aqui recursos que, sabiamente usados, podem ou ser muito úteis à Pedagogia e à Educação da Tolerância?

Ah! Quase me esquecia: o ChatGPT rematou a sua escrita com esta disponibilidade: «Se quiseres um tom diferente (mais curto, rimado, livre ou até em formato de haicai), diz! 😊» «E esta, hein?», como rematava o Fernando Pessa.

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quinta-feira, fevereiro 20, 2025

#TOLERÂNCIA 53 - QUANTOS TIPOS DE (IN)TOLERÂNCIA HÁ?

 #TOLERÂNCIA 53 - QUANTOS TIPOS DE (IN)TOLERÂNCIA HÁ?

Fiz um trabalho com 3 turmas de Psicologia do 12.º ano e 2 do 11.º. O mesmo trabalho nas 5 turmas. Um dia destes vou falar aqui desse trabalho, estou só a arrumar um bocadinho melhor os resultados finais (e a regra de escrever apenas um apontamento por dia sobre a Tolerância obriga-me a adiar uma ou outra vez uma questão ou uma actividade que tenha surgido também no mesmo dia, sendo que, o que é adiado é o que menos depende da oportunidade de vir a público no próprio dia em que ocorre).

Nesse trabalho com os alunos, em que eu pedia aos alunos que escrevesse no caderno 6 palavras que

associassem à palavra tolerância (e em que não valia palavras da mesma família, do tipo "tolerar", "tolerante", "intolerante"), dois ou três alunos (num universo de 80 alunos, números redondos) escreveram a palavra "lactose". Foi em duas turmas diferentes, e quando se escreveu no quadro essa palavra, houve algumas risadas. Sem qualquer comentário da minha parte, todos acabaram por acrescentar alguma coisa aos seus conhecimentos, e todos ficaram a conhecer um pouco mais o âmbito do conceito "tolerância".

No que agora me interessa expor, o surgimento da lactose pressionou-me para voltar à lista das (in)tolerâncias, e do me obriguei a pensar resultou a actualização que a seguir exponho (para contornar preconceitos, preferências e desvalorizações pessoais, vou listá-las por ordem alfabética). A actualização é feita com base em coisas que vou encontrando por aqui e ali, umas vão sendo guardadas em emails, outras no bloco-notas que sempre me acompanha; outras ainda em gravações de voz no telemóvel (a maior parte das vezes quando caminho de casa para a escola ou ao contrário):

  1. Alimentar
  2. Ambiental
  3. Capacitista
  4. Cultural
  5. Desportiva
  6. Dialectal
  7. Digital
  8. Diversidade
  9. Estética
  10. Estilo de vida
  11. Étnico-racial
  12. Físico-individual
  13. Género
  14. Geracional
  15. Ideológica
  16. Intelectual
  17. Linguística
  18. Medicamentosa
  19. Meritocrática
  20. Modelos educativos parentais
  21. Nacionalidade
  22. Neurodivergente
  23. Opção política
  24. Orientação sexual
  25. Profissional
  26. Religiosa
  27. Religiosa Inter-religião
  28. Religiosa Intra-religião
  29. Socioeconómica
  30. Tecnológica
  31. Territorial

Pois, a lista vai seguramente crescer e modificar-se, mas o que se impõe imediatamente à minha consciência é que me estou a meter num grande 31!... Qual é ele? É de que resulta logicamente nesta saga que para cada um destes tipos de Tolerância/Intolerância devo criar uma actividade (no mínimo!) de exploração pedagógica para cada uma delas. Vai-me sair caro a ousadia da lista!...

Mas, sim, aceito o compromisso, acho que vai dar um dicionário pedagógico-didáctico sobre a Tolerância muito interessante. E sim, aceito desde já sugestões, críticas e colaboração — sob todas as formas!, numa valente autoria colectiva!

NOTA: quem quiser, faça perguntas. Agradeço-as antecipadamente e oportunamente responderei.

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quarta-feira, fevereiro 19, 2025

#TOLERÂNCIA 52 - A TOLERÂNCIA E O GOVERNO DOS POVOS

#TOLERÂNCIA 52 - A TOLERÂNCIA E O GOVERNO DOS POVOS

Recebi ontem a edição da NG History de Março-Abril 2025. Um dos 4 títulos secundários da capa diz assim: "O conquistador persa tolerante, rei Ciro, o Grande". Previ logo um tempinho hoje para ver o texto, ler o artigo.

Mesmo antes de o ler, e tendo na cabeça coisas que já escrevi neste caminho, verifico novamente o que, como muitos outros também o fizeram, que a acção vem antes da palavra. Lá para trás, eu disse que a palavra tolerante é de invenção recente, mas o comportamento de tolerância é tão velho quanto os grupos humanos, as relações entre as pessoas e entre os grupos de pessoas.

Já agora, a propósito das pessoas e dos grupos, ainda hoje falei numa das minhas turmas das relações intra-grupais (dentro de cada grupo) e das relações inter-grupais (entre os grupos), umas e outras sempre pedindo comportamentos tolerantes, mesmo que de formas diferentes, mais do que naturezas diferentes. Mas adiante.

O autor do texto "Ciro, o Grande ", Jorge Pisa Sánchez, apresenta Ciro como o fundador do do império persa, seis centenas de anos antes da Era Cristã, e o subtítulo do artigo diz que as fontes documentais da Grécia Antiga apresentavam os reis da Pérsica, todos, como déspotas implacáveis, excepto Ciro, que eles elogiavam como líder modelo..

O texto fala da Tolerância de Ciro, o Grande, como sendo uma característica marcante do seu reinado. Procuro na Internet, aqui e ali, afinam praticamente todos pelo mesmo diapasão: o respeito dos ritos e credos religiosos e o respeito pelos costumes dos povos conquistados e das populações submetidas.

No artigo, o autor afirma que Ciro acreditava que permitir que as culturas locais mantivessem suas tradições e práticas religiosas contribuía para a estabilidade e a paz em seu vasto império. Num dos parágrafos lemos assim: «Xenofonte afirma que o grande rei exortou os seus súbditos, dizendo: “Ao lado dos deuses, porém mas mostrai respeito também por toda a raça dos homens pois eles continuam em sucessão perpétua". Esta era uma indicação das qualidades humanitárias de que o exaltaram tanto aos olhos do historiador grego.»

O famoso Cilindro de Ciro, encontrado em 1879 no Templo de Marduk, na Babilónia, pelo arqueólogo assírio Hormuzdd Rassam, é amplamente reconhecido — inclusivamente, pelas Nações Unidas —, como a primeira carta dos Direitos Humanos, sendo um testemunho concreto que chegou aos nossos dias do compromisso do rei Ciro com a justiça e a tolerância, ao prometer a liberdade e o respeito para todas as nações sob seu domínio.

Numa versão inglesa que quero tomar como fidedigna, Ciro faz escrever assim na argila do Cilindro: «Devolvi aos seus lugares as imagens dos deuses que aí residiam e deixei-as habitar em moradas eternas. Reuni todos os seus habitantes e devolvi-lhes as suas habitações.»(1)

Não serei exageradamente especulativo se disser que que os grupos humanos, em geral, entendem a necessidade da liderança dos grupos, e tais grupos, na agregação de pessoas que os constituem, conformam-se a ela, sobretudo se sentirem que têm condições para proverem ao seu sustento material, agirem em consonância com as suas tradições, ritos e práticas culturais, passadas de geração em geração, e sentirem que as suas opções de crenças e práticas espirituais e religiosas são respeitadas.

Num tempo em que os reis — os verdadeiros, os das chamadas Casas Reais — são cada vez menos poderosos, no sentido de serem cada vez menos influentes nas decisões de governação das suas nações e dos seus países, vamos assistindo, em nações e países formalmente republicanos, ao aparecimento de "reis" e "imperadores" sem ceptros reais, tão ou mais déspotas do que aqueles reis persas que os historiadores da Grécia Antiga falaram e opuseram a Ciro, o Grande.

Por que razão chegam líderes déspotas assim ao governo dos Povos e das Nações? Foi porque a Educação falhou lá atrás, nos anos da escola, na formação humanística e dos valores de convivência social? Será que a Educação não falhou, mas, entretanto, há sempre um pequeno número de indivíduos "imunes" à influência da Educação, que se alcandoram à liderança política dos grupos humanos? Como pode a Pedagogia e a Educação fazerem, digamos, preventivamente, enquanto se é pequeno, para que sejam os "bons" cidadãos a liderarem a Governação?

Não sei... Tenho de continuar a caminhar, talvez lá mais para a frente tenha algum esclarecimento ou iluminação desta questão.

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(1) https://www.livius.org/sources/content/cyrus-cylinder/cyrus-cylinder-translation/

terça-feira, fevereiro 18, 2025

#TOLERÂNCIA 51 - TOLERA-SE MAIS A IGNORÂNCIA DO QUE A AMBIGUIDADE

 #TOLERÂNCIA 51 - TOLERA-SE MAIS A IGNORÂNCIA DO QUE A AMBIGUIDADE

Somos todos poeiras de estrelas, dizia Carl Sagan. A ideia é aparentada com a que, segundo a mitologia bíblica, foi dita por Deus ao homem quando o expulsou do Paraíso: «porque tu és pó e ao pó voltará.»

Antes Deus tinha castigado a mulher, só depois castigou o homem. Foi o homem que deu o nome Eva à mulher; e não é claro, parece-me, quem é que deu o nome Adão ao homem.

Gosto de me imaginar poeira de estrelas, sinto-me incomodado com o ditame de ser pó e de ao pó voltar quando morrer. Ver-me poeira das estrelas impele-me a ser humilde, o regresso ao pó é o castigo de não ter sido humilde, de não ter vencido o desejo e a ambição. As estrelas fascinam-me com a eternidade da viagem, o pó da terra é a expressão da inevitabilidade da minha morte. Atalhando o que não quero que aumente e se disperse, direi que sou dos que preferem olhar o copo meio cgeio do que meio vazio.

Carl Sagan era um cientista fascinado com a Vida e com o Cosmos, vivia uma e o outro como Louis Armstrong cantava «Yes, I think to myself, What a wonderful world, Ooh, yes...». Era profundamente afligido que ele falava dos biliões e biliões de dólares gastos em armas e em guerras.

Ele, o fabuloso astrónomo, diz-nos no Cosmos que somos mais tolerantes com a ignorância do que com a ambiguidade. Na Introdução, ele escreve assim:

«No Verão e Outono de 1976, como membro da equipa de voo da Viking Lander, estava empenhado, com uma centena de colegas cientistas, na exploração do planeta Marte. Pela primeira vez na história da humanidade, tínhamos conseguido pousar dois veículos espaciais na superfície de outro mundo. Os resultados, descritos mais pormenorizadamente no Capítulo 5, foram espectaculares, o significado histórico da missão era absolutamente evidente. E, no entanto, o público em geral não estava a aprender quase nada acerca destes grandes acontecimentos. A imprensa estava em grande parte desatenta; a televisão ignorou a missão quase por completo. Quando se tornou claro que não seria possível obter uma resposta definitiva sobre a existência de vida em Marte, o interesse diminuiu ainda mais. Havia pouca tolerância para a ambiguidade.»(1)

Mais à frente, no 4.º capítulo (Céu e Inferno), escreve Sagan: «Há alguns milhões de anos, quando os seres humanos evoluíram pela primeira vez na Terra, já era um mundo de meia-idade, 4,6 biliões de anos depois das catástrofes e impetuosidades da sua juventude. Mas nós, humanos, representamos atualmente um factor novo e talvez decisivo. A nossa inteligência e a nossa tecnologia deram-nos o poder de afectar o clima. Como é que como é que vamos usar esse poder? Estaremos dispostos a tolerar a ignorância e a complacência em assuntos que afectam toda a família humana? Será que valorizamos as vantagens a curto prazo acima do bem-estar da Terra? Ou será que pensaremos em escalas de tempo mais longas, preocupados com os nossos filhos e os nossos netos, para compreender e proteger os complexos sistemas de suporte de vida do nosso planeta? A Terra é um mundo minúsculo e frágil. Precisa de ser acarinhada.»(1)

No capítulo a seguir, Blues para um Planeta Vermelho, logo no primeiro parágrafo, Carl Sagan escreve isto:

«Há muitos anos, diz a história, um célebre editor de jornais jornal enviou um telegrama a um famoso astrónomo: JUNTE-ME AÍ RAPIDAMENTE QUINHENTAS PALAVRAS SOBRE A EXISTÊNCIA OU NÃO DE VIDA EM MARTE. O astrónomo respondeu obedientemente: NINGUÉM SABE, NINGUÉM SABE, NINGUÉM
SABE… 250 vezes. Mas apesar desta confissão de ignorância, afirmada com persistência por um perito, ninguém prestou atenção, e, de então para cá, ouvimos declarações autoritárias por aqueles que pensam ter deduzido a existência de vida em Marte, e por aqueles que pensam que a excluíram. Algumas pessoas querem muito que haja vida em Marte; outros querem muito que não haja vida em Marte. Tem havido excessos em ambos os campos. Estas paixões fortes de certa forma desgastaram a tolerância à ambiguidade que é essencial à ciência. Parece que há muitas pessoas que querem simplesmente que lhes seja dada uma resposta, qualquer resposta, e assim evitar o fardo de manter duas possibilidades mutuamente exclusivas nas suas cabeças ao mesmo tempo.»(1)

É quase a diferença entre o «Não quero saber, não me quero chatear...» e o «Mas não dá mesmo para saber? Que nervos!...»

A Tolerância do (des)conhecimento científico, a Tolerância da ambiguidade do To be or not to be tem de ser educada. Como vemos, a partir das citações anteriores, não apenas aos mais pequenos, mas também aos mais crescidos.

De volta ao Céu e Inferno do 4.º capítulo: «A ciência é gerada por e dedicada à livre livre investigação: a ideia de que qualquer hipótese, por mais estranha que seja, merece ser considerada pelos seus méritos. A supressão de ideias incómodas pode ser comum na religião e na política, mas não é não é o caminho para o conhecimento; não tem lugar no esforço da ciência. Não sabemos de antemão quem descobrirá novos conhecimentos fundamentais.»(1)

O caminho da aventura em que me meti, no mundo da Tolerância, está carregado de ambiguidades... Tolero-as? Enfrento-as? Ou descanso na ignorância?

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(1) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

segunda-feira, fevereiro 17, 2025

#TOLERÂNCIA 50 - TOLERÂNCIA, CANCRO, SOFRIMENTO

#TOLERÂNCIA 50 - TOLERÂNCIA, CANCRO, SOFRIMENTO

Verdadeiramente, que sentimentos se costumam ter com pessoas com doenças cancerígenas, nas quais a evolução da doença e o prognóstico clínico são pessimistas e desesperançosos, confrontando o doente com a fatalidade que nunca se deseja?

A que ponto é difícil o contacto continuado com a pessoa doente, pessoa essa a quem geralmente nos prendem laços familiares fortes?

A que ponto é adequado o contacto que temos com essa pessoa? Adequado no sentido, não do que pensamos que é bom para a pessoa ou que ela necessita, mas no sentido do que a pessoa deseja e necessita? Até que ponto, afinal, somos tolerantes com o sofrimento da pessoa doente?

Naturalmente, pela proximidade que temos com a pessoa doente, também sofremos. Sofremos por ela e sofremos por nós. Até que ponto, para nos pouparmos, num gesto de auto-defesa, ao nosso próprio sofrimento, não falhamos na tolerância ao sofrimento da pessoa doente e desvalorizamos as suas dores e as suas angústias? Falhamos evitando a proximidade; falhamos esgotando rapidamente a tolerância; falhamos exibindo uma tolerância falsa, feita de indiferença e de falsas aparências.

Lembro-me de alguém que conheci tardiamente, mas com quem rapidamente estabeleci um relacionamento de confiança e amizade profundas. Pouco tempo tardou para ele me pedir para o acompanhar às consultas de Oncologia, traziam-lhe muita ansiedade, sentia que o médico assistente não o ouvia, quase não o via sequer; e o pensamento do meu muito recente amigo obnubilava-se com facilidade, tal o nível de tensão emocional que as consultas lhe desencadeavam. Ele era uma figura de grande notoriedade pública, era uma pessoa de grande formação académica e espiritual; mas aquelas consultas foram-se tornando avassaladoras para ele. A atitude do médico, aparentemente tolerante e cordata, não lhe despertava empatia e proximidade pessoal.

Fora das consultas, na vida do dia-a-dia, as pessoas diziam-lhe «Ó senhor [...], o senhor está com tão bom aspecto, o senhor parece que vende saúde!...», e ele sentia-se incompreendido, a sua presença apenas tolerada (suportada), verdadeiramente ninguém se preocupava com o seu sofrimento, ninguém se queria envolver.

Quanto custa ouvir coisas do tipo «Vá, não chore, hoje está assim, mas amanhã vai estar melhor, vai ver...»; «Sim, está assim, mas olhe que há quem esteja pior que si, há quem sofra mais ainda...»; «Amigo, tenha esperança, isso vai passar...»; «Olhe, conheço alguém que teve o mesmo e ficou bem, então tu também vais ficar.» Quanto alento pode dar um simples «P'rá semana apareço, vamos tomar um cafezinho, pago eu.»

Quantas vezes dizemos coisas, quantas vezes falamos para evitarmos ouvir, porque nos custa ouvir e tomar consciência do sofrimento, sim, de quem amamos? Tantas vezes bastaria ficar ali ao lado, mesmo sem dizer nada, isso, ficar só ali ao lado, para que a pessoa doente sinta uma companhia serena. Quanto essa presença silenciosa tantas vezes está carregada de sentimentos reconfortantes.

«Então, vá, seja forte, vai ver que vai conseguir.» Não, o doente sabe, muito lucidamente, que já não vai conseguir. Tantas vezes ele só quer que lhe tolerem que ele se sente fraco. Sente-se fraco porque está mesmo fraco. E se, em vez daquilo, se disser «Eu sei que não se consegue ser forte o tempo todo, há momentos em que se vai abaixo, não tem problema, pode contar comigo nessas alturas, chame-me, apareço assim que possa.»

Há muitos anos tive, na rua, um encontro casual com uma pessoa que foi especialmente importante na minha formação pessoal, académica e profissional. Quanta fragilidade o cancro tinha posto naquele corpo que, apenas um ou dois anos antes, alardeava elegância, serenidade e harmonia com a vida!...

Desisti do meu propósito naquele lugar e acompanhei-o a casa. Entrei, sentámo-nos e conversámos. Não sei quanto tempo passou, o que me confidenciou do cancro de que tinha plena consciência o prendera inexoravelmente foi para mim um tesouro que guardo no cantinho interior das coisas bem preciosas — tesouro que ciclicamente visito a tentar ser melhor pessoa. Ele apenas queria dizer a alguém o que sentia, a tristeza profunda, o espanto perante a força daquele mal, a fraqueza em que se reconhecia; e a aceitação do seu destino. Queria fazer as pazes com ele mesmo. Escutei-o sempre tendo consciência de que ele não me dia nada, não desabafava um desespero, queria apenas que um interlocutor atento testemunhasse o que era e como se sentia naquele momento.

Tantos notáveis exemplos a pessoa que eu tinha à minha frente já me tinha dado. Este foi mais um, ainda mais especialmente notável.

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domingo, fevereiro 16, 2025

#TOLERÂNCIA 49 - PARA UMA MAIOR TOLERÂNCIA PRECISAMOS... DE MAIS TURISMO?

 #TOLERÂNCIA 49 - PARA UMA MAIOR TOLERÂNCIA PRECISAMOS... DE MAIS TURISMO?

Passei a andar com uma bracelete da Palestina no pulso esquerdo, o lugar do relógio. Até quando, não sei...

De vez em quando vou ao site da série TED, há por lá alguns vídeos interessantes para explorar nas minhas aulas.

Há poucos minutos dei com esta conferência: um palestiniano a falar de Tolerância. Reparei que eram pouco mais de 4 minutos, não custava vê-la imediatamente. Transcrevo-a a seguir, integralmente:

«Eu sou empresário de turismo e promotor da paz, mas não foi assim que comecei. Quando tinha sete anos, lembro-me de estar a ver televisão, ver pessoas a atirar pedras e pensar: "Isto deve ser engraçado". (Risos) Então fui para a rua atirar pedras, sem ter percebido que era suposto acertar em carros israelitas. Em vez disso, acabei por acertar nos carros dos meus vizinhos. (Risos) Eles não acharam piada ao meu patriotismo.

«Isto é uma foto minha com o meu irmão. O pequenito sou eu e sei o que estão a pensar: "Eras tão fofinho, que raio aconteceu?" Mas o meu irmão, que era mais velho, foi detido quando tinha 18 anos, levado para a prisão por ter atirado pedras. Foi espancado quando se recusou a confessar que tinha atirado as pedras, tendo acabado com lesões internas que lhe causaram a morte pouco depois de ter sido libertado.

«Eu fiquei furioso, amargurado e só queria a vingança.

«Mas isso mudou quando eu tinha 18 anos. Decidi que precisava de hebraico para arranjar trabalho. Ao estudar hebraico naquela sala, foi a primeira vez que conheci judeus que não eram soldados. Ficámos ligados por coisas pequenas como o meu gosto por música "country", o que é estranho para palestinianos. Mas também foi aí que me apercebi de que temos um muro de raiva, de ódio e de ignorância que nos separa. Decidi que o importante não é o que me acontece, o que é realmente importante é como lido com isso. Assim, decidi dedicar a minha vida a derrubar os muros que separam as pessoas.

«Faço-o de muitas formas. Uma delas é o turismo, mas também os "media" e a educação. Talvez estejam a pensar: "A sério? O turismo pode mudar as coisas?" Se pode derrubar muros? Sim. O turismo é o melhor modo sustentável de derrubar esses muros e de criar um modo sustentável de nos relacionarmos uns com os outros e criar amizades.

«Em 2009 fui o co-fundador da Mejdi Tours, uma empresa social que procura ligar as pessoas — a propósito, com dois amigos judeus. Criámos um modelo. Por exemplo, em Jerusalém, tínhamos dois guias turísticos, um israelita e outro palestiniano, a orientarem as visitas em conjunto. A contarem a história e a narrativa, a arqueologia e o conflito de perspetivas completamente diferentes. Lembro-me de organizar uma viagem com um amigo chamado Kobi para uma congregação judaica de Chicago — a viagem foi em Jerusalém — e levámo-los a um campo de refugiados palestinianos. Comemos lá uma comida fantástica. Já agora, esta é a minha mãe. Ela é porreira. Aquilo é comida palestiniana, chamada "maqluba". Significa "virada do avesso". É cozinhada com arroz e frango, e vira-se ao contrário. É a melhor refeição de sempre. E vamos comê-la em conjunto. Depois tivemos uma banda conjunta, com músicos israelitas e palestinianos, e fizemos danças do ventre. Se não souberem fazer eu depois ensino-vos. Mas quando saímos, ambos os lados ficaram a chorar porque não queriam que nos fôssemos embora. Três anos depois e essas relações ainda existem.

«Pensem comigo: Se os mil milhões de pessoas, que viajam internacionalmente todos os anos, fizessem isto — em vez de andarem de autocarro de um lado para o outro, de um hotel para outro, a tirar fotografias das janelas dos autocarros, a pessoas e culturas — se se relacionassem realmente com as pessoas…

«Sabem, eu lembro-me de ter levado um grupo muçulmano do Reino Unido. a casa de uma família judia ortodoxa, a assistir ao primeiro jantar de sexta-feira, aquele jantar de "Shabat", e a comer "hamin" em conjunto, que é uma comida judaica, um estufado, Acabaram por perceber, pouco depois, que há centenas de anos, as suas famílias tinham vindo do mesmo sítio no Norte de África. Isto não é uma foto de perfil para o vosso Facebook. Não é turismo de catástrofes. É o futuro das viagens. Convido-vos a juntarem-se a mim, a mudar a vossa viagem. Estamos agora a fazê-lo em todo o mundo, desde a Irlanda até ao Irão e à Turquia. Vemo-nos a ir a todo o lado para mudar o mundo. Obrigado.»

A conferência é de Março de 2014, quer dizer, tem praticamente 11 anos. O perfil de apresentação do autor começa por dizer que «Aziz Abu Sarah é um ativista palestiniano com uma abordagem invulgar para a manutenção da paz: Ser turista. O bolseiro TED mostra como simples interações com pessoas de diferentes culturas podem corroer décadas de ódio. Começa com palestinianos a visitar israelitas e vai ainda mais longe…»

Não vou, para já, pensar em mais nada, não vou fazer nenhuma crítica ou julgamento... Apenas me parece que estes quatro minutos e meio de fala, em que se fala de palestinianos, judeus, muçulmanos, ortodoxos, música, espancamento, morte, ódio, raiva, ignorância, educação, história, conflito, dança, comidas tradicionais, interacção pessoal, etc., bem, esta fala, que pode ser vista e revista sem obrigar a muito tempo e esforço, justifica perfeitamente uma sessão de dinâmica de reflexão em grupo.

Também já escrevi ao Aziz (ele tem agora 44-45 anos), se ele me responder, pode ser que aconteça uma aula de Psicologia entre ele e os meus alunos. Estou de boa fé. Convicto de que é preciso tentar tudo para aproximar as pessoas, para que vivam vencendo ódios, raivas e rivalidades; e com mais respeito e Tolerância. Quando o Aziz responder, aqui darei notícia.

Ah! O título deste escrito é o título da conferência do Aziz no TED.(1)

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(1) https://www.ted.com/talks/aziz_abu_sarah_for_more_tolerance_we_need_more_tourism