segunda-feira, maio 05, 2025

#TOLERÂNCIA127 - A NOSSA TOLERÂNCIA LINGUÍSTICA SÓ PODE SER ZERO?

 #TOLERÂNCIA127 - A NOSSA TOLERÂNCIA LINGUÍSTICA SÓ PODE SER ZERO?

O texto de hoje é um plagio, ou um roubo. Quem o escreveu foi o linguista, professor e tradutor, Marco Neves. Que esteve hoje na Eça de Queirós a falar da Língua Portuguesa, das outras línguas de Portugal e das línguas do mundo. A pergunta do título é dele, e está no texto que a seguir para aqui copio integralmente. Eu sei que ele me perdoa.

Antes do texto, quero deixar nota duma perspectiva de morte duma língua que ele partilhou «Há quem diga que uma língua não morre quando morre o último falante dessa língua, mas o penúltimo, é que assim o último falante deixa de ter alguém com quem falá-la.»

O vício do purismo
Celebrar a Língua Portuguesa—ou atirar a primeira pedra? (o texto é de 4 de Novembro de 2014)

LEIO ESTE MANIFESTO sobre os 800 anos da nossa língua (aliás, os 800 anos do primeiro documento oficial) e acho que não deixa de ser uma forma inteligente de falar do português sem cair no já cansativo tema do “Acordo ou não Acordo”. Sim, é bom falar da nossa língua sem polémicas e sem medos.

Por baixo do artigo, encontro um link para um blog que refere o manifesto publicado pelo Público.

Vou ler o blog. O blogger menciona o Manifesto, mas parece ficar ligeiramente enojado com o português do Manifesto:

Eu até ia postar o texto inteiro — apócrifo — sobre os 800 anos da língua portuguesa, mas comemorar uma data tão importante com um “a nível de”, eu me recuso!

A ideia geral é esta: ah, e tal, eles até celebram a língua, mas estão a maltratá-la! Porquê? Porque no Manifesto, a certa altura, encontramos a expressão “a nível de”.

Pois, exacto.

O que interessa estarmos a falar da nossa língua, quando o texto que a celebra usa tão pérfida expressão?

Tenho de perguntar: o que está errado com esse uso de “a nível de”? Será uma expressão pouco clara? Será uma expressão demasiado “popular”? Será pouco formal? É evitada por pessoas de elevado nível académico? Ou tudo isto é apenas uma irritação pessoal do autor, umas das manias linguísticas que algumas pessoas não conseguem distinguir dos erros verdadeiros?

Neste caso, para além do purismo inflamado, presumo que haja alguma confusão do blogger, que não estará habituado à variante lusitana do português, na qual “a nível de” é perfeitamente aceitável (talvez um pouco afectada). Pelos vistos, no Brasil, é considerada um “erro comum” (vejam o número seis desta lista). É, provavelmente, daquelas expressões que muitos usam e alguns acham que ninguém deve usar, porque é feio e hoje não me apetece. Mesmo que seja um erro no Brasil (não me parece, mas não vou comentar), não é um erro na variante em que o texto está escrito.

Temos um texto que chama a atenção para essa data que ninguém conhecia: o aniversário do primeiro documento oficial em português (e, em Portugal, o Manifesto teve impacto mediático, raro nestas questões da língua). Mas que vale isso perante uma expressão que nos irrita?

Enfim, já devia saber que há pessoas especialmente susceptíveis ao vício do purismo inflamado.

NÃO TRAGO À LIÇA UM ARTIGO num blog qualquer só para bater num blogger que estava para ali virado nesse dia. Refiro esse blog porque é um exemplo claro da crítica “disparar primeiro e perguntar depois”. A lógica deste purismo mal orientado é a seguinte: a expressão parece vagamente errada ou irritante? Vamos acusar os autores do texto de maltratarem a língua! Nem vale a pena dar o benefício da dúvida. O crítico fica sempre protegido no seu escudo de Protector da Língua. Os outros que se cuidem…

Pensem lá. Mesmo que a expressão em causa (“a nível de”) não fosse a mais feliz; mesmo que

pudéssemos rescrever o texto para a evitar; mesmo que fosse um erro… Será o suficiente para mandar para as urtigas todo um texto? A nossa tolerância linguística só pode ser zero? Não podemos celebrar a língua e falar da língua sem medo de irritar os polícias da língua?

Este é apenas um exemplo dos inúmeros casos de pessoas que, perante um texto, procuram com prazer os mínimos erros ou gralhas ou mesmo certas expressões ou construções irritantes, ignorando olimpicamente o conteúdo. Para quê ler e pensar, quando podemos passar o tempo a ser deliciosamente puristas? Para quê ler de forma aberta um texto, quando podemos mostrar ao mundo que somos muito puros nessa coisa da língua?

É um vício, como tantos outros e nem sempre vem daí mal ao mundo. Só que convém, de vez em quando, alfinetar esse balão de convencimento, não vá dar-se o caso de estes viciados no purismo estragarem o prazer que todos temos em ler e escrever.(1)

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(1) https://medium.com/entre-linguas/bbae91508302

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