#TOLERÂNCIA128 - A INTOLERÂNCIA E A CAPACIDADE DE ENCAIXE
Não é, nem de perto, nem de longe, um monopólio dos mais jovens, mas é frequente, numa palestra, conferência ou debate, o orador ser confrontado com a impulsividade da reacção intolerante do aluno que pediu a palavra e não quer de maneira nenhuma perder a oportunidade de levar incómodo ou dúvida ao orador.
Para lá de tudo o que pudesse ser dito acerca do modo de estar do adolescente, e do jovem adulto, que busca de forma agressiva a afirmação pessoal perante o Outro, com tudo o que isso pode denunciar de verdura de anos e insipiente informação, o que quero realçar agora é que o orador deve ser capaz de aceitar que aconteça assim. E quero também realçar que a boa reacção à postura intolerante do jovem estudante pode ter um efeito de influência pedagógica bastante positivo à intolerância aberta, disfarçada ou contida que ele expressa, dando-lhe um bom ensejo de amaciar a reacção impulsiva intolerante, ou mesmo de, com o tempo, fazê-la desaparecer de todo.
Em 2 dias de actividades extra-curriculares, participei na organização de 3 sessões com convidados que levámos à escola, cada sessão com seu auditório, logo, foram 3 auditórios.
Reconheço que a minha preocupação acaba por não ter a ver com o que o aluno que pediu a palavra vai dizer, mas, isso sim, ter a ver com a maneira como o orador pudesse reagir.
O balanço destes dois dias foi francamente positivo, mas reforço a ideia de que seria interessante levar a cabo junto dos professores (os conferencistas do dia-dia das escolas) e de quem mais quisesse (e fico a desejar que grande parte deles desejem) acções pedagógicas de sensibilização, sugestão e treino para serem capazes de receber, sem se sentirem atacados ou ofendidos com as investidas impulsivas da rapaziada, as quais, no fundo, são próprias dela. Acolher sem rechaçar, responder não impulsivamente e não agressivamente.
Relembro o que dizia João dos Santos: «Educar é oferecer-se como modelo.» Também nos confrontos das aulas, das palestras, das conferências e dos debates, os grandes devem oferecer-se como modelos. Modelos de escuta, tolerância e capacidade de diálogo.
Ah! Quanto aos quatro oradores das 3 sessões destes 2 dias: safaram-se muito bem.
Ilustro com um caso, que acabou por ser muito divertido: na fase final da sessão do mirandês com uma
turma do 7.º ano, em que os alunos foram convidados a perguntar sobre como se diziam coisas em mirandês, uma muito empenhada aluna, de sorriso largo no rosto, antecipadamente deleitando-se com o entalanço que iria provocar nos 2 oradores, perguntou-lhes como se dizia em mirandês "otorrinolaringologista". Ora, os oradores vacilaram mesmo!Foi nessa altura que o edificante modelo social dos mais velhos se revelou em toda a sua plenitude: tranquilamente, com sorrisos bem-humorados, que revelam confiança e serenidade, eles disseram que tinham de pensar, e foram mesmo ao quadro ensaiar, à frente de todos, a escrita, em conformidade com as regras de construção das palavras na língua mirandesa. E acabaram por chegar a uma forma que os satisfez, e que satisfez também a entusiástica menina. Foi mesmo um momento precioso de relação pedagógica e aprendizagem social.
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