#TOLERÂNCIA151 - (IN)TOLERÂNCIA, FÉ E CIÊNCIA. O GATO E O RATO.
Um dos desafios para a Tolerância é perceber o ponto de vista do outro. Quem se opõe a nós não o faz apenas por querer intencionalmente estar contra nós. Claro, há pessoas assim, mas há também outras. Há má-fé, mas também há boa-fé. Há ignorância legítima e há ignorância inaceitável.
Para além de tudo isto, o conhecimento pede percepção mental e entendimento. E por muito que estereotipadamente se venha a dizer há séculos mal da Igreja Católica e dos papas que excomungavam e mandavam para a fogueira, temos de compreender que a possibilidade de percepcionar mentalmente e entender correctamente o movimento de translação da Terra, no tempo de Galileu Galilei, era um privilégio só mesmo, penso eu, de uma mão bem pequenina de seres humanos, mesmo entre os mais sábios.
No livro que já referi algures (Os Traços Escondidos dos Génios", Craig Wright, escreve assim, quase a abrir o capítulo 8 (Rebeldes, inadaptados e criadores de problemas):
«Ем 1632, Galileu Galilei criticou com severidade o papa Urbano VIII chamando-lhe repetidamente «o
Simplório». Urbano não podia tolerar a ideia radical de que a Terra girava em volta do Sol, e Galileu não conseguia tolerar a ignorância de Urbano. Mas calcem os sapatos vermelhos do papa Urbano. Todos os indícios empíricos dão a entender que o Sol nasce a leste, se desloca pelo céu e se põe a oeste; com efeito, a Bíblia afirma isso mesmo em sessenta e sete dos seus escritos(1). Eu não me sinto a deslizar pelo Espaço a mais de 800 000 quilómetros por hora e o papa Urbano também não se sentia. Mas Galileu, usando o novo telescópio que inventara e permitia uma ampliação de 30 vezes, conseguiu ver o planeta Júpiter e também quatro luas que orbitavam à sua volta e, então, pensou por analogia: se Júpiter gira em redor do Sol com as suas quatro luas, a Terra, com a sua única lua, não deveria fazer o mesmo?»3 parágrafos mais à frente, o autor escreve o seguinte:
Confrontado com a possibilidade de ser queimado na fogueira por pregar uma doutrina falsa, Galileu fez um acordo com a Inquisição. Acedeu a reconhecer-se culpado de, involuntariamente, ter dado a impressão de que os seus escritos apoiavam a ideia de um sistema solar heliocêntrico e as autoridades eclesiásticassubmetê-lo-iam apenas a detenção domiciliária durante o resto da sua vida, que acabaram por ser oito anos. Mas diz-se que o rebelde Galileu, quando abandonava o banco dos réus no final do julgamento murmurou, «E pur si muove» — «E, no entanto, move-se [a Terra].
Outros rebeldes do Conhecimento, antes e depois, também foram, de alguma forma tolerados; mas outros, infelizmente, para sua desgraça pessoal, não foram — nem a consagração eterna que a História e o Futuro depois lhes trouxeram lhes serviu de consolação, já que não a puderam percepcionar. Por exemplo, em 1600, antes de Galileu Galilei, o filósofo Giordano Bruno foi queimado na fogueira por ensinar a hipótese heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473-1743), o qual, como escreve Craig Wright, «dera a entender isso mesmo mas deu uma no cravo e outra na ferradura (e salvou a vida) afirmando que a sua mundivisão heliocêntrica era apenas um modelo conceptual.
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(1) Pelos vistos, a tradução portuguesa do "Temas Debates" do Círculo de Leitores está errada, é que diz que são setenta e sete.
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