sexta-feira, maio 23, 2025

#TOLERÂNCIA145 - GUARDAR NA MEMÓRIA AJUDA A COMPREENDER

 #TOLERÂNCIA145 - GUARDAR NA MEMÓRIA AJUDA A COMPREENDER

Sarah Gensburger é uma especialista na relação entre Memória e Política, é directora de investigação no CNRS, em França, e é membro do Centro de Sociologia das Organizações (CSO, Sciences Po), também

em Paris.

Numa entrevista ao Le Monde, ontem, ela diz que «É essencial construir uma verdadeira cultura da memória.»

À primeira pergunta, «Na sua opinião, a cultura francesa e europeia contemporânea caracteriza-se por aquilo a que por vezes se chama “inflação da memória”?», a investigadora responde:

«Há muito tempo que as nações e as instituições internacionais se interessam pela História, mas desde os anos 90 que o passado foi efectivamente incorporado nas chamadas políticas de “memória”. Estas políticas não se limitam a encorajar o conhecimento da História: o seu objectivo é difundir os valores democráticos da Tolerância e, por conseguinte, provocar mudanças profundas na sociedade.
Estas políticas são um dos pilares da cidadania humanista promovida pela União Europeia, que desde 2014 financiou vários milhares de iniciativas de memória através do seu programa "A Europa para os Cidadãos". Algumas dizem respeito à Shoah(1), mas vão muito além da memória da vida sob os regimes totalitários, nomeadamente comunistas; outras evocam as etapas da construção europeia.»

A resposta à última pergunta, «Consegue lembrar-se de alguma experiência que cumpra estas exigências?», dá-me uma satisfação particular, já que a essência do trabalho para que os alunos são desafiados se aproxima muito da dinâmica de trabalho que nos últimos 13-14 anos tenho imprimido às minhas aulas de Psicologia: aproximar os jovens dos mais velhos, pôr os netos a falar com os avós, e que com eles conversem, por exemplo, sobre a Guerra Colonial, em que muitos dos avós combateram (ou foram casadas com maridos que na guerra combateram). Precisamente hoje, estive a ver um dos trabalhos em que o aluno investigou a vida da sua avó paterna, e o aluno acaba a sua monografia assim: «o trabalho que foi, de longe, o meu favorito de todo o meu ensino secundário.»

É assim a resposta de Sarah Gensburger: «Nas escolas, a abordagem mais interessante é basear-se na proximidade espacial: em vez de impor uma narrativa que transmita valores gerais, os professores pedem aos alunos, por exemplo, que investiguem acontecimentos ligados à Shoah que ocorreram perto de casa. É esta a abordagem adoptada pelo projeto “Convoy 77”(2), que conta a história dos 1.321 deportados do comboio que partiu de Drancy para Auschwitz a 31 de julho de 1944. Cada aluno participa no trabalho de memória escrevendo a biografia de um dos deportados. Sob a orientação dos seus professores, eles
pesquisam documentos e relatos pessoais e produzem um texto que é depois publicado no 'site' Convoi 77. Em vez de lhes ser imposto um discurso, são eles os actores da transmissão da memória: os valores da tolerância não são objecto de uma proclamação solene, mas estão implicitamente subjacentes ao projecto - e são reforçados por ele.»

A frase do meu aluno é testemunho de quanto este tipo de trabalhos escolares estão imbuídos da Pedagogia que valoriza e dá sentido à memória histórica e a liga à essência da vida presente. Não, o Passado não é, não pode ser, uma memória descartável, do tipo usa-e-deita-fora tão típico do estilo de vida consumista, carregado de desperdícios, que hoje grassa nas sociedades mais desenvolvidas, tão pouco amigo das pessoas, dos recursos e ambientes naturais, e também da tradição histórica das sociedades.

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(1) Shoah é a palavra hebraica para Holocausto.

(2) Convoi77 foi o último comboio que saiu de Drancy (Paris, França) para o campo de extermínio de Auschwitz, no dia 31 de Julho de 1944, carregado de homens, mulheres e crianças.

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