sábado, maio 31, 2025

#TOLERÂNCIA153 - RICARDO ARAÚJO PEREIRA FALA DA TOLERÂNCIA DE TRUMP

 #TOLERÂNCIA153 - RICARDO ARAÚJO PEREIRA FALA DA TOLERÂNCIA DE TRUMP

Trata-se mais uma vez da capacidade do Humor fazer as pessoas sentirem e pensarem acerca dos paradoxos e dos limites da tolerância, e de quanto é que ela pode valer nas palavras e nas acções dem quem governa e desgoverna o Mundo. Os leitores são desafiados a reflectir, a perceber e a formar uma opinião. É uma espécie de lembrete de que Tolerância não é Inacção e reclama uma tomada de posição.

Na edição desta semana, o humorista escreve assim na crónica do Expresso:

«Se houvesse justiça, Donald Trump passaria a ocupar o lugar de La Palice como autor de obviedades. Na passada segunda-feira, Trump descobriu que Vladimir Putin “está a matar muita gente”. O Presidente dos Estados Unidos acrescentou ainda que “não gosta nem um bocadinho” dessas mortes. E

vai fazer alguma coisa, embora não tenha revelado ainda o quê. É mais um episódio que vem reforçar uma teoria que tenho há muito: fazem falta, na política, mais bêbados. Eis uma ideia sobre a qual a ciência política não se tem debruçado. Há qualquer coisa no governante bêbado que o torna paciente e tolerante. É a minha ideologia, agora: o embriaguismo. Churchill salvou-nos da ameaça nazi com o bucho cheio de champanhe, whisky e vinho do Porto. Governou a Grã-Bretanha com um copo de conhaque numa mão e um charuto na outra. Hitler não tocava numa gota de álcool nem fumava. Não é por acaso. Creio que não é humanamente possível dirigir um país e manter-se são, mais ainda durante uma guerra, sem estar ligeiramente tocado. Tenho verificado que as pessoas com quem discuto esta teoria se mostram relutantes em aceitá-la. Pois bem, apresento o argumento decisivo: Boris Ieltsin. Tenho muitas saudades de Boris Ieltsin. Foi Presidente da Rússia sem aborrecer ninguém. Talvez também alimentasse uma animosidade contra a Ucrânia, e se pusesse a praguejar contra os ucranianos depois do jantar, prometendo invasões e chacinas. Mas depois ia para a cama e no dia seguinte não se lembrava de nada.

»Há uma importante advertência, no entanto, para quem quiser juntar-se a mim no movimento a favor do embriaguismo. Nós somos a favor de estadistas bêbados mas repudiamos por completo os estadistas que parecem estar bêbados. São formas de governar muito diferentes. Por exemplo, Donald Trump parece estar bêbado. Não serve. Ao passo que as medidas do governante bêbado são aprazíveis, as medidas do governante que parece bêbado despertam nos cidadãos o desejo de se entregarem ao alcoolismo, o que é nocivo. Só o governante bêbado governa com sobriedade.»

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#TOLERÂNCIA152 - TOLERAR-SE A SI MESMO

 #TOLERÂNCIA152 - TOLERAR-SE A SI MESMO

Sem sair de "Os Traços Escondidos dos Génios" de Craig Wright, guardo na etapa de hoje esta tão longa transcrição:

«A TOLERÂNCIA AO RISCO É UM HÁBITO DE GÉNIO, ASSIM COMO A RESILIÊNCIA. Considere-se a pintura de Frida Kahlo, de 1944, "A coluna partida". Mostra uma mulher (a própria Kahlo) usando um espartilho médico do tipo usado para manter uma coluna unida. Na pintura, uma coluna jónica partida representa uma medula espinal fracturada, e as fissuras na paisagem desolada sugerem um mundo quebrado e solitário. Ao longo do corpo da mulher estão afixados pregos do tipo usado para simbolizar a paixão e a dor de Jesus; estendem-se pela perna direita, mas não pela esquerda. As lágrimas correm-lhe dos olhos, mas o seu rosto mostra determinação, até mesmo desafio.

»Aos seis anos, Frida Kahlo contraiu poliomielite, deixando-a com a perna direita mais curta e, com o tempo, escoliose. Aos dezoito anos, viajava num autocarro que foi atingido por um eléctrico. Várias pessoas morreram, e Kahlo ficou com costelas partidas, as duas pernas também partidas, ainda uma clavícula, e um corrimão de ferro saindo da sua pélvis. Passou três meses na cama em recuperação, e teve que usar espartilhos médicos de vários tipos: gesso, metal e couro, para o resto de sua vida, o

último deles retratado em "A coluna partida". Durante a sua imobilidade forçada, Kahlo passou de desenhadora ocasional a pintora a sério, esticando os braços para um cavalete que o seu pai tinha construído por cima da sua cama. Na década de 1940, não conseguia ficar de pé ou sentada sem ter dores, e submeteu-se a uma série de fusões e enxertos espinhais, com sucesso limitado, em hospitais de Nova York e da Cidade do México. Em Agosto de 1953, a dor na perna direita tornou-se tão insuportável que a perna teve de ser amputada abaixo do joelho, mas ela perseverou, por vezes na cadeira de rodas e outras vezes numa cama de hospital. «A dor não faz parte da vida, mas pode ser convertida na própria vida», disse ela. Outros génios — Chuck Close (colapso da artéria espinal), John Milton (cegueira), Beethoven (surdez) e Stephen Hawking (esclerose lateral amiotrófica), por exemplo — perseveraram perante obstáculos físicos , mas talvez nenhum tenha demonstrado uma resiliência desta magnitude. Kahlo disse: «Eu não estou doente. Estou quebrada. Mas estou feliz por estar viva, desde que possa pintar»

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quinta-feira, maio 29, 2025

#TOLERÂNCIA151 - (IN)TOLERÂNCIA, FÉ E CIÊNCIA. O GATO E O RATO.

 #TOLERÂNCIA151 - (IN)TOLERÂNCIA, FÉ E CIÊNCIA. O GATO E O RATO.

Um dos desafios para a Tolerância é perceber o ponto de vista do outro. Quem se opõe a nós não o faz apenas por querer intencionalmente estar contra nós. Claro, há pessoas assim, mas há também outras. Há má-fé, mas também há boa-fé. Há ignorância legítima e há ignorância inaceitável.

Para além de tudo isto, o conhecimento pede percepção mental e entendimento. E por muito que estereotipadamente se venha a dizer há séculos mal da Igreja Católica e dos papas que excomungavam e mandavam para a fogueira, temos de compreender que a possibilidade de percepcionar mentalmente e entender correctamente o movimento de translação da Terra, no tempo de Galileu Galilei, era um privilégio só mesmo, penso eu, de uma mão bem pequenina de seres humanos, mesmo entre os mais sábios.

No livro que já referi algures (Os Traços Escondidos dos Génios", Craig Wright, escreve assim, quase a abrir o capítulo 8 (Rebeldes, inadaptados e criadores de problemas):

«Ем 1632, Galileu Galilei criticou com severidade o papa Urbano VIII chamando-lhe repetidamente «o

Simplório». Urbano não podia tolerar a ideia radical de que a Terra girava em volta do Sol, e Galileu não conseguia tolerar a ignorância de Urbano. Mas calcem os sapatos vermelhos do papa Urbano. Todos os indícios empíricos dão a entender que o Sol nasce a leste, se desloca pelo céu e se põe a oeste; com efeito, a Bíblia afirma isso mesmo em sessenta e sete dos seus escritos(1). Eu não me sinto a deslizar pelo Espaço a mais de 800 000 quilómetros por hora e o papa Urbano também não se sentia. Mas Galileu, usando o novo telescópio que inventara e permitia uma ampliação de 30 vezes, conseguiu ver o planeta Júpiter e também quatro luas que orbitavam à sua volta e, então, pensou por analogia: se Júpiter gira em redor do Sol com as suas quatro luas, a Terra, com a sua única lua, não deveria fazer o mesmo?»

3 parágrafos mais à frente, o autor escreve o seguinte:

Confrontado com a possibilidade de ser queimado na fogueira por pregar uma doutrina falsa, Galileu fez um acordo com a Inquisição. Acedeu a reconhecer-se culpado de, involuntariamente, ter dado a impressão de que os seus escritos apoiavam a ideia de um sistema solar heliocêntrico e as autoridades eclesiásticassubmetê-lo-iam apenas a detenção domiciliária durante o resto da sua vida, que acabaram por ser oito anos. Mas diz-se que o rebelde Galileu, quando abandonava o banco dos réus no final do julgamento murmurou, «E pur si muove» — «E, no entanto, move-se [a Terra].

Outros rebeldes do Conhecimento, antes e depois, também foram, de alguma forma tolerados; mas outros, infelizmente, para sua desgraça pessoal, não foram — nem a consagração eterna que a História e o Futuro depois lhes trouxeram lhes serviu de consolação, já que não a puderam percepcionar. Por exemplo, em 1600, antes de Galileu Galilei, o filósofo Giordano Bruno foi queimado na fogueira por ensinar a hipótese heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473-1743), o qual, como escreve Craig Wright, «dera a entender isso mesmo mas deu uma no cravo e outra na ferradura (e salvou a vida) afirmando que a sua mundivisão heliocêntrica era apenas um modelo conceptual.

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(1) Pelos vistos, a tradução portuguesa do "Temas Debates" do Círculo de Leitores está errada, é que diz que são setenta e sete.

quarta-feira, maio 28, 2025

#TOLERÂNCIA150 - A TOLERÂNCIA E A MÚSICA

 #TOLERÂNCIA150 - A TOLERÂNCIA E A MÚSICA

Folheei ao acaso, e por ser para mim uma novidade, a revista "As Artes entre as Letras", a edição n.º 387, precisamente com a data de hoje, e fiquei satisfeito por nela encontrar uma notícia que tem directamente com a viagem, sem rumo pré-definido, da Tolerância.

Num artigo assinado por Miguel Leite (divulgador musical) li assim:

Zubin Metha. O extraordinário Maestro, Chefe de Orquestra, prestes a completar 90 anos (1936) que, ao longo de toda sua vida pugnou pela Paz, de forma séria, empenhada e corajosamente, com a Orquestra Filarmónica de Israel, de que é Maestro Titular Vitalício onde, entre muitas outras coisas,
tem lutado desde há longos anos pela integração de músicos árabes israelitas na mesma.

Pela sua luta pela Paz, obteve em 1999 o Prémio de Paz e Tolerância pelo Conjunto da Obra, das Nações Unidas.

Durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Zubin Metha foi para Jerusalém reger a Orquestra Filarmónica de Israel diante de uma plateia protegida por máscaras anti-gás.

Durante todas as crises e guerras em Israel, ele não hesitou em cancelar todos os seus outros compromissos nos mais diversos pontos do mundo (literalmente) e correr para estar junto com a sua Orquestra, encorajando-a com concertos especiais na linha da frente, na fronteira libanesa, e em muitas comemorações nacionais, como o concerto que fez em Massada, em Outubro de 1988, quando regeu a Sinfonia n.º 2 “Ressurreição” de Gustav Mahler (1860-1911).

Em 2013 foi com a Orquestra Nacional Bávara à região de crise de Caxemira, num apelo à reconciliação indo-paquistanesa. «Sempre que a Orquestra Filarmónica de Israel percorre o mundo, toca cada nota
em nome da paz. Não há outra razão para viajarmos tanto. Queremos espalhar a fraternidade. A paz depende dos políticos, mas nós, da orquestra, fazemos questão de semear a boa vontade», explicou o
Maestro em entrevista que deu no Brasil.

Zubin Metha é o símbolo vivo e maior da Paz na Música ou da Paz Pela Música. «Não podemos jamais subestimar o poder da música. Para mim, a música é amor.» — disse.

(Alguns elementos informativos relativos à carreira musical de Zubin Metha foram obtidos através da consulta de entrevistas jornalísticas concedidas pelo mesmo).

Eu não conhecia este prémio das Nações Unidas. Fiz uma busca rápida na Net, e o Gemini disse-me o seguinte:

O "Prémio de Paz e Tolerância" das Nações Unidas refere-se, de forma mais proeminente, ao "Prémio UNESCO-Madanjeet Singh para a Promoção da Tolerância e Não-Violência". Este prémio bienal, no valor de 100.000 dólares americanos, é administrado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e distingue actividades significativas nos campos científico, artístico, cultural e da comunicação que visam promover um espírito de tolerância e não-violência. Inaugurado em 1996, na sequência do Ano das Nações Unidas para a Tolerância (1995) e em conexão com o 125.º aniversário do nascimento de Mahatma Gandhi, o prémio reconhece realizações exemplares que servem de modelo para a construção da paz global. O seu propósito central é honrar e recompensar conquistas criativas extraordinárias na promoção da tolerância, sublinhando o papel fundamental destes valores para a coexistência pacífica e a solidariedade humana.

Guardo um apontamento no meu bloco-notas. Quero aqui voltar.

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terça-feira, maio 27, 2025

#TOLERÂNCIA149 - A MAMÃ É INTOLERANTE COMIGO

 #TOLERÂNCIA149 - A MAMÃ É INTOLERANTE COMIGO

São oportunidades interessantes as de poder coscuvilhar as conversas entre mães e filhos em que se fale de tolerância. É de ouro a oportunidade de coscuvilhar a conversa entre uma mãe e um filho muito especiais, sobretudo quando o filho tem o maravilhoso dom da escrita: Fernando Pessoa.

Ele tinha 19 anos quando escreveu esta carta à mãe. A primeira tentação é ver na carta a expressão da insatisfação dum adolescente tardio, que vive densamente, como diria Erik Erikson, a tarefa desenvolvimental da independentização psicológica em relação às figuras parentais e a identificação à sua condição de adulto autónomo e absoluto senhor de si mesmo.

É curioso sabermos que os estereótipos de pensamento dominantes mostram as mães como sendo de uma tolerância quase infinita para com os filhos. Será que a acusação do jovem Fernando é apenas a denúncia da sua própria intolerância?

O Papá é um homem honesto, a quem eu sou muito grato e a quem muito respeito e estimo, mas neste assunto não tem palavra, nem entra no Templo. Desculpo-lhe que não me compreenda; custa-me a desculpar-lhe que não compreenda que me não compreende e se meta em assuntos onde a sua boa-vontade não é piloto, nem a sua honestidade guia.

Há um campo onde podemos entender-nos: é no da nossa estima comum. Fora disso, desde que passa para o que é meu, e começa às alfinetadas à minha alma, já não é possível acordo nem bem-estar relacional.

A Mamã gosta de mim; não simpatiza comigo.

Não nos daremos mal. Por intolerante que a Mamã seja, eu não o sou. Eu compreendo que a Mamã não compreenda e, ainda que essa incompreensão me irrite e me fira, e a sua revoltante falta de tacto me fira e me irrite mais, sofro demais os ímpetos de quase-ódio que isso causa, e escrevo com este incómodo, secamente, lucidamente.

Eu não quero que reconheçam a minha igualdade. Quero apenas que a não calquem inculcando-se meus iguais. Eu por minha parte saberei respeitar todos os preconceitos, (…) e as honestas incompreensões da sua alma.

Penso que temos aqui mais um tema de grande potencial de reflexão e discussão, talvez especialmente valioso para grupos de pais. Sim, é uma carta a merecer uma ficha de exploração de actividade.

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segunda-feira, maio 26, 2025

#TOLERÂNCIA148 - INTOLERÂNCIA À INFORMAÇÃO

 #TOLERÂNCIA148 - INTOLERÂNCIA À INFORMAÇÃO

Certamente a pressão de trabalho acrescido que é própria do final do ano escolar contribui para o sentimento que se foi instalando devagarinho e que parece ter vindo para ficar: é o sentimento da intolerância à informação; ou, como muito modernamente se diz, à pouca informação e à muita desinformação.

Para um professor, a actual condição de acesso à informação e às maneiras como ela é produzida é um desafio a uma das dimensões mais importantes do seu magistério: a de filtro ou de pára-raios entre, por um lado, os alunos e, por outro lado, o conhecimento consolidado, as hipóteses em estudo, a informação disponível e, cada vez mais, a agressiva desinformação (vestida das mais diversas formas, a mais

disponível, fácil, rápida, impessoal e não-certificada, é a que vem agora pelos omnipresentes telemóveis pessoais. Não só nos custa cada vez mais deixá-los, como, assim que a gente os liga, logo algum sinal de chegada de informação nos prende a eles).

Se o tempo dedicado a receber a informação — estou, naturalmente, a falar de quem sente necessidade de estar a par dos desenvolvimentos na sua área de especialidade científica, profissional — já só por si é muito, cada vez mais tem-se necessidade de comprovar a veracidade da informação, cujas trapaças são cada vez mais sofisticadas. O ritmo a que os produtores de informação e desinformação chegaram está também em nível impossível de digerir. Além disso, já o tenho dito, estou a ficar profundamente preocupado com a sofisticação que a criação de imagens e filmes está a atingir, facilmente enganando até o mais céptico dos cépticos e desconfiados.

Um dos meus próximos desafios, a que me entregarei assim que acabem as aulas, é o da dieta informativa. Não vai ser fácil, tenho a certeza. Craig Wright, no livro "Os Traços Escondidos dos Génios", a páginas tantas, interroga-se acerca do que é mais importante no criação dum génio: se a inteligência, se a curiosidade. Pessoalmente, não me preocupo com a minha inteligência, estou muito contente com a que penso que tenho. O problema é que me tomo por insaciavelmente curioso, por isso vai ser muito difícil decidir acerca do que devo pôr de lado, do que devo aceitar parar de procurar.

Mas só tenho estado a falar do futuro, e ainda não falei de dietas. Nem vou falar.

Como quis dizer logo no primeiro parágrafo, agora o que me começa a avassalar é o sentimento de intolerância: há temas que já me custa muito ouvir, há programas, jornalísticos ou outros, que já me custa tanto ver e ouvir que eles vão passando no écran da televisão com o som desligado; e há pessoas que já me custa muito, muito, muito, ouvir.

Acho que, olhando-me bem, estou mesmo a entrar em regime de serviços mínimos no que à informação diz respeito. Atenção! Estou a entrar em regime de serviços mínimos com a informação, não em regime de serviços mínimos de comunicação com as pessoas. Por exemplo, pudesse eu dar aulas sem estar, assim como os alunos, preocupado com as avaliações formais!

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domingo, maio 25, 2025

#TOLERÂNCIA147 - A TOLERÂNCIA E AS LÍNGUAS

 #TOLERÂNCIA147 - A TOLERÂNCIA E AS LÍNGUAS

O mirandês é a outra língua histórica de Portugal.

A versão da recolha para um Dicionário Mirandês-Português, de Amadeu Ferreira e José Pedro Cardona Ferreira, não contém a palavra Tolerância. O "Dicionairo - Dicionário da Língua Mirandesa", na Internet, também não a tem. O Tradutor Pertués -> Mirandés diz que é "Tolérancia".

Num texto do notável Amadeu Ferreira, publicado na Internet em 29 de Março de 2011 (com a indicação da primeira apresentação pública, na revista Filandar/Fiadeiro, de 2001), cujo título é "Modos de tratamento ne l mirandés de Sendin", podemos encontrar a Tolerância falada assim:

(Sejamos capazes de, com Tolerância, tentar ler o texto até ao fim. Acaba por ser um exercício interessante que mostra que, se não fugirmos da diferença que não entendemos, mas que a escutamos tolerantemente, o conhecimento cresce aos poucos; a compreensão e a aceitação da diferença, também.

"MODOS DE TRATAMENTO NE L MIRANDÉS DE SENDIN"(1)

[...] A ua pequeinha mas amportante obra de l Porsor Luís Filipe Lindley Cintra[6] fui a buscar muito de l método i de l modo de sposiçon eiqui seguidos. [...]

[...] L’amportança cultural i social de ls modos de tratamento ye tan grande que ua pessona que nun los respeite nun será bien aceite ó será mesmo scluida de la quemunidade. Ls modos de tratamento son la spresson dua cierta struturaçon de la sociadade, de relaçones berticales i hourizontales antre las pessonas, siempre mui cumplexas mesmo an meios pequeinhos, tradúzen relaçones de poder, funciones sociales, dízen l lhugar que cada un acupa.

Nun respeitar ls modos de tratamento ye cumo poner an causa ciertos aliçaces de la sociadade ó, anton, essa ye ua andicaçon clara de que la pessona ye alhena. Por esso, als modos de tratamento stá lhigada ua cierta forma de moral, d’eiducaçon, ne l sentido de l que stá cierto, etc., anque muitas bezes nun se cuncorde cun esso. Quando son toleradas ciertas formas de tratamento diferentes, esso ye porque nun se reconhécen las pessonas que las úsan cumo pertencendo a la quemunidade, mas cumo sendo de fuora deilha, cumo benediços. [estranho, intruso]

Ne ls dies d’hoije las formas de tratamento tradicionales stan sujeitas a ua fuorte cuntestaçon a partir de las formas de tratamento ousadas pula sociadade pertuesa an general, an lhéngua pertuesa, porque son spalhadas puls meios de quemunicaçon social i, dada la fuorça destes, ban sendo ousadas pulas pessonas quando eilhas mesmas fálan pertués, ua beç que son bilingues. Dua purmeira fase de tolerância passa-se, mais ou menos debrebe [depressa, cedo], para ua outra an que son adotadas pula meiorie. Anque fura anteressante, eiqui nun bamos a dar un tratamento zambolbido a essa relaçon antre ls modos de tratamento nas dues lhénguas. [...]

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(1) https://studosmirandeses.blogs.sapo.pt/1764.html

sábado, maio 24, 2025

#TOLERÂNCIA146 - NÃO TENS A CERTEZA DE NADA

 #TOLERÂNCIA146 - NÃO TENS A CERTEZA DE NADA

O quase inesgotável Pessoa, Fernando Pessoa, um dia escreveu assim, tal como Teresa Rita Lopes publicou em 1990 (Editorial Estampa, Lisboa) revela na obra "Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa (sem que fosse possível chegar à data da produção do texto)

"[Mandamentos] - 1. Não tenhas opiniões firmes,"

1. Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões.
2. Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.
3. Não julgues ninguém, porque não vês os motivos, mas só os actos…
4. Espera o melhor e prepara-te para o pior.
5. Não mates nem estragues, porque, como não sabes o que é a vida, excepto que é um mistério, não sabes que fazes matando ou estragando, nem que forças desencadeias sobre ti mesmo se estragares ou matares.
6. Não queiras reformar nada, porque, como não sabes a que leis as coisas obedecem, não sabes se as leis naturais estão de acordo, ou com a justiça, ou, pelo menos, com a nossa ideia de justiça.
7. Faz por agir como os outros e pensar diferentemente deles. Não cuides que há relação entre agir e pensar. Há oposição. Os maiores homens de acção têm sido perfeitos animais na inteligência. Os mais ousados pensadores têm sido incapazes de um gesto ousado ou de um passo fora do passeio.

Mas que bela tertúlia estes "Mandamentos" podem proporcionar!

Pu-los ais 7 em 4 'chatbots' e eles escreveram textos de exploração dos mandamentos muito interessantes. Vou guardá-los para quando um dia organizar mesmo uma tertúlia.

Especificamente no que diz respeito à Tolerância, junto já o que cada um deles disse:

Cepticismo radical (Pontos 1 e 2): A rejeição de opiniões firmes e a ênfase na incerteza reflectem uma postura próxima do pirronismo (cepticismo antigo), que questiona a possibilidade de conhecimento absoluto. A tolerância surge não como virtude moral, mas como consequência lógica da dúvida: se nada é certo, julgar o outro é arrogância. (DeepSeek)

Cepticismo e Tolerância: O autor demonstra um forte cepticismo em relação à certeza, seja das próprias opiniões ou do conhecimento em geral. As frases "Não tenhas opiniões firmes, nem creias demasiadamente no valor de tuas opiniões" e "Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada" apontam para uma postura de abertura e modéstia intelectual. Isso implica que a falta de certeza deve levar à tolerância para com as crenças e ações alheias, pois não possuímos o conhecimento absoluto para julgar. (Gemini)

    Tolerância por ignorância: "Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada." A tolerância não vem de uma ética universal, mas do reconhecimento da própria ignorância. É uma tolerância pragmática, não moralista: não julgues, porque não sabes. (ChatGPT)

    Tolerância e Compreensão: “Sê tolerante, porque não tens a certeza de nada.” A tolerância aqui nasce da consciência da própria ignorância. Se não possuímos certezas absolutas, não temos direito de impor nossas opiniões aos outros. É um convite à empatia e à aceitação da diversidade de pensamentos. (Perplexity.AI)

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    sexta-feira, maio 23, 2025

    #TOLERÂNCIA145 - GUARDAR NA MEMÓRIA AJUDA A COMPREENDER

     #TOLERÂNCIA145 - GUARDAR NA MEMÓRIA AJUDA A COMPREENDER

    Sarah Gensburger é uma especialista na relação entre Memória e Política, é directora de investigação no CNRS, em França, e é membro do Centro de Sociologia das Organizações (CSO, Sciences Po), também

    em Paris.

    Numa entrevista ao Le Monde, ontem, ela diz que «É essencial construir uma verdadeira cultura da memória.»

    À primeira pergunta, «Na sua opinião, a cultura francesa e europeia contemporânea caracteriza-se por aquilo a que por vezes se chama “inflação da memória”?», a investigadora responde:

    «Há muito tempo que as nações e as instituições internacionais se interessam pela História, mas desde os anos 90 que o passado foi efectivamente incorporado nas chamadas políticas de “memória”. Estas políticas não se limitam a encorajar o conhecimento da História: o seu objectivo é difundir os valores democráticos da Tolerância e, por conseguinte, provocar mudanças profundas na sociedade.
    Estas políticas são um dos pilares da cidadania humanista promovida pela União Europeia, que desde 2014 financiou vários milhares de iniciativas de memória através do seu programa "A Europa para os Cidadãos". Algumas dizem respeito à Shoah(1), mas vão muito além da memória da vida sob os regimes totalitários, nomeadamente comunistas; outras evocam as etapas da construção europeia.»

    A resposta à última pergunta, «Consegue lembrar-se de alguma experiência que cumpra estas exigências?», dá-me uma satisfação particular, já que a essência do trabalho para que os alunos são desafiados se aproxima muito da dinâmica de trabalho que nos últimos 13-14 anos tenho imprimido às minhas aulas de Psicologia: aproximar os jovens dos mais velhos, pôr os netos a falar com os avós, e que com eles conversem, por exemplo, sobre a Guerra Colonial, em que muitos dos avós combateram (ou foram casadas com maridos que na guerra combateram). Precisamente hoje, estive a ver um dos trabalhos em que o aluno investigou a vida da sua avó paterna, e o aluno acaba a sua monografia assim: «o trabalho que foi, de longe, o meu favorito de todo o meu ensino secundário.»

    É assim a resposta de Sarah Gensburger: «Nas escolas, a abordagem mais interessante é basear-se na proximidade espacial: em vez de impor uma narrativa que transmita valores gerais, os professores pedem aos alunos, por exemplo, que investiguem acontecimentos ligados à Shoah que ocorreram perto de casa. É esta a abordagem adoptada pelo projeto “Convoy 77”(2), que conta a história dos 1.321 deportados do comboio que partiu de Drancy para Auschwitz a 31 de julho de 1944. Cada aluno participa no trabalho de memória escrevendo a biografia de um dos deportados. Sob a orientação dos seus professores, eles
    pesquisam documentos e relatos pessoais e produzem um texto que é depois publicado no 'site' Convoi 77. Em vez de lhes ser imposto um discurso, são eles os actores da transmissão da memória: os valores da tolerância não são objecto de uma proclamação solene, mas estão implicitamente subjacentes ao projecto - e são reforçados por ele.»

    A frase do meu aluno é testemunho de quanto este tipo de trabalhos escolares estão imbuídos da Pedagogia que valoriza e dá sentido à memória histórica e a liga à essência da vida presente. Não, o Passado não é, não pode ser, uma memória descartável, do tipo usa-e-deita-fora tão típico do estilo de vida consumista, carregado de desperdícios, que hoje grassa nas sociedades mais desenvolvidas, tão pouco amigo das pessoas, dos recursos e ambientes naturais, e também da tradição histórica das sociedades.

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    (1) Shoah é a palavra hebraica para Holocausto.

    (2) Convoi77 foi o último comboio que saiu de Drancy (Paris, França) para o campo de extermínio de Auschwitz, no dia 31 de Julho de 1944, carregado de homens, mulheres e crianças.

    quinta-feira, maio 22, 2025

    #TOLERÂNCIA144 - A DINÂMICA CONCRETA DA TOLERÂNCIA

     #TOLERÂNCIA144 - A DINÂMICA CONCRETA DA TOLERÂNCIA

    Descobri este pequenino texto sobre a Tolerância. O texto tem quase 10 anos. Vejo-o com um sentido muito prático, que ajuda na acção pessoal e permite contornar as complexidades reflexivas inibitórias, desviantes ou paralisantes.

    O textico é de Armelle Debru, Professora Honorária de História da Medicina, na Universidade Paris-Descartes, no Fórum #2: "Será a tolerância suficiente?", um fórum organizado a 16 de março de 2016,

    na Mairie do 4.º bairro de Paris, 2 place Baudoyer.

    Nesta altura da viagem no universo da Tolerância, sinto esta esquematização da autora como um oportuno baralhar as cartas e voltar a dar. O texto é uma pequena fala que foi proferida no âmbito da iniciativa “Valores da República, Cuidados e Apoio”.

    1. A Tolerância é esforço. A palavra remonta ao verbo latino 'tolerare', derivado de 'tollere', suportar. 'Tolerare' significa suportar, aguentar, e 'tolerantia', resistência física e moral. A nossa “tolerância” implica, por conseguinte, um esforço, uma dificuldade vencida com relutância. Tolerar é doloroso no início, antes de se tornar por vezes um hábito. Mas depois já não é tolerância, é habituação. O esforço é a marca primitiva da tolerância. Quando este desaparece, funde-se na norma ou na lei.

    2. A Tolerância é evolutiva. O que é tolerável é um conceito vivo e evolutivo. A sociedade tolera hoje o que ontem rejeitava e, inversamente, já não tolera comportamentos que antes eram apenas condenáveis. O intolerável também evolui para cada um de nós à medida que a nossa experiência evolui: já não tolero hoje o que aceitava ontem e, inversamente, tolero o que condenava ontem. O que é que nós, enquanto cidadãos, vamos tolerar ou rejeitar; que evoluções nos tornarão um dia condenáveis por cegueira ou submissão?

    3. A Tolerância é problemática: quem pode dizer com autoridade o que deve ou não ser tolerado? A profissão, a sociedade, a religião, a consciência moral? Que autoridade inquestionável pode guiar as escolhas de forma imparcial? Ou não é, pelo contrário, a descoberta progressiva do desconhecido que constitui o modo próprio da tolerância e da intolerância justificada?

    4. A Tolerância é trabalho. Tolerância significa aprender a conhecer, a reconhecer e a limitar. É também trabalhar a tolerância. Significa renunciar ao ódio espontâneo e ao julgamento precipitado, e aumentar o espaço para a compreensão e as relações baseadas no respeito e em padrões elevados. É avançar e ajudar os outros a avançar com uma lucidez simultaneamente generosa, determinada e sempre atenta...

    A reflexão, individual ou em grupo, à volta desta esquematização, proporcionará seguramente um aprofundamento do conhecimento das vicissitudes da Tolerância e da Intolerância.

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    terça-feira, maio 20, 2025

    #TOLERÂNCIA142 - DIVAGANDO, ENCONTREI UMA CEREJA

     #TOLERÂNCIA142 - DIVAGANDO, ENCONTREI UMA CEREJA

    Quase preguiçosamente, fazendo uma pausa, folheei o grande volume "Vida de um Homem, Toda a Poesia", de Giuseppe Ungaretti. Uma poética alusão à (in)Tolerância bastou para que escolhesse para hoje este trecho do capítulo "Um grito e paisagens", tudo indica que escrito em Amesterdão, em Março de 1933.

    «Uma cereja, costuma dizer-se, puxa outra, e na memória — na memória e no sonhar de olhos abertos — uma segunda primavera compareceu.

    »Fui a Ravenna, em finais de março passado. No Mausoléu de Gala Placídia, o azul intenso até ao

    desespero, pode, com o íntimo furor do fogo, fundir-se e pulverizar-se em raios; pode, lá fora, desbotar o azul, ser o céu celeste, azul quase branco, diáfano, que dá sede, como perenemente sem mácula, até como intolerante que para o acalmar aconteça arriscar-se o pousar carinhoso de um nada de nuvem; o azul pode até adulterar-se, refletindo-se na chapa de água impaciente já de aflorar, lúcida, sobre a erva, ou, no Sepulcro de Teodorico, glauca, a enviscar o muro, água lembrança corrompida, lembrança, estéril mais do que nunca, do azul, ou então, consoante os momentos, lívida, água em crescente obnubilação por ausência, pelo aprofundar-se do desvanecimento pela ausência do azul, chapa de água cor de olhos mortos; pode existir em volta todo este variado azul de inalcançável beleza, mas o amor quando se manifesta nos jovens é indiferente a tudo exceto a si mesmo, e com razão. Apercebemo-nos do azul — é verdade quando o amor não pode senão ser melancolia, quando cada lugar parece já não albergar senão melancolia.

    »Ah, estava a esquecer-me: os pombos que não querem senão ser jovens pombos: por cor variável e por façanhas, tremam eles nas pedrinhas dos mosaicos ou corram pelos campos ou nas calçadas, são animais verdadeiros, animais de facto — espanta-vos? — no sentido ornitológico da palavra ainda que — todos os animais se assemelham no desejo físico — cheguem a parecer-me antropomórficos, se fantasiar.»(1)

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    (1) Giuseppe Ungaretti, "Vida de um Homem, Toda a Poesia", Imprensa Nacional, colecção Itálica, Lisboa, 2021.

    segunda-feira, maio 19, 2025

    #TOLERÂNCIA141 - SOBRE A TOLERÂNCIA SOCIAL E POLÍTICA

     #TOLERÂNCIA141 - SOBRE A TOLERÂNCIA SOCIAL E POLÍTICA

    O trecho que trago hoje tem, evidentemente, alguma coisa a ver com as eleições legislativas de ontem. A única dúvida é a de saber se, caso os resultados tivessem sido outros, o traria, nesta altura para a viagem da Tolerância. Tal dúvida é irrelevante, não merece contemplação ou reflexão.

    Einstein escreveu este curtinho texto em 1933, ainda na Alemanha. Chamou-lhe "Manifesto".

    «Manifesto

    Enquanto tiver escolha, só ficarei num país onde a liberdade política, a tolerância e a igualdade de todos os cidadãos perante a lei sejam a regra. A liberdade política implica a liberdade de expressar as suas opiniões políticas oralmente e por escrito, a tolerância, o respeito por toda e qualquer opinião individual. Estas condições não se verificam actualmente na Alemanha. Aqueles que mais contribuíram para a causa da compreensão internacional, entre os quais alguns dos principais artistas, estão a ser perseguidos. Qualquer organismo social pode tornar-se psiquicamente desestabilizado, tal como qualquer indivíduo, especialmente em tempos de dificuldade. As nações normalmente sobrevivem a estes distúrbios. Espero que em breve surjam condições saudáveis na Alemanha, e que, no futuro, os seus grandes homens, como Kant e Goethe, não sejam apenas comemorados de tempos a tempos, mas que os princípios que eles inculcaram também prevaleçam na vida pública e na consciência geral.»

    Como sabemos, infelizmente o desejo, ou a esperança, de Einstein não se realizou. E hoje vivem-se tempos em que a aspiração e a esperança da Tolerância parece que soçobram perante tantas e trágicas expressões de intolerância; e de incapacidade de dialogar, harmonizar, fazer cedências, caminhar para consensos.

    São, estes, tempos exigentes para a Pedagogia e para a Educação. Que os desafios encontrem os educadores e os professores prontos para eles.

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    domingo, maio 18, 2025

    #TOLERÂNCIA140 - JOGAR COM MAIS TOLERÂNCIA E MENOS PRECONCEITOS

     #TOLERÂNCIA140 - JOGAR COM MAIS TOLERÂNCIA E MENOS PRECONCEITOS

    Continuo empenhado em criar jogos e actividades que se ocupem do valor, ou tema, da Tolerância, seja inventando a partir do Zero, seja adaptando jogos que conheço dos livros, da Internet ou de dinâmicas de grupo (na escola ou nos grupos associativos).

    Criei um a que dei o nome de "O Barco das Opiniões". Tem a ver com aquelas situações em que tantas vezes se colocam os participantes, dizendo-lhes que estão em risco, ficando sem tempo e que só alguns se podem salvar — quais e com que critérios.

    Muitas vezes, nestas situações são sugeridos o religioso conservador, o cientista ateu, o artista

    homossexual, o militar reformado, o idoso sábio, o jovem atleta... Não, não há personagens-tipo, carregadas de preconceitos e estereótipos. Ora bem, por que razão o religioso há-de ser conservador (ou o conservador há-de ser religioso), o cientista ateu (ou o ateu cientista), e por aí fora? São os elementos do grupo por eles mesmos. Com os seus conhecimentos e ignorâncias; os seus preconceitos e os seus estereótipos.

    Focando-me mais na rapaziada dos 12 aos 18 anos (do 7.º ao 12.º ano), o jogo (a ficha-exploração está praticamente pronta), diz-se ao grupo que estão num barco (o clássico barco!...), a deriva; e umas vezes com risco mais iminente de afundar, outras vezes menos. Na forma mais simples, diremos à rapaziada: «Estamos num barco à deriva com recursos limitados. Precisamos de regras para sobreviver o tempo que pudermos.»

    Cada um dos membros do grupo tem de indicar entre uma a três actividades ou acções (depende do tamanho do grupo, quantos mais elementos, menos actividades ou acções cada um indica) para irem realizando no barco, de maneira a manter o ânimo do grupo elevado e conseguirem levar o barco a bom porto (ou mesmo, nas variantes mais pressionantes, salvar o barco e o maior número de vidas possível).

    Ao animador do grupo dá jeito que algumas das propostas sejam conflituantes ou consideradas por alguns dos membros do grupo como sem valor, ridículas, desnecessárias ou perigosas.

    Dá-se um tempo de reflexão pessoal, pedindo que cada um, em silêncio, ponha num papel duas ou três regras. Terminado esse tempo, cada um deles lê aos outros as suas regras, sem as justificar, sem argumentar. Eventualmente, escrevem-se todas no quadro, ou pede-se aos elementos do grupo que as escrevam todas no seu caderno de apontamentos.

    Passa-se em seguida a uma fase de discussão, com um moderador, de maneira que se possa ouvir as opiniões de todos. Já isto tem um objectivo pedagógico concreto: como sabemos que há sempre uns que falam mais e outros que falam menos, treina-se, duma assentada, a capacidade de se expressar no grupo e a capacidade de escutar o grupo.

    Finalmente, depois de encerrado o período de discussão, pede-se ao grupo que escolha as 3 (ou 5 ou 7, depende, mais uma vez, do tamanho do grupo) regras mais importantes, regras que todos vão ter de cumprir. As regras que vão ser escolhidas são as tiverem mais números de votos, sendo a votação feita individualmente, em votação secreta (para garantir mais liberdade pessoal de escolha), repito, das 3, 5 ou 7 regras mais importantes do ponto de vista do objectivo de sobrevivência do grupo no barco.

    Em caso algum deve o moderador do grupo dizer que "Comer só uma vez por dia." é mais importante do que "Rezar quando se põe o Sol.", ou vice-versa.

    Terminada a votação e apuradas as regras vencedores, passa-se a uma nova fase de discussão, em que todos os membros do grupo são livres de opinar como quiserem.

    Em caso algum o moderador deve dizer se escolheram bem ou mal! O importante é que os jovens façam a experiência de opinar, escutar, aceitar ou discordar; e "arriscarem" a tomada de decisão — aberta, por sua conta e risco, sem a avaliação do certo ou do errado pelo crescido (o moderador). E assim se pode ir treinando a tolerância: ao ver que são ouvidos, que são aceites, e que são parte activa na solução de problemas comuns.

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    sábado, maio 17, 2025

    #TOLERÂNCIA139 - A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SERÁ O SER HUMANO AO ESPELHO

     #TOLERÂNCIA139 - A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL SERÁ O SER HUMANO AO ESPELHO

    Nas aulas de ontem, durante a manhã; e nas consultas, à tarde, o mesmo tema apareceu: o Homem que interpreta, ao primeiro contacto, os comportamentos dos outros primatas (chimpanzés, gorilas, orangotangos) como carregados de agressividade; interpreta também assim o comportamento dos marcianos e de habitantes de outros planetas — são todos invasores que nos vêm fazer mal; e agora é a mesma projecção do medo em relação à Inteligência Artificial, quando ela se tornar autónoma do pensamento e acção humana e se bastar a ela mesma.

    Por mim, não tenho medo dos chimpanzés, gorilas e orangotangos, nem dos marcianos. Da Inteligência Artificial autónoma, sim, tenho. E porquê? Porque estou convencido de que ela vai ser o que nós, Humanidade, somos. E, nos tempos que correm, estou convencido de que os valores que orientam a actividade humana são mais negativos do que positivos; são mais competitivos do que colaborativos; são mais de desconfiança do que de confiança; são mais de intolerância do que de tolerância; são mais de predação desenfreada do que de o consumo moderado.

    Ray Kurzweil lançou em 2005 o livro "A singularidade está perto", e no ano passado lançou o "A

    singularidade está mais perto". Este segundo livro ainda não o li. O primeiro é basicamente uma especulação à volta da confluência de três muito recentes desenvolvimentos: a Genética (G), a Nanotecnologia (N) e a Robótica (R) — que ele figura simplesmente com a fórmula GNR.

    A começar o livro de 2024, ele explica logo assim aos leitores:

    «No meu livro de 2005, "The Singularity Is Near", expus a minha teoria de que as tendências tecnológicas convergentes e exponenciais estão a conduzir a uma transição que será totalmente transformadora para a Humanidade. Existem diversas áreas-chave de mudança que continuam a acelerar simultaneamente: o poder da computação está cada vez mais barato, a biologia humana está a tornar-se mais bem compreendida e a engenharia está a tornar-se possível em escalas muito mais pequenas. À medida que a inteligência artificial cresce em capacidade e a informação se torna mais acessível, integramos cada vez mais estas capacidades com a nossa inteligência biológica natural. Com o tempo, a nanotecnologia permitirá que estas tendências culminem na expansão direta dos nossos cérebros com camadas de neurónios virtuais na nuvem. Desta forma, iremos fundir-nos com a IA [Inteligência Artificial] e aumentar-nos com milhões de vezes o poder computacional que a nossa biologia nos deu. Isto irá expandir a nossa inteligência e consciência tão profundamente que é difícil de compreender. É a este evento que eu dou o nome Singularidade.»

    Entretanto, no primeiro livro, o de 2005, o autor escreve, quase a chegar ao final, quando avança para propostas de acção que sejam favoráveis à Humanidade:

    «As abordagens acima referidas serão inadequadas para lidar com o perigo da R patológica (IA forte). A nossa principal estratégia nesta área deve ser a de optimizar a probabilidade de a futura inteligência não biológica reflectir os nossos valores de liberdade, Tolerância e respeito pelo conhecimento e pela diversidade. A melhor forma de o conseguir é promover esses valores na nossa sociedade actual e futura. Se isto parece vago, é porque é. Mas não existe uma estratégia puramente técnica que seja viável neste domínio, porque uma inteligência maior encontrará sempre uma forma de contornar as medidas que são o produto de uma inteligência menor. A inteligência não-biológica que estamos a criar está e estará inserida nas nossas sociedades e reflectirá os nossos valores. A fase transbiológica envolverá a inteligência não-biológica profundamente integrada com a inteligência biológica. Isto amplificará as nossas capacidades e a nossa aplicação destes maiores poderes intelectuais será regida pelos valores dos seus criadores. A era transbiológica acabará por dar lugar à era pós-biológica, mas é de esperar que os nossos valores continuem a ter influência. Esta estratégia não é certamente infalível, mas é o principal meio de que dispomos actualmente para influenciar o curso futuro da IA forte.»

    Para bom entendedor, uma palavra basta: no fundo, o que Ray Kurzweil está a dizer é que "Quem boa cama fizer nela se deitará". Que não nos custe fazer a cama! Que não entreguemos nas mãos de nenhum robôt a cama por fazer! Ah! Segundo este autor, temos um limite para fazermos a cama bem feitinha: 2045.

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    sexta-feira, maio 16, 2025

    #TOLERÂNCIA138 - A TOLERÂNCIA, SEGUNDO A UNESCO

     #TOLERÂNCIA138 - A TOLERÂNCIA, SEGUNDO A UNESCO

    Os Estados membros da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, reunidos em Paris, na vigésima oitava sessão da Conferência Geral, de 25 de outubro a 16 de novembro de 1995, (...)

    (...) Adoptam e proclamam solenemente a presente Declaração de Princípios sobre a Tolerância

    Decididos a tomar todas as medidas positivas necessárias para promover a tolerância nas nossas sociedades, porque a tolerância não é apenas um princípio apreciado, mas também uma necessidade para a paz e para o progresso económico e social de todos os povos,

    Declaramos o seguinte:

    Artigo 1.º - Significado de tolerância

    1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e a apreciação da rica diversidade das culturas do nosso mundo, das nossas formas de expressão e dos nossos modos de ser humanos. É fomentada pelo conhecimento, pela abertura, pela comunicação e pela liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não é apenas um dever moral, é também uma exigência política e jurídica. A tolerância, virtude que torna a paz possível, contribui para a substituição da cultura da guerra por uma cultura da paz.

    1.2 A tolerância não é concessão, condescendência ou indulgência. A tolerância é, antes de mais, uma atitude activa de reconhecimento dos direitos humanos universais e das liberdades fundamentais dos outros. Não pode, em caso algum, ser utilizada para justificar infracções a estes valores fundamentais. A tolerância deve ser exercida por indivíduos, grupos e Estados.

    1.3 A tolerância é a responsabilidade que defende os direitos humanos, o pluralismo (incluindo o pluralismo cultural), a democracia e o Estado de direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e afirma as normas estabelecidas nos instrumentos internacionais de direitos humanos.

    1.4 Em conformidade com o respeito dos direitos humanos, a prática da tolerância não significa a tolerância da injustiça social, nem o abandono ou o enfraquecimento das convicções de cada um. Significa que cada um é livre de aderir às suas próprias convicções e aceita que os outros adiram às suas. Significa aceitar o facto de que os seres humanos, naturalmente diferentes na sua aparência, situação, discurso, comportamento e valores, têm o direito de viver em paz e de ser como são. Significa também que as opiniões de cada um não devem ser impostas aos outros.(1) (2)

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    (1) https://www.unesco.org/en/legal-affairs/declaration-principles-tolerance

    (2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

    quinta-feira, maio 15, 2025

    #TOLERÂNCIA137 - OFENSA. RAZÃO. TOLERÂNCIA.

     #TOLERÂNCIA137 - OFENSA. RAZÃO. TOLERÂNCIA.

    Há temas e assuntos que basta a simples designação numa palavra só para dispararem, nas mentes das pessoas, alertas vermelhos de perigo, confronto rijo e intolerância. São temas cada vez mais carregados de preconceitos e informação distorcida, fluxos de pensamento analítico praticamente inexistente, frases, lemas e 'boutades' sincréticos e grosseiros, reduzidos quase a chavões, ainda por cima, em geral, maniqueístas. É claro, quanto ao maniqueísmo cada um considera-se estar no lado dos bons.

    Penso que essencialmente fruto da influência da Comunicação Social, em geral, e também das redes sociais, tem-se inconscientemente instalado, nas mentes das pessoas, a ideia (sincrética, preconceituada e estereotipada) de que o sofrimento pessoal certifica a boa fé, a justeza e a lucidez de pensamento de quem sofre.

    Nada disso. Nada mais enganador, nada mais perigosamente enganador. Alguém um dia disse mais ou menos assim: «Não é por termos sido ofendidos, ou por nos sentirmos ofendidos, que temos razão.» Concordo inteiramente!

    Pensar que, porque sentimos necessidade de chorar ou porque nos sentimos ofendidos, a (pretensa)

    ofensa que recai sobre nós é acção, é comportamento do Outro, que mostra a nossa razão, além de poder estar errado, pode ser uma medida da nossa própria intolerância — precisamente quando queríamos mostrar que somos genuinamente tolerantes.

    Parece-me que vivemos, repito numa época em que a sensibilidade individual é tomada como medida da verdade. No entanto, sentir-se ofendido não equivale a ter razão. A ofensa é uma experiência subjetiva, profundamente ligada ao contexto, à intenção de quem fala e à percepção de quem ouve. Por isso, não pode, por si só, determinar o que é justo, correcto ou verdadeiro.

    Imagine-se uma situação em que um professor chama a atenção de um aluno por falta de empenho. O aluno pode sentir-se ofendido com a crítica, julgando-a injusta. No entanto, se os factos confirmarem a falta de esforço, a crítica, ainda que desconfortável, revela-se legítima. Neste caso, o sentimento de ofensa não invalida a verdade da observação feita.

    O mesmo se aplica no debate de ideias. Muitas vezes, confrontar opiniões contrárias provoca desconforto. Mas o simples facto de nos sentirmos atacados não transforma o Outro em agressor, nem nos transforma a nós em vítimas e, automaticamente, vítimas com razão. A verdade requer argumentos, não apenas reações emocionais.

    Assim, é fundamental distinguir entre ofensa e injustiça. Nem toda a ofensa é injusta; e nem todo o desconforto é prova de que fomos erradamente ou incorrectamente tratados. Cultivar a tolerância implica também reconhecer que podemos ser contrariados — ou até magoados — sem que isso signifique que a razão nos pertence.

    É preciso reaprender o velho ditado que diz que da discussão nasce a luz. Temos de voltar a sermos capazes de falar e ouvir, mesmo que num tom afectivo um pouco mais acalorado. O calor da discussão é um sinal de envolvimento e entrega pessoal. E uma discussão não é um jogo de ganha ou perde; nem sequer de empate! Temos todos de acreditar, com respeito e tolerância recíprocos, que a discussão traz conhecimento e que todos temos a ganhar em participar nela. A discussão respeitosa e tolerante tem o potencial de ser sempre, sempre, sempre, um "jogo" de ganha-ganha.

    Sim, há muitas e boas estratégias pedagógicas para treinar a capacidade e a competência da discussão. Lá mais para a frente trarei para aqui algumas dessas estratégias.

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