#TOLERÂNCIA120 – AFINAL, NÃO VOU VER O CÉU ESTRELADO DE LISBOA
Há pouquinho, a caminho de casa, tive um sobressalto de
entusiasmo: por causa do apagão de hoje, que se previa ser de muito maior
duração, veio-me à cabeça que ia ser uma grande oportunidade de ver o céu
estrelado em Lisboa!
Já quase à porta, um antigo aluno, querido vizinho, veio na
minha direcção, trocámos um abraço, falámos do apagão e eu disse-lhe do meu
pensamento do céu estrelado de Lisboa. Teve uma reacção de espanto, que não
tinha pensado nisso, mas que, não senhor, também não deixaria de aproveitar a
noite excepcional que, naquele momento, os dois antecipávamos.
Ainda não tinham passado 5 minutos depois de ter entrado em
casa, voltou a luz! Ouvi o pi do frigorífico e ouvi um bem audível bruá da rua.
As lanternas e as velas da noite especial, tinha acabado de as posicionar na
casa, estava a preparar o computador para escrever este apontamento. Confesso
que fui tomado por uma pequenina decepção, já estava mesmo convencido de que ia
desfrutar uma noite estrelada muito excepcional em Lisboa.
Continuo sem Internet e sem televisão. Tenho à minha beira
um rádio transístor, está o sr. 1.º-Ministro a falar à Nação.
4 vezes subi e desci lanços de escadas de 9 andares e também de 7 andares.
Na rua, um movimento inusitado de pessoas. Vi muita gente
carregada de garrafas de água de litro e meio; e mais gente ainda nas lojas dos
chineses, a comprar lanternas, pilhas e velas.
Gostei do que vi na rua e nas lojas dos chineses! E o que vi
eu? Vi serenidade, vi tranquilidade, vi bom humor; e vi Tolerância.
Por 3 ou 4 vezes tive de atravessar ruas e faixas
rodoviárias de movimento intenso. Em todas as vezes, os condutores foram cautelosos
e atenciosos e deram-me sempre prioridade de passagem; e vi fazerem o mesmo a
outros transeuntes.
Nas lojas (as lojas de chineses são sempre de grande
densidade de artigos e de corredores de prateleiras estreitos), as pessoas
tinham de se atravessar umas à frente das outras e acumulavam-se
desordenadamente junto às caixas de pagamento. Não vi um gesto de impaciência,
de irritação, de disputas de prioridade no atendimento e no pagamento.
Sim, pareceu-me que as pessoas, em geral, reagiram com
Tolerância ao apagão da energia eléctrica e à maneira como o apagão afectou,
inesperadamente, as suas vidas. Gostei do que vi!
A intolerância desembocaria no “salve-se quem puder”; a
Tolerância produziu a atenção, o cuidado, o saber esperar, a cordialidade e o
bom humor.
Senhores governantes, saibam merecer cidadãos assim.
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