quarta-feira, abril 16, 2025

#TOLERÂNCIA108 - A TOLERÂNCIA À MUDANÇA, NA PRIMEIRA PESSOA

 #TOLERÂNCIA108 - A TOLERÂNCIA À MUDANÇA, NA PRIMEIRA PESSOA

«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, / muda-se o ser, muda-se a confiança; / todo o mundo é

composto de mudança, / tomando sempre novas qualidades.»

Estou à beira de mudanças, digamos, formais, da minha vida. Tem a ver com a aproximação da reforma, está a acabar o tempo das minhas obrigações profissionais. Os psicólogos, naturalmente, classificam esta fase da vida como uma fase crítica, desafiante, da vida pessoal, os autores de inspiração eriksoniana dizem tratar-se duma crise psicossocial do desenvolvimento individual.

Quando, primeiramente, acabei o ensino secundário, em Junho de 1975; e depois, quando acabei a licenciatura em Psicologia, em Novembro de 1981, tinha na cabeça o desenho total, claro, do que iria ser a minha vida até à idade da reforma.

Numa espécie de parêntesis, direi que chego ao tempo de actividade profissional, objectivamente, como se tivesse reprovado 2 anos, sem nunca ter reprovado! Como fiz o percurso escolar, após a 4.ª classe, no ensino técnico, tive de fazer, entre a conclusão do Curso Geral de Comércio e o Curso Complementar de Contabilidade e Administração, a Secção Preparatória (no ano lectivo logo a seguir, acabaram com esse ano escolar, que se reduzia à frequência de 3 disciplinas; Português, Matemática e Físico-Química). Isso aconteceu no ano lectivo 1972/73. Depois, no ano lectivo de 1975/76, em resultado das mudanças turbulentas trazidas pelo 25 de Abril, tive de fazer o Serviço Cívico.

Aos 19/20 anos, e a seguir, aos 26 anos, esses anos "perdidos" não me afectavam, até porque o que fiz no ano lectivo do Serviço Cívico foi absolutamente determinante para o rumo que tomei na vida. Agora, que o fim das obrigações profissionais chega, tomo consciência de que esses anos "perdidos" me afectam bastante nas condições remuneratórias e assistenciais da reforma.

Ao longo de todos estes anos, de 1976 a 2025, tudo o que podia estar determinado desapareceu e tudo o que podia ter mudado mudou, mas mesmo tudo!

Voltando aos versos de Camões e ao que eles nos avisam, direi que não sou, quase de certeza, o primeiro a dizer que nem toda mudança é positiva, e nem toda resistência é irracional.

Procurei ser tolerante com todas as mudanças, profissionalmente, se elas favoreciam alguns e chegavam a desfavor de outros, eu estive sempre do lado dos desfavorecidos. Tudo sempre procurei tolerar e adaptar-me, mais do que tolerar e aceitar. Sim há coisas que eu continuo a sentir que nunca aceitei.

Reconheço que estou a tentar chegar os fim do meu magistério de professor sem, como se costuma dizer, sem amargos de boca, sem ressentimentos, dominando o sentimento de ter sido injustiçado. Mais que nunca, penso em tantos milhares de portugueses que se sentirão como eu agora tento não sentir.

Tenho consciência de que vou ter de me confrontar, com o olhar da memória, com vários nós que se formaram e nunca se desataram na minha condição de professor do ensino público — a que me dediquei com o ideal de Abril. Sei que, na minha mundividência e na minha condição de cidadão do mundo, de que não abdico de manter activa, há coisas, há ocorrências que nunca aceitarei. Terei de pedir à Tolerância que me ajude a viver com elas, há muito que quero ainda fazer, talvez nem 100 anos de vida cheguem para fazer o que ainda quero, e que não se resumem a pura fruição pessoal, mas mantêm a opção e a coerência do meu caminho: estar e fazer com os outros, dando primazia ao comunitário, ao colectivo em detrimento do pessoal e individual. Doutra maneira teria de reconhecer que andei toda a vida enganado e por agora tenho a certeza de que não.

Se alguma dúvida tivesse, a leitura integral do trabalho dum aluno, que fiz hoje de manhã, seria o suficiente para ter a certeza de valeu a pena o que fiz desde que, logo no início do ano de 1982, me entreguei à profissão para que me preparei na Faculdade: a prática profissional da Psicologia, em que sempre preferi a vertente da Educação relativamente à vertente de Consulta Psicológica individual.

Neste trabalho está uma capacidade realizadora tremenda do aluno, carregada duma profunda motivação pela tarefa; mas está também tudo aquilo que eu sempre quis que fosse a visão dum aluno em relação ao que é a riqueza do conhecimento psicológico e a disciplina do espírito de exploração científica determinada e sistemática.

Jane Goodall, a notável primatóloga que tenho o privilégio de conhecer pessoalmente e de com ela ter conversado, e que está presente nas minhas aulas há praticamente 30 anos, continua a viajar por todo o mundo — não obstante a idade, com muita frequência. Com ela leva sempre, desde que um dia lho ofereceram, um pequeno macaquinho de peluche. A mim fica-me a apetecer levar, vá para onde vá, o trabalho escolar que hoje li, feito por um aluno meu.

Quando a intolerância espreitar, a tentar despoletar dentro de mim sentimentos negativos ou tóxicos, se necessário vou à releitura do trabalho buscar a força da Tolerância apaziguadora e que liberta as energias para o que de bom a Vida tem por todo o lado.

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