#TOLERÂNCIA95 – A BIOLOGIA DA TOLERÂNCIA
Já quase não cabem no Facebook, transbordam-no, os pequenos vídeos, amadores, de gentes que participam em safaris de faunas africanas e sul-americanas abundantes.
Hoje, à hora do pequeno-almoço, vi dois. Deixaram-me a pensar.
Um deles era sobre as capivaras, apresentado como animal bastante sociável e tolerante que quase não dá para acreditar. O outro era sobre a tentativa dum leão caçar um búfalo africano: quase oito minutos de luta, desta vez ganhou o búfalo, o leão parece, mesmo no fim, que, ofegando já sem forças, se ajeita na posição de deitado para morrer, seria o seu derradeiro aconchego.
Em relação às capivaras, interrogo-me se se trata dum traço de personalidade — qualquer coisa à
semelhança do que se diz dos bonobos que, sendo praticamente indistinguíveis dos chimpanzés, tenderão a resolver os conflitos entre si ao jeito do “make love, not war”, ao passo que os chimpanzés tenderão a ser mais ao contrário, ou seja, mais do tipo “make war, not love” —, ou uma estratégia evolutiva, em que as boas relações sociais, eventualmente mutualistas, são mais vantajosas à sobrevivência do que as relações de competição, disputa e agressão.No vídeo do leão e do búfalo, o que me impressionou especialmente foi o búfalo: já o leão não se conseguia levantar, o búfalo ficou ali parado, de frente para o leão. Não se afastou, não desferiu qualquer investida final sobre o leão (um ser humano não se teria ficado assim, a raiva certamente pediria expansão violenta sobre o atacante assassino), havia no comportamento do búfalo que me fazia pensar na Tolerância. Era como se o búfalo assumisse a consciência (Cá está o antropomorfismo…) de que tinha de estar disponível para aquela luta de sobrevivência até ao fim porque é assim que a Natureza manda, tanto aos leões como aos búfalos, aos predadores e às presas.
O mito bíblico do Jardim do Éden (bem como espaços artificiais de vida selvagem actuais) mostra que a abundância de recursos alimentares elimina a competição, a luta pela sobrevivência. A realidade da escassez desses recursos (e de outros, por exemplo, espaços de habitats para as populações animais permanecerem e se deslocarem) faz aumentar a disputa e a competição. A abundância é amiga da Tolerância, a escassez não é.
É com alguma ligeireza que penso que possa haver qualquer coisa “tele”, que esteja nos contextos de vida que sabiamente avise que a tolerância entre as espécies e a tolerância nos comportamentos é amiga da poupança dos recursos de vida disponíveis, ganhando todos com a Tolerância recíproca que mostrarem.
Nas sociedades humanas, nelas vale o ditado que diz que “Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.
Ora, se a Tolerância tem raízes biológicas, é à Política que cabe a responsabilidade de gerir, negociar, adaptar, distribuir entre diferentes, entre contrários, entre opositores, entre rivais, entre competidores, de modo a que se faça a distribuição justa, equilibrada e equitativa dos recursos necessários a satisfatória subsistência dos grupos e das sociedades humanas.
Neste modo de ver, o que cabe então à Pedagogia e à Educação? Mais do que falar, é fazer a experiência da cooperação, da interajuda, do mutualismo; da gestão de recursos limitados; da Tolerância da espera, do possível e das diferenças das necessidades duns e outros. Mostrar, através de jogos e projectos concretos, que a parcimónia, a moderação são opções que satisfazem mais membros dos grupos.
Num ‘site’ de notícias da BBC em português, leio que o notável Presidente do Uruguai, José Mujica um dia disse assim: «Eu não sou pobre, eu sou sóbrio, de bagagem leve. Vivo com apenas o suficiente para que as coisas não roubem minha liberdade.» É o desafio da sobriedade como maneira de vencer o aparentemente insolúvel dilema dos ricos e pobres: os pobres que querem ser ricos e os ricos que não querem ser pobres. A solução pode estar mesmo na aprendizagem e aceitação da sobriedade.
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