#TOLERÂNCIA110 - DESEJAR E NÃO REALIZAR. HAJA TOLERÂNCIA.
O sonho comanda a vida, não é?, e tentamos que a vida seja preenchida com a realização de desejos. Desejos de realização pessoal, profissionais, de sucessos desportivos ou artísticos; amorosos e de reconhecimento pessoal; sociais e políticos.
Entretanto, há momentos em que, por mais que nos esforcemos, sonhos e desejos há que parecem inalcançáveis — angustiamo-nos na dúvida e na incerteza, redobramos a ânsia de não os perder. Ou então tomamos consciência de que são mesmo inalcançáveis. Nestes instantes, a tolerância não é apenas uma virtude, mas um acto de apaziguamento emocional.
Tolerar não significa desistir, e a consciência de desistir, por princípio, provoca danos na auto-estima de
cada um de nós. Desistir é, antes, reconhecer que existem influências e determinantes que estão fora ou para além do nosso controlo. Quando um objectivo, ou sonho, ou desejo não se concretiza, a frustração pode ser amarga, desalentadora, mas a Tolerância age como um antídoto, ensinando-nos a conviver com as vicissitudes da vida, que, o mais das delas, cegas aos desejo individual, seja de quem seja, parecem ter imperial desprezo pela nossa pessoa. Mas não, é tudo construção das nossas mentes egocentradas.Talvez ajude o crescimento da Tolerância a dinâmica pessoal duma espécie de diálogo íntimo. Podemos perguntar-nos: «O que este desejo diz de mim?»; e depois «O que é que a não realização deste desejo diz de mim?»; ou ainda «O que me custa especialmente na frustração deste desejo?» Pode ser, após o desalento e a frustração, em resultado da aceitação tolerante do desenlace que se queria evitar a todo o custo, desperte em nós um sinal de coragem, de ambição saudável, ou, no mínimo, o que já seria um resultado muito bom, um alerta para repensar caminhos.
Aceitar que certas metas escapam às nossas mãos não é fraqueza, mas maturidade. A história humana está repleta de exemplos: artistas cujas obras só foram valorizadas após a morte, cientistas rejeitados enquanto estavam vivos, amores que se perderam no vai e vem das estações. Todos eles carregaram o peso do "não", mas muitos encontraram, na Tolerância ao inesperado, ou melhor, ao desenlace indesejado, a força para seguir.
Há aqui qualquer coisa da exortação essencial da logoterapia de Viktor Frankl: o empenho pessoal em novos objectivos, de preferência, que sirvam as comunidades humanas.
A Tolerância aos desejos não realizados também nos humaniza. Bem pensada, permite-nos, em espelho, tomarmos consciência da vulnerabilidade do Outro, pois certamente todos carregam frustrações silenciosas que se vão acumulando ao longo da vida. Quando somos capazes de olhar os nossos vazios, as nossas incompletudes, tornamo-nos mais compassivos — connosco mesmos e com os outros. Afinal, e talvez influenciado pela circunstância do lugar em que neste momento me encontro, ninguém é uma ilha de sucessos; somos arquipélagos de tentativas, algumas afundadas, outras ainda à deriva. E em todas as ilhas encontramos realizações, fracassos e insuficiências.
Por fim, essa Tolerância é um convite à reinvenção (voltamos a Viktor Frankl). O que não floresceu num terreno pode brotar noutro, se lá lançarmos outra semente, e de formas que nem imaginávamos.
No fim, tolerar não é desistir de sonhar, mas sonhar com os olhos abertos — enxergando, na paisagem do real, possibilidades que a obsessão ansiosa ou angustiante não permitia ver. E é nesse equilíbrio que descobrimos a verdadeira liberdade: a de seguir em frente, leves, mesmo carregando o que não pôde ser.
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