#TOLERÂNCIA101 - TOLERÂNCIA AOS ERROS DE FALA E ESCRITA DOS ALUNOS
Logo de manhã, ali juntinho ao primeiro degrau das escadas da entrada da estação do Metro, passei por dois jovens. Um deles estava de corpo e olhos bem fixados no ecrã do telemóvel, os dedos polegares clicando aqui e ali; o outro quase o amparava, imaginei para que o colega se sentisse de postura em boa segurança, sem receio de se desequilibrar, e mantivesse em alto nível o desempenho no jogo.
Precisamente no momento em que passo por eles, o jogador grita: «Ele vai-lhe matar!» O que o rapaz
queria dizer era «Ele vai matá-lo», ou mesmo «Ele vai-o matar!»É cada vez mais frequente ouvir os alunos e ler os seus textos com a troca dos "-o" e "-a" pelo "-lhe", ou mesmo só " lhe".
Estou convicto de haver quem já tenha escrito acerca desta troca, e de mais não sei quantas trocas. Se procurasse nos livros do linguista Marco Neves, nos seus podcasts, ou nos seus posts, ou nos seus blogs; ou se procurasse no Facebook do linguista Fernando Venâncio, certamente encontraria uma explicação ou justificação. Inclusivamente, se escrevesse a um ou outro pondo-lhes a questão eles certamente me responderiam. Um e outro são muito tolerantes quanto ao uso da Língua. Eles terão para a Língua o mesmo entendimento amplo e aberto que eu tenho para as coisas da Psicologia.
Não vou já aos peritos, nem aos seus documentos, porque quero manter-me durante mais algum tempo na vivência de quem reage com desconforto, insegurança e ignorância quando detecta o que lhe parece ser um erro gramatical da fala ou da escrita. Hoje em dia, essa é uma situação frequente no dia-a-dia dos professores, começando logo no ensino básico, passando pelo secundário e acabando no universitário. Sim, é um erro que também já se encontra frequentemente no ensino superior, até mesmo em quem concluiu mais ou menos recentemente mestrados e doutoramentos.
"Erros" do tipo do petaloso, o delicioso erro de que António Mega Ferreira tão bem fala no livro "Itália - Práticas de viagem" (penso que, se bem me lembro, é mesmo o último capítulo do livro), são muito raros.
Outro erro que tenho vindo a ver tornar-se avassalador resulta da contaminação do "eventually" do inglês em frases como, por exemplo, esta: «O meu avô tirou o curso de Engenharia Mecânica e eventualmente tornou-se responsável da secção de projectos de engenharia numa empresa multinacional». Como há muito nos alerta Fernando Venâncio, o neto queria dizer que o avô «com o tempo tornou-se...»
Mantêm-se os velhos erros do «meia-dia e meio» e das «duzentas gramas»... Se os toleramos (e estou a referir-me essencialmente aos professores), perpetuam-se; se não os toleramos, bem, nos dias que correm já não se limitam a chamarem-nos dons Quixotes ou Velhos do Restelo, corremos mesmo o risco de nos acusarem de conservadorismo reaccionário que impede a liberdade de expressão ou o uso criativo da Língua.
Bem, pela minha parte, mesmo que o faça, sempre, boamente, em sala de aula sou intolerante com qualquer um dos erros que assinalei. 'E prontus', agora que disse o básico do que penso deste assunto, vou falar com o Marco Neves e o Fernando Venâncio.
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