#TOLERÂNCIA94 - A GRATIDÃO É COISA DIFÍCIL?
Esta fase do ano escolar é-me sempre especialmente intensa por causa da entrega das versões finais dos Trabalhos Monográficos dos alunos.
São trabalhos que os alunos vão desenvolvendo ao longo do ano lectivo, e cuja essência é a do contacto pessoal, directo, com uma pessoa que é, seja porque razão for, objecto dum respeito, fascínio, admiração ou afectividade especial. A grande maioria das pessoas escolhidas são os avós e as avós. Como eu digo e redigo, citando o autor ou um dos seus mil e um ecos, «Aprende-se mais a ler num homem do que em dez livros.»
Os trabalhos são também oportunidade para o amadurecimento pessoal e social. Eu não dou aulas sobre
a Psicologia das Relações Pessoais, eu procuro que cada tarefa escolar, cada dinâmica de sala de aula, seja uma oportunidade de educação e aprendizagem das relações pessoais, vividas momento a momento, tarefa a tarefa, reflexão a reflexão, avaliação a avaliação.Mais uma vez tive muitos trabalhos (a grande maioria) ricos de dedicação, empenhamento pessoal; de descobertas humanas, não apenas por causa de tanta coisa que os alunos ficaram a saber, por exemplo, dos seus avós, mas também por causa do que descobriram acerca de si mesmos.
Há trabalhos tão carregados de afectividade positiva, muito carinhosa; e de tão grande cuidado na sua apresentação, que, depois de os lermos, estranhamos que não haja uma única palavra de agradecimento aos avós e às outras pessoas que colaboraram na realização dos trabalhos. Sim, na maioria dos trabalhos, nem uma vez aparece a frase duma palavra só: «Obrigado!»
Há uma manifesta, e muito generalizada, ausência da expressão da gratidão. Não bastam os mimos, os abraços, as juras de «Gosto muito de ti, avó!», é preciso ser-se capaz de expressar gratidão com as palavras, usando a fala. A fala compromete o falante, muito mais do que o silêncio, que em si é de ouro. É por terem clara noção do compromisso que a palavra falada contém, que os Chefes da Igreja Católica há muitos séculos criaram a figura da designação de novos cardeais com a forma (ou modalidade) "In pectore": a palavra falada tem riscos, repito, compromete.
Ora se a falta de expressão da gratidão nos adultos é censurável, nas crianças e nos jovens ela deve ser tolerada. Tolerada porque se assume que as crianças e os jovens podem afirmar na primeira pessoa, como um dia cantou António Aleixo: «Não sou esperto nem bruto / Nem bem nem mal-educado / Sou simplesmente o produto / Do meio em que fui criado.»
A indiferença e a falta de gratidão entre os jovens — seja para com familiares, professores ou amigos — muitas vezes não são fruto de maldade, mas são resultado da falta ou do excesso de algumas coisas. Há quem diga que a gratidão não é inata, mas que se adquire, treina-se cresce com a experiência e a aprendizagem. Eu não penso exactamente assim: eu acredito na educação, no treino e na aprendizagem, mas a observação dos bebés e das crianças pequenas tantas vezes nos mostram o prazer que as crianças têm em expressar contentamento e gratidão. Só que depois... desaprendem! Alguma coisa ou alguém as deseduca.
A frase seguinte não é minha, apanhei-a por aí, algures: «Tolerância não é concordar, é respeitar. Gratidão não é obrigação, é reconhecimento.»
A Educação tem de saber promover e ensinar a Tolerância. A Educação tem de saber ensinar que a gratidão não é obrigação, é reconhecimento.
A primeira condição da Educação da Gratidão é a existência (desejadamente abundante) de modelos que se aprendem por mecanismos de imitação e modelagem dos mais velhos.
Esquematizando:
— o seu humano nasce com a capacidade / competência / dom / motivação (seja como seja) de agradecer.
— algures no seu desenvolvimento pessoal, a criança afasta-se, é levada a afastar-se, da sua natureza sócio-afectiva.
— em qualquer altura, pode-se promover a educação da Gratidão nas crianças e nos jovens.
— o principal ingrediente da expressão da gratidão é o exemplo (ou o modelo) dos mais velhos.
Assim, aceite-se e pratique-se a Tolerância da ingratidão dos mais novos. Aceite-se na condição dum projecto de educação pessoal e social sustentado, sem pressas e que não se centre no aprofundamento do sentimento de culpa.
Cada um dos elementos do esquema anterior pede, nesta viagem, o seu próprio desenvolvimento. A eles iremos em próximas jornadas.
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