TOLERÂNCIA96 – TOLERÂNCIA E AUTORIDADE
Volta e meia vem-me à cabeça o pensamento de que os jovens não querem sentir as amarras da autoridade, mas, ao mesmo tempo, os jovens desejam a segurança e a estabilidade da autoridade.
Atrelado a este pensamento vem logo a questão da autoridade e do autoritarismo.
Na esfera da Política — e se calhar porque vêm aí mais umas eleições, eleições em que cada vez mais jovens votam (pelo menos têm idade para votar) e cada vez menos velhos votam —, a questão da autoridade e do autoritarismo tem a ver com a ascensão dos partidos extremistas, sobretudo os de extrema-direita.
No dossier « D'où vient le désir d'autorité ? » (Donde vem o desejo de autoridade?), da revista Sciences Humanies », publicado em 20 de Fevereiro de 2025, vem publicado um artigo, “L'autorité, pourquoi en vouloir plus ?” (Porque se deseja mais autoridade?), sendo o texto da autoria de Nicolas Journet, e do qual destaco o seguinte:
[…] Cansaço democrático (Prefiro traduzir por Lassidão democrática)
No entanto, seria errado interpretar qualquer exigência de autoridade como inspirada por um sentimento de insegurança ou de perda de identidade. O apagamento da autoridade sagrada pela modernidade significa que a vida em comum já não pode ser considerada um dado adquirido. Livres e iguais perante a lei, os indivíduos têm de negociar constantemente acordos, obter o consentimento dos outros e argumentar para o fazer. Mas a autoridade, tal como Hannah Arendt a entende, não tem de ser argumentada, não tem de convencer. Tal como o uso da força, a obrigação de se justificar significaria o fracasso. Neste sentido, a autoridade pura, segundo a filósofa, não se coaduna com as formas liberais de governação, que exigem que o poder se explique, argumente, negoceie e, eventualmente, persuada. É por isso que o autoritarismo, ao contrário da autoridade, se opõe muitas vezes à democracia.
O funcionamento das instituições políticas democráticas também pode conduzir a bloqueios: a ausência de maioria e o impasse das negociações, a insatisfação económica e os conflitos sociais repetidos são motivos de exigência de uma gestão autoritária dos assuntos públicos. Várias sondagens de opinião realizadas em França nos últimos vinte anos mostram que a opinião pública, nomeadamente entre os jovens, é cada vez mais tolerante em relação a formas de governo autoritárias. Em 2000, 63% deles diziam-se atraídos pela figura do “líder sem contra-poder”, sem especificar de que tipo. Esta “cesarização” da autoridade governativa não põe directamente em causa a escolha popular, mas o princípio da independência dos poderes executivo, legislativo e judicial: a autoridade do Chefe de Estado subordina-se à do legislador e à do juiz. Paradoxalmente, esta forma de governação acomodaria os procedimentos democráticos directos. No entanto, quer lhes chamemos “iliberais” ou “democraturas”, os regimes conformes a este modelo observados na Hungria ou na Eslováquia não passam sem reduzir as liberdades públicas: liberdade de expressão, de reunião, de manifestação, etc., porque a preocupação é reduzir outros poderes: os meios de comunicação social, os partidos políticos, os organismos intermediários.
Por outro lado, não se inspiram necessariamente na tradição ou na restauração de uma ordem perdida. Uma análise do investigador Simon Guillouet sobre a situação da opinião pública francesa em 2023 revelou uma tendência, ainda que minoritária, a favor deste estilo de governo. O autor conclui que existe uma procura de eficácia: um francês em cada cinco estaria disposto a aceitar um regime menos liberal, desde que este fosse capaz de “resolver os problemas” que as instituições actuais se mostraram incapazes de resolver. Se os regimes autocráticos são também designados por autoritários, não é propriamente em nome de um valor transcendente, mas porque estão dispostos a limitar o espaço de discussão. Trata-se de uma faca de dois gumes, se quem a reclama se arrisca a ser silenciado.(1)
Não sei se teria sido necessário fazer tão extensa transcrição para chegar ao ponto a que quero chegar: a de estarmos perante um tipo de Tolerância a que chamarei tolerância-desistência.É como se dominasse a consciência duma exaustão e, ao mesmo tempo, duma falta de perspectiva de saída, de boa saída. Quem sabe, é precisamente a essa consciência que os senhores dos poderes políticos, económicos e financeiros querem levar as populações dos países.
Mais que nunca, na escola o contacto com alunos que não são simplesmente os que frequentam a disciplina de Psicologia tem sido especialmente frequente e intenso. Até ao 9.º ano, são alunos que me vêm fazer inquéritos e pedidos de ajuda para os seus trabalhos — são jovens que se entusiasmam com duas ou três coisas que a gente lhes diga e sugira, eles querem passar logo à acção! A partir do 10.º ano, a mundividência torna-se outra, mais calculista, o entusiasmo modifica-se, envolve-se de ambição e sucesso: sucesso académico, sucesso desportivo; e desperta a ambição política.
Vulgarizou-se a exortação dos jovens: «Não desistas dos teus sonhos!», mas elas não matam, mas moem, e vemos, aos poucos, os jovens a resvalarem para essa tal tolerância-desistência. O que fazer?
Fará sentido uma pedagogia do «Não desistas dos teus sonhos!»? Penso que sim. E penso que um dos ingredientes preciosos dessa pedagogia é o lema do «Tu não estás sozinho.»
Todos os outros poderão desistir, mas a Pedagogia e a Educação não! Não lhes falte a tenacidade, a resistência, o coração de maratonista — que não corre sozinho, mas em equipa. Dentro daquela ideia de que é preciso toda uma aldeia para educar uma criança.
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(1) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com
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