#TOLERÂNCIA118 - É BOM PERDER PENSAMENTO
A expressão "perder pensamento" pode parecer estranha, mas se se disser que o seu autor é Mia Couto,
conhecendo-se razoavelmente os textos do escritor moçambicano, a estranheza dissolve-se e ficamos curiosos, queremos saber o que aí vem.A expressão vem num dos seus livros de crónicas, cujo título nos prepara logo para o que a expressão possa significar. É o "Pensageiro Frequente", que junta textos que escreveu para a revista de bordo das Linhas Aéreas de Moçambique. Mia Couto avisa-nos logo à entrada do livro que «São textos ligeiros, cujo destinatário não é exactamente um leitor "típico", mas um passageiro que pretende vencer o tempo e, tantas vezes, o medo.»
A minha circunstancial perspectiva do "perder pensamento" é feita à volta da ideia de que vivemos tempos em que andamos constantemente — agora, mais do que nunca — carregados de pensamento, ou de pensamentos, sejam os de primeira linha (os conscientes), sejam os de 2.ª, 3.ª, 4.ª e 5. º linha (cada vez mais inconscientes, não obstante, activos) e que tal carga pesada reduz-nos a disponibilidade para os afectos e para o contacto social.
No que especificamente diz respeito à Tolerância, limita-nos nas variáveis que se agregam à volta do sentimento da Tolerância e, sem pachorra, nos fazem descambar para o evitamento social e para a intolerância.
É por assim livremente especular que me apetece pôr a hipótese de que, se (como num avião, ou navio, que precisa de aliviar a carga que tem dentro de si porque está à beira de um risco catastrófico) aliviarmos a carga do que temos no pensamento, o apaziguamento interior, por alívio da tensão dos afectos, tornamo-nos mais disponíveis para o contacto social e para a Tolerância.
No pequenino texto de Abril de 2004, "O riso das baleias", Mia Couto escreve assim: «Parte dos turistas toma banho, outros se ocupam a apanhar conchas e búzios. O meu afazer é não me ocupar de nada. A minha felicidade é perder pensamento, deixar-me ocupar por aquela leveza, esquecendo-me de que, perto, existe algo chamado "realidade. As garças cinzentas passam com lentidão de barco e parecem dar-me razão: o paraíso não é um lugar, é um breve momento que conquistamos dentro de nós.»
Vá, alinhemos nesta proposta do biólogo moçambicano: de vez em quando, entretamo-nos a perder pensamento e sintamo-nos leves... leves... leves...
Não é que os resultados surjam logo, de repente. Mas, ao fim de algum treino deste esvaziamento mental, experimentemos em alguém com quem, por alguma razão (pessoal ou profissional) temos de contactar regularmente e para quem já não temos pachorra... Quem sabe, tornamo-nos, aos poucos, menos prisioneiros dos nossos impulsos intolerantes para com ela. Não é que não tenhamos razão ou motivos legítimos, mas pelo menos não nos deixamos afectar tanto pela negatividade ou repulsa que tal pessoa nos desperta.
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