#TOLERÂNCIA117 - OS DECIBÉIS DA INTOLERÂNCIA
A primeira ideia que se tem, que a generalidade das pessoas tem, acerca das diferenças entre a intolerância e a Tolerância, é de que a intolerância é ruidosa, tem muitos decibéis, e que a tolerância é
mais discreta nas vozes.Ouvi hoje partes dos discursos do 25 de Abril na Assembleia da República; outros não ouvi, mas observei as expressões faciais dos senhores deputados que discursavam em nome dos seus partidos.
À tarde, na tradicional Manifestação que desce do Marquês de Pombal à Praça do Rossio, também ouvi vozes e observei rostos.
Se tivesse que classificar as vozes e os rostos da manhã e da tarde, ou seja, se tivesse que classificar as vozes e os rostos dos representantes do Povo, dos Cidadãos, e as vozes e os rostos dos deputados que representam os Cidadãos na Assembleia da República, a classificação dos cidadãos seria bem melhor que a classificação dos seus representantes na Assembleia da República.
A mesma diferença encontraria se medisse, nuns e noutros, a expressão da Tolerância: voltariam a ter muito melhor classificação os Cidadãos; se, por outro lado, medisse a expressão da intolerância nas vozes e nos rostos, desta vez as classificações mais elevadas seriam, sem qualquer sombra de dúvida, dos senhores depurados representantes dos Cidadãos.
Dir-me-ão que, não obstante o número de cidadãos na Manifestação elevar-se a milhares, em oposição aos dos deputados, que ronda as duas centenas e meia, a uniformidade ou identidade desses milhares de pessoas é maior do que a dos deputados representantes. Pois, percebo, admito, mas não explica tudo. Os políticos representantes dos cidadãos têm responsabilidades acrescidas e não podemos, isso mesmo, tolerar que se entreguem a excessos, provavelmente ao serviço de objectivos calculistas de disputa de votos para as eleições que vão realizar-se daqui a 3 semanas, mais ou menos.
Entretanto, o ruído não é um monopólio da intolerância e o silêncio da Tolerância. Bem, se calhar não é bem isto que eu quero dizer. Provavelmente, diferentemente do que eu estava a pensar dizer, a intolerância é mesmo, em geral, mais barulhenta do que a Tolerância. Seja a intolerância negativa ou positiva.
Quando a intolerância é desejável, por exemplo, em contextos de repressão e injustiça ilegítimas, é bom que grupos tolerantes sejam capazes de "fazer grande barulho" para romper estruturas de silêncio e de invisibilidade, como será no caso dos protestos contra regimes autoritários ou decisões discriminatórias que não respeitem os direitos civis.
Quanto à intolerância silenciosa, sim, podemos identificá-la quando vemos que os comportamentos ajudam a manter normas sociais, leis ou instituições que permitem perpetuar diferenças e discriminações (que cada vez mais são designadas como estruturais), como é o caso das diferenças salariais entre homens e mulheres para os mesmos postos e condições de trabalho.
Voltando à Manifestação do 25 de Abril de hoje: foi barulhenta e foi tolerante. A parte barulhenta foi-se fazendo das palavras de ordem, num ambiente de celebração festiva. É, não há festa sem muitos decibéis. A tolerância foi o clima de contacto e comunicação entre as pessoas, lado a lado umas das outras, para além dos grupos organizados, fossem quais fossem as suas naturezas.
Barulho diferente fez-se ali mesmo ao lado, no Largo de São Domingos, que tão carregado está de trágicas histórias ligadas à intolerância religiosa. Hoje carregou mais uma ocorrência de intolerância, política, social e cultural. Já várias vezes lamentei que tivessem apagado de lá as inscrições, em várias línguas, que afirmavam Lisboa como a cidade da Tolerância. Será que está realmente a deixar de o ser?
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