quinta-feira, dezembro 18, 2025

TOLERÂNCIA354 - NEM SEMPRE É FÁCIL SER UM PAI PRESENTE!

 TOLERÂNCIA354 - NEM SEMPRE É FÁCIL SER UM PAI PRESENTE!

QUANDO AS INSTITUIÇÕES DA PRIMEIRA INFÂNCIA SÃO UM OBSTÁCULO PARA OS PAIS

O texto tem por autor Kevin Hirdjee (Psicanalista clínico e psicólogo, exerce na maternidade e no Centro de Estudo e Conservação de Óvulos e de Esperma Humano (Cecos), e publicou “O que é um Pai?” (Fayard, 2024)), e foi publicado nas 'Sciences Humaines' no dia 8 de dezembro de 2025. Será mais um texto-gatilho para os grupos de discussão que na geografia da Tolerância encontrem fermento.

Nem sempre é fácil ser um pai presente! Por um lado, espera-se que eles estejam presentes em todas as circunstâncias, por outro, desconfia-se que são menos competentes do que as mães. Uma injunção

paradoxal contra a qual eles têm de lutar... desde a maternidade!

O texto tem por autor Kevin Hirdjee (Psicanalista clínico e psicólogo, exerce na maternidade e no Centro de Estudo e Conservação de Óvulos e de Esperma Humano (Cecos), e publicou “O que é um Pai?” (Fayard, 2024)), e foi publicado nas Sciences Humaines no dia 8 de dezembro de 2025.

Os pais vivem hoje sob o olhar de normas que não existiam antes. Normas que se revelam contraditórias: pede-se aos pais que sejam presentes, ternos, envolvidos, empenhados... mas, ao mesmo tempo, estes deparam-se com uma série de obstáculos insidiosos, pouco visíveis, mas muito poderosos, que tornam a sua tarefa difícil.

PROFISSIONAIS DE SAÚDE QUE EXCLUEM OS PAIS

Um local condensa estes paradoxos: a maternidade. Em “Da Nascença e dos Pais” (Les Éditions du remue-ménage, 2016), a historiadora quebequense Andrée Rivard traça a história longa e caótica da entrada dos pais nas salas de parto. Ela mostra como esta presença foi conquistada a pulso e permanece, ainda hoje, marcada por uma forte ambiguidade institucional.

Por detrás das proclamações igualitárias, as maternidades permanecem bastiões duma concepção tradicional da diferença entre os sexos: os pais são mais tolerados do que acolhidos. Basta interrogá-los: quantos se sentiram a mais, deslocados ou mal julgados por terem querido passar a primeira noite ao lado da sua companheira? Quantos não encontraram nem cama, nem refeição, nem espaço pensado para a sua presença?

Um estudo etnográfico conduzido por Gérôme Truc (“La paternité en Maternité. Une étude par observation”, Ethnologie française, vol. 36, 2006/2) numa maternidade parisiense traça um panorama preocupante. O autor revela a forma como a própria organização dos espaços e dos horários mantém indiretamente os homens à margem da criança, como se fossem considerados menos "competentes" do que as mulheres.

Este estado de coisas é tanto mais perturbador quanto assenta numa crença errónea: a de um instinto materno "inato", em virtude do qual as mães não teriam de "aprender" a cuidar de uma criança, mas apenas de "reactivar" nelas uma competência latente. Inversamente, os pais, logo à partida julgados menos competentes, não mereceriam uma atenção igual por parte dos profissionais de saúde. Gérôme Truc conclui que as maternidades funcionam segundo um regime "matrifocal", em que a mãe ocupa uma posição central em detrimento ou na ausência do pai.

UM DÉFICE DE INFORMAÇÃO

Estes entraves à integração dos pais aparecem também nas instituições da primeira infância. Os estudos sobre as visitas domiciliárias após o nascimento ensinam-nos, por exemplo, que as parteiras (Marleen Baker et al., “Entre la sage-femme et le père, des espaces coconstruits : étude exploratoire”, Enfances, Familles, Générations, n° 11, 2009) podem negligenciar os sinais da depressão pós-natal dos pais.

Outra investigação realizada em creches e escolas (France Frascarolo-Moutino et al., “La fonction de garde-barrière (le ‘gatekeeping’) des professionnels envers les pères : une puissante influence sur le développement de l’enfant et sur la famille”, Devenir, vol. 29, 2017) invoca a noção de ‘gatekeeping’ para descrever a tendência de algumas cuidadoras para restringir o acesso do pai à criança. As informações transmitidas aos pais durante as reuniões de final do dia nas creches são parciais, decisões terapêuticas são tomadas sem eles, e a sua competência é frequentemente presumida inferior à das mães. A hiperfeminização dos estabelecimentos e as crenças pessoais das profissionais sobre a repartição dos papéis de género criam fenómenos de entre-si feminino que dão aos homens a impressão de que não têm lugar nestes dispositivos.

HOMENS FACE A UMA INJUNÇÃO PARADOXAL

Vê-se bem que os obstáculos à implicação dos pais não são apenas fruto da má vontade dos principais interessados. Quando os homens se empenham junto dos seus filhos, deparam-se com contrafogos poderosos. As maternidades e as instituições da primeira infância fazem viver a alguns homens uma injunção paradoxal. Por um lado, espera-se que eles estejam presentes, e a sua ausência ou negligência são severamente criticadas.

Por outro, faz-se-lhes sentir através de sinais indiretos que não estão no seu lugar. Pior, recusa-se-lhes a aprendizagem dos saberes-fazer parentais que se concede às mães, como se só existisse uma única maneira legítima de cuidar de uma criança: a das mulheres.

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