#TOLERÂNCIA343 - OU A OCIOSIDADE OU O INTOLERÁVEL
Quem nos confronta com esta opção, ou a ociosidade ou o intolerável, é Miguel de Cervantes no D. Quixote de La Mancha:
Ó tu que és honra e glória dos que vestem
túnicas de aço e rútilo diamante,
luz e fanal e mestre e norte e guia
daqueles que, deixando o torpe sono
e os ociosos leitos, só se empregam
no rude, intolerável exercício
das sangrentas, fatais, pesadas armas!
O Cavaleiro da Triste Figura escuta esta fala no castelo dos Duques que acolheram D. Quixote e Sancho
Pança com a intenção de se divertirem à custa da loucura do famoso cavaleiro, e quem profere estas palavras é uma personagem (o mordomo dos Duques) mascarada de Merlin, o famoso mago das lendas do Rei Artur. O objectivo é levar o escudeiro Sancho Pança a ser açoitado 3300 vezes — determinará Merlin a seguir — porque só assim se conseguirá "desencantar" Dulcineia del Toboso.É com as artes e artimanhas dum assim tão pomposo e exagerado elogio a D. Quixote que o "mago" pretende levar por diante o maroteiro divertimento à custa do cavaleiro e do escudeiro.
Forçado pelo próprio cavaleiro a suportar o fardo do desencantamento da amada Dulcineia, Sancho Pança, ardiloso, consegue convencer o amo que se autoflagelou mesmo com as 3300 açoitadelas. O ardil foi de tal forma que ainda ganhou algum dinheiro com ele.
No elogio ficcional do mago Merlin, intolerante tem o sentido de insuportável, do sacrifício pessoal valoroso do sofrimento por uma boa causa.
Entretanto, é na figura de Sancho Pança que fico a pensar, a tolerância que ao longo da narrativa ele vai mostrando em relação ao seu amo. Não é uma tolerância passiva, o escudeiro acaba por se deixar fascinar pelos ideais loucos do seu amo, e é com muita astúcia que ele vai desembrulhando comportamentos que a ambos são úteis, que a ambos ajudam a desenvencilharem-se. Ele aprende a "gerir" a loucura do amo para sobreviver. Sancho Pança, no princípio de tudo, começará por se sentir seduzido; aos poucos vai vendo crescer nele o sentimento da compaixão; a compaixão alimenta a tolerância; a tolerância faz crescer a cumplicidade; a cumplicidade aprofunda a amizade.
Conclusão quase em jeito de ocioso pensamento domingueiro: a Educação tem mesmo de se ocupar com a pedagogia — a boa pedagogia! — dos afectos positivos, não é?
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