#TOLERÂNCIA352 - TOLERÂNCIA E ESTILOS PARENTAIS
Ontem fui ouvir o Professor Manuel Sobrinho Simões, em Vila Nova de Gaia, no El Corte Inglês, na apresentação que ele fez do livro do Professor Francisco Louçã, o "Imaginação - cores, deuses, viagens e amores". Como sempre, deliciei-me a ouvir o notável patologista, que a certa altura falou de Robert Sapolsky e do seu impressionante livro "Comportamento, a biologia humana no nosso melhor e pior". Deixei Gaia, já de noite, de comboio, meio-enjoado com o balanceamento do alfa pendular, a desejar
matar saudades do livro de Sapolsky e hoje fui procurar o livro. Desta vez, tinha de ser, fui ver o que ele tem escrito acerca da tolerância.Procurei no índice remissivo, nada. Nem no que eu sempre acrescento aos livros que leio, na altura em que o li a minha atenção específica ao tema da tolerância era nula. Recorri à edição na língua original, digital, em pdf, e encontrei. Achei que o excerto que a seguir vou transcrever faz todo o sentido com as preocupações ligadas à Educação e à Pedagogia em que tenho mantido foco cerrado.
«Estilos Parentais e Origens Culturais
»Começamos pelo estilo parental, o primeiro contacto da criança com os valores culturais. Curiosamente, a tipologia mais influente de estilo parental, numa escala micro, surgiu da reflexão sobre estilos culturais, numa escala macro.
»Por entre as ruínas do pós-Segunda Guerra Mundial, os estudiosos tentaram compreender a proveniência de Hitler, Franco, Mussolini, Tojo e dos seus sequazes. Quais são as raízes do fascismo? Dois académicos particularmente influentes eram refugiados do regime de Hitler, nomeadamente Hannah Arendt (com a sua obra de 1951, As Origens do Totalitarismo) e Theodor Adorno (com a obra de 1950, A Personalidade Autoritária, em co-autoria com Else Frenkel-Brunswik, Daniel Levinson e Nevitt Sanford). Adorno, em particular, explorou os traços de personalidade dos fascistas, incluindo o conformismo extremo, a submissão e crença na autoridade, a agressividade e a hostilidade para com o intelectualismo e a introspecção — traços tipicamente enraizados na infância.
»Isto influenciou a psicóloga de Berkeley, Diana Baumrind, que na década de 1960 identificou três estilos parentais fundamentais (em trabalhos desde então replicados e estendidos a várias culturas).
- Estilo Parental Autoritativo: As regras e expectativas são claras, consistentes e explicáveis — o "porque eu disse" é anátema — havendo espaço para a flexibilidade; o elogio e o perdão sobrepõem-se ao castigo; os pais acolhem o contributo dos filhos; o desenvolvimento do potencial e da autonomia da criança é primordial. Pelos padrões dos neuróticos instruídos que leriam (quanto mais escreveriam...) este livro, isto produz um bom resultado na idade adulta — indivíduos felizes, emocional e socialmente maduros e realizados, independentes e auto-suficientes.
- Estilo Parental Autoritário: As regras e exigências são numerosas, arbitrárias e rígidas, não carecendo de justificação; o comportamento é moldado principalmente pelo castigo; as necessidades emocionais das crianças são de baixa prioridade. A motivação parental é, frequentemente, a de que o mundo é duro e implacável, e que é melhor que as crianças estejam preparadas. O estilo autoritário tende a produzir adultos que podem ter um sucesso restrito, obedientes, conformistas (muitas vezes com um ressentimento latente que pode explodir) e não particularmente felizes. Além disso, as competências sociais são frequentemente fracas porque, em vez de aprenderem pela experiência, cresceram a cumprir ordens.
- Estilo Parental Permissivo: A aberração que supostamente permitiu aos 'Boomers' inventar os anos 60. Existem poucas exigências ou expectativas, as regras raramente são aplicadas e são as crianças que definem a agenda. Resultado na idade adulta: indivíduos auto-indulgentes com fraco controlo de impulsos, baixa tolerância à frustração, somando-se fracas competências sociais graças a terem vivido infâncias isentas de consequências.
»O trio de Baumrind foi expandido pelos psicólogos de Stanford, Eleanor Maccoby e John Martin, para incluir o estilo parental negligente. Esta adição produz uma matriz dois por dois:
»A parentalidade classifica-se assim como:
- Autoritativa (alta exigência, alta responsividade);
- Autoritária (alta exigência, baixa responsividade);
- Permissiva (baixa exigência, alta responsividade);
- Negligente (baixa exigência, baixa responsividade).
»É importante notar que cada estilo produz, habitualmente, adultos com essa mesma abordagem, valorizando diferentes culturas diferentes estilos.»
Repare-se como esta última frase desafia a Educação! Perante esta afirmação-suspeição de determinismo da influência parental, que cabe ao educador (pai ou professor) fazer? Aceitar?... Contrariar?... O que é aqui a boa pedagogia? Temos aqui pano para mangas.
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