#357 - DEIXEM O NATAL SOSSEGADO. NÃO, NÃO DEIXEM!
Quem diz para deixarem o Natal sossegado é o jornalista Rodrigues Guedes de Carvalho, no artigo de opinião que publica na edição desta semana. Se não foi ele que escolheu o título "Deixem o Natal sossegado", foi alguém por ele, não sei. O que eu sei é que quem diz para não deixarem o Natal sossegado sou eu, sou eu sim senhor. Eu acho que o que RGC quer dizer é «Deixem o Natal em paz, sosseguem no Natal, celebrem o Natal…», e concordo com ele.
Escreve assim o jornalista, depois dos primeiros parágrafos, em que fala da sua própria experiência pessoal, em criança, com os seus amigos, um deles judeu e outros duma família hindu:
«Depois deste intróito se perceberá melhor a dimensão do meu espanto quando esta semana li a resposta de uma escola a uma mãe que estranhou a ausência de enfeites de Natal na escola da filha. Nem uma árvore, por pequena que fosse, nem uma estrelinha. Nem a versão pagã e comercial do Pai Natal e renas. Explica a escola que “a decisão de não utilizar cenários natalícios procurou respeitar toda a comunidade escolar, reconhecendo tanto as famílias que celebram o Natal como aquelas que, por diferentes motivos culturais, religiosos ou pessoais, não o assinalam. Optou-se por um cenário neutro para que todos os alunos possam participar em igualdade”.
»Muito bem. E que possam participar em quê, já agora? Que possam festejar em “igualdade” olhando todos juntos para as paredes nuas de todos os dias? Festejar o quê, se não há cantigas ou histórias? Pergunto mais: houve assim tantos pedidos de diferentes religiões para que a escola matasse o Natal? Ou
foi sobretudo esta autocensura politicamente correcta que se propaga pelo ar em labaredas? Que necessidade é esta de se adiantarem, sem ninguém lhes pedir ou exigir, com esta decisão? Isto é simpatia e respeito pela “diferença” ou é subserviência oca? Porque se confundem as coisas? Porque se considera que esconder a festa do Natal debaixo do tapete faz parte de um pacote de boas-vindas?»
No geral concordo com RGC. Uma coisa que eu faria de maneira diferente era, em vez de perguntar «Isto é simpatia e respeito pela “diferença” ou é subserviência oca?», perguntar «Isto é simpatia e respeito pela “diferença” ou é intolerância pela diferença?»
A escola é um lugar de encontro e de partilha, é esse uma das essências do acto educativo. Os alunos só se podem encontrar no que partilham. Se não acontecem coisas para partilhar, os alunos não aprendem a partilhar, não aprendem as diferenças, não aprendem a respeitar as diferenças.
O cenário neutro nega o encontro, a escola — ignorante, medrosa ou de sensibilidade distorcida e pervertida — não cumpre o seu papel educativo, de experiência concreta da diversidade, da diferença, da inclusão e da integração.
Há vários anos que a Paulinas Editora publica, ano após ano, um "Calendário Inter-religioso", cada novo ano tem uma nova temática. A temática de 2025 foi "Maternidade nas Religiões". O calendário custa 6 euros (https://www.paulinas.pt/produto/celebracao-do-tempo-2025calendario-inter-religioso/). Eu tenho aprendido muito com este calendário e todos os anos algumas coisas nas aulas faço inspirado nele. Não sei qual é o tema de 2026. O calendário "conta, na edição de 2025, com 11 calendários
religiosos (entre os quais ligados ao Hinduísmo, às Tradições chinesas, ao Judaísmo, ao Budismo, ao Cristianismo (Gregoriano e Juliano), ao Islão e à Fé Bahá’í), além das grelhas com as efemérides religiosas e correspondentes explicações sobre a diversidade calendarística, assim como conteúdos sumariados sobre a história, doutrina, símbolos, textos sagrados de cada religião. O calendário contém ainda: elementares informações cosmológicas dos ciclos solar (equinócios e solstícios) e lunar (fases), mas também os dias nacionais dos países da Comunidade Europeia e as datas celebrativas especialmente indicadas pelas instâncias internacionais (ONU e UNESCO) e nacionais (AIMA e feriados civis e religiosos guardados em Portugal)."Em vez do deseducativo "neutro", opte-se pelo educativo "todos": celebre-se, em Dezembro, o Natal; celebre-se, quando o momento do ano chegar, o Ano Novo Chinês; celebrem-se, quando os momentos do ano chegarem, as efemérides dos outros credos religiosos e culturais. Isso vai dar muito trabalho? Vai, é claro que vai, mas é esse trabalho que vale a pena! É esse trabalho que promove a tolerância, a aceitação, a partilha, a integração a experiência positiva e reciprocamente enriquecedora da diversidade.
Vamos lá, caros colegas, vamos lá, senhores professores, agarrem a educação a sério! Abram-se ao Mundo, tal como ele é e não o meçam pela visão pequena do mundo que têm dentro das vossas cabeças. Mundividências assim, pequeninas, fechadas, neutras, são especialmente preconceituosas e perigosas. Acabemos com elas.
Acredito que os meus colegas da escola de que fala RGC vão dar a volta por cima. E também os colegas de outras escolas que tenham tido comportamentos "celebrativos" e "neutros" idênticos.
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