#TOLERÂNCIA349 - APRENDER A TOLERÂNCIA POR ANALOGIA
As analogias dão-nos interessantes e úteis formas de aprendizagem, nem que seja pelo que sugerem. No caso da estação de hoje, este excerto deixa-nos no ar a pergunta: «Então, se precocemente também habituarmos o organismo à tolerância, a tolerância mostra-se adquirida na adolescência e na vida adulta?» A analogia é tentadora. Como diz a entrevistada, a "extrapolação" é tentadora.
Vamos ao caso, que aparece numa entrevista da edição desta semana da revista Sábado. A nutricionista Inês Pádua, que trabalha sobretudo com crianças, integra um grupo europeu que estuda a relação entre os ultraprocessados e o aumento de casos de reacções imunitárias graves a alimentos. A entrevista é conduzida por Lucília Galha.
Pergunta: Na introdução alimentar houve mudanças nos alimentos tradicionalmente considerados alergénios. Porquê?
Resposta: Aquilo que se fez durante muitos anos foi atrasar a introdução de alimentos que se
consideravam potencialmente alergénicos. A ideia era: vamos deixar que a criança cresça, fique com o sistema imunitário mais robusto, e depois então apresentamos-lhe estes alimentos para ela estar mais preparada para os tolerar. Acontece que se percebeu que era precisamente o contrário.Pergunta: Como é que se percebeu isso?
Resposta: Foi há cerca de 10 anos, no Reino Unido, com o amendoim. Foi feito um estudo em que deram amendoim a crianças precocemente e perceberam que elas tiveram uma prevalência menor de alergia àquele alimento. Inclusivamente há dados recentes, de 2024, que mostram que as crianças que entraram
neste estudo, hoje são adolescentes e mantêm a tolerância ao amendoim. Portanto, isto teve efeito a
curto, médio e longo prazo. Depois houve um outro estudo feito com ovo, que teve resultados semelhantes, e daí extrapolou-se para outros alergénios mais comuns.
Pergunta: Quais são, então, atualmente as recomendações?
Resposta: Neste momento, a recomendação que temos é que qualquer alimento, excluindo o sal, o açúcar, o mel, a bebida de arroz, chás e infusões, pode estar na introdução alimentar assim que ela começa - a recomendação geral são os 6 meses, ou nunca antes do quinto mês - e que os alergénios alimentares devem estar todos introduzidos, os principais, até aos 11 meses do bebé.
Pergunta: Há uma janela temporal?
Resposta: Sim, e temos dados dos últimos cinco anos que mostram que, além da introdução precoce, o principal factor protector para evitar uma alergia alimentar é a diversidade. Ou seja, quanto mais alimentos a criança conhecer até fazer 1 ano, melhor.
Eis a tentação da extrapolação: se se consegue educar a tolerância fisiológica muito precocemente, será que se consegue educar também a tolerância psicológica? Depois vem a pergunta, dupla, desafiadora, para a Educação: se a resposta é sim, então, quando é que deve começar? E como é que se faz?
Não é fácil responder às duas perguntas duma maneira que seja útil para para os pais, até porque os pais, especialmente os das crianças mais pequenas, já têm um outro desafio educativo pela frente: tem a ver com o que se costuma dizer "fazer ou não fazer todas as vontadinhas ao bebé ou à criança pequena", disciplinar-lhes hábitos (de sono, amamentação, refeições) ou não, isso sim, deixar que os bebés e as crianças se desenvolvam de acordo com as suas motivações e características de personalidade naturais.
Repare-se como pode estar em causa um, digamos, confronto entre a educação duma tolerância positiva e a lassidão perante uma tolerância negativa: é o espectro dos meninos mimados, que só fazem o que querem e quando querem, só comem o que querem e quando querem... E depois, em que vão eles tornar-se quando forem mais crescidos? Há já um conjunto relativamente vasto de literatura sobre estas questões, e pode-se sempre recorrer aos pedagogos clássicos, da estirpe, por exemplo, de Maria Montessori.
Sou adepto dos grupos de discussão, seja de pais, de educadores, de professores; mistos ou não. E onde falta informação exacta e comprovada, que se chegue à opinião o mais informada e esclarecida possível, para cada um ter ideia do que está em causa e de quais são os graus de liberdade na acção do educador, seja mãe, pai ou educador profissional.
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