#TOLERÂNCIA330 - O MUNDO OCIDENTAL É TOLERANTE?
Foi a notável psicanalista, minha amiga, Zorka Domić, que partilhou comigo, hoje, este texto no Facebook, com esta simples mensagem: «La tolerancia? pour Fernando Pinto Abrazo»
«Perguntei-me se não estaremos, nós ocidentais, a criar grandes ilusões sobre nós próprios.
Imaginamo-nos hoje como uma civilização muito tolerante. Acolhemos todas as formas do passado, as «outras» formas culturais, estranhas a nós; acolhemos também todos os desvios que são da ordem do comportamento, da linguagem, da sexualidade, etc. Eu pergunto-me se isso não será uma ilusão. Por outras palavras, para se poder conhecer a loucura, foi preciso excluí-la. Para conhecer as outras culturas, não ocidentais, foi sem dúvida preciso não só excluí-las, não só desprezá-las, mas explorá-las, conquistá-las e, de certa forma, através da violência, silenciá-las. Silenciámos a loucura e conhecemo-la. Silenciámos as culturas estrangeiras e conhecemo-las. […] A universalidade do nosso saber ocidental foi adquirida ao preço de exclusões […] ao preço de uma espécie de crueldade para com toda a realidade.»As palavras são de Michel Foucault, citado por Andrea Teti durante o Colóquio: "A Palestina e a Europa, peso do passado e dinâmicas contemporâneas", que se realizou no dia 14 deste mês, no Collège de France, em Paris. (Fui pesquisar, e o Gemini disse-me que estas palavras específicas não foram retiradas directamente de um livro escrito por Michel Foucault, mas sim de uma entrevista televisionada, num programa literário francês: Lectures pour tous (Leituras para todos), em 27 de Junho de 1961, sendo entrevistador Pierre Dumayet.
Estas palavras de Foucault, na minha opinião, ilustram magnificamente, claramente, a profunda resistência que pessoas de grande saber histórico, cultural e político — tenho o privilégio de conhecer algumas, sobretudo de língua, cultura e cidadania francesas — mantêm em relação ao valor da Tolerância. Foucault defende que aquilo que o Ocidente vê como abertura, tolerância e universalidade é, na verdade, resultado de silenciamentos opressivos, abafantes, dominadores, e a autocompreensão do Ocidente como civilizado e tolerante oculta os mecanismos de poder que sustentam a arrogância da dominação.
Penso que vivemos actualmente, outra vez, em grandes ilusões de grandes liberdades, em que grandes juras de tolerância mascaram grandes atitudes de intolerância. Muitos mais do se poderia pensar têm telhados de vidro, tanto à direita como à esquerda do espectro político e ideológico.
Mais uma vez, é minha convicção que é a Educação que pode, com sábia pedagogia, enfrentar estereótipos e preconceitos que afastam os indivíduos e os grupos do diálogo, do entendimento, da negociação, da cedência, da compreensão e da aceitação. Como? Repito: com acções, com actividades, com realizações concretas, bem mais do que com infindáveis discursos e confrontos verbais, num campo em que as palavras, ao jeito do amoroso Eugénio de Andrade, já estão gastas. Já fomos tomando contacto, nesta viagem, com muitas propostas de actividades. Volte-se a elas as vezes que forem necessárias; e o limite da criatividade e do entusiasmo para inventar outras é o céu.
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