#TOLERÂNCIA317 - A TOLERÂNCIA AO SOFRIMENTO
Estou seguro de que a geografia deste lugar é uma geografia difícil e o que nela se encontre e identifique será sempre pouco em relação ao que possamos caminhar, espreitar e escavar para a ver na sua totalidade. Por isso não me importo da insuficiência do registo de hoje.
No n.º 268 (Novembro de Dezembro de 2025) da revista OMBRES & LUMIÈRE, o grande tema de debate é o seguinte: "Deve-se aceitar ser um peso para os outros?" Respondem Zidrou (argumentista, autor de Virgile (Le Lombard)) e Claire Dierckx (autora de O Amor Custe o que Custar (Cerf))
Eles são assim apresentados: "Claire Dierckx, portadora de uma doença neurodegenerativa, guarda na memória a violência da eutanásia do seu pai, que não queria ser um peso para os que o rodeavam. Benoît Drousie, conhecido como Zidrou, acaba de publicar a banda desenhada Virgile, sobre um personagem tetraplégico que pede para ser eutanasiado. Estes dois belgas cruzaram as suas experiências para falar de vida e morte, mas sobretudo da gritante necessidade de solidariedade, numa altura em que o suicídio assistido ameaça os mais vulneráveis."
Ambos são confrontados com a seguinte questão: «Ambos viveram a morte do seu pai num contexto doloroso, com duas escolhas opostas. Ambos estão profundamente marcados pelo tema da vulnerabilidade. Contem-nos...» Respondem assim:
Claire Dierckx: «Tenho 31 anos e sou casada com Marc há dois anos, vivemos na Bélgica. Tenho uma doença neurodegenerativa que ataca o meu cérebro, e cujos principais sintomas são a perda de equilíbrio, da marcha, da fala, da visão… Muitas faculdades motoras estão afectadas, mas felizmente não ataca nem o meu coração, nem a minha mente. O meu pai tinha a mesma doença que eu, e pediu a eutanásia após quinze anos de luta.»
Benoît Drousie, também conhecido como Zidrou: «Sou um "boomer" de 63 anos, pai de quatro filhos,
com um casamento feliz, e vivo na Andaluzia. Fui professor do ensino primário, antes de me tornar
argumentista de banda desenhada. Para além dos assuntos sérios, gosto de leveza, e sobretudo de humor, porque é um sistema de defesa. Sempre fui marcado por temas fortes, como o nascimento e o luto, o fim da vida. Também tive um filho gravemente doente. Assisti a festas de eutanásia, e o meu sogro partiu assim. O meu pai, por outro lado, devido à sua fé, preferiu não recorrer a ela, apesar de ter uma doença horrível. Respeitei completamente a sua escolha, mas disse a mim mesmo que talvez ele devesse ter pensado na minha mãe, para quem esse fim foi tão penoso. Lembro-me, ao mesmo tempo, das brincadeiras do meu pai com os seus velhos amigos, das emoções positivas…»
Claire Dierckx: «Quando o meu pai disse: "Tenho vontade de morrer", ele estava a pensar nos outros, para não ser um peso para eles. No entanto, dou-me conta de que, ao longo da sua doença, havia uma enorme quantidade de coisas que mudavam nele, belos momentos de consciência. Achei tão lamentável que ele tenha desistido tão cedo… Eu tinha vontade de lhe dizer: "Não abandones o barco, nós estamos aqui!". Tantos momentos grandiosos podem ser vividos com tão pouco. Tantas coisas belas acontecem
quando aceitamos a nossa vulnerabilidade. Eu própria, depois de ter negado a minha doença durante vários anos, aceitei-a, depois de ter colocado a Deus a questão da fidelidade do seu amor: compreendi então até que ponto, apesar do sofrimento, podia haver muito amor.»
Zidrou: «Penso que é muitas vezes nos momentos muito difíceis, e a Claire ilustra-o bem, como um luto, um filho doente ou com deficiência, que as coisas importantes vêm à tona e que vemos os nossos verdadeiros amigos, os laços que perduram. O facto de se estar doente ou em grande sofrimento tem uma vantagem, quer se escolha ou não, que é esta possibilidade de abrir o coração ou de curar as suas feridas. Vi isto com o meu pai, e com amigos quando eles perdem os seus pais: na doença, pode-se fazer as pazes, e isso acontece mesmo com muita frequência. Esses momentos em que se está em total sinceridade e em que não se usa uma máscara. Mas depois, há esses momentos em que o sofrimento é tão intolerável, em que os doentes vivem um verdadeiro martírio…»
«em que o sofrimento é tão intolerável». Fica a dúvida, hesita-se, os afectos cruzam-se, os laços de humanidade são desafiados... Por agora não quero aproximar-me de nenhuma conclusão, só ficar a pensar.
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