sexta-feira, novembro 21, 2025

#TOLERÂNCIA327 - A ESCOLA REPRODUZ A SOCIEDADE

 #TOLERÂNCIA327 - A ESCOLA REPRODUZ A SOCIEDADE

Gabriel Attal tem 36 anos, apenas, mas já foi Ministro da Educação e da Juventude em França (de 20 de Julho de 2023 a 11 de Janeiro de 2024), e depois foi 1.º-Ministro (de 9 de Janeiro a 5 de Setembro de 2024).

Lembro-me de ter pensado para mim, logo na altura da eleição para ministro da Educação, e mais ainda na nomeação para 1.º-ministro, que mal vai o país, mal vai o mundo, quando um país tão grande, desenvolvido e culto como a França não consegue encontrar entre os mais velhos cultura, saber e experiência política para cargos governativos tão importantes. Adiante.

Na edição de hoje do "Le Figaro Magazine" ele dá uma entrevista a meias com Christine Kelly, jornalista que publicou recentemente o livro "Pourquoi moi ?". Nas duas primeiras respostas que dá na entrevista, ele fala da Tolerância.

1.ª pergunta: "Christine Kelly, no livro «Pourquoi moi ?» (Porquê eu?), a Christine evoca o 'bullying' de que foi vítima durante a sua juventude. Gabriel Attal, o senhor fez deste tema um dos seus principais combates, enquanto presidente da associação "Faire face" (Fazer face). Porque é que esta causa lhe é tão

querida?"

Gabriel Attal: «Fiz deste assunto um combate quando me tornei Secretário de Estado da Juventude e, depois, Ministro da Educação Nacional. É, antes de mais, um combate pela escola. O meu objectivo é que a escola transmita o saber e eleve o nível geral. Ora, não se pode esperar elevar o nível se o ambiente escolar estiver degradado pelo 'bullying'. Uma criança vítima de 'bullying', uma turma onde um aluno é agredido, ou um professor confrontado com esta situação, não conseguem aprender ou ensinar em boas condições. Para além disso, é um combate pela sociedade. Acredito numa sociedade fundada na tolerância e na aceitação do outro. É lutando contra o 'bullying' na escola que preparamos uma sociedade de respeito e de aceitação, pois as crianças de hoje são os cidadãos de amanhã.»

2.ª pergunta: Gabriel Attal, a Educação Nacional leva hoje este assunto suficientemente a sério? Durante muito tempo, houve a tendência de excluir a vítima em vez do agressor…

Gabriel Attal: «Esse foi o reflexo durante muito tempo. O 'bullying' é tão antigo como a escola, mas ocorreram três grandes mudanças. Primeiro, a nossa relação com o 'bullying' mudou. A própria palavra é recente [no discurso público]. Há cerca de quinze anos, ainda se falava de "implicâncias" ou "praxes", e banalizavam-se esses comportamentos. Quando fui ministro, instaurei uma grelha de auto-avaliação preenchida anualmente pelos alunos, do CE2 ao Terminale (do 3.º ao 12.º ano). Isso permite estimar em 700.000 ou 800.000 o número de alunos vítimas todos os anos, ou seja, cerca de dois por turma. Por fim, o 'bullying' já não tem fronteiras. Antigamente, começava de manhã na escola e parava à noite. Hoje, com as redes sociais, continua em permanência. As crianças sentem que aquilo nunca acaba, que não há saída. É isso que explica os dramas que conhecemos, os suicídios de adolescentes. É preciso compreender que não se trata de simples zangas de miúdos. Eu sempre disse que é preciso que a vergonha mude de lado. Não é o aluno vítima de 'bullying' que tem de sentir vergonha, mas sim os seus agressores. O sentimento de culpa é muito forte. O aluno sente também que não há saída, que não tem ninguém com quem falar. Tudo isto leva as crianças a elevar o seu limiar de tolerância e de aceitação, a suportar situações totalmente inaceitáveis sem sequer se darem conta. Estamos a viver uma verdadeira mudança cultural na Educação Nacional sobre este tema. Espero ter contribuído para isso, nomeadamente ao assinar o decreto que prevê agora que é o aluno agressor que deve deixar a escola, e já não o aluno vítima.»

Fica-me em eco a "sociedade de respeito e de aceitação" e "as crianças de hoje [que] são os cidadãos de amanhã." A seguir vem-me à cabeça a obra clássica de Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, a "La Reproduction, éléments pour une théorie du système d’enseignement", de 1970 (eles também falam em limiar de tolerância)... Penso na perversão redutora ao pólo do bom (o aluno vítima) e ao pólo do mau (o aluno agressor).... Penso que modelos de respeito e aceitação, e de tolerância, os governantes franceses têm sido para os cidadãos do seu país...

Noutras estações desta viagem já falei do que a Educação, a Escola, faz e se perde quando se chega à Sociedade Adulta, sobretudo quando a Competição suplanta a Cooperação.

O que dirá o jovem ex-1.º-Ministro francês sobre a Tolerância daqui a 10, 20 e 30 anos? A Educação e a Escola não podem ficar à espera da resposta, têm de continuar a fazer o melhor que souberem e puderem todos os dias. Há que continuar a atirar o barro à parede.

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