sábado, janeiro 04, 2025

#TOLERÂNCIA 6 – NEM TUDO ENSINAR, NEM TUDO TOLERAR

 #TOLERÂNCIA 6 – NEM TUDO ENSINAR, NEM TUDO TOLERAR

Estou a falar das pequeninas coisas do dia-a-dia, a tolerância não tem de ser só das grandes coisas e não tem de ser perfeita; mas também não deve ser uma coisa que nessas coisas pequeninas pode ser considerada sempre sem importância.

Hoje voltei à sauna em Lisboa. Fiel ao cacifo de sempre, cheguei-me a ele. Estava estragado, tive de usar o do seu lado esquerdo. Naquela fileira de cacifos já estava lá um rapaz, muito baixinho e redondinho, quase gordo; e já estava em calção de banho.

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Cumprimentei-o e comecei a preparar-me. O rapaz perguntou-me como era a sauna ali no ginásio, e se eu sabia como é que se fazia. Disse-lhe duas ou três informações básicas. Ele continuou a fazer-me perguntas, das informações passei às recomendações, mas sempre pensando que ele não iria à sauna hoje, estaria a pensar ir num dos próximos dias. A conversa morreu.

Quando entro na cabina da sauna estava lá um senhor dos seus 40 anos. À entrada da sauna, havia uma agitação que envolvia um dos monitores e duas jovens brasileiras: elas riam-se muito e o monitor saiu apressado da zona da piscina, as meninas ficaram ali à espera. Quase de seguida ele voltou com duas toucas e entregou-as às meninas que não paravam de rir entre a pequena vergonha de não saberem como as coisas se faziam e a excitação de irem entrar pela primeira vez na banheira do jacuzzi.

Apercebi-me disto tudo porque, em razão da posição em que o meu parceiro de cabina estava sentado, calhou-me o lugar mesmo em frente à porta da cabina e o monitor e as meninas estavam precisamente ali à frente da porta. Falavam alto e a banheira do jacuzzi é logo a seguir à cabina da sauna.

Já não dava para as ver entrarem para a banheira do jacuzzi, mas dava para continuar a ouvi-los, aos 3. Dentro da cabina, o meu ocasional parceiro ria-se com o que se passava e comentou para mim que eles estavam os 3 muito divertidos. Sorri a concordar, fiz um «Hum-hum», mas não quis alimentar a conversa. Percebi que ele estava cheio de vontade de ir ver o que se estava a passar.

Aconteceu que o rapaz que me falara no balneário entrou nessa altura. Sentou-se entre mim e o meu parceiro, comentou para nós os dois que se estava a estrear e o meu parceiro aproveitou logo para lhe dar umas dicas, entre elas, a de que deveria descer para o assento de baixo, que ali em cima era mais quente e deveria ser só para quem já tem muita experiência. Adianto já que, pelo comportamento que teve durante os meus habituais primeiros 15 minutos, ele não tem seguramente muita experiência, ou se a tem, ou melhor, se pensa que a tem, está cheia de incorrecções.

Como eu previa, não tardou a juntar-se ao grupo das excitadas risadas na banheira do jacuzzi, até porque, como ele comentou para o pequeno estreante da sauna, «Eh, pá, são as duas muito divertidas, são muito simpáticas, e são boas...». Quanto aos equívocos de prática da sauna que nele me fui apercebendo, olhem, ele que se tivesse com eles — mesmo que me começassem a incomodar as constantes entradas e saídas da sauna, de 2 em 2 ou de 3 em 3 minutos, assim prejudicando a manutenção da temperatura desejável na cabina. Quer dizer, optei por ser tolerante.

Nos momentos em que estive sozinho com o rapazinho estreante, procurando não o saturar de ensinamentos, tive o cuidado de lhe dizer uma ou duas coisa básicas como, por exemplo, que não se exigisse já o esforço de 15 ou 20 minutos seguidos de sauna, que não fosse atrás da ideia, errada!, de que há que sofrer com o calor da sauna, mas que é uma aprendizagem progressiva ao longo de um ou dois meses.

A certa altura o rapaz fez menção de sair e recomendei-lhe que não voltasse antes de 5 ou 7 minutos, no mínimo, passados lá fora; e disse-lhe que o choque térmico do banho frio não é indispensável, pode ser um chuveiro de água um pouco tépida, que depois ele pode esfriar, se quiser. Finalmente fiquei sozinho. Foi sol de pouca dura.

Pouco depois voltou a entrar o meu parceiro do princípio; depois ainda uma das raparigas brasileiras; e finalmente, o rapaz estreante. Aquela porta não parava de abrir e fechar... O meu parceiro "experiente" desta vez aproveitou para dar alguns conselhos e avisos à rapariga, coisas, quase todas elas, erradas, viciosas, mas, pronto, de que não viria nenhum mal ao mundo por causa de tais avisos e conselhos, nem para o mundo, nem para a rapariga. Ele ensinava mal, eu ouvia-o e aguentava ali, sinceramente, sem esforço e sem irritação, ai tolerando aquele "perito da sauna".

Até que, denunciando quanto os olhos dele percorriam de alto a baixo a jovem, ingénua e simpática brasileira, ele lhe disse que tivesse cuidado, porque se fizesse muita sauna acabaria por emagrecer muito e que isso não era nada bom para ela.

Pronto, desta vez não me mantive no silêncio de não ensinar, a minha tolerância tinha, digamos, chegado ao limite. É que, tanto pela minha experiência da escola, como da clínica, sei bem o mal que tantas raparigas fazem à saúde do seu corpo com o forte desejo de se tornarem mais magras.

Disse com bastante clareza que a ideia da sauna fazer emagrecer era uma ideia errada muito difundida, que não deveria ser seguida. Todos três, então, me prestaram atenção: o "perito", a estreante e o estreante (que, entretanto, tinha acabado de dizer ser enfermeiro). Disse-lhes o que sei sobre o assunto e recomendei-lhes que procurassem mais informação, fosse pesquisando na Net, fosse falando com os monitores ali do Ginásio, têm obrigação de saberem as coisas fundamentais da prática da sauna, dos seus benefícios e das suas contra-indicações.

O "perito" acabou por dizer que não sabia disso das calorias, e foi dos 3 o primeiro a (mais uma vez!) sair. Depois foi a rapariga, mas ainda esteve um tempo ali em silêncio, de olhos fechados, estaria finalmente a sentir os efeitos do calor da sauna. A seguir, o "perito" entrou outra vez... Saiu a rapariga. E depois saiu o jovem estreante, despedindo-se do "perito" e de mim com um aperto de mão. Finalmente, saiu o "perito". Percebi que não iria voltar, estava a vê-lo lá fora, pegou no roupão e subiu para os balneários. Uff, que alívio...

Sozinho, passei em retrospectiva aquelas peripécias todas... Bolas! Com aquela agitação toda de entradas e saídas, esqueci-me de recomendar ao enfermeiro estreante que não deixasse de beber um pouco de água, não muita, depois da primeira sauna, e outra vez depois da segunda. Fui para o balneário a pensar nestas coisas e, felizmente, quando estava já quase vestido para me ir embora, ele aparece, qual vizinho, vizinho dos cacifos e eu aproveitei para lhe fazer a recomendação da ingestão de líquidos. Ele agradeceu-me, na verdade, não tinha bebido água entre os dois momentos de sauna, nem no fim da sauna, mas iria beber assim que pudesse.

Acho que sim, acho que fiz bem em ser tolerante para aquela série de trapalhadas sem risco para a saúde, a sauna é para as pessoas se sentirem bem; e acho que fiz bem em ser "intolerante" naquela ideia errada tão difundida. Esta sim, pode ser perigosa para a saúde.

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