#TOLERÂNCIA 30 - A TOLERÂNCIA É UMA ETAPA
É uma etapa de quê? Já vou. Primeiro, uma nota.
Hoje escrevo o texto 30. Atribuo-lhe alguma simbologia. Sendo o meu projecto a publicação dum texto diário acerca da tolerância, e dividindo-se o ano em 12 grupos de 30 dias, vejo o apontamento de hoje como o último do primeiro dos 12 ciclos que estou a tentar que me desafiem até ao dia 31 de Dezembro deste ano.
Talvez por isso, por essa ideia de fim de ciclo, eu me sinta pressionado para fazer uma primeiraconclusão — talvez sejam sempre provisórias e circunstanciais todas as conclusões, que visam apenas ajudar a pensar a Tolerância —, mesmo que não tenha dúvidas nenhumas que me domina ainda o pensamento a preocupação do levantamento de questões, de abrir, de alargar o âmbito da discussão, levá-la à dimensão que ela merece.
Já percebi que o tema é mais complicado do que ao princípio até parecia — em rigor, eh, eh, eh, esta é já a primeira conclusão ou constatação. Adiante.
A conclusão a que chego ao fim destes 30 dias é a de que mais rapidamente se fala de intolerância do que de tolerância. «É intolerável...», são tantos os autores que o afirmam, por exemplo, o padre António Vieira. É quase sempre no sentido do «Basta!», da denúncia de injustiças e de abusos.
A Tolerância, essa, não é o fim, o propósito. Veja-se, por exemplo, o que diz o Professor Agostinho da Silva.
Talvez o que encontrei de José Saramago a propósito da Tolerância me ajude a fazer o ponto da situação que nesta altura pretendo. Atenção! José Saramago escreveu e disse mais coisas sobre a Tolerância, mas a que vou citar a seguir serve especialmente o meu propósito:
«Eu sou contra a tolerância, porque ela não basta. Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro. Sobre a intolerância já fizemos muitas reflexões. A intolerância é péssima, mas a tolerância não é tão boa quanto parece. Deveríamos criar uma relação entre as pessoas da qual estivessem excluídas a tolerância e a intolerância.»(1)
Talvez seja legítimo concluir que Saramago tolera a Tolerância enquanto ela se opuser à intolerância e enquanto promover o caminho para a Igualdade. Repare-se que ele diz que já se fizeram muitas reflexões sobre a Intolerância... que a Tolerância não basta... que o objectivo é a Igualdade... Bem, seja o que a Igualdade seja, isso é outro desafio, não é? Poderei pensar que para Saramago a Tolerância vale se for uma etapa para a Igualdade?
Quero concluir, aos 30 dias, que a Tolerância é um recurso, é um instrumento, é uma ferramenta. É interessante, é importante, é válida. Sendo assim, vale a pena saber usá-la. Que a Pedagogia encontre as formas e a Educação realize esse propósito e se saiba usar adequadamente, satisfatoriamente, a Tolerância.
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(1) José Saramago, em entrevista a Sandra Cohen. "Um ateu preocupado com Deus." In: O Globo, Rio de Janeiro, 27/6/1993.
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