terça-feira, janeiro 28, 2025

#TOLERÂNCIA 30 - A TOLERÂNCIA É UMA ETAPA

#TOLERÂNCIA 30 - A TOLERÂNCIA É UMA ETAPA

É uma etapa de quê? Já vou. Primeiro, uma nota.

Hoje escrevo o texto 30. Atribuo-lhe alguma simbologia. Sendo o meu projecto a publicação dum texto diário acerca da tolerância, e dividindo-se o ano em 12 grupos de 30 dias, vejo o apontamento de hoje como o último do primeiro dos 12 ciclos que estou a tentar que me desafiem até ao dia 31 de Dezembro deste ano.

Talvez por isso, por essa ideia de fim de ciclo, eu me sinta pressionado para fazer uma primeira
conclusão — talvez sejam sempre provisórias e circunstanciais todas as conclusões, que visam apenas ajudar a pensar a Tolerância —, mesmo que não tenha dúvidas nenhumas que me domina ainda o pensamento a preocupação do levantamento de questões, de abrir, de alargar o âmbito da discussão, levá-la à dimensão que ela merece.

Já percebi que o tema é mais complicado do que ao princípio até parecia — em rigor, eh, eh, eh, esta é já a primeira conclusão ou constatação. Adiante.

A conclusão a que chego ao fim destes 30 dias é a de que mais rapidamente se fala de intolerância do que de tolerância. «É intolerável...», são tantos os autores que o afirmam, por exemplo, o padre António Vieira. É quase sempre no sentido do «Basta!», da denúncia de injustiças e de abusos.

A Tolerância, essa, não é o fim, o propósito. Veja-se, por exemplo, o que diz o Professor Agostinho da Silva.

Talvez o que encontrei de José Saramago a propósito da Tolerância me ajude a fazer o ponto da situação que nesta altura pretendo. Atenção! José Saramago escreveu e disse mais coisas sobre a Tolerância, mas a que vou citar a seguir serve especialmente o meu propósito:

«Eu sou contra a tolerância, porque ela não basta. Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro. Sobre a intolerância já fizemos muitas reflexões. A intolerância é péssima, mas a tolerância não é tão boa quanto parece. Deveríamos criar uma relação entre as pessoas da qual estivessem excluídas a tolerância e a intolerância.»(1)

Talvez seja legítimo concluir que Saramago tolera a Tolerância enquanto ela se opuser à intolerância e enquanto promover o caminho para a Igualdade. Repare-se que ele diz que já se fizeram muitas reflexões sobre a Intolerância... que a Tolerância não basta... que o objectivo é a Igualdade... Bem, seja o que a Igualdade seja, isso é outro desafio, não é? Poderei pensar que para Saramago a Tolerância vale se for uma etapa para a Igualdade?

Quero concluir, aos 30 dias, que a Tolerância é um recurso, é um instrumento, é uma ferramenta. É interessante, é importante, é válida. Sendo assim, vale a pena saber usá-la. Que a Pedagogia encontre as formas e a Educação realize esse propósito e se saiba usar adequadamente, satisfatoriamente, a Tolerância.

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(1) José Saramago, em entrevista a Sandra Cohen. "Um ateu preocupado com Deus." In: O Globo, Rio de Janeiro, 27/6/1993.

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