#Tolerância 11 - Ecumenismo, Politeísmo e Paganismo
Há um texto, pequeno, de Sarah Rey, que vi na revista Sciences Humaines, publicado em 19 de
Novembro de 2020, em que ela se interroga se o paganismo era mais tolerante do que o monoteísmo.(1)
A reflexão a que nos convida é muito interessante. Até se o politeísmo é uma forma de ecumenismo.
Começa a autora por esclarecer o que é o pagão: "Foram os cristãos da Antiguidade tardia(2) que deram aos politeístas o nome de pagani, habitantes dos pagi, as aldeias rurais fora das cidades romanas. O paganus, do qual deriva o termo “pagão”, era o camponês, o homem do mundo antigo, aquele que permanecia mais tempo ligado à religião tradicional do que os habitantes das cidades. Embora o cristianismo se tenha difundido primeiro nas cidades, alguns textos hagiográficos mostram santos ocupados a lutar contra a manutenção de cultos antigos no campo."
No texto, vemos que os pagãos eram politeístas [mas não se designariam assim, só séculos mais tarde pensadores europeus o fariam], pondo-se a questão: sendo politeístas, são tolerantes? Basicamente, parece que sim, mas com um "na condição de..." Na condição de os deuses que não são os nossos não ameacem de separatismos a coesão social. É isso expressão da imperfeição da tolerância ou é expressão dos limites da tolerância?
Parece que a vitória final do cristianismo — em Roma, naturalmente — foi resultado de uma mudança gradual de sensibilidades, não de um confronto direto entre politeístas e monoteístas.
O que também parece ser certo é que eventual mitificação da Tolerância na Antiguidade acontece a partir dos séculos XVII e XVIII, quando se começa a sentir na Europa Ocidental a acção do Cristianismo sobre as liberdades cívicas, políticas e religiosas dos povos.
As dinâmicas sociais, políticas e religiosas actuais, tantas delas sustentadas em atitudes de negação do conhecimento científico, estão a fazerem-nos caminhar em que sentido? Pessoalmente, continuo a temer mais os pensamentos monolíticos.
Parece-me que aqui a Pedagogia deverá cuidar de respeitar e valorizar as tradições. À partida, todas. Se a partir da Tolerância da Diversidade as pessoas puderem ter acesso a informação fidedigna, útil e oportuna, elas se adaptarão progressivamente. Sim, essa é a minha crença.
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(2) Termo utilizado para descrever o período compreendido entre os séculos IV e VIII d.C., que pode ser visto como uma extensão e transformação da Antiguidade romana e não como uma rutura entre a Antiguidade e a Idade Média.
10JAN25: Curiosamente, li há pouco assim no livro “Ano 1000, o verdadeiro início da globalização”, de Valerie Hansen (edição portuguesa de Setembro de 2020, da Ideias de Ler, da Porto Editora. p. 17):
ResponderEliminar“Uma das maneiras mais rápidas que as pessoas tinham de desenvolver a sua própria sociedade era convertendo-se à religião de uma sociedade mais desenvolvida, o que nem sempre se devia à convicção religiosa. Um governante da atual Ucrânia (chamado príncipe Vladimir) aspirava a fortalecer o seu reino e procurou modelos entre os vizinhos. Tal como muitos outros monarcas, escolheu a religião que lhe proporcionava melhores oportunidades de consolidar o seu poder e de formar alianças com vizinhos poderosos. A principal fonte de informação do príncipe Vladimir eram os relatórios apresentados pelos emissários que ele próprio enviava em visita a outros governantes. Trabalhando como espiões, regressavam com notícias dos povos vizinhos.
Vladimir escolheu o cristianismo, mais especificamente o cristianismo ortodoxo oriental tal como era praticado no Império Bizantino, a partir de uma lista muito curta. Pesou os prós e os contras do judaísmo, do islamismo, do cristianismo romano e da ortodoxia bizantina. Rejeitou o judaísmo porque os judeus tinham perdido Jerusalém. Descartou o islão porque bania o álcool. Rejeitou o cristianismo romano sem explicar porquê. E optou pela ortodoxia bizantina porque a magnífica basílica de Santa Sofia na capital bizantina de Constantinopla representava uma maravilha da técnica, tão impressionante para ele como o último dos arranha-céus é hoje para nós.”