#TOLERÂNCIA 32 - TOLERÂNCIA E VERGONHA
Calhou ter tido oportunidade, hoje, de ver o primeiro episódio da série documental "Auschwitz: A Voz dos Sobreviventes", de Catherine Bernstein. É uma produção de 2024 que conta com o testemunho pessoal de 44 sobreviventes de Auschwitz.
É logo o início do episódio que me faz tomar consciência de que foi precisamente a 30 de Janeiro (data de hoje), no ano de 1933, que Hitler chegou ao poder na Alemanha.
Não me parece que seja ainda o momento de classificar a Tolerância, isto é, de dizer se a Tolerância é um sentimento, um valor, um princípio, um ideal; um fim, uma estratégia; uma coisa mais má que boa, uma coisa mais boa que má. Nem sei ainda se é consensual a ideia de que a Tolerância é melhor do que a Intolerância. Parece-me convictamente que tenho, ou temos, de continuar a tentar aprofundar o conhecimento do que é a Tolerância.
O que vi no episódio, e o que dele posso pensar por analogia com o que actualmente vemos acontecer à nossa volta, desde a nossa comunidade local e nacional até à comunidade mundial, levar-me-ia à tentação de escrever acerca da relação entre a Tolerância e a Complacência. Vou resistir a essa tentação, mas não vou deixar de um dia escrever sobre esses dois conceitos, sejam quais sejam as suas naturezas no mundo das ideias, no mundo das ciências, no mundo dos comportamentos humanos.
Hoje quero escrever um pouco sobre a Tolerância e a Vergonha.
No episódio, Henri Gourarier, conta que os seus pais tinham uma pequena loja de comércio, um dia chegaram, numa carrinha de traseira descoberta, das que se vêem frequentemente nos filmes dessa época, 10, 12 ou 15 soldados alemães, obrigaram o pai a sair para fora da loja e bateram-lhe brutalmente. Ele ficou dentro da loja, incapaz de sair. Não conseguia parar de chorar, diz que um homem a sério tinha saído à rua para defender o pai. Ele tinha 5 anos, e lembra-se de que sentia vergonha, muita vergonha.
Um pouco mais à frente, Frieda Gelwerth (que morreu em Junho de 2019) diz que quando os alemães obrigaram os judeus a usarem na roupa, bem cosidas e bem visíveis, as estrelas de Davi, amarelas, ela, que já sabia um pouco de costura, coseu a sua e, diz ela, nunca sentiu vergonha de a usar, nem naquela altura, nem durante toda a sua vida.
Por sua vez, Samuel Chymisz (nasceu em 1920, e não sei se ainda está vivo) foi metido nos trágicos comboios com Auschwitz como destino final em 1942, tinha, portanto, 22 anos. Assume, com vergonha, que ele e outros se sentiam felizes ou aliviados quando alguém do vagão morria, era que conseguiam ir empilhando os mortos a um canto do vagão e assim os que iam resistindo vivos teriam um pouco mais de espaço para se mexerem.A intolerância — que, ao que parece, não é simplesmente o contrário da Tolerância — instiga nos intolerantes atitudes e comportamentos carregados de emoções e sentimentos negativos (por exemplo, raiva, ódio, violência; exclusão), mas as vítimas dos intolerantes desperta também afectos negativos, muitos deles ligados à tomada de consciência (ou mesmo antes dessa tomada de consciência) da perda de dignidade pessoal, perda para com os outros e perda para consigo mesmo.
É qualquer coisa que tem certamente a ver com aquilo a que Viktor Frankl chamou "existência desnudada", no notável esforço de introspecção pessoal (pessoal e clínica, ele era médico psiquiatra) que consubstanciou no livro "O Homem em Busca de um Sentido, na versão portuguesa da Lua de Papel".
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