#TOLERÂNCIA 33 - O SUBSTRACTO NEUROFISIOLÓGICO DA TOLERÂNCIA
Há muito — Ui, mesmo muito! — que se discute, se reflecte, a propósito da natureza boa ou má do ser humano, e do egoísmo ou da cooperação na determinação dos comportamentos.
Também no campo da ciência, isto é, para lá da reflexão filosófica, da reflexão religiosa, da reflexão moral, muito se tem observado, muito se tem investigado. Hoje apetece-me tomar referência no trabalho de Richard Dawkins, "O Gene Egoísta", que ele publica em primeira edição em 1976.Não quero discutir a perspectiva nem as teses de Dawkins neste livro que continua a marcar muita investigação à volta do substracto biológico que determina os comportamentos humanos. Quero apenas tomá-lo como referência do esforço da ciência se empenhar em áreas do conhecimentos que durante muito tempo pareciam estar apenas ao alcance da Filosofia e da Religião, para falar de forma intencionalmente simplificada.
Na verdade, hoje em dia é natural, é fácil, pôr-se a pergunta, mesmo que naïf, «A Tolerância está no cérebro? Se sim, em que parte do cérebro?»
A primeira ideia a reter é a de que não há um ponto, zona ou região do cérebro que possa ter uma placa à entrada a dizer "Aqui mora a Tolerância". No entanto, a Tolerância mora no cérebro, ou melhor, a Tolerância constrói-se no cérebro, podendo ser identificadas regiões envolvidas nessa produção (o córtex pré-frontal e a amígdala), estruturas celulares (neurónios-espelho) e substâncias químicas (oxitocina, dopamina).
Não, em si mesmas, todas estas estruturas e substâncias cerebrais ou neurofisiológicas (estou a expressar-me da maneira mais terra-a-terra possível, sem deixar de me manter no âmbito da linguagem técnica própria deste ramo de conhecimento científico — não nos esqueçamos de que estes textos pretendem ter uma fácil divulgação e entendimento junto do maior número possível de leitores) não produzem a Tolerância.
No fundo, o que elas fazem é despertar, activar emoções e sentimentos; percepções, pensamentos e entendimentos acerca de si próprio e dos outros. E, ao assim acontecer, cada um pode regular as suas atitudes e comportamentos de aproximação ou afastamento das outra pessoas, promovendo a aceitação e a colaboração ou a rejeição e o afastamento (ou competição).
Essencialmente trabalhando de forma integrada, as estruturas que referi, entre outras coisas, estão ligadas a capacidade dos indivíduos reflectirem acerca das suas atitudes e, eventualmente, superarem as suas reacções impulsivas ou preconceituosas (e assim tornando-os mais capazes de aceitarem diferenças culturais e étnicas) e deste modo abrindo-os a posturas mais tolerante.
Podem também estas estruturas facilitar a empatia e a compreensão das intenções e emoções dos outros, o que é essencial para a aceitação de diferenças culturais e sociais.
Podem também ajudar os indivíduos a ligarem-se emocionalmente com pessoas de diferentes origens, promovendo a compreensão e a compaixão.
A oxitocina e a dopamina, produzidas na região hipotalâmica e depois libertadas na corrente sanguínea, fazem as pessoas sentir-se bem consigo mesmas e com os outros.
Consciente de que voltaremos a este assunto noutra etapa lá mais para a frente desta viagem, posso deixar explícita a crença e o optimismo em que a Pedagogia e a Educação, bem informadas que estejam acerca do substracto neurofisiológico que activa a produção das substâncias químicas ligadas à experiência da empatia, da compaixão e doutros afectos positivos; e bem informadas que estejam também acerca das competências de reflexão crítica e autorregulatória dos impulsos e dos afectos do córtex cerebral, ambas serão capazes de ajudar os sujeitos humanos na aprendizagem da Tolerância que cria espaço à compreensão e à aceitação; à cooperação e à colaboração.
Numa conclusão, necessariamente provisória e conveniente, direi que a Pedagogia e a Educação podem contar com o Cérebro e o Sistema Nervoso como precioso aliado-fazedor da Tolerância, a Tolerância constrói-se também a partir de estruturas que fazem parte da condição física, corporal, do Ser Humano, e não apenas de dimensões mais ligadas à Alma, à Metafísica ou ao Espírito.
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