sexta-feira, janeiro 31, 2025

#TOLERÂNCIA 33 - O SUBSTRACTO NEUROFISIOLÓGICO DA TOLERÂNCIA

#TOLERÂNCIA 33 - O SUBSTRACTO NEUROFISIOLÓGICO DA TOLERÂNCIA

Há muito — Ui, mesmo muito! — que se discute, se reflecte, a propósito da natureza boa ou má do ser humano, e do egoísmo ou da cooperação na determinação dos comportamentos.

Também no campo da ciência, isto é, para lá da reflexão filosófica, da reflexão religiosa, da reflexão moral, muito se tem observado, muito se tem investigado. Hoje apetece-me tomar referência no trabalho de Richard Dawkins, "O Gene Egoísta", que ele publica em primeira edição em 1976.

Não quero discutir a perspectiva nem as teses de Dawkins neste livro que continua a marcar muita investigação à volta do substracto biológico que determina os comportamentos humanos. Quero apenas tomá-lo como referência do esforço da ciência se empenhar em áreas do conhecimentos que durante muito tempo pareciam estar apenas ao alcance da Filosofia e da Religião, para falar de forma intencionalmente simplificada.

Na verdade, hoje em dia é natural, é fácil, pôr-se a pergunta, mesmo que naïf, «A Tolerância está no cérebro? Se sim, em que parte do cérebro?»

A primeira ideia a reter é a de que não há um ponto, zona ou região do cérebro que possa ter uma placa à entrada a dizer "Aqui mora a Tolerância". No entanto, a Tolerância mora no cérebro, ou melhor, a Tolerância constrói-se no cérebro, podendo ser identificadas regiões envolvidas nessa produção (o córtex pré-frontal e a amígdala), estruturas celulares (neurónios-espelho) e substâncias químicas (oxitocina, dopamina).

Não, em si mesmas, todas estas estruturas e substâncias cerebrais ou neurofisiológicas (estou a expressar-me da maneira mais terra-a-terra possível, sem deixar de me manter no âmbito da linguagem técnica própria deste ramo de conhecimento científico — não nos esqueçamos de que estes textos pretendem ter uma fácil divulgação e entendimento junto do maior número possível de leitores) não produzem a Tolerância.

No fundo, o que elas fazem é despertar, activar emoções e sentimentos; percepções, pensamentos e entendimentos acerca de si próprio e dos outros. E, ao assim acontecer, cada um pode regular as suas atitudes e comportamentos de aproximação ou afastamento das outra pessoas, promovendo a aceitação e a colaboração ou a rejeição e o afastamento (ou competição).

Essencialmente trabalhando de forma integrada, as estruturas que referi, entre outras coisas, estão ligadas a capacidade dos indivíduos reflectirem acerca das suas atitudes e, eventualmente, superarem as suas reacções impulsivas ou preconceituosas (e assim tornando-os mais capazes de aceitarem diferenças culturais e étnicas) e deste modo abrindo-os a posturas mais tolerante.

Podem também estas estruturas facilitar a empatia e a compreensão das intenções e emoções dos outros, o que é essencial para a aceitação de diferenças culturais e sociais.

Podem também ajudar os indivíduos a ligarem-se emocionalmente com pessoas de diferentes origens, promovendo a compreensão e a compaixão.

A oxitocina e a dopamina, produzidas na região hipotalâmica e depois libertadas na corrente sanguínea, fazem as pessoas sentir-se bem consigo mesmas e com os outros.

Consciente de que voltaremos a este assunto noutra etapa lá mais para a frente desta viagem, posso deixar explícita a crença e o optimismo em que a Pedagogia e a Educação, bem informadas que estejam acerca do substracto neurofisiológico que activa a produção das substâncias químicas ligadas à experiência da empatia, da compaixão e doutros afectos positivos; e bem informadas que estejam também acerca das competências de reflexão crítica e autorregulatória dos impulsos e dos afectos do córtex cerebral, ambas serão capazes de ajudar os sujeitos humanos na aprendizagem da Tolerância que cria espaço à compreensão e à aceitação; à cooperação e à colaboração.

Numa conclusão, necessariamente provisória e conveniente, direi que a Pedagogia e a Educação podem contar com o Cérebro e o Sistema Nervoso como precioso aliado-fazedor da Tolerância, a Tolerância constrói-se também a partir de estruturas que fazem parte da condição física, corporal, do Ser Humano, e não apenas de dimensões mais ligadas à Alma, à Metafísica ou ao Espírito.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح

quinta-feira, janeiro 30, 2025

#TOLERÂNCIA 32 - TOLERÂNCIA E VERGONHA

#TOLERÂNCIA 32 - TOLERÂNCIA E VERGONHA

Calhou ter tido oportunidade, hoje, de ver o primeiro episódio da série documental "Auschwitz: A Voz dos Sobreviventes", de Catherine Bernstein. É uma produção de 2024 que conta com o testemunho pessoal de 44 sobreviventes de Auschwitz.

É logo o início do episódio que me faz tomar consciência de que foi precisamente a 30 de Janeiro (data de hoje), no ano de 1933, que Hitler chegou ao poder na Alemanha.

Não me parece, nesta minha viagem pelo mundo da tolerância, que tenha chegado já o o momento de classificar a Tolerância, isto é, de dizer se a Tolerância é um sentimento, um valor, um princípio, um ideal; um fim, uma estratégia; uma coisa mais má que boa, uma coisa mais boa que má. Nem sei ainda se é consensual a ideia de que a Tolerância é melhor do que a Intolerância. Parece-me convictamente que tenho, ou temos, de continuar a tentar aprofundar o conhecimento do que é a Tolerância.

O que vi no episódio, e o que dele posso pensar por analogia com o que actualmente vemos acontecer à nossa volta, desde a nossa comunidade local e nacional até à comunidade mundial, levar-me-ia à tentação de escrever acerca da relação entre a Tolerância e a Complacência. Vou resistir a essa tentação, mas não vou deixar de um dia escrever sobre esses dois conceitos, sejam quais sejam as suas naturezas no mundo das ideias, no mundo das ciências, no mundo dos comportamentos humanos.

Hoje quero escrever um pouco sobre a Tolerância e a Vergonha.

No episódio, Henri Gourarier, conta que os seus pais tinham uma pequena loja de comércio, um dia chegaram, numa carrinha de traseira descoberta, das que se vêem frequentemente nos filmes dessa época, 10, 12 ou 15 soldados alemães, obrigaram o pai a sair para fora da loja e bateram-lhe brutalmente. Ele ficou dentro da loja, incapaz de sair. Não conseguia parar de chorar, diz que um homem a sério tinha saído à rua para defender o pai. Ele tinha 5 anos, e lembra-se de que sentia vergonha, muita vergonha.

Um pouco mais à frente, Frieda Gelwerth (que morreu em Junho de 2019) diz que quando os alemães obrigaram os judeus a usarem na roupa, bem cosidas e bem visíveis, as estrelas de Davi, amarelas, ela, que já sabia um pouco de costura, coseu a sua e, diz ela, nunca sentiu vergonha de a usar, nem naquela altura, nem durante toda a sua vida.

Por sua vez, Samuel Chymisz (nasceu em 1920, e não sei se ainda está vivo) foi metido nos trágicos comboios com Auschwitz como destino final em 1942, tinha, portanto, 22 anos. Assume, com vergonha, que ele e outros se sentiam felizes ou aliviados quando alguém do vagão morria, era que conseguiam ir empilhando os mortos a um canto do vagão e assim os que iam resistindo vivos teriam um pouco mais de espaço para se mexerem.

A intolerância — que, ao que parece, não é simplesmente o contrário da Tolerância — instiga nos intolerantes atitudes e comportamentos carregados de emoções e sentimentos negativos (por exemplo, raiva, ódio, violência; exclusão), mas as vítimas dos intolerantes desperta também afectos negativos, muitos deles ligados à tomada de consciência (ou mesmo antes dessa tomada de consciência) da perda de dignidade pessoal, perda para com os outros e perda para consigo mesmo.

É qualquer coisa que tem certamente a ver com aquilo a que Viktor Frankl chamou "existência desnudada", no notável esforço de introspecção pessoal (pessoal e clínica, ele era médico psiquiatra) que consubstanciou no livro "O Homem em Busca de um Sentido, na versão portuguesa da Lua de Papel".


#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح,, 

quarta-feira, janeiro 29, 2025

#TOLERÂNCIA 31 - A TOLERÂNCIA É O PRIMEIRO PRINCÍPIO DA COMUNIDADE

#TOLERÂNCIA 31 - A TOLERÂNCIA É O PRIMEIRO PRINCÍPIO DA COMUNIDADE

A história de vida de Helen Keller obriga-nos a pensar duas vezes tudo aquilo que ela disse, é única a sua maneira de ver as coisas. As suas irremediáveis limitações sensoriais (a cegueira e a surdez) encontraram nela a vontade e a capacidade de se realizar pessoalmente, vencendo-as e indo além delas. Não vou ao ponto de dizer que as suas fraquezas foram as suas forças, mas direi que não deixou que as suas fraquezas impedissem as suas forças; e que, a partir das fraquezas, encontrou ainda mais forças.

Em Novembro de 1903, Helen Keller tem 23 anos e 5 meses. Que experiência pessoal, que
mundividência, que entusiasmo de vida (direi mesmo, que arrebatamento), que conhecimento da história do Mundo, a faz escrever assim no livro de ensaio "O Optimismo"?

«O melhor resultado da educação é a tolerância. Durante muitos séculos, os homens lutaram e morreram pela sua fé; mas foram necessários séculos para lhes ensinar o outro tipo de coragem — a coragem de reconhecer a fé dos seus irmãos e os seus direitos de consciência. A tolerância é o primeiro princípio da comunidade; é o espírito que guarda o melhor que todos os homens pensam. Nenhuma perda por inundação e relâmpagos, nenhuma destruição de cidades e templos pelas forças hostis da natureza, privou o homem de tantas vidas e impulsos nobres como aqueles que a sua intolerância destruiu.»(1)

No fascinante mundo mental de Fernando Pessoa, o "Mestre" Alberto Caeiro teria nascido em 1889 e morrido em 1915. O criador Pessoa "matou" o Mestre aos 25-26 anos porque terá intuído — na minha opinião, muito sabiamente — que é o limite de idade para se ser, digamos, "puro" e "ingénuo", livre das complexidades intelectuais que começam a impor-se quando o tempo da adultícia começa a consolidar-se.

Outros casos conheço que confirmam esta minha impressão do tempo único da adolescência tardia. Mas não quero desviar-me do foco Helen Keller.

Aos vinte e poucos anos, a Tolerância assume um valor muito especial nas atitudes e nas acções de Helen Keller. Em 1957, tem Helen Keller 77 anos, na colecção de textos que fazem o livro "The Open Door", a reflexão sobre a Tolerância está presente, sem qualquer alteração. Mais de 50 anos depois. Depois de 50 anos de vida muito intensa, socialmente e politicamente muito activa. O pensamento retrospectivo domina sobre o pensamento prospectivo. Domina sobre ele e avalia-o.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح

(1) "Optimism, An Essay", by Helen Keller, author of “The Story of My Life”. Ornament, New York, T. Y. Crowell and Company, Copyright, 1903, by Helen Keller, Published November, 1903, D. B. Updike, The Merrymount Press, Boston

terça-feira, janeiro 28, 2025

#TOLERÂNCIA 30 - A TOLERÂNCIA É UMA ETAPA

#TOLERÂNCIA 30 - A TOLERÂNCIA É UMA ETAPA

É uma etapa de quê? Já vou. Primeiro, uma nota.

Hoje escrevo o texto 30. Atribuo-lhe alguma simbologia. Sendo o meu projecto a publicação dum texto diário acerca da tolerância, e dividindo-se o ano em 12 grupos de 30 dias, vejo o apontamento de hoje como o último do primeiro dos 12 ciclos que estou a tentar que me desafiem até ao dia 31 de Dezembro deste ano.

Talvez por isso, por essa ideia de fim de ciclo, eu me sinta pressionado para fazer uma primeira
conclusão — talvez sejam sempre provisórias e circunstanciais todas as conclusões, que visam apenas ajudar a pensar a Tolerância —, mesmo que não tenha dúvidas nenhumas que me domina ainda o pensamento a preocupação do levantamento de questões, de abrir, de alargar o âmbito da discussão, levá-la à dimensão que ela merece.

Já percebi que o tema é mais complicado do que ao princípio até parecia — em rigor, eh, eh, eh, esta é já a primeira conclusão ou constatação. Adiante.

A conclusão a que chego ao fim destes 30 dias é a de que mais rapidamente se fala de intolerância do que de tolerância. «É intolerável...», são tantos os autores que o afirmam, por exemplo, o padre António Vieira. É quase sempre no sentido do «Basta!», da denúncia de injustiças e de abusos.

A Tolerância, essa, não é o fim, o propósito. Veja-se, por exemplo, o que diz o Professor Agostinho da Silva.

Talvez o que encontrei de José Saramago a propósito da Tolerância me ajude a fazer o ponto da situação que nesta altura pretendo. Atenção! José Saramago escreveu e disse mais coisas sobre a Tolerância, mas a que vou citar a seguir serve especialmente o meu propósito:

«Eu sou contra a tolerância, porque ela não basta. Tolerar a existência do outro e permitir que ele seja diferente ainda é pouco. Quando se tolera, apenas se concede, e essa não é uma relação de igualdade, mas de superioridade de um sobre o outro. Sobre a intolerância já fizemos muitas reflexões. A intolerância é péssima, mas a tolerância não é tão boa quanto parece. Deveríamos criar uma relação entre as pessoas da qual estivessem excluídas a tolerância e a intolerância.»(1)

Talvez seja legítimo concluir que Saramago tolera a Tolerância enquanto ela se opuser à intolerância e enquanto promover o caminho para a Igualdade. Repare-se que ele diz que já se fizeram muitas reflexões sobre a Intolerância... que a Tolerância não basta... que o objectivo é a Igualdade... Bem, seja o que a Igualdade seja, isso é outro desafio, não é? Poderei pensar que para Saramago a Tolerância vale se for uma etapa para a Igualdade?

Quero concluir, aos 30 dias, que a Tolerância é um recurso, é um instrumento, é uma ferramenta. É interessante, é importante, é válida. Sendo assim, vale a pena saber usá-la. Que a Pedagogia encontre as formas e a Educação realize esse propósito e se saiba usar adequadamente, satisfatoriamente, a Tolerância.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح

(1) José Saramago, em entrevista a Sandra Cohen. "Um ateu preocupado com Deus." In: O Globo, Rio de Janeiro, 27/6/1993.

segunda-feira, janeiro 27, 2025

#TOLERÂNCIA 29 - NÃO HÁ PACIÊNCIA PARA TOLERAR

#TOLERÂNCIA 29 - NÃO HÁ PACIÊNCIA PARA TOLERAR

Quem escreveu assim foi o padre António Vieira: «Valei-me, Senhor, que não há paciência para tolerar, que ser homicida e ladrão, não seja argumento de ser judeu, e o seja ser devoto e pio!»

O padre António Vieira escreve assim numa carta que tem o título "Notícias recôndidas do modo de
proceder a Inquisição com os seus presos".(1) O alvo da sua crítica é a Inquisição, o Santo Ofício da Inquisição, e a irracionalidade dos seus procedimentos e julgamentos, em que é maior razão para condenar um judeu o ser pio e devoto do que criminoso a sério, homicida ou ladrão. O padre António Vieira pretende denunciar a prática da perseguição dos judeus pela Inquisição (ou sejam a Igreja do Papa de Roma), sendo tal perseguição baseada não em actos praticados pelos perseguidos, mas em preconceitos arraigados e irracionais, em que até mesmo virtudes são transformadas em suspeitas.

Um pouco mais à frente, o padre António Vieira escreve assim: «Duas impiedades se devem advertir no estilo do novo regimento em a dita dilação, e é necessária a paciência do santo Job para as tolerar».

Se eu estou a ler bem as palavras de Vieira, ele está, mais uma vez, a atacar, denunciando, a Inquisição. Vieira chama a atenção para duas "impiedades", ou seja, duas graves injustiças no novo regimento jurídico da Inquisição; e o termo "dilação" diz respeito ao prolongamento do tempo de prisão ou ao próprio processo judicial, que era frequentemente arbitrário e injusto.

Por isso, clamava o padre António Vieira, «… é necessária a paciência do santo Job para as tolerar…»

Comparando a situação ao sofrimento de Job (figura bíblica que tudo aceita com paciência sem fim(2)), o padre António Vieira enfatiza que é preciso um nível extraordinário de paciência para suportar tamanha injustiça.

Repare-se que na Introdução do "Livro de Job" (Estou a usar a 7.ª edição, de 1976, da "Bíblia Sagrada", dos Missionários Capuchinhos, pp. 659-693), lê-se que «O fim é dar-nos um modelo de paciência no meio das tribulações da vida, assim como mostrar-nos a justiça e transcendência dos desígnios divinos, que ao homem cumpre aceitar, mesmo que não os compreenda». É um regresso ao texto da #TOLERÂNCIA 22, agora alargando as questões do tolerar, aceitar e compreender a Deus, ou aos deuses, sejam eles quais sejam.

Que podemos concluir destas duas breves frases que o padre António Vieira escreveu durante o tempo em que esteve em Roma, e em que associa a Tolerância à Paciência? Se há que dar já uma resposta, mesmo que sucinta, é que a Paciência é aliada poderosa da Tolerância, mas que ela (a Paciência) não é infinita.

Se a Tolerância acaba quando acaba a Paciência; ou se a Tolerância acaba (ou deve acabar) mesmo que ainda não esteja esgotada a Paciência, ora aqui está um interessante tema para a Pedagogia e a Educação da Tolerância.

#tolerância, #tolerance, #Tolerancia, #tolérance, #tolleranza, #toleranz, #tolerantie, #宽容, #寛容, #관용, #सहिष्णुता , #סובלנות, #हष्णत, #Ανοχή, #Hoşgörü, #tolerans, #toleranță, #толерантность, #التسامح

(1) Leio na "Obra Completa, Padre António Vieira, tomo IV, volume II, Escritos sobre os Judeus e a Inquisição", do Círculo de Leitores, 2014, na p. 363, na nota de rodapé, que a autoria deste texto talvez não seja do padre António Vieira. A nota, longa, acaba assim, depois de dizer que «a hipóteses mais consentânea é a de que o autor terá sido Pedro Lupina Freire»: «Este facto torna provável que, na sua circulação, por Roma e Portugal, o texto tenha recebido contributos de outras mãos, por exemplo a da Vieira. No entanto, a questão aguarda ainda um estudo mais aprofundado.»

(2) Bem, não se pense que foi fácil para Job resignar-se e tolerar as provações a que o seu Deus o sujeitou. O pequeno livro bíblico diz que ele, despojado de tudo, começou por amaldiçoar o dia em que nasceu. O desenvolvimento da tolerância dentro de si foi um processo que reclamou dele muita paciência, reflexão e esforço para tentar compreender; a aceitação não foi imediata, nem automática. «Depois disto, Job viveu ainda cento e quarenta anos e viu os seus filhos e os filhos dos seus filhos, até à quarta geração.» (ibidem, p. 693)

domingo, janeiro 26, 2025

#TOLERÂNCIA 28 - ERA AGOSTINHO DA SILVA INTOLERANTE COM A TOLERÂNCIA?

 #TOLERÂNCIA 28 - ERA AGOSTINHO DA SILVA INTOLERANTE COM A TOLERÂNCIA?


Na sexta das "Sete Cartas a um Jovem Filósofo", Agostinho da Silva (1906-1994) escreve a certa altura o seguinte:

«Temo que o hábito dos filósofos e a vantagem terrível de os perceber com clareza lhe agravem esses defeitos e nos tragam daqui a uns anos um Luís impossível, cheio de si e das suas pobres verdades, repulsor dos homens, dizendo amá-los, só às vezes tolerante e, Santo Deus!, de que inferior e lamentável tolerância. Entre as palavras e as ideias, detesto esta: tolerância. É uma palavra das sociedades morais em face da imoralidade que utilizam. É uma ideia de desdém; parecendo celeste, é diabólica; é um revestimento de desprezo, com a agravante de muita gente que o enverga ficar com a convicção de que anda vestida de raios de sol.

Por que tolerar? Parece-me ainda pior do que perseguir. No perseguir, há um reconhecimento do valor; dá-me a impressão de que os morcegos, aliás, bichos muito simpáticos, se pudessem, perseguiriam a luz; porque a luz brilha e tão ampla se alarga pelo mundo que até os pobres mosquitos nela têm defesa. No tolerar, somos nós os deuses e consentimos que haja, lá muito abaixo de nós, uns mesquinhos seres insignificantes que não têm nem a nossa beleza, nem a nossa inteligência, nem a nossa imortalidade, nem se alimentam como nós de ambrosia e néctar, nem ouvem como nós a música de Hermes, na sua lira roubada. E quando nem sequer temos a certeza de que os outros nos sejam inferiores; inferiores por quê, inferiores em quê? Não sabem matemática? Talvez saibam viver, que é mais difícil. Não entendem filosofia? Talvez sonhem, o que é mais belo. E talvez respondam à nossa tolerância com um amor de que nós, apolíneos, não seremos capazes. Em trezentos milhões de anos que vivêssemos, não acumulávamos o tesouro de amor que eles, às vezes, dispendem num segundo.

Assim como você não ama quando diz amabilidades ou graças às mocinhas, também não ama quando se dispensa de discutir, porque sente o adversário como inferior a você; então tolera-o, com um sorriso. Não é amar as raparigas tratá-las como seres que não entendem senão as suas lisonjas e as suas anedotas; só as amará e só elas o poderão amar a você, para além das enganadoras aparências, quando a sua alma se lhes abrir, e com todos os seus problemas, todas as suas angústias, toda a sua seriedade, toda a sua gravidade humana. E a tolerância, pelo mesmo defeito, é em você, quando muito, uma indiferença; às vezes, no momento em que uma centelha ameaça brilhar-lhe no espírito, há uma tentativa de se pôr ao nível de uma tentativa desajeitada e ridícula, como a de um urso que dança.»

A Pedagogia e a Educação devem promover a leitura deste trecho; mais ainda, toda a carta merece ler lida, ponderada, discutida (preferencialmente, em pequenos grupos, para todos poderem falar e poderem ser ouvidos); pelo menos duas ou três vezes, com algum tempo de ruminação mental, individual, entre elas.

Para já, alguns conceitos envolvidos no pensamento de Agostinho da Silva na escrita dos 3 parágrafos: desdém, desprezo, amor, arrogância, valor, superioridade e inferioridade.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح

sábado, janeiro 25, 2025

#TOLERÂNCIA 27 - TOLERÂNCIA, JUSTIÇA, DIÁLOGO

#TOLERÂNCIA 27 - TOLERÂNCIA, JUSTIÇA, DIÁLOGO

Nota prévia: este projecto de estudo da Tolerância compõe-se de 3 grandes conjuntos de textos: Levantamento, Exploração, Aprofundamento. Este texto é do conjunto Exploração.

O padre Manuel Antunes é uma das grandes figuras da Cultura Portuguesa do século XX. Nasceu em 1918 e morreu em 1985. A Fundação Calouste Gulbenkian publicou a sua "Obra Completa", em VII tomos.

Muita gente escreveu e leu discursos de homenagem ao padre Manuel Antunes, em tempo de vida dele e depois. Arrisco-me a dizer que nenhum deles deixa de o apresentar como uma pessoa tolerante; e digo que me arrisco porque não conheço todos esses discursos, mas os que conheço fazem a unanimidade.

Num deles lê-se assim:

"«O padre Manuel Antunes conseguia ser justo e, ao mesmo tempo, tolerante com os alunos», afirmou o Professor Lindley Cintra, durante o colóquio promovido pelo Centro de Reflexão Cristã, para evocar a figura e obra daquele intelectual , recentemente falecido.

«Não era um professor fácil», disse Lindley Cintra, «mas os alunos tomavam os apontamentos num perfeito silêncio, as folhas eram policopiadas, folhas que o próprio Manuel Antunes se encarregava de rever. Conseguiu vencer um sistema de ensino errado através do diálogo com os alunos».

 A este propósito, o Dr. António Reis referiu um pormenor que marca a índole da tolerância e abertura aos problemas daquele intelectual. «Não era um aluno muito assíduo das suas aulas», disse António Reis. «Pouco havia estudado para a frequência. No ponto refugiei-me noutros temas, nomeadamente nas teorias neomarxistas franceses, então em voga, como forma de fugir ao assunto proposto. Chamou-me depois, porque disse que desejava alargar o diálogo comigo naquelas matérias e deu-me boa nota»".(1)

Se tivermos em mente os textos da #TOLERÂNCIA 22 e da #TOLERÂNCIA 26, podemos tomar consciência do seguinte:

  • Será que pode haver Tolerância sem Justiça ou Justiça sem Tolerância? Pelos vistos, ambas as situações são possíveis.
  • Tal como o jovem protagonista do escrito #TOLERÂNCIA 26, Lindley Cintra, falando do padre Manuel Antunes, considerava que o sistema de ensino estava errado.
  • Tendo em mente o escrito #TOLERÂNCIA 22, o padre Manuel Antunes aceitou o que aluno António Reis fez? Não, não aceitou. O padre Manuel Antunes compreendeu o que o aluno António Reis fez? Sim, compreendeu. O padre Manuel Antunes tolerou o que o aluno António Reis fez? Sim, tolerou.
  • Também como no texto #TOLERÂNCIA 26, a razão da saída bem-sucedida, airosa e respeitosa, da, digamos, jogada de desenrascanço do aluno, foi o diálogo, foi a conversa pessoal, feita de boa fé.

#tolerância, #tolerance, #Tolerancia, #tolérance, #tolleranza, #toleranz, #tolerantie, #宽容, #寛容, #관용, #सहिष्णुता , #סובלנות, #हष्णत, #Ανοχή, #Hoşgörü, #tolerans, #toleranță, #толерантность, #التسامح

(1) Padre Manuel Antunes, "Obra Completa, tomo VI, correspondência e outros textos", FCG, 2010, pp. 339-340.

sexta-feira, janeiro 24, 2025

#TOLERÂNCIA 26 - DESISTIR, NÃO DESISTIR DE UM ALUNO

 #TOLERÂNCIA 26 - DESISTIR, NÃO DESISTIR DE UM ALUNO

«We don’t see things as they are, we see them as we are».(1) A primeira vez que fixei a atenção nesta frase, a autoria era atribuída a Anaïs Nin. Como fui aprendendo, os autores das frases que se tornam célebres são muitas vezes muito mais antigos do que se pensa; e muito mais anónimos do que identificados, e ainda menos vezes são correctamente identificados.

Hoje fui almoçar com um antigo aluno da escola. Ele nunca foi aluno de Psicologia, o nosso contacto veio de ele ter sido um aluno, digamos, turbulento, disruptivo, que constantemente perturbava a estabilidade formal e a disciplina comportamental necessária (De certeza que é mesmo necessária?...) em sala de aula.

A "boa" disciplina em sala de aula, tenha o mundo dado as voltas que já deu, continua a ser basicamente a do professor a falar para o grupo-turma e os alunos estarem passivos, em silêncio, atentos e a tirarem apontamentos.

Este rapaz era tudo menos isso, mas... Mas não era mal-educado, era alegre, de olhar vivo, de pensamento ágil. Nunca gostou de estudar.

Acho que nos demos bem e ele ganhou estima por mim porque eu também gostava de me rir, de ser alegre e de ele ter percebido que eu não quis nunca endoutriná-lo, convencê-lo, domesticá-lo.

Sempre fui claro com ele em relação aos comportamentos que tinha, especialmente os que não eram amigos da saúde. Os outros, os da indisciplina propriamente dita, sem que os aceitasse, compreendia-os, brincava com eles, provocava-o para que os pensasse, procurava que ele os visse pelo lado das coisas boas, inteligentes e positivas que continham. E respeitei-o sempre nas suas opções, nas suas escolhas. Ele sempre soube quais eram as minhas limites de aceitação, condescendência; e cumplicidade, sim, cumplicidade.

O rapaz hoje está bastante bem na vida, como se costuma dizer. É um profissional muito competente, muito bem remunerado na sua área. Ao fim de 9 anos de investimento pessoal numa carreira e na sua independência financeira, chega a pensar e a falar mais em inglês do que em português. Dos 18 aos 27 anos.

Perguntei-lhe: «O que te deu a escola para chegares onde chegaste?» «Nada... Pronto, deu-me na parte da comunicação, da relação pessoal. Do que me deu a aprender, nada. A escola tem de mudar muito.» Fez questão, a seguir, de me dar 3 ou 4 exemplos, muito concretos, muito pertinentes. E comparou-se com colegas de escola que fizeram licenciaturas e mestrados; e os que trabalham nas áreas em que se formaram e os que não se formaram. Outra vez uma mão cheia de reflexões argutas e de notável análise social e educativa.

Desafiei-o a ir um dia às minhas aulas falar com os meus alunos de Psicologia, à volta dos temas do sucesso académico e do sucesso pessoal. Ele aceitou fazê-lo.

Com a ida dele à escola, tenho em mente, também, como que um gesto de reparação que lhe é devido: se a escola o fez sair, há anos, pela porta pequena, ele agora regressa pela porta grande.

Quando penso o que fui eu com ele naqueles turbulentos anos, tomo consciência de que fui tolerante. Tolerante com as suas idiossincrasias, os seus actos disruptivos, as suas motivações baralhadas, as suas opções pouco saudáveis.

Tenho a certeza de que ele não vai voltar à escola com a postura altaneira ou sobranceira de quem reclama uma vitória. Sei que ele vai voltar à escola com a sua característica boa-disposição, o sorriso cordial, a fala fluente e clara. Ele vai voltar à escola com Tolerância, com Tolerância carinhosa e amiga.

Provavelmente, naquele tempo lá para trás, ofereci-me como um bom modelo. O meu mestre João dos Santos ter-me-ia aprovado.

(1) Nós não vemos as coisas como são, vemos como nós somos.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح ,

quinta-feira, janeiro 23, 2025

#TOLERÂNCIA 25 – A TOLERÂNCIA E AS EMOÇÕES

 #TOLERÂNCIA 25 – A TOLERÂNCIA E AS EMOÇÕES

Nota prévia: este projecto de estudo da Tolerância compõe-se de 3 grandes conjuntos de textos: Levantamento, Exploração, Aprofundamento. Este texto é do conjunto Levantamentos.

Não há expressão comportamental da tolerância fora das emoções, sem emoções. Este assunto vai aparecer, seguramente, no Levantamento, na Exploração e no Aprofundamento do estudo da Tolerância.

Hoje quero centrar-me num caso muito particular da Tolerância e, ao mesmo tempo, das Emoções: a Tolerância, pela própria pessoa, das emoções negativas.

Num texto de divulgação muito interessante com o título "Enfrentar os sentimentos" (Facing your feelings), de Maio de 2012, o Centre for Clinical Interventions, escreve assim praticamente a abrir o fascículo do módulo 1:

«Existem muitas definições diferentes de intolerância à aflição psicológica ('distress', que também pode ser sofrimento psicológico, angústia, ansiedade, tensão emocional, etc.).

O que queremos dizer com intolerância à aflição psicológica é uma incapacidade sentida de viver plenamente emoções desagradáveis, aversivas ou incómodas, acompanhada por uma necessidade desesperada de escapar a essas emoções incómodas. As dificuldades em tolerar a aflição psicológica estão frequentemente ligadas ao medo de experimentar (sentir) emoções negativas. Muitas vezes, a intolerância à aflição psicológica centra-se em experiências emocionais de alta intensidade, ou seja, quando a emoção é “quente”, forte e poderosa (por exemplo, desespero intenso após uma discussão com um ente querido ou medo intenso durante um discurso).

No entanto, também pode ocorrer em emoções de menor intensidade (por exemplo, nervosismo em relação a um exame médico que se aproxima, tristeza ao recordar o fim de uma relação passada). Não é a intensidade da emoção em si, mas o quanto a teme, o quanto a sente desagradável, o quanto lhe parece insuportável e o quanto quer fugir dela, que determina quanto cada pessoa é intolerante à aflição psicológica.»(1)(2)

Tome-se bem atenção à esta diferença: uma coisa é a Tolerância às emoções negativas; outra coisa é as emoções negativas que a Tolerância desperta.

As emoções negativas que a Tolerância desperta não são objecto deste texto. As emoções negativas que a Tolerância desperta serão objecto de vários outros textos. É, na minha opinião, um dos temas cruciais para o entendimento da Tolerância e da Pedagogia da Tolerância.

Tenho ainda a opinião de que este segundo tema, o das emoções negativas que a Tolerância desperta tem sido menosprezado, evitado, com prejuízo grave na eficácia das acções de sensibilização à Tolerância e de promoção da Tolerância. É uma espécie de tabu ou de branqueamento que tem sido perpetuado. Há que ter a coragem de o enfrentar. Aqui, nesta viagem, nesta aventura da Tolerância, não deixarei de me haver com o tabu (os tabus) e o branqueamento (os branqueamentos). São tabus e branqueamentos sociais, políticos, culturais, educacionais; e clínicos.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح ,

(1) Facing Your Feelings - 01 - Understanding Distress Intolerance, PDF (www.cci.health.wa.gov.au)

(2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

quarta-feira, janeiro 22, 2025

#TOLERÂNCIA 24 – TOLERÂNCIA E SABEDORIA ORIENTAL

 #TOLERÂNCIA 24 – TOLERÂNCIA E SABEDORIA ORIENTAL


Se há filosofia ou corrente de pensamento a que no chamado Mundo Ocidental se costuma associar a ideia ou ideal de Tolerância é aquela (ou aquelas) que vêm da China, do Japão, dessas longínquas e misteriosas paragens.

Sim, recomendo vivamente uma visita a essas paragens.

Para aguçar o apetite, transcrevo para aqui o que as 'Sciences Humaines' dizem a apresentar o seu dossier "Les Sagesses Orientales", publicado em 17 de Maio de 2018. O dossier tem um total de 16 artigos.


É assim que o dossier é apresentado:

«Na Índia e na China, os pensamentos, as religiões e as filosofias floresceram durante muito tempo. Chamamos-lhes “sabedorias”, porque muitas vezes esperamos delas respostas que desesperamos por encontrar nas nossas ideologias ocidentais.

No mundo indiano, encontramos a espiritualidade do Hinduísmo, o exotismo do Sikhismo, a serenidade do Budismo dos Antigos...

Na China, encontramos a meditação do Budismo dos Grandes Veículos, a moral confucionista, a reconexão taoísta ou xamânica com a natureza...

Tudo isto tem uma história longa e complexa. Vamos explorar as suas principais etapas. Veremos que as religiões, no Oriente como noutros lugares, são feitas de tolerância e de violência; de arte e de negação; de filosofia e de idolatria... Encontraremos sempre o que procurarmos.(1)»

Independentemente da leitura do dossier, só esta apresentação já traz preciosas pistas à Pedagogia e à Educação para a aprendizagem discriminativa de conceitos. De conceitos e de preconceitos. É bem possível que um dia eu volte aqui a este dossier.

#tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التسامح ,

(1) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com