#TOLERÂNCIA244 - RESISTÊNCIA MENTAL E TOLERÂNCIA À DOR
Nicola Jokić é sérvio. Tem 2,11 m de altura, tem 30 anos e joga basquetebol na NBA. É considerado o melhor jogador de basquetebol da actualidade. Ontem jogou no Eurobasket 2025 pela selecção sérvia contra Portugal.
Tenho consciência de que os meus estereótipos e preconceitos de primeira linha em relação aos sérvios são bem mais negativos do que positivos. Por isso fiquei satisfeito por ter encontrado o que a seguir vou reproduzir aqui, é que desafia os meus estereótipos e preconceitos e faz referência, mesmo que ao de leve, a um tipo de tolerância que, na minha ideia, a Educação tem desvalorizado e não tem..., precisamente isso, não tem educado convenientemente, numa perspectiva que põe a dor inteiramente fora da condição natural do Homem — o que me parece errado e contraproducente.
Já La Fontaine criticava a tendência humana para dramatizar o sofrimento, a linguagem amplificando o que se sente: "A dor é sempre menos forte que a queixa."; e todo o espectáculo que se procura à expressão queixosa da dor. Mas não percamos o foco de atenção no jogador de basquetebol sérvio que desafia os meus estereótipos e preconceitos (na verdade, muito marcados pelos massacres da guerra do Kosovo).
Aqui está o que encontrei hoje na revista do Expresso (edição de anteontem): «De certa maneira, aos 30 anos e três títulos de melhor jogador da NBA depois, Nikola Jokić continua a ser esse rapaz de ar bonacheirão e despreocupado que nem se deu ao trabalho de estar acordado para ouvir o seu nome no
'draft'(1). Numa liga onde jorram milhões de dólares a cada contrato, pejada de luxos e excentricidades dos seus milionários membros, Jokić é o epítome da antiestrela, um autodepreciativo e discreto miúdo de Sombor, cidadezinha no norte da Sérvia, perto da fronteira da Hungria, para onde volta no primeiro avião mal acaba a época nos Estados Unidos.»É lá que estão os pais, os seus pratos favoritos, o seu estábulo (Dream Catcher, de seu nome) e os
seus cavalos, pelos quais parece bem mais apaixonado do que pela bola laranja. Fica longe das redes sociais, até porque não as tem. «É uma perda de tempo», atirou laconicamente há um par de anos, quando o questionaram sobre essa tão pouco comum opção num palco de ostentação como é a NBA. Não menos lacónica, mas muito representativa de quem é Nikola Jokić, foi a resposta que deu, ainda num inglês incipiente, a um jornalista norte-americano, meses antes do 'draft', sobre a sua forma de ver o jogo: «Quando estou livre, marco. Quando não estou, passo.»»
Mais à frente, a jornalista do Expresso, , escreve: «Já as preocupações com o peso e a aparente falta de atleticismo de Jokić foram ficando esquecidas no tempo. «Ele é tão forte quanto qualquer outro jogador na liga. E se é certo que se continua a julgar erradamente a sua parte física, o seu motor não mente: ele é um dos postes mais bem preparados fisicamente da atualidade, com a resistência mental e tolerância à dor para ir mais longe do que a maioria dos adversários.» Quase poeticamente, Mares(2) fala de alguém com «corpo, mente e espírito em rara harmonia», um basquetebolista cujo jogo é, ao mesmo tempo, «preciso e imprevisível.»»
Ora bem, estas características altamente valorizadas — corpo, mente e espírito em rara harmonia... precisão e imprevisibilidade (ou criatividade) — tendem ou não a ser ambicionadas por muitos jovens? E não apenas no Desporto! Por isso, vale ou não vale a pena a Pedagogia e a Educação ocuparem-se com a resistência mental e a tolerância à dor?
Última nota: foi pena ontem o nosso Neemias Queta não ter superado o colega adversário sérvio no jogo entre a Sérvia e Portugal, mas o texto que hoje li já fez bem aos meus preconceitos e estereótipos em relação aos sérvios. Veja-se a força arreigada dos estereótipos e preconceitos: quantos jogadores sérvios não passaram já pelo Benfica! Quando se começou a falar da saída do Ljubomir Fejsa, eu dizia por graça que era preferível mandarem embora os outros 10 jogadores porque ele, com o historial que trazia de vencer campeonatos, ganharia sozinho contra 11, as equipas onde ele estava ganhavam sempre.
(1) O 'Draft' da NBA é um dos momentos mais importantes e aguardados da temporada do basquetebol nos EUA. É nesta noite que as franquias (um conceito que se refere a negócios, marcas e equipas) escolhem quais jogadores amadores farão parte das respectivas equipas a partir da edição seguinte da liga norte-americana de basquetebol, a NBA.
(2) Adam Mares, analista, comentador e criador do projecto multimédia DNVR, que se dedica ao dia-a-dia dos Denver Nuggets (equipa de basquetebol norte-americana em que joga Nicola Jokić.
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Nota: os créditos da fotografia são da https://edition.cnn.com/2023/06/13/sport/nba-finals-nikola-jokic-denver-nuggets-spt-intl (o atleta tem a filha ao colo)
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