#TOLERÂNCIA234 - INCÊNDIOS: EXIBICIONISMO INTOLERÁVEL
Penso que a tragédia dos incêndios desperta nos cidadãos, primeiro, um sentimento de aflição; depois, um sentimento de impotência.
É um tema que muitas vezes recorre, nas falas e nos escritos, à palavra "Tolerância", sobretudo para dizer que não há tolerância para mais, que «Basta!». Ficamos incrédulos, estupefactos com coisas que ouvimos ao sr. Presidente da República: «Cada caso é um caso...» Isto é uma justificação?... É uma generalização desculpante?... «[Com o que se tem passado nos últimos 10 anos, que é o tempo do seu magistério] Aprendemos que é preciso preservar vidas humanas...» É mesmo preciso aprender isso?!... Não se sabe isso desde sempre?!... «Aprendemos que é preciso prevenir mais...» Não, não aprendemos! Aprender é fazer diferente, fazer diferente de forma continuada, mas, afinal, continua-se a fazer o que se fazia, ou melhor, o que não se fazia e era preciso fazer-se! «Há reflexões a fazer porque se aprende...» Andamos há 10 anos a fazer reflexões! «Admito que quem chegou há 2 meses — está a referir-se à sr.ª Ministra da Administração Interna — esteja a descobrir os problemas e esteja a descobrir as respostas a dar...» A sr.ª Ministra está a descobrir os problemas que se repetem, repetem, repetem, ao longo de anos, anos, anos? Bem, por alguma razão a senhora é ministra e eu não: eu seguramente não estou preparado, não conheço e não sou competente. Além disso, a senhora não está sozinha no Ministério: tem secretários, equipas, técnicos... Não, senhor Presidente, eu vi-o em Pedrógão Grande! O sr. Presidente está de consciência tranquila? Tem a certeza de que de lá até agora fez o que devia ter feito, com uma magistratura de influência, para que a aprendizagem e a prevenção fossem, de facto, adquiridas e consolidadas?
Hoje li assim no Público, num artigo de opinião escrito pelo biólogo Jorge Paiva:
«Os nossos governantes e políticos, além de palavrearem em vez de governarem, passaram a ter a preocupação de aparecer nastelevisões, num exibicionismo intolerável. Há alguns que aparecem todos os dias. Nos telejornais, esses exibicionistas falam abanando constantemente a cabeça para os vários microfones e rodeados de
aduladores.
»Camões já refere estes aduladores n'Os Lusíadas (Canto IX.27), que não eram mais do que uns inúteis do Reino, incapazes de mondar o trigo florescente: "Vê que esses que frequentam os reais/paços por verdadeira e sã doutrina/vendem adulação, que mal consente/mondar-se o novo trigo florecente."
»Para me informar, leio diariamente jornais porque não vejo noticiários televisivos, principalmente na época estival. Isso porque, além dos exibicionistas, estão transformados em pirotelejornais, incentivadores à piromania por apresentarem imagens de fundo de pavorosos incêndios enquanto o locutor noticia e fala com os pirorrepórteres regionais que se colocam de modo a que os pirómanos vejam pavorosas imagens da vegetação e habitações a arderem.»
O resto do artigo não é mais do mesmo, desabafo atrás de desabafo, é enumerar de razões, é lembrar o que tantas vezes já foi dito e redito. Sabe, sr. Presidente, porque dei destaque a esta parte do "exibicionismo intolerável"? É porque eu tenho tido repetidamente vontade de escrever uma coisa assim.
A minha questão, a minha interrogação, é como é que se passa da palavra do sentimento de intolerância, legítimo!, para a acção que concretiza o «Basta!» que todos, todos, todos, andamos há muitos anos a proclamar?
Fico a pensar na Educação para uma Cidadania Activa... O que tolerar? O que não tolerar? O que fazer quando o vermelho do vermelho da Tolerância acende? Acende e queima!
Os governantes, como o sr. Presidente da República anda desde ontem a fazer, têm sempre justificações e atenuantes. Dizem que são julgados pelo Povo depois, mais tarde, nas eleições seguintes.
Escreve Jorge Paiva quase a concluir o seu artigo de opinião: «Sinto-me um condenado à prisão perpétua no meu país, pois já quase não tenho natureza com biodiversidade para me deliciar a estudar, a não ser residual no meio urbano, para onde alguns animais selvagens estão a migrar.»
Há pouquinho, no Joker, o concurso da RPT1, o concorrente disse que se tem ocupado a ir com a filha à praia apanhar os lixos. Porque a filha reclama que assim ele faça com ela. Ela aprendeu na escola que se deve fazer assim. Quantos dos actuais governantes também já aprenderam assim? Há cerca de 40 anos, eu já levava grupos a participarem em actividades de limpezas de praia (o projecto Europeu Coastwatch). Quer dizer que há um momento a partir do qual o que se aprende em pequeno se desaprende em grande. Um ou vários. Não estando nas mãos da Educação resolver esses momentos de desaprendizagem, pelo menos que a Educação saiba alertar quem tiver de alertar para a Prevenção da(s) Desaprendizagem(ns). Não será nada fácil, mas a Educação não deve furtar-se a este esforço, mesmo que hercúleo.
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