#TOLERÂNCIA237 - COMO PODEM OS QUE PERDEM SEMPRE SER TOLERANTES?
Reconheci numa vinheta de banda desenhada publicada pelo meu amigo José Manuel Paulino uma daquelas minhas ruminações que vêm e vão, parece que esperando a madureza para se transformarem no texto-fruto de qualquer coisa.
Na imagem, cómica, uma figura adulta, que nos deixa na dúvida ser o pai ou o avô, está visivelmente chateado, ergue os braços ao alto, olha o tabuleiro em que acaba de perder mais uma partida de xadrez com o filho/neto, que o olha incrédulo, e desabafa: «Como é que tu queres que eu seja bom a perder se tu é que ganhas sempre?»
Enquanto é a feijões... enquanto é ali entretidos a jogar confortavelmente em casa... enquanto há regras claras que ambos os contendores conhecem e cumprem... enquanto os dois pensam que a disputa será justa... enquanto isto tudo, que ganhe a partida quem for melhor no jogo!Há uma idade nas crianças em que elas gostam de fazer jogos (com outras crianças, com os pais ou com os avós) em que vão criando as regras; e que vão modificando as regras à medida das suas conveniências, logo que as coisas não lhes correm de feição. É uma fase muito oportuna para a educação de regras sociais, da coerência, da justiça e da tolerância à frustração e ao insucesso.
O problema é quando este comportamento infantil acontece na vida adulta, seja entre pessoas, seja entre países.
É, no caso dos países, há uns que perdem sempre. Não são jogos a feijões, o conforto da casa está sempre a ser posto em causa, as regras não são claras e nem sempre são cumpridas, a disputa não é justa porque um dos lados tem as peças todas, ou pelo menos as mais valiosas... Conclusão: a "criança" que estava a aprender a arte da disputa, do compromisso e da negociação não foi educada como deveria ter sido, ou nunca quis submeter-se às regras da disputa justa.
Nestas condições, como se pode exigir que quem perde seja dócil, tolerante, se resigne e não se revolte?
Quando nos pomos a pensar que líderes políticos personificam estas crianças que nunca aprenderam ou aceitaram o comportamento da disputa justa, quem são eles?... Era engraçado criar-se um questionário e fazer-se uma sondagem para ver quem aparecia mais vezes.
De pequenino se torce o pepino, não é? Há poucos dias falei, a propósito dos lixos na praia que a filha puxava os pais para os irem recolher, de que na infância e na juventude se aprende e que depois, chegando-se à adultícia, se desaprende, sem que, em geral, se consigam identificar os momentos, os processos mentais e comportamentais e os pequeninos conteúdos, quais peças de lego, de tais desaprendizagens.
Há qualquer coisa da tragédia eterna de Sísifo na acção da Educação, mas a Educação tem um trunfo que Sísifo não tinha, ou melhor, não tem: na Educação nunca se está sozinho. Sísifo, sozinho, até pode ir mais depressa, como diz o ditado africano, mas na Educação vamos mais longe.
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