domingo, agosto 17, 2025

#TOLERÂNCIA231 - OS ANIMAIS NÃO SÃO INTOLERANTES

 #TOLERÂNCIA231 - OS ANIMAIS NÃO SÃO INTOLERANTES

Os pensamentos de hoje cruzaram uma notícia de jornal com o comportamentos de 2 cães, pai e filho, que se deram bem, com razoável até há 15 dias atrás. Agora, o confronto entre eles é radical: mal se vêem, atacam-se um ao outro. Já falei deles aqui, há poucos dias. Todos cá em casa temos a noção de que, se os deixarmos entregues ao confronto um com o outro, a coisa vai acabar mal para um dos lados, talvez mesmo para os dois. São animais de estimação, com o que de bom e de mal isso tem, amanhã um deles vai mudar de morada (sem sair da família). Esta rivalidade não é "desumana": rivalidade, disputa pela liderança é uma condição inerente à vida, coesão e defesa do grupo animal.

Por sua vez, a notícia é a seguinte, assinada por Maria João Guimarães, na edição do Público de hoje: «O chefe da secreta militar em funções a 7 de Outubro, Aharon Haliva, afirmou que o grande número de palestinianos mortos na Faixa de Gaza era "necessário", numa série de gravações a que o Canal 12 da televisão teve acesso.

»Segundo a imprensa israelita, nas gravações, Haliva disse que "deveriam morrer 50 palestinianos" por
cada vítima israelita do ataque do Hamas de 7 de Outubro de 2023.

»No ataque a uma série de comunidades perto da Faixa de Gaza e a um festival de música, o Hamas matou mais de 1200 pessoas e levou 251 reféns, dos quais 50 estão ainda na Faixa de Gaza, estimando-se que 20 deles ainda vivos.

»A guerra que Israel levou a cabo na Faixa de Gaza fez já mais de 61 mil mortos.

»"Não há escolha, eles precisam de uma Nakba [Catástrofe] de vez em quando para sentir as consequências", declarou Haliva, referindo-se à saída de centenas de milhares de palestinianos das suas terras por volta da altura da criação do Estado de Israel, em1948.

»Não era claro o contexto das gravações, feitas "ao longo dos últimos meses", segundo o canal de televisão.

»A dada altura, Haliva refere-se "ao facto de haver 50 mil mortos em Gaza" como "necessário e exigido
para gerações futuras", e não "como vingança".»

O tom de desumanidade e sobranceria imperialista desperta-me afectos de repulsa, raiva e ódio.

A atalhar a reflexão que noutras circunstâncias faria doutra maneira, perguntei a dois ou três 'chatbots': «O que se sabe sobre as raízes biológicas e animais da Intolerância? Responde em português de Portugal.»

As respostas que os 'chatbots' me dera, levaram em consideração variáveis biológicas, neurológicas, hormonais, sociais, psicológicas, antropológicas, filosóficas, culturais, étnicas... A afirmação de que mais gostei foi a seguinte: «Diferenças Fundamentais: A intolerância humana é frequentemente simbólica (baseada em ideologia, religião, nacionalismo) e não apenas biológica. Animais não formam sistemas de ódio institucionalizado.»

A seguir, fiz-lhes esta pergunta: «Quais são as fontes desta afirmação? "A intolerância humana é frequentemente simbólica (baseada em ideologia, religião, nacionalismo) e não apenas biológica. Animais não formam sistemas de ódio institucionalizado."»

Sinceramente, nenhuma das respostas a esta pergunta me satisfez plenamente, todos eles me trouxeram conhecimentos básicos de autores seminais como Konrad Lorenz, Henri Tajfel, Sigmund Freud, Robert Wright, Robert Sapolsky, etc. Conhece-os a todos, é preciso ir bem além deles — evidentemente, com

eles, não contra eles, mas temos de ir bem além deles.

As ideologias, as religiões e os nacionalismos são construções mentais das sociedades humanas. Há poucos dias, duas ou três jornadas atrás, eu aqui falei de quanto os credos religiosos que tomam os preceitos do Velho Testamento (por isso também da Tora) são radicais e intolerantes.

Aos meus alunos, durante muitos anos, eu falei-lhes do que Jane Goodall nos dizia no documentário que a Nacional Geographic lhe dedicou nos anos da década de 1980: que um dos principais grupos de chimpanzés estudados por ela se clivou em dois e que um deles, o mais forte, só descansou quando eliminou todos os elementos do grupo que se tornou rival. Anos depois, a própria Jane Goodall veio a reconhecer que a sua acção, que alterou as condições naturais de disponibilidade de alimentos, foi parte essencial nesse comportamento aniquilador dos nossos principais parentes evolutivos. Mais uma vez, onde o Homem criou uma interferência, mesmo que com boa-fé, o desequilíbrio irrompeu e provocou danos.

É verdade: o ser humano odeia, não tolera, exclui e elimina iguais como mais nenhuma outra espécie animal o faz. A nossa sede de poder, desejo de domínio, intensidade de raiva e ódio, tornam-se insaciáveis.

A maneira como os actuais dirigentes políticos e militares de Israel exercem o poder e destilam o ódio, pois é, pensávamos que depois dos nazis alemães, dos estalinistas russos, dos radicais cambojanos de Pol Pot, dos extremistas muçulmanos, dos Ku Klux Klan norte-americanos, etc., as sociedades "civilizadas" mostrariam ao mundo como as instituições democráticas expressariam assertivamente, convincentemente, a vitória da Tolerância sobre a Intolerância, do Respeito sobre a Exploração Pessoal, da Coexistência sobre a Exclusão e a Eliminação.

Não sei se alguma vez a Educação das crianças e dos jovens vencerá a Política dos adultos. O que me parece é que a Educação não pode nunca deixar de tentar fazer o seu melhor. Deixem os professores trabalhar. Às tantas, Governos haverá que achem que, "pensando bem", é melhor não se dar condições de trabalho aos professores: ainda arriscam a que os professores consigam mesmo fazer das crianças e dos jovens bons cidadãos.

Vem-me à cabeça a quadra de António Aleixo: «Vós que lá, do vosso império / Prometeis um mundo novo / Calai-vos que pode o povo / Querer um mundo novo, a sério!» É milenar a recomendação aos Políticos que (des)governam os Povos "Panem et circenses" [Pão e circo, frase tradicionalmente atribuída ao poeta romano Juvenal]. Junte-se a isso a agitação do papão do medo dos outros que estão prontos para virem explorar-nos a casa e levar-nos tudo o que temos.

William Golding, na ficção de "O Deus das Moscas" mostra-se pessimista em relação: a organização democrática do búzio soçobra perante a avidez de poder do líder e dos que ele arregimentou à volta dele. Mais do que revelar-nos a natureza humana, em que o Mal vence o Bem, Golding está a avisar-nos: cuidem da Educação das Crianças, cuidem da Educação dos jovens, se não querem que o Mal vença o Bem.

Repito: há quem queira que a Educação não seja poderosa, não seja eficaz, não dê frutos.

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