#TOLERÂNCIA236 - PREOCUPANTES CERTEZAS PESSOAIS
Na edição do Nascer do Sol (revista Luz) de hoje, Zita Seabra, afirma, no último parágrafo da entrevista (não sabemos se acabou mesmo assim a entrevista ou se foi assim que a jornalista quis que acabasse...) o seguinte:
Pergunta: O que é que a vida, ao fim de 76 anos, lhe ensinou? Resposta: «Ensinou-me, primeiro, que a tolerância é muito importante quando se discute política. Penso que a sociedade política está um bocadinho crispada e muito pouco tolerante. Aos que estão mais à direita chama-se logo "fascista" e
esta faz o mesmo a quem está mais à esquerda. Esta expressão foi inaugurada por Estaline. Essa crispação tem de ser combatida. Também já rotulei pessoas por discordarem das minhas opiniões. Hoje, penso que há sempre alguma coisa de positivo nos contrários, nas opiniões dos outros. Agora, não é possível ser comunista e ser tolerante. Isso não existe.»Leio outra vez: «Agora, não é possível ser comunista e ser tolerante. Isso não existe.» Leio e fico a pensar na contundência absoluta da afirmação.
A primeira coisa que me vem à cabeça, quase por impulso, faz-me sorrir: se há pessoa para quem os comunistas têm sido tolerantes (não nos foquemos apenas no julgamento interno no PCP que levou à expulsão de Zita Seabra do partido), os comunistas e partidários de outras ideologias políticas, é precisamente para com Rita Seabra, que tem dito e feito, que tem desdito e desfeito, o que bem lhe tem aprazido.
A seguir, quase automaticamente, quis categorizar a afirmação: se uma proposição, se um axioma, se um teorema, se um lema, se um corolário. No contexto da entrevista toda, optei pelo axioma — a verdade inquestionável. Na idade em que está, com a experiência pessoal e política que tem, talvez se compreendesse mais um corolário. Só que, sendo corolário, pedia explicação justificadora. Sendo a última afirmação da entrevista, assim sem mais nada, pois, só mesmo axioma.
Sendo axioma a propósito da relação entre os grupos e da relação entre as pessoas é radical e... intolerante! Não admite a diferença, nem sequer a matização.
Ora, se há coisa que a história das ideologias políticas e das práticas políticas sempre nos tem mostrado é que não há absolutos em nenhuma, mas mesmo nenhuma, ideologia ou prática política; e que a intolerância aparece servida por regimes políticos radicais tanto de esquerda como de direita, comunistas e não comunistas. (Num texto com outra extensão e desenvolvimento, falaria do radicalismo das ideologias religiosas, sobretudo as monoteístas. Talvez o faça noutra altura.)
Parece-me que Zita Seabra ainda não se pacificou com o seu passado comunista, a ideologia, os ideais e a experiência partidária... Não está sozinha nestes processos de trajectórias resvalantes e ziguezagueantes do espectro político-partidário. Só que uns são mais tolerantes do que outros, mesmo que me pareça que, em geral, não abonam muito em favor dos seus protagonistas (por exemplo, Durão Barroso e Freitas do Amaral).
De resto, como lutadora comunista, anti-fascista, antes do 25 de Abril, Zita Seabra merece-me todo o respeito. Respeito e gratidão. Desejo-lhe toda a paz do mundo.
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