domingo, agosto 31, 2025

#TOLERÂNCIA245 - O PRINCÍPIO DO FIM DA VIAGEM

 #TOLERÂNCIA245 - O PRINCÍPIO DO FIM DA VIAGEM

A partir de amanhã faltarão 30+31+30+31 dias para chegar ao fim da viagem-saga pela geografia da Tolerância. São os meses de Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro. Vão ser meses especialmente exigentes, sei que haverá dias em que não serei capaz de escrever como tenho vindo a fazer, numa regularidade que é a própria essência da viagem. Vai, de certeza, haver dias em que, na melhor das hipóteses, escreverei uma ou duas frases que reflictam o dia e que depois, dias mais tarde, desenvolverei em texto. São como mares que terei de atravessar, mesmo assim o meu desafio será de muito menos exigência que a mítico Camões salvando os Lusíadas depois do trágico naufrágio nos mares da China (onde, ao que parece, ele perdeu aquela que ele amou de maneira tão especial).

Para não perder o norte; e com a consciência de que não chegarei, mesmo que os ventos e as musas se alinhem na melhor das orientações, a todos os lugares a que gostaria de chegar — não é que antecipadamente seja quais são, mas estou convictamente seguro de que existem e de que eu bem neles me sentiria —, por um momento olho para trás e procuro receber alguma inspiração para que pontes cardeais seguir.

Peguei nos textos que escrevi até ao final de Junho e lancei-os à apreciação dos 'chatbots' do costume: p Gemini, o ChatGPT e o DeepSeek.

Aqui estão algumas coisas que me disseram. O ChatGPT até um grafo me fez!

«O documento reúne várias entradas do blogue Psicologias e Pedagogias (Fernando Pinto) sobre o tema da tolerância, publicadas em [corrijo: até] junho de 2025. Cada entrada associa reflexões pessoais, excertos literários ou filosóficos e acontecimentos sociais ou políticos. A tolerância é abordada como conceito pedagógico, social e existencial, mas também como prática quotidiana.» (ChatGPT)

«O autor do blogue, Fernando Pinto, aprofunda o conceito de tolerância citando várias fontes. A tolerância é vista não como uma atitude de concessão ou condescendência, mas sim como um respeito activo pelos direitos e liberdades fundamentais dos outros. É a harmonia na diferença, fomentada pelo conhecimento, comunicação e liberdade de pensamento. No entanto, o texto também apresenta uma visão mais crítica, citando José Saramago, que argumenta que a tolerância não é suficiente, pois implica uma relação de superioridade, e que deveríamos aspirar a uma relação entre as pessoas que a exclua por completo.» (Gemini)

«Cada entrada ("Tolerância #") aborda a tolerância a partir de diferentes perspectivas — filosófica, pedagógica, política, social, linguística e até tecnológica —, servindo-se de citações de autores como Paulo Freire, Mia Couto, Marcel Proust, Nikola Tesla, Aristóteles, entre outros, além de notícias, estudos científicos e experiências pessoais.» (DeepSeek)

«Texto reflexivo, por vezes intimista, com forte componente pedagógica. Recorre frequentemente a citações, exemplos concretos e experiências pessoais. Linguagem acessível mas densa, com preocupação conceptual e ética. Interage com o leitor, propondo questões e desafios à reflexão.» (DeepSeek)

«O texto (ou melhor, a série de textos reunidos) apresenta uma visão rica da tolerância como princípio ético fundamental, mas também como prática concreta que atravessa a vida familiar, a política, a educação, a religião e a própria gestão pessoal da ansiedade. É uma reflexão que oscila entre a teoria (Paulo Freire, investigação académica) e o quotidiano (histórias familiares, exemplos actuais), o que lhe dá profundidade e proximidade. O desafio que fica é este: transformar as “palavras gastas” em acções concretas de inclusão, diálogo e escuta activa.» (ChatGPT)

«O texto aborda a complexidade de se ser tolerante, admitindo que o conceito é problemático e evolutivo. A intolerância é frequentemente ruidosa, enquanto a tolerância é mais discreta. A questão do "limite" é essencial, pois a tolerância não deve ser sinónimo de complacência perante o ódio ou a violência. O autor também menciona a dificuldade de tolerar a "ausência de novidade" nas sociedades modernas, viciadas em distracção e informação constante.

»Em resumo, o blogue de Fernando Pinto defende uma tolerância que é uma virtude activa e consciente, que deve ser praticada e aprendida, e que se distingue do simples ato de aceitar ou coexistir. É um trabalho contínuo que exige reflexão, especialmente na educação, e que encontra os seus limites quando confrontado com a destruição da democracia ou a violação dos direitos humanos.» (Gemini)

Sublinho: «É um trabalho contínuo que exige reflexão, especialmente na educação...» Gosto do que leio, dá-me alento para o tempo que falta e para os mares difíceis que aí vêm.

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sábado, agosto 30, 2025

#TOLERÂNCIA244 - RESISTÊNCIA MENTAL E TOLERÂNCIA À DOR

 #TOLERÂNCIA244 - RESISTÊNCIA MENTAL E TOLERÂNCIA À DOR

Nicola Jokić é sérvio. Tem 2,11 m de altura, tem 30 anos e joga basquetebol na NBA. É considerado o melhor jogador de basquetebol da actualidade. Ontem jogou no Eurobasket 2025 pela selecção sérvia contra Portugal.

Tenho consciência de que os meus estereótipos e preconceitos de primeira linha em relação aos sérvios são bem mais negativos do que positivos. Por isso fiquei satisfeito por ter encontrado o que a seguir vou reproduzir aqui, é que desafia os meus estereótipos e preconceitos e faz referência, mesmo que ao de leve, a um tipo de tolerância que, na minha ideia, a Educação tem desvalorizado e não tem..., precisamente isso, não tem educado convenientemente, numa perspectiva que põe a dor inteiramente fora da condição natural do Homem — o que me parece errado e contraproducente.

Já La Fontaine criticava a tendência humana para dramatizar o sofrimento, a linguagem amplificando o que se sente: "A dor é sempre menos forte que a queixa."; e todo o espectáculo que se procura à expressão queixosa da dor. Mas não percamos o foco de atenção no jogador de basquetebol sérvio que desafia os meus estereótipos e preconceitos (na verdade, muito marcados pelos massacres da guerra do Kosovo).

Aqui está o que encontrei hoje na revista do Expresso (edição de anteontem): «De certa maneira, aos 30 anos e três títulos de melhor jogador da NBA depois, Nikola Jokić continua a ser esse rapaz de ar bonacheirão e despreocupado que nem se deu ao trabalho de estar acordado para ouvir o seu nome no

'draft'(1). Numa liga onde jorram milhões de dólares a cada contrato, pejada de luxos e excentricidades dos seus milionários membros, Jokić é o epítome da antiestrela, um autodepreciativo e discreto miúdo de Sombor, cidadezinha no norte da Sérvia, perto da fronteira da Hungria, para onde volta no primeiro avião mal acaba a época nos Estados Unidos.

»É lá que estão os pais, os seus pratos favoritos, o seu estábulo (Dream Catcher, de seu nome) e os
seus cavalos, pelos quais parece bem mais apaixonado do que pela bola laranja. Fica longe das redes sociais, até porque não as tem.
«É uma perda de tempo», atirou laconicamente há um par de anos, quando o questionaram sobre essa tão pouco comum opção num palco de ostentação como é a NBA. Não menos lacónica, mas muito representativa de quem é Nikola Jokić, foi a resposta que deu, ainda num inglês incipiente, a um jornalista norte-americano, meses antes do 'draft', sobre a sua forma de ver o jogo: «Quando estou livre, marco. Quando não estou, passo.»»

Mais à frente, a jornalista do Expresso, , escreve: «Já as preocupações com o peso e a aparente falta de atleticismo de Jokić foram ficando esquecidas no tempo. «Ele é tão forte quanto qualquer outro jogador na liga. E se é certo que se continua a julgar erradamente a sua parte física, o seu motor não mente: ele é um dos postes mais bem preparados fisicamente da atualidade, com a resistência mental e tolerância à dor para ir mais longe do que a maioria dos adversários.» Quase poeticamente, Mares(2) fala de alguém com «corpo, mente e espírito em rara harmonia», um basquetebolista cujo jogo é, ao mesmo tempo, «preciso e imprevisível.»»

Ora bem, estas características altamente valorizadas — corpo, mente e espírito em rara harmonia... precisão e imprevisibilidade (ou criatividade) — tendem ou não a ser ambicionadas por muitos jovens? E não apenas no Desporto! Por isso, vale ou não vale a pena a Pedagogia e a Educação ocuparem-se com a resistência mental e a tolerância à dor?

Última nota: foi pena ontem o nosso Neemias Queta não ter superado o colega adversário sérvio no jogo entre a Sérvia e Portugal, mas o texto que hoje li já fez bem aos meus preconceitos e estereótipos em relação aos sérvios. Veja-se a força arreigada dos estereótipos e preconceitos: quantos jogadores sérvios não passaram já pelo Benfica! Quando se começou a falar da saída do Ljubomir Fejsa, eu dizia por graça que era preferível mandarem embora os outros 10 jogadores porque ele, com o historial que trazia de vencer campeonatos, ganharia sozinho contra 11, as equipas onde ele estava ganhavam sempre.

(1) O 'Draft' da NBA é um dos momentos mais importantes e aguardados da temporada do basquetebol nos EUA. É nesta noite que as franquias (um conceito que se refere a negócios, marcas e equipas) escolhem quais jogadores amadores farão parte das respectivas equipas a partir da edição seguinte da liga norte-americana de basquetebol, a NBA.

(2) Adam Mares, analista, comentador e criador do projecto multimédia DNVR, que se dedica ao dia-a-dia dos Denver Nuggets (equipa de basquetebol norte-americana em que joga Nicola Jokić.

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Nota: os créditos da fotografia são da https://edition.cnn.com/2023/06/13/sport/nba-finals-nikola-jokic-denver-nuggets-spt-intl (o atleta tem a filha ao colo)

sexta-feira, agosto 29, 2025

#TOLERÂNCIA243 - A INTOLERÂNCIA É A RAIZ DA TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA243 - A INTOLERÂNCIA É A RAIZ DA TOLERÂNCIA

Já algures disse que gosto muito, em geral, dos autores italianos. Por exemplo, o livro que há alguns anos mais conseguiu ajudar-me a ter uma concepção da longa História da Europa, desde os seus primórdios, até à Europa das duas Guerras Mundiais e que desembocou na Europa que vivemos hoje, é dum autor italiano.

Em boa hora hoje folheei a edição, de hoje também, do Corriere della Sera. Lá encontrei um texto interessantíssimo do consagrado jornalista italiano Paolo Mieli, que começou no jornalismo aos 18 anos e agora tem 76. Com a ajuda do DeepSeek, li o artigo e trago para aqui o título e o primeiro parágrafo.

O título: "A Cruzada (em curso) contra o Passado. O subtítulo: Os efeitos da 'Cancel Culture' [Cultura de Cancelamento] segundo Frank Furedi"

O primeiro parágrafo: «Em 1691, o bispo francês Jacques-Bénigne Bossuet defendeu que o catolicismo era a menos tolerante de todas as religiões, como observa o sociólogo Frank Furedi — nascido na

Hungria, mas durante muito tempo professor na Universidade de Kent, no Reino Unido — em "A Guerra contra o Passado. Cultura do Cancelamento e Memória Histórica", recentemente publicado pela Fazi Editore [a edição inglesa é de 2024; a italiana de 2025]. «Tenho o direito de vos perseguir», dizia Bossuet, «porque eu estou certo e vós estais errados». Os protestantes não ficavam atrás. Henry Kamen, em Nascimento da Tolerância (il Saggiatore), chamou a atenção para o facto de o sínodo valão de Leida, constituído principalmente por refugiados huguenotes, ter condenado como se fosse uma forma de heresia a abertura à profissão de outras religiões.

»Não havia nada de natural na tolerância. Nem sequer se concebia. Pode deduzir-se que, sem o predomínio de comportamentos intolerantes e sem sermos forçados a enfrentar as suas consequências destrutivas, o ideal da tolerância nunca teria existido. A idealização da intolerância precede a valorização da tolerância, escreve Furedi, «não só cronologicamente, mas também logicamente». De certo modo, é a intolerância que gera a tolerância. E isto não se aplica apenas a ela. Todos os valores importantes do mundo contemporâneo, como a liberdade e a igualdade, surgiram como «resposta ao seu contrário».

»Foi a «capacidade de aprender com a experiência do passado» que permitiu à civilização desenvolver atitudes fundamentais que hoje influenciam o nosso modo de vida. A certa altura, o desconforto e o sofrimento de uma parte da sociedade — face à intolerância, à ausência de liberdade, à desigualdade e assim por diante — suscitaram um sentimento de repulsa num número relativamente restrito de indivíduos. No entanto, com o passar do tempo, a sensibilidade deste número restrito de indivíduos impôs-se e influenciou sectores mais amplos da sociedade. Para nós, deveria ser uma obrigação aprofundar a ligação entre estes conceitos. E quão importante é não renunciar ao que conquistámos.»

Tomo nota: procurar os livros de Frank Furedi (húngaro); ler "O Nascimento da Tolerância" (1967), de Henry Kamen (britânico, nascido em Mianmar); ler o "La civiltà delle buone maniere. La trasformazione dei costumi nel mond" [a edição original ("Über den Prozess der Zivilisation: Soziogenetische und psychogenetische Untersuchungen"), em alemão, é de 1939], de Norbert Elias (alemão de ascendência judaica).

E leio outra vez: «Tenho o direito de vos perseguir», dizia Bossuet, «porque eu estou certo e vós estais errados». Estou seguro de que esta presunção radicalmente presunçosa e imperialista está viva em muitos dos líderes políticos e religiosos que (des) governam os Povos e os Credos.

A estação de hoje deixa um valiosíssimo potencial de informação e reflexão para a Pedagogia e a Educação.

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quinta-feira, agosto 28, 2025

#TOLERÂNCIA242 - TOLERÂNCIA, CÉREBRO, BIOLOGIA

 #TOLERÂNCIA242 - TOLERÂNCIA, CÉREBRO, BIOLOGIA

Não significa nada, nem antecipei qualquer intenção de falar disto hoje. É apenas uma constatação que me apraz, nem sequer a classifico como coincidência: falar de mente, cérebro, fisiologia e biologia precisamente no dia em que atinjo os dois terços de caminhos diários pela geografia da Tolerância.

O parágrafo anterior tem a ver com o texto que encontrei na edição de hoje da revista Visão, "CIÊNCIA,
Como o cérebro dita as nossas ideologias". A seguir transcrevo algumas frases do texto, que é o primeiro capítulo do livro de Leor Zmigrod, livro esse que tem em português o título "O Cérebro Ideológico, uma ciência radical das mentes susceptíveis" (a partir da edição inglesa), mas eu prefiro usar a outra forma, doutra edição em língua inglesa: "O Cérebro Ideológico, a ciência radical do pensamento flexível" (The Ideological Brais, the radical science of flexible thinking — edição americana). Na sua página do Linkedin, a autora põe ambas as capas lado a lado, sem qualquer comentário. No vídeo em que se apresenta (vi-o no Youtube)(1) apresenta-se com aquele «Olá, eu sou a doutora Leor...», com aquele "doutora" de nome que, enfim, devemos aceitar tolerantemente...

Pelo que vi numa busca breve na Net, a jovem cientista, que se apresenta como autora e cientista de Psicologia e Neurociência, nasceu nos EUA, em pequena foi viver para Israel; parece ser cidadã norte-americana.

Do artigo da Visão destaco as seguintes passagens:

«Os nossos corpos não são impenetráveis às ideologias que nos rodeiam: aquilo em que acreditamos reflecte-se na nossa biologia.»

«Os nossos corpos aprendem a corporizar as convicções ideológicas de maneiras profundas e preocupantes.»

«As batalhas sobre as ideologias assemelham-se a jogos de linguagem. Lançam-se palavras, são

arremessados dispositivos retóricos contra oponentes, que se evitam à justa. Reaccionário, revolucionário, conservador, progressista, conspiracionista, supremacista, racista, radical, intolerante. Raramente sabemos o que significam esses rótulos ou a quem eles se referem propriamente. George Orwell observou que “a linguagem política… está concebida para fazer as mentiras parecerem verdadeiras e o crime respeitável, e para dar uma aparência de solidez ao puro vento.”»

«Todavia, esses chavões linguísticos mascaram as realidades das ideologias tal como elas são vividas — desordenadamente, hipocritamente, orgulhosamente, autodestrutivamente — com perda, alegria,
humor, arrependimento, medo, com reversões, retratações, ruminações, intimidade e tristeza —, com lágrimas e lamentações, sorrisos radiantes e confusos olhares de soslaio.»

«Sejam elas nacionalistas, racistas ou religiosas, existem paralelos no modo como todas as ideologias se infiltram nas mentes humanas. Essas semelhanças não são coincidências; são inerentes à estrutura do pensamento ideológico.»

«Ao contrário da cultura – que pode celebrar excentricidades e reinterpretações –, na ideologia a não conformidade é intolerável e é essencial o alinhamento total. Quando o desvio das regras leva a punições severas e ao ostracismo, afastamo-nos da cultura e entramos na ideologia.»

«Do fascismo e do comunismo ao ecoactivismo e ao evangelismo espiritual, os grupos ideológicos oferecem respostas absolutas e utópicas para os problemas sociais, regras estritas de comportamento e uma mentalidade de grupo por meio de práticas e símbolos dedicados. Estes aspectos existem em todo o espectro das persuasões ideológicas. Tais características podem surgir mesmo quando a ideologia é guiada pelas intenções mais sinceras e pelos ideais mais nobres – mesmo que alegue proteger a dignidade ou o florescimento humanos.»

«As mentes individuais convertem as doutrinas sociais em pensamento ideológico, um estilo de pensamento que é governado por regras mentais estritas e por saltos mentais cuidadosamente controlados.»

«Se tivermos menor amplitude para a plasticidade e a mudança e menos acesso direto às nossas sensações, corremos o risco de nos desumanizarmos, a nós e aos outros. Tornamo-nos menos sensíveis, menos elásticos, menos autênticos.»

Tudo isto que li, e mais o que pesquisei da autora e do livro, deixou-me entusiasmado. Fico com a ideia de que no que à Pedagogia e à Educação diz respeito, a intenção da minha viagem na geografia da Tolerância foi, e está, bem dirigida: conhecer, conhecer, conhecer... Conhecer todos os matizes do conceito Tolerância e do conceito Intolerância: descascá-los, desenriça-los... Ir ao fundo deles, descobrir-lhes todos os matizes, os enredos, as formas, as fontes; onde eles estão, da nossa pele ao tutano dos ossos; nas nossas mentes, em pensamentos, preconceitos, estereótipos, percepções, aprendizagens, atitudes...

Mais! Que cada indivíduo, sendo respeitado na sua maneira de sentir, pensar, tomar consciência, optar, decidir, escolher, seja autor da sua própria mente flexível, a partir do treino e da aprendizagem auto-induzida da plasticidade das suas percepções, julgamentos e comportamentos.

É essa a grande razão das reflexões, actividades e jogos que tenho proposto por esta viagem fora: ajudar na autorregulação da aprendizagem das dinâmicas da Tolerância e da Intolerância.

Não sei se haveria melhor forma de fazer o ponto da situação da viagem no dia em que acontecem os dois terços da viagem... Pouco importa. Gostei muito de fazer hoje este balanço! Sim, estou em sintonia com o que a ciência que há praticamente 50 anos abracei, a Psicologia, está a ser capaz de produzir para ajudar a melhorar a vida dos indivíduos e das sociedades humanas.

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(1) https://www.youtube.com/watch?v=x7Ez1FUCDh4

quarta-feira, agosto 27, 2025

#TOLERÂNCIA241 - UM EXEMPLO DE TOLERÂNCIA NEGATIVA

 #TOLERÂNCIA241 - UM EXEMPLO DE TOLERÂNCIA NEGATIVA

Uma avaria de idade no telemóvel e a minha boa-fé nos jovens técnicos capazes de o arranjar puseram-me, desde há algumas semanas na iminência de pagar mais de 100 euros por uma reparação... incompleta e pouco fiável! Por isso andava já a ruminar a ideia de comprar um telemóvel novo.

A oportunidade surgiu hoje, tive um bom atendimento pessoal, foi fácil comprar o dito em condições especialmente vantajosas.

Mais demorado do que o previsto foi todo o processo de transferência de dados do aparelho meio-avariado para o novo. O que demoraria, na previsão inicial, cerca de hora e meia, afinal demorou cerca de 7 horas... Deu tempo para ir dar uma vista de olhos às novidades da Bertrand, ir às compras; voltar à loja, não, ainda não está, faltam, diz aqui, cinquenta e tal minutos, ok, vou a casa almoçar, volto depois; voltar à loja e esperar... esperar... esperar... A culpa era do pouco espaço disponível no aparelho antigo para a transferência dos dados. Fui sempre muito simpaticamente atendido, e também fui sempre sendo informado do que estava a acontecer. Deu tempo para ler integralmente o livro que comprei de manhã: "Um Adeus Mais-que-Perfeito", de Peter Handke (da Relógio d'Água, 2021). São apenas 71 páginas.

A contracapa diz que «Em "Um Adeus Mais-Que-Perfeito" Peter Handke narra-nos o que sabe, ou o que julga saber, sobre a vida e a morte da mãe, antes que, nas suas palavras, "a mudez apática, a extrema mudez" da tristeza se apodere dele para sempre. Ainda assim, a experiência da mudez, que

marca por igual o sofrimento e o amor, reside no coração da breve mas inesquecível elegia do autor, que nos dá um livro severo, escrupuloso e comovente. Uma obra singular, de um dos maiores escritores contemporâneos.»

A mãe do escritor austríaco nasceu por volta de 1919-1920, suicidou-se em Novembro de 1970. Peter Hankde faz assim o enquadramento cultural e familiar da família da mãe e das característcias culturais e da hierarquia social em que a mãe nasceu e cresceu:

«[o meu avô] É de origem eslovena e filho ilegítimo. Muitas das crianças nascidas de pais camponeses nessa época eram ilegítimas, porque, embora tivessem já há muito atingido a maturidade sexual, eram poucos os que dispunham de um lugar e de meios para constituir família. A mãe do meu avô, ao menos, era filha de um camponês relativamente abastado em cuja casa o meu bisavô servia como criado e que não via nele mais do que "o pai da criança". O certo é que a mãe do meu avô herdou o suficiente para comprar uma pequena quinta.

»E assim foi que o meu avô ao fim de gerações de servos que nada possuíam, com a certidão de baptismo cheia de espaços em branco, nascidos e falecidos em casas alheias, sem nada ou quase nada para deixar aos herdeiros porque a única coisa que tinham de seu, a roupa dos domingos, era o que levavam para a cova — foi o primeiro que cresceu num ambiente onde podia realmente sentir-se em casa, sem ser meramente tolerado como paga da corveia diária.»

«meramente tolerado»... Tolerar sem empatia, sem compreensão, sem aceitação. Apenas se suporta por necessidade instrumental, socio-económica, sem reciprocidade e respeito pela diferença.

Mais à frente, escreve, num esforço tenaz, amargurado, o filho que procura honrar a mãe, defendendo-lhe a dignidade, a dignidade duma pessoa a quem, desde criança, os pais, a família e a cultura de pertença exigiam que se conformasse ao seu estatuto, primeiro de menina e depois de mulher:

«Pouco antes do [meu] parto, a minha mãe casou-se com um subalterno da Wehrmacht alemã que havia tempo a ADORAVA e que não se importava que tivesse um filho de outro. "Ou é esta ou nenhuma!", pensara quando a vira pela primeira vez, e nesse mesmo momento apostara com os camaradas em como seria sua, ou melhor dito, ela o escolheria a ele. Ela achava-o repulsivo, mas caíram em cima dela com o sentido do dever (dar um pai ao filho): pela primeira vez, deixou-se intimidar e perdeu um pouco do seu riso. Por outro lado, impressionava-a que alguém a tivesse metido na cabeça como ideia fixa, precisamente a ela.

»"Achava que, de qualquer modo, ele ia morrer", contava. "Mas depois, de repente, tive medo por ele".

»Fosse como fosse, agora tinha direito ao subsídio de casamento. Foi com o filho para Berlim, para a casa dos pais do marido. Toleravam-na. Caíam já as primeiras bombas, veio-se embora, a velha história, voltou-lhe o riso e às vezes ria-se tão alto que toda a gente se encolhia.

»O marido, esqueceu-o, o filho, apertava-o contra o peito com tanta força que a criança chorava, fechou-se em casa, onde, após a morte dos irmãos, todos olhavam uns para os outros, atarantados, sem compreender. Não havia mais nada? Era só isto? Missas de defuntos, doenças da infância, cortinas corridas, troca de cartas com gente que conhecia de tempos melhores, ajudar na cozinha e nos campos, de onde estava sempre a fugir, para pôr a criança na sombra; depois, as sirenes de alarme, mesmo nos campos, a gente a correr para as grutas nas rochas previstas como abrigos antiaéreos, a primeira cratera de uma bomba na aldeia, mais tarde terreno de jogos das crianças e lixeira.»

«Toleravam-na.» O livro fala muito de medo, horror, pobreza, miséria, vergonha; e anseio de liberdade.

Entretanto, a Euronews, em 11 de Dezembro de 2019, publicava, em vídeo e em texto, esta notícia:

«A Academia Sueca entregou o Nobel da Literatura 2019 a Peter Hanke, mas o escritor austríaco está a ser contestado pelo apoio a regime sérvio acusado de genocídio.

»Com pompa e circunstância, a Academia Sueca ergueu-se para entregar a Peter Handke o Nobel da Literatura 2019.

»A obra do escritor austríaco foi galardoada, mas a polémica surge quando o autor da obra foi um apoiante do regime de Slobodan Milošević, acusado do genocídio de mais de oito mil muçulmanos, em Srebrenica, na Bósnia-Herzegovina, nos anos 90 do século XX.

»Os aplausos da Academia contrastaram com a indignação vinda das ruas. Em Estocolmo, cerca de 500 pessoas protestaram contra a atribuição do prémio. De acordo com a porta-voz, entendem que na própria obra, Handke questiona o "genocídio e os crimes de guerra que aconteceram durante a guerra na Bósnia".

»Para a escritora Alida Bremer, "ele foi um amigo do regime de Milosevic e não dos sérvios". Bremer, que estudou em Belgrado, na capital da Sérvia e viveu no país durante oito anos, diz ter lá "muitos amigos e quase todos são contra o autor e o regime".

»Por defenderem que o prémio à obra literária reforça a "fuga às responsabilidades históricas" e relativiza o peso dos crimes de guerra, Kosovo, Turquia, Croácia e Albânia boicotaram a cerimónia.»(1)

Mãe negativamente tolerada e filho radicalmente intolerante? Não é nada fácil o caminho da Tolerância desejada...

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(1) https://pt.euronews.com/2019/12/11/protestos-contra-nobel-da-literatura-para-peter-handke

terça-feira, agosto 26, 2025

#TOLERÂNCIA240 - CONCURSO DE PIADAS INTERNACIONAIS

 #TOLERÂNCIA240 - CONCURSO DE PIADAS INTERNACIONAIS

Tenho na cabeça ainda a funcionar o automatismo de, chegado ao final de Agosto, começar a magicar actividades para os primeiros dias de aulas, daquelas que puxam a rapaziada para o fazer activamente mais do que escutar passivamente.

Hoje, saiu-me esta, numa primeira versão que ainda pode levar alguns retoques: um concurso de piadas internacionais.

1) Começo por pedir aos alunos que pensem em pessoas de 7 países europeus (sim, europeus, não apenas da União Europeia).

2) A seguir, peço-lhes que os ponham a contar uma anedota sobre alguém; e quero que me digam quem é que são os alvos (ou as vítimas) das anedotas que contam.

3) Registam-se as respostas no quadro; e comentam-se os resultados.

4) Apresento a minha lista: o português contou uma de alentejanos. O espanhol contou uma de galegos. O francês contou uma de belgas. O inglês contou uma de escoceses. O alemão contou… uma explicação de 40 minutos. O italiano gesticulou tanto que quase não precisou de falar. O grego disse: — «A minha piada é tão antiga que já está escrita nas paredes de um templo!»

5) Digo-lhes que a minha lista é feita com base nos estereótipos e preconceitos tradicionais atribuídos a cada uma das nacionalidades, as quais, por sua vez, estão entre aquelas que também mais imediatamente se associa o pensamento dos portugueses.

6) Seguir-se-á uma fase de discussão livre sobre o trabalho realizado.

7) Finalmente, entrego aos alunos uma lista de, digamos, aforismos. É para eles irem pensando aos longo das semanas, haverá depois um dia em que os estereótipos e os preconceitos serão o tema principal da aula. Nessa altura, voltaremos a este trabalho e ao 'têpêcê' que lhes deixei para irem ruminando.

8) É esta a lista dos aforismos:
a) A tolerância é a arte de rir com os outros, nunca dos outros. (N' "O Clube dos Poetas Mortos", na aula em que o professor Keating pede aos alunos que leiam os poemas que escreveram, comentando um deles, em que congratula um aluno por ter sido o primeiro a ter uma negativa na escala de Pritchard (a célebre escala de avaliação das obras poéticas falada no filme), ele diz: «We are not laughing at you, we are laughing near you.» [Não nos estamos a rir de ti, estamos a rir contigo, ao teu lado]
b) Um estereótipo é uma cela pequena para um povo inteiro; a tolerância é a chave que a desfaz.
c) Quem verdadeiramente conhece a sua própria cultura, pode sorrir perante o exagero alheio sem se perder nele.
d) A piada sobre o outro revela mais sobre quem a conta do que sobre quem a ouve.
e) A sabedoria está em distinguir o gracejo inofensivo, que une, do preconceito maldoso, que separa.
f) Rir-nos das nossas próprias caricaturas é o primeiro passo para desarmar a ignorância.

Estou contente com este projecto! Acho que tem bom potencial pedagógico. Correndo tudo como está previsto, deixarei a escola, e o ensino, no final de Setembro. Vou tentar fazer este exercício, nem que seja só por uma vez ainda antes de sair.

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segunda-feira, agosto 25, 2025

#TOLERÂNCIA239 - NEM TESE, NEM ENSAIO, NEM PROPOSTA SOBRE A TOLERÊNCIA

 #TOLERÂNCIA239 - NEM TESE, NEM ENSAIO, NEM PROPOSTA SOBRE A TOLERÊNCIA

Por que razão não quero fazer, nunca quis, um texto sério sobre a Tolerância? (São sérios todos os textos que são teses, ensaios, ou outros destes tipos)

É que um texto sério não conseguirá livrar-se, disso estou convencido, dum enfeudamento a uma doutrina, a uma ideologia, seja ela política, religiosa, filosófica, ou outra qualquer; e nenhuma delas escapará a uma crença ou um conjunto de crenças — e as crenças, por definição, dispensam justificações (são pessoais, arreigadas; e tantas vezes os indivíduos que as possuem delas não têm consciência, talvez seja por isso que muitas delas são radicais, intolerantes e inalteráveis).

À falta de outra coisa para me ocupar, hoje, na viagem da Horta para Lisboa, fui dar uma olhadela ao livro do 1.º Simpósio de Literatura Infantojuvenil e Formação de Leitor na Amazônia (de 6 a 8 de novembro de 2013).

Repare-se como discursos herméticos tornam muito difícil a tomada de consciência de um público mais vasto (e atrevo-me a dizer que também a um público mais estrito, o dos especialistas) do que é a essência concreta das coisas que estão a ser ditas:

Na “Apresentação”, o Professor Doutor Nilo Souza, Coordenador do GELAFOL, escreve assim, entre as páginas 11 e 13:

«Por isso, partimos não da simples diferença cultural, mas de uma noção de diversidade cultural, nos termos que esclarece Homi Bhabha:

» “A diversidade cultural é um objeto epistemológico – a cultura como objeto do conhecimento empírico – enquanto a diferença cultural é o processo da enunciação da cultura como “conhecível”, legítimo, adequado à construção de sistemas de identificação cultural. Se a diversidade é uma categoria da ética, estética ou etnologia comparativas, a diferença cultural é um processo de

significação através do qual afirmações da cultura ou sobre a cultura diferenciam, discriminam e autorizam a produção de campos de força, referência, aplicabilidade e capacidade. A diversidade cultural é o reconhecimento de conteúdos e costumes culturais pré-dados; mantida em um enquadramento temporal relativista, ela dá origem a noções liberais de multiculturalismo, de intercâmbio cultural ou da cultura da humanidade.”

»Nestes termos, a diferença só é aceita ou tolerada quando ela é incorporada nas estruturas de normatização, fora delas, a diferença é considerada um desvio, algo passível de correção. É contra essa ótica binária que nasce a noção de diversidade cultural. Perspectiva que liga, sem prender, o sujeito ao seu passado histórico, a uma tradição inteligível e a uma herança constitutiva de sentido.»

Apetece-me pegar neste naco de prosa de conhecimento formal, certamente escrito com competência e boa-fé, metê-lo numa caixa de texto dum ‘chatbot’ e pedir-lhe que me explique o mais terra-a-terra possível o que o Professor Doutro quer dizer. Digo já que vou fazê-lo, mais tarde, mas não vou trazer para aqui a resposta, de certeza tornaria a caminhada de hoje muito fastidiosa. E digo mais: vou pedir a explicação aos 3 ‘chatbots’ do costume (Gemini, ChatGPT e DeepSeek), com a mesmíssima pergunta.

Considero-me como estando no 3.º ano do 1.º ciclo do ensino básico da aprendizagem do uso dos ‘chatbots’, e a comparação das 3 respostas certamente me permitirá aprender mais qualquer coisita.

Por Toutatis, que o céu me caia em cima da cabeça se alguma vez eu escrever coisas assim como as que citei, que são de entendimento difícil ao comum dos mortais. São ou não são, concordam comigo ou não?

E a minha viagem peregrina sobre a Tolerância tem de fazer sentido, tem de ser clara para o comum dos mortais, senão receio bem que não tenha valido a pena senão para mim mesmo. É claro que, no fim desta viagem, eu talvez me tenha tornado melhor pessoa, mas, sinceramente, pretendo algo mais: quero que outras pessoas, muitas outras pessoas leiam, entendam e encontrem sentido nas coisas que escrevo, como aconteceu ontem no almoço de família, em que a propósito do casamento, da formalidade (casar pelo Registo ou pela Igreja) ou informalidade (viver juntos, sem compromisso notarial) do casamento, alguém, perante a minha perspectiva sociológica disse: «É, isso faz sentido para mim, nunca tinha pensado nisso, faz sentido, faz.»

Esta semana atingirei os dois terços da extensão total da viagem a que me propus. Não tenho em vista chegar a qualquer conclusão. Esta viagem é ao jeito das grandes viagens, por exemplo, como se eu fosse à China, por lá andasse durante um ano inteiro, e regresso a casa com a vívida certeza de que fiquei com muito, muito, muito, para ver e descobrir. Mas na viagem aprendi tanto!… Enriqueci-me — e tenho já, nesta viagem, esse sentimento intenso dentro de mim — como não pensava enriquecer-me. E tenho já a convicção de que estou a conseguir produzir coisas interessantes, úteis, umas mais simples, outras mais complicadas, e todas fáceis de partilhar.

São coisas minhas (muitas delas tecidas com coisas de outros, que tenho procurado sempre identificar com respeito), mas que ficarão sempre para além de mim. Se por qualquer razão alguma eventualidade me impedir chegar ao dia último da viagem, olhem, este texto pode ser usado como “Apresentação” do livro a que um dia eu quero ainda dar corpo.

Não está uma apresentação ao jeito hermético da “Apresentação” que foi móbil da estação de hoje, pois não? (O piloto-chefe acaba de dizer que aterraremos daqui a uma hora em Lisboa. Aproveitei bem o tempo da viagem. Agora vou jogar às Copas, a ver se ganho aos adversários do computador)

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domingo, agosto 24, 2025

#TOLERÂNCIA238 - SOBRE A TOLERÂNCIA NA FAMÍLIA

#TOLERÂNCIA238 - SOBRE A TOLERÂNCIA NA FAMÍLIA

Não é o segredo do caminho para o Santo Graal, mas não é uma sugestão de se deitar fora, não senhor.

«A surdez das velhas gerações é subvalorizada mas é ela que permite um certo ideal de tolerância no interior das famílias: ouvir irrelevâncias ou excentricidades e achar que não merecem indignação

senão quando põem em causa o bem-estar geral.»

Este parágrafo faz parte dum texto crónica do suplemento da edição de hoje do Correio da Manhã. O autor é o "advogado reformado" (é assim que ele se apresenta) Sousa Homem, na página "Crónica - Em Certos aspectos", e o título do texto é "Sobre a harmonia familiar".

O texto é pequeno, é de fácil leitura, tem uma pontinha de homilia dominical. Transcrevo-o integralmente:

«Pelos padrões de hoje, o velho doutor Homem, meu pai, seria considerado obsoleto, um pai frio e distante. Sempre julguei que a distância era uma das suas interessantes virtudes, que os filhos aproveitaram com egoísmo e malandrice, evitando-nos constrangimentos e concedendo-nos mais liberdade.

»Hoje em dia apela-se "ao diálogo"; na minha ignorância sobre estas coisas, sempre pensei que faltava um pouco de ordem, almoços de domingo e alguma surdez. A ordem é uma espécie de entendimento tácito acerca de quem é mais velho; os almoços de domingo podem, com vantagem, ser substituídos por outro ritual e noutro dia da semana, mas significam exactamente isso — um ritual em que os membros da tribo se encontram e repetem as trivialidades da semana passada e que, com o tempo, serão já do mês passado; a surdez das velhas gerações é subvalorizada mas é ela que permite um certo ideal de tolerância no interior das famílias: ouvir irrelevâncias ou excentricidades e achar que não merecem indignação senão quando põem em causa o bem-estar geral.

»No fundo, os defeitos e as virtudes são exemplos que não se diluem com a conversação ou o "diálogo". Nos almoços de domingo falávamos de quê? Certamente, das dificuldades da existência e dos seus mistérios, uma variação sobre a maledicência familiar, a troca de informações sobre os desaires mais recentes ou a evolução do estado do mundo isto dava-nos uma certa leveza, regularmente interrompida por temas mais ou menos concretos, intendências, deveres e agenda.

»Isto não era o segredo para uma educação perfeita (eu sou o resultado provável dos seus erros), mas vivíamos num mundo onde ainda não tinham nascido o ié-ié, a psicanálise, a invenção da "juventude" e da pedagogia, ou as mensagens por telemóvel. Havia, claro, "os profundos abismos da alma", que vinham na literatura. Mas isso é uma coisa; outra coisa, inteiramente diferente, é admitir que essa alma ainda vale alguma coisa discutindo-a em Agosto. Eram temas do crepúsculo.»

Tem muito que se lhe diga, a aparentemente ingénua ironia que sustenta a evocação dum tempo em que «vivíamos num mundo onde ainda não tinham nascido o ié-ié, a psicanálise, a invenção da "juventude" e da pedagogia, ou as mensagens por telemóvel.» Não me parece que seja necessário ou relevante discutir imediatamente as opiniões e os estereótipos que a afirmação contém.

Não faltam na cultura popular sábios conselhos, ditados e provérbios acerca de ouvir (preferencialmente, muito), falar (preferencialmente, pouco) e ficar em silêncio.

Vou guardar o texto domingueiro de Sousa Homem. Acho-o capaz de alimentar uma boa hora de conversa em família ou sobre as famílias. Sobre a tolerância duns aos outros em família. Compreender as idiossincrasias de cada geração familiar aumenta a tolerância, é a tal ligação entre a Tolerância e a Compreensão.

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#TOLERÂNCIA237 - COMO PODEM OS QUE PERDEM SEMPRE SER TOLERANTES?

 #TOLERÂNCIA237 - COMO PODEM OS QUE PERDEM SEMPRE SER TOLERANTES?

Reconheci numa vinheta de banda desenhada publicada pelo meu amigo José Manuel Paulino uma daquelas minhas ruminações que vêm e vão, parece que esperando a madureza para se transformarem no texto-fruto de qualquer coisa.

Na imagem, cómica, uma figura adulta, que nos deixa na dúvida ser o pai ou o avô, está visivelmente chateado, ergue os braços ao alto, olha o tabuleiro em que acaba de perder mais uma partida de xadrez com o filho/neto, que o olha incrédulo, e desabafa: «Como é que tu queres que eu seja bom a perder se tu é que ganhas sempre?»

Enquanto é a feijões... enquanto é ali entretidos a jogar confortavelmente em casa... enquanto há regras claras que ambos os contendores conhecem e cumprem... enquanto os dois pensam que a disputa será justa... enquanto isto tudo, que ganhe a partida quem for melhor no jogo!

Há uma idade nas crianças em que elas gostam de fazer jogos (com outras crianças, com os pais ou com os avós) em que vão criando as regras; e que vão modificando as regras à medida das suas conveniências, logo que as coisas não lhes correm de feição. É uma fase muito oportuna para a educação de regras sociais, da coerência, da justiça e da tolerância à frustração e ao insucesso.

O problema é quando este comportamento infantil acontece na vida adulta, seja entre pessoas, seja entre países.

É, no caso dos países, há uns que perdem sempre. Não são jogos a feijões, o conforto da casa está sempre a ser posto em causa, as regras não são claras e nem sempre são cumpridas, a disputa não é justa porque um dos lados tem as peças todas, ou pelo menos as mais valiosas... Conclusão: a "criança" que estava a aprender a arte da disputa, do compromisso e da negociação não foi educada como deveria ter sido, ou nunca quis submeter-se às regras da disputa justa.

Nestas condições, como se pode exigir que quem perde seja dócil, tolerante, se resigne e não se revolte?

Quando nos pomos a pensar que líderes políticos personificam estas crianças que nunca aprenderam ou aceitaram o comportamento da disputa justa, quem são eles?... Era engraçado criar-se um questionário e fazer-se uma sondagem para ver quem aparecia mais vezes.

De pequenino se torce o pepino, não é? Há poucos dias falei, a propósito dos lixos na praia que a filha puxava os pais para os irem recolher, de que na infância e na juventude se aprende e que depois, chegando-se à adultícia, se desaprende, sem que, em geral, se consigam identificar os momentos, os processos mentais e comportamentais e os pequeninos conteúdos, quais peças de lego, de tais desaprendizagens.

Há qualquer coisa da tragédia eterna de Sísifo na acção da Educação, mas a Educação tem um trunfo que Sísifo não tinha, ou melhor, não tem: na Educação nunca se está sozinho. Sísifo, sozinho, até pode ir mais depressa, como diz o ditado africano, mas na Educação vamos mais longe.

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sexta-feira, agosto 22, 2025

#TOLERÂNCIA236 - PREOCUPANTES CERTEZAS PESSOAIS

 #TOLERÂNCIA236 - PREOCUPANTES CERTEZAS PESSOAIS

Na edição do Nascer do Sol (revista Luz) de hoje, Zita Seabra, afirma, no último parágrafo da entrevista (não sabemos se acabou mesmo assim a entrevista ou se foi assim que a jornalista quis que acabasse...) o seguinte:

Pergunta: O que é que a vida, ao fim de 76 anos, lhe ensinou? Resposta: «Ensinou-me, primeiro, que a tolerância é muito importante quando se discute política. Penso que a sociedade política está um bocadinho crispada e muito pouco tolerante. Aos que estão mais à direita chama-se logo "fascista" e

esta faz o mesmo a quem está mais à esquerda. Esta expressão foi inaugurada por Estaline. Essa crispação tem de ser combatida. Também já rotulei pessoas por discordarem das minhas opiniões. Hoje, penso que há sempre alguma coisa de positivo nos contrários, nas opiniões dos outros. Agora, não é possível ser comunista e ser tolerante. Isso não existe.»

Leio outra vez: «Agora, não é possível ser comunista e ser tolerante. Isso não existe.» Leio e fico a pensar na contundência absoluta da afirmação.

A primeira coisa que me vem à cabeça, quase por impulso, faz-me sorrir: se há pessoa para quem os comunistas têm sido tolerantes (não nos foquemos apenas no julgamento interno no PCP que levou à expulsão de Zita Seabra do partido), os comunistas e partidários de outras ideologias políticas, é precisamente para com Rita Seabra, que tem dito e feito, que tem desdito e desfeito, o que bem lhe tem aprazido.

A seguir, quase automaticamente, quis categorizar a afirmação: se uma proposição, se um axioma, se um teorema, se um lema, se um corolário. No contexto da entrevista toda, optei pelo axioma — a verdade inquestionável. Na idade em que está, com a experiência pessoal e política que tem, talvez se compreendesse mais um corolário. Só que, sendo corolário, pedia explicação justificadora. Sendo a última afirmação da entrevista, assim sem mais nada, pois, só mesmo axioma.

Sendo axioma a propósito da relação entre os grupos e da relação entre as pessoas é radical e... intolerante! Não admite a diferença, nem sequer a matização.

Ora, se há coisa que a história das ideologias políticas e das práticas políticas sempre nos tem mostrado é que não há absolutos em nenhuma, mas mesmo nenhuma, ideologia ou prática política; e que a intolerância aparece servida por regimes políticos radicais tanto de esquerda como de direita, comunistas e não comunistas. (Num texto com outra extensão e desenvolvimento, falaria do radicalismo das ideologias religiosas, sobretudo as monoteístas. Talvez o faça noutra altura.)

Parece-me que Zita Seabra ainda não se pacificou com o seu passado comunista, a ideologia, os ideais e a experiência partidária... Não está sozinha nestes processos de trajectórias resvalantes e ziguezagueantes do espectro político-partidário. Só que uns são mais tolerantes do que outros, mesmo que me pareça que, em geral, não abonam muito em favor dos seus protagonistas (por exemplo, Durão Barroso e Freitas do Amaral).

De resto, como lutadora comunista, anti-fascista, antes do 25 de Abril, Zita Seabra merece-me todo o respeito. Respeito e gratidão. Desejo-lhe toda a paz do mundo.

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quinta-feira, agosto 21, 2025

#TOLERÂNCIA235 - "TEMPOS DE TRUMP". INTOLERANTES

 #TOLERÂNCIA235 - "TEMPOS DE TRUMP". INTOLERANTES

"Tempos de Trump" é o título do artigo de José Carlos Vasconcelos, no Bloco-Notas da edição de hoje do Público. Transcrevo o primeiro e o último parágrafo.

Primeiro parágrafo: «Tragicamente, são estes os tempos que vivemos: Tempos de Trumps. O pior, na sua terrível desumanidade e crueldade, aquele – Netanyahu – que Trump apoia, inclusive fornecendo-lhe armas, quando poderia talvez ser o único a conseguir travar a chacina que implacavelmente

prossegue. As imagens rasgam-nos o coração e suscitam sempre a mesma dolorosa interrogação: como é possível? Como deveremos chamar àqueles que, apesar de todas as mentiras e luvas protectoras, se sabe terem as mãos tão tintas de sangue? E não só de sangue, porque não “sangram” as crianças que morrem de fome, nem (talvez) as que jazem sob os escombros dos bairros, das casas, dos hospitais bombardeados.»

Último parágrafo: «Tragicamente estes são tempos também de valas comuns. Nalgumas se amontoam dezenas e dezenas de milhares de supliciados e mortos inocentes. Noutras se enterram valores civilizacionais e humanistas, de dignidade de povos e pessoas, de respeito mútuo e tolerância, que julgávamos adquiridos para sempre, pelo menos em países considerados democráticos e evoluídos. Afinal…»

Na nossa viagem pela geografia da Tolerância, desta estação guardo duas perguntas:
— Por que razão, ou razões, se perdem as coisas boas adquiridas?
— Sabendo que estão sempre em risco de se perderem, como pode a Educação ajudar na prevenção e evitamento das perdas?

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quarta-feira, agosto 20, 2025

#TOLERÂNCIA234 - INCÊNDIOS: EXIBICIONISMO INTOLERÁVEL

 #TOLERÂNCIA234 - INCÊNDIOS: EXIBICIONISMO INTOLERÁVEL

Penso que a tragédia dos incêndios desperta nos cidadãos, primeiro, um sentimento de aflição; depois, um sentimento de impotência.

É um tema que muitas vezes recorre, nas falas e nos escritos, à palavra "Tolerância", sobretudo para dizer que não há tolerância para mais, que «Basta!». Ficamos incrédulos, estupefactos com coisas que ouvimos ao sr. Presidente da República: «Cada caso é um caso...» Isto é uma justificação?... É uma generalização desculpante?... «[Com o que se tem passado nos últimos 10 anos, que é o tempo do seu magistério] Aprendemos que é preciso preservar vidas humanas...» É mesmo preciso aprender isso?!... Não se sabe isso desde sempre?!... «Aprendemos que é preciso prevenir mais...» Não, não aprendemos! Aprender é fazer diferente, fazer diferente de forma continuada, mas, afinal, continua-se a fazer o que se fazia, ou melhor, o que não se fazia e era preciso fazer-se! «Há reflexões a fazer porque se aprende...» Andamos há 10 anos a fazer reflexões! «Admito que quem chegou há 2 meses — está a referir-se à sr.ª Ministra da Administração Interna — esteja a descobrir os problemas e esteja a descobrir as respostas a dar...» A sr.ª Ministra está a descobrir os problemas que se repetem, repetem, repetem, ao longo de anos, anos, anos? Bem, por alguma razão a senhora é ministra e eu não: eu seguramente não estou preparado, não conheço e não sou competente. Além disso, a senhora não está sozinha no Ministério: tem secretários, equipas, técnicos... Não, senhor Presidente, eu vi-o em Pedrógão Grande! O sr. Presidente está de consciência tranquila? Tem a certeza de que de lá até agora fez o que devia ter feito, com uma magistratura de influência, para que a aprendizagem e a prevenção fossem, de facto, adquiridas e consolidadas?

Hoje li assim no Público, num artigo de opinião escrito pelo biólogo Jorge Paiva:

«Os nossos governantes e políticos, além de palavrearem em vez de governarem, passaram a ter a preocupação de aparecer nas
televisões, num exibicionismo intolerável. Há alguns que aparecem todos os dias. Nos telejornais, esses exibicionistas falam abanando constantemente a cabeça para os vários microfones e rodeados de
aduladores.

»Camões já refere estes aduladores n'Os Lusíadas (Canto IX.27), que não eram mais do que uns inúteis do Reino, incapazes de mondar o trigo florescente: "Vê que esses que frequentam os reais/paços por verdadeira e sã doutrina/vendem adulação, que mal consente/mondar-se o novo trigo florecente."

»Para me informar, leio diariamente jornais porque não vejo noticiários televisivos, principalmente na época estival. Isso porque, além dos exibicionistas, estão transformados em pirotelejornais, incentivadores à piromania por apresentarem imagens de fundo de pavorosos incêndios enquanto o locutor noticia e fala com os pirorrepórteres regionais que se colocam de modo a que os pirómanos vejam pavorosas imagens da vegetação e habitações a arderem.»

O resto do artigo não é mais do mesmo, desabafo atrás de desabafo, é enumerar de razões, é lembrar o que tantas vezes já foi dito e redito. Sabe, sr. Presidente, porque dei destaque a esta parte do "exibicionismo intolerável"? É porque eu tenho tido repetidamente vontade de escrever uma coisa assim.

A minha questão, a minha interrogação, é como é que se passa da palavra do sentimento de intolerância, legítimo!, para a acção que concretiza o «Basta!» que todos, todos, todos, andamos há muitos anos a proclamar?

Fico a pensar na Educação para uma Cidadania Activa... O que tolerar? O que não tolerar? O que fazer quando o vermelho do vermelho da Tolerância acende? Acende e queima!

Os governantes, como o sr. Presidente da República anda desde ontem a fazer, têm sempre justificações e atenuantes. Dizem que são julgados pelo Povo depois, mais tarde, nas eleições seguintes.

Escreve Jorge Paiva quase a concluir o seu artigo de opinião: «Sinto-me um condenado à prisão perpétua no meu país, pois já quase não tenho natureza com biodiversidade para me deliciar a estudar, a não ser residual no meio urbano, para onde alguns animais selvagens estão a migrar.»

Há pouquinho, no Joker, o concurso da RPT1, o concorrente disse que se tem ocupado a ir com a filha à praia apanhar os lixos. Porque a filha reclama que assim ele faça com ela. Ela aprendeu na escola que se deve fazer assim. Quantos dos actuais governantes também já aprenderam assim? Há cerca de 40 anos, eu já levava grupos a participarem em actividades de limpezas de praia (o projecto Europeu Coastwatch). Quer dizer que há um momento a partir do qual o que se aprende em pequeno se desaprende em grande. Um ou vários. Não estando nas mãos da Educação resolver esses momentos de desaprendizagem, pelo menos que a Educação saiba alertar quem tiver de alertar para a Prevenção da(s) Desaprendizagem(ns). Não será nada fácil, mas a Educação não deve furtar-se a este esforço, mesmo que hercúleo.

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terça-feira, agosto 19, 2025

#TOLERÂNCIA233 - TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO. E SE ESPERARMOS MAIS UM BOCADINHO?

 #TOLERÂNCIA233 - TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO. E SE ESPERARMOS MAIS UM BOCADINHO?

Acho que nos habituámos a que o que verdadeiramente importa no mundo e no nosso mundo está no telemóvel, e o que não aparece lá, pois, não existe ou não tem valor.

Eu hoje também ia esperando menos do que devia... por causa das horas que ia vendo no telemóvel.

Ainda não percebi (quer dizer, ainda não me dei ao esforço de perceber) como é que o Google "sabe" as horas do nascer-do-sol... Agora, no Faial, já nasce nitidamente depois das 7. Mantenho a rotina diária, levanto-me, em geral, entre as 6 e as 6 e meia. Hoje, às 7 e cinco já eu estava encostado ao muro, à espera do Sol. O céu parecia-me rigorosamente nítido sobre a ilha de São Jorge, os contornos dos altos e morros viam-se com absoluta nitidez.

O tempo passava (gosto de ver a lenta mudança dos matizes de cores no céu, na água, e no Pico). No mar, um barco à vela a afastar-se do Faial; outro, também à vela, fundeado praticamente à saída do pontão; aparece depois um poderoso barco a motor de pesca de alto-mar para turistas; ao longe, ao norte de São Jorge, mais outro barco. Não é normal, no cenário que todos os dias observo, tanto barco a esta hora da manhã.

7 e dez... 7 e doze... 7 e quinze... nada de Sol a nascer. Estranhamente, por cima de São Jorge, parece não haver qualquer alteração nos matizes de cores matinais... excepto no Pico, que se acendia lentamente em cor de fogo como de costume. Concluo que para lá de São Jorge a nebulosidade é grande, e tala o Sol como uma grande cortina cor-de-laranja deslavado.

Volto-me para regressar a casa, não me apetece esperar mais. Já tinha as fotografias do momento do nascer-do-sol, são 7 e quase vinte. Dou dois 2 passos, mas lanço ainda um olhar à direita, para São Jorge. Precisamente nessa altura o Sol começa a espreitar entre os dois morros mais altos de São Jorge. Já tinha arrumado a máquina fotográfica na bolsa, tiro-a à pressa e regresso ao ponto de observação. Já a caminho de casa, senti-me satisfeito: valeu a pena ter esperado mais um bocadinho. Quase sempre vale a pena.

Meti-me à bolina, e pus-me a pensar na síndrome FOMO (Fear Of Missing Out - Medo de Estar a Perder), talvez seja essa uma das razões porque as pessoas (sobretudo se são jovens) não gostam de

esperar: têm medo de estar a perder qualquer coisa.

Está cada vez pior entre os jovens a Tolerância à espera, a Tolerância à frustração, e essa coisa cada vez mais assim clinicamente institucionalizada chamada Tolerância ao Tédio. Este último tipo de frustração está intimamente ligado à incapacidade de suportar momentos de tédio, espera, ou falta de estímulos imediatos, tornando-se telemóvel tornou-se a ferramenta perfeita para evitar qualquer estado emocional ligeiramente desconfortável.

Antes da existência dos telemóveis, na paragem do autocarro ou na plataforma duma estação do metropolitano; ou num ponto de encontro, aguardando alguém, as pessoas observavam o ambiente, pensavam, ou simplesmente "não faziam nada". Esses momentos exercitavam a paciência e a tolerância ao tédio. Agora, com os telemóveis, qualquer pausa é imediatamente preenchida com o telemóvel. Isso cria um ciclo vicioso: quanto menos praticamos a tolerância ao tédio, menor ela se torna.

Treinar a espera é preciso... Treinar a espera é preciso... Treinar a espera é preciso...

O treino começa em casa, os pais não devem deixar-se levar pela aflição de terem o bebé, os filhos, a chorarem com falta de qualquer coisa. É em casa que as crianças aprendem que esperar é natural. Registo, para acções de formação dos pais

Coisa diferente é a educação do prazer de esperar, de que vale a pena esperar. Que actividades podem ser levadas a cabo para educar o prazer da espera e o valor da espera? Registo também. Acho que isto tem alguma coisa a ver com o apontamento de ontem, acerca da Tolerância no bridge.

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