#TOLERÂNCIA238 - SOBRE A TOLERÂNCIA NA FAMÍLIA
Não é o segredo do caminho para o Santo Graal, mas não é uma sugestão de se deitar fora, não senhor.
«A surdez das velhas gerações é subvalorizada mas é ela que permite um certo ideal de tolerância no interior das famílias: ouvir irrelevâncias ou excentricidades e achar que não merecem indignação
senão quando põem em causa o bem-estar geral.»Este parágrafo faz parte dum texto crónica do suplemento da edição de hoje do Correio da Manhã. O autor é o "advogado reformado" (é assim que ele se apresenta) Sousa Homem, na página "Crónica - Em Certos aspectos", e o título do texto é "Sobre a harmonia familiar".
O texto é pequeno, é de fácil leitura, tem uma pontinha de homilia dominical. Transcrevo-o integralmente:
«Pelos padrões de hoje, o velho doutor Homem, meu pai, seria considerado obsoleto, um pai frio e distante. Sempre julguei que a distância era uma das suas interessantes virtudes, que os filhos aproveitaram com egoísmo e malandrice, evitando-nos constrangimentos e concedendo-nos mais liberdade.
»Hoje em dia apela-se "ao diálogo"; na minha ignorância sobre estas coisas, sempre pensei que faltava um pouco de ordem, almoços de domingo e alguma surdez. A ordem é uma espécie de entendimento tácito acerca de quem é mais velho; os almoços de domingo podem, com vantagem, ser substituídos por outro ritual e noutro dia da semana, mas significam exactamente isso — um ritual em que os membros da tribo se encontram e repetem as trivialidades da semana passada e que, com o tempo, serão já do mês passado; a surdez das velhas gerações é subvalorizada mas é ela que permite um certo ideal de tolerância no interior das famílias: ouvir irrelevâncias ou excentricidades e achar que não merecem indignação senão quando põem em causa o bem-estar geral.
»No fundo, os defeitos e as virtudes são exemplos que não se diluem com a conversação ou o "diálogo". Nos almoços de domingo falávamos de quê? Certamente, das dificuldades da existência e dos seus mistérios, uma variação sobre a maledicência familiar, a troca de informações sobre os desaires mais recentes ou a evolução do estado do mundo — isto dava-nos uma certa leveza, regularmente interrompida por temas mais ou menos concretos, intendências, deveres e agenda.
»Isto não era o segredo para uma educação perfeita (eu sou o resultado provável dos seus erros), mas vivíamos num mundo onde ainda não tinham nascido o ié-ié, a psicanálise, a invenção da "juventude" e da pedagogia, ou as mensagens por telemóvel. Havia, claro, "os profundos abismos da alma", que vinham na literatura. Mas isso é uma coisa; outra coisa, inteiramente diferente, é admitir que essa alma ainda vale alguma coisa discutindo-a em Agosto. Eram temas do crepúsculo.»
Tem muito que se lhe diga, a aparentemente ingénua ironia que sustenta a evocação dum tempo em que «vivíamos num mundo onde ainda não tinham nascido o ié-ié, a psicanálise, a invenção da "juventude" e da pedagogia, ou as mensagens por telemóvel.» Não me parece que seja necessário ou relevante discutir imediatamente as opiniões e os estereótipos que a afirmação contém.
Não faltam na cultura popular sábios conselhos, ditados e provérbios acerca de ouvir (preferencialmente, muito), falar (preferencialmente, pouco) e ficar em silêncio.
Vou guardar o texto domingueiro de Sousa Homem. Acho-o capaz de alimentar uma boa hora de conversa em família ou sobre as famílias. Sobre a tolerância duns aos outros em família. Compreender as idiossincrasias de cada geração familiar aumenta a tolerância, é a tal ligação entre a Tolerância e a Compreensão.
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