Um dia, ao sair da escola, ia eu a caminho de casa, um aluno meu – que muito me estima, e que eu muito estimo – gritou-me, do outro lado da rua: - Setor, não tem vergonha?... Um professor a andar à pobre?... a ir a pé para casa?...
Sorri para ele, acenei-lhe e gritei-lhe um comentário qualquer, de circunstância.
Mais recentemente, ao sair de casa, à pobre, a caminho da escola, uma vizinha dos meus pais chamou-me e parámos a falar um com o outro. Curiosamente, paráramos ali mesmo à porta da casa deles.
- Os seus pais, Fernando?... Como está o seu pai?...
Respondi-lhe o que eu me habituara já a responder, todos os dias, tentando, apesar de tudo, dizer qualquer coisa que não soasse a cassete repetida e, no mínimo, respeitasse a atenção que assim as pessoas dispensavam sentidamente aos meus pais. – Está fraquinho – dizia-lhes eu – mas está a tentar aguentar-se. Está junto à filha, que não o larga. Assim está bem.
Mal sabia eu que, mesmo que incipientemente, estava já a seguir o exemplo do nosso pai, como comprova o comentário que a nossa vizinha logo de seguida me fez. Disse assim a senhora: O seu pai faz-nos falta, sentimos a falta dele. Quando o víamos, ele tinha sempre qualquer coisa para dizer, não era só os bons-dias, não era só cumprimentar as pessoas. E o que dizia tinha a-propósito. Sabia-nos bem. Agora sentimos a sua falta aqui no bairro.
Isto teve para mim tal significado que, imediatamente depois de me afastar da senhora, peguei no caderno de apontamentos que sempre me acompanha e registei aquelas palavras sinceras, claras e nostálgicas. Não queria esquecê-las, nem deturpá-las.
Quando retomei o caminho para a escola, pude tomar claramente consciência de alguns valores que sempre pautaram a vida do nosso pai, desfiando, naquele rotineiro caminho de todos os dias de aulas, lembrança atrás de lembrança, todas aquelas que tiveram tempo de me ocorrerem ao pensamento: acima de todos esses valores, tinhas, querido pai, o valor da família, o valor da vizinhança e da cordialidade social, bem patentes no comentário muito sentido daquela nossa vizinha.
Andar à pobre… pois é…
Outra lição que tu nos deixas, a lição da profunda riqueza humana de quem anda a pé: a riqueza do encontro.
Quero, cada vez mais, andar na vida como tu andavas, pai, a pé, ou à pobre, tanto faz, a espalhar cordialidade e bem-estar à minha volta, como tu sempre fizeste.
Descansa agora na paz que mereces. Confia que continuaremos a seguir os teus exemplos e as tuas lições de vida.
Perdoa-nos os nossos desencontros e desentendimentos. Perdoa-nos as vezes que te deixámos triste connosco. Sabemos que sempre tiveste muito orgulho nos teus filhos. Sabes que podes continuar a ter.
O Natal é a festa da família. Tu fazias da família a tua ocupação e a tua preocupação durante o ano todo. E na família estavam também os teus vizinhos e os teus amigos.
Todos nós estamos muito gratos pelo grande Natal que sempre nos deste.
Bem-hajas! Obrigado, pai querido!
Gostamos muito de ti!
Até sempre!...
sábado, dezembro 22, 2007
domingo, dezembro 09, 2007
No simbolismo das saudações, África 1 - União Europeia 0
Olhava quase distraidamente a televisão, que transmitia, ontem de manhã, a chegada dos governantes à abertura da Cimeira União Europeia - África, até que qualquer coisa insidiosamente parecia querer tomar conta da minha atenção e da minha análise.
Finalmente percebi o que era. Ligava-se ao que foi o tema principal da maioria das minhas aulas na semana passada: a comemoração do Dia Internacional dos Direitos Humanos, no próximo dia 10. Falei aos meus alunos em diversidade cultural e, entre outras coisas, falámos sobre o que poderão ser os traços distintivos entre as etnias, as culturas, as sociedades. Por exemplo, a forma de saudação.
E o que ontem acabei por consciencializar ao assistir à chegada de presidentes, primeiros-ministros e outras individualidades foi a constatação que as saudações mais expressivas, mais calorosas, foram de líderes africanos. A mão direita que, depois de cada aceno, é docemente encostada ao coração [Esta sequência não é a mesma coisa que, por exemplo, os americanos e franceses fazem, em saudação aos símbolos nacionais, a bandeira ou o hino. Neste caso, é uma espécie de "continência civil"]; ou que, depois do mesmo aceno, se cola num abraço à mão esquerda, erguidas ambas à altura do rosto ou acima da cabeça. Tanto numa como na outra maneira, os olhos de quem saúda se mantêm fixos nas pessoas saudadas. Estes tipos de saudação são muito mais envolventes.
Sei que as boas e as más impressões que nos marcam têm valor absorvente, quer dizer, se as impressões são boas, buscamos o que as confirme. Se são más, fazemos o mesmo. Regressei da Tanzânia impressionado com a afectividade social que vi em muita gente, grandes e pequenos.
Sei que o que vi agora na passadeira vermelha por onde passaram tantos líderes políticos confirmam o que, se calhar, queria ver... Pois bem, vou continuar a olhar, tentando fazê-lo com isenção.
Para já, faço questão de que, no futuro, os meus cumprimentos a distância tenham a expressividade dos que vi em pessoas que têm África no sangue e em África lideram os destinos de tanta gente.
Outra conferência, outra oportunidade... na Tanzânia
Tentei dar o máximo de atenção possível ao desenvolvimento do Encontro entre os líderes da Comunidade Europeia e os líderes do Continente Africano, que se juntaram em Lisboa neste fim-de-semana.
Procurei, quase avidamente, tudo o que pudesse assinalar a presença e a participação da delegação da Tanzânia. E pesquisei na Net alguns ecos que os jornais da Tanzânia pudessem estar a fazer do Encontro de Lisboa, especialmente aqueles jornais que eu pude ler quando lá estive, e em que trabalham jornalistas com quem já contactei depois de voltar a Lisboa.
Foi assim que fui levado a ler a seguinte notícia, que apreciei (África não está mesmo parada!...) e que aqui deixo transcrita, com a intenção de que seja um pouco mais divulgada:
Tanzania is set to play host to the Fifth African Population Conference, due to open at the Arusha International Conference Centre and run for a full five days. It is jointly organised by the Tanzanian Government, specifically the Planning, Economy and Empowerment ministry, and the Union of African Population Studies (UAPS). The multidisciplinary forum is expected to bring together a wide variety of stakeholders, among them scientists, policy makers and development partners, who will be deliberating on the development challenges posed by population growth. Delegates are also expected to exchange ideas and experience that could help them approach the challenges embedded in the continent�s development plans and strategies better equipped and therefore more knowledgeable and with enhanced confidence. Knowing as we very well do the monumental problems that are the lot of most of Africa as an entity and most of the individual countries that make up the continent, we wholeheartedly welcome the convening of the Arusha conference. We see it as an auspicious occasion that has come at a most opportune moment. Deliberations at the forum, to be opened by Zanzibar President Amani Abeid Karume and closed by Zanzibar Chief Minister Shamsi Vuai Nahodha, are scheduled to revolve around the theme: ``Emerging Issues on Population and Development in Africa``. This suggests that delegates will spend part of their time brainstorming on the proverbial vicious circle where population growth is seen as the villain causing poverty in the world and world poverty is therefore viewed as a direct consequence of population growth. Of course, humankind has since discovered that things are much more complicated than that. That is why the Arusha conference will delve into the causes and consequences of population growth with a very open mind and a high degree of keenness. Delegates will have a lot on their menu, discussing issues like the impact of migration and urbanisation on development as well as maternal health and child survival and development. They will also deliberate on issues like transitions in health patterns, sexual behaviour and sexuality, and the link between schooling and employment. There will be various other hugely pertinent items on the forum`s agenda. Happily, these will include how to tame the impact of the scourge of HIV/Aids for the good of this generation and posterity and ensuring that population does not eat deeply enough into the environment to put sustainable development at risk. The conference will have the advantage of benefiting from the dignified presence of a rich mix of development experts who will be contributing to the deliberations at the AICC. And it promises to be a wonderful opportunity with the delegates having great company able to translate itself into the innovative approaches we need to achieve our development goals, including the much-touted MDGs. By definition, the Government has excellent knowledge of the causes of the social, economic and other problems our people are faced with. It should use next week�s conference, which it is co-organising, to reflect on how best to solve those problems.
SOURCE: Guardian
Procurei, quase avidamente, tudo o que pudesse assinalar a presença e a participação da delegação da Tanzânia. E pesquisei na Net alguns ecos que os jornais da Tanzânia pudessem estar a fazer do Encontro de Lisboa, especialmente aqueles jornais que eu pude ler quando lá estive, e em que trabalham jornalistas com quem já contactei depois de voltar a Lisboa.
Foi assim que fui levado a ler a seguinte notícia, que apreciei (África não está mesmo parada!...) e que aqui deixo transcrita, com a intenção de que seja um pouco mais divulgada:
Another conference, another opportunity
2007-12-08 10:06:40 By Editor
Tanzania is set to play host to the Fifth African Population Conference, due to open at the Arusha International Conference Centre and run for a full five days. It is jointly organised by the Tanzanian Government, specifically the Planning, Economy and Empowerment ministry, and the Union of African Population Studies (UAPS). The multidisciplinary forum is expected to bring together a wide variety of stakeholders, among them scientists, policy makers and development partners, who will be deliberating on the development challenges posed by population growth. Delegates are also expected to exchange ideas and experience that could help them approach the challenges embedded in the continent�s development plans and strategies better equipped and therefore more knowledgeable and with enhanced confidence. Knowing as we very well do the monumental problems that are the lot of most of Africa as an entity and most of the individual countries that make up the continent, we wholeheartedly welcome the convening of the Arusha conference. We see it as an auspicious occasion that has come at a most opportune moment. Deliberations at the forum, to be opened by Zanzibar President Amani Abeid Karume and closed by Zanzibar Chief Minister Shamsi Vuai Nahodha, are scheduled to revolve around the theme: ``Emerging Issues on Population and Development in Africa``. This suggests that delegates will spend part of their time brainstorming on the proverbial vicious circle where population growth is seen as the villain causing poverty in the world and world poverty is therefore viewed as a direct consequence of population growth. Of course, humankind has since discovered that things are much more complicated than that. That is why the Arusha conference will delve into the causes and consequences of population growth with a very open mind and a high degree of keenness. Delegates will have a lot on their menu, discussing issues like the impact of migration and urbanisation on development as well as maternal health and child survival and development. They will also deliberate on issues like transitions in health patterns, sexual behaviour and sexuality, and the link between schooling and employment. There will be various other hugely pertinent items on the forum`s agenda. Happily, these will include how to tame the impact of the scourge of HIV/Aids for the good of this generation and posterity and ensuring that population does not eat deeply enough into the environment to put sustainable development at risk. The conference will have the advantage of benefiting from the dignified presence of a rich mix of development experts who will be contributing to the deliberations at the AICC. And it promises to be a wonderful opportunity with the delegates having great company able to translate itself into the innovative approaches we need to achieve our development goals, including the much-touted MDGs. By definition, the Government has excellent knowledge of the causes of the social, economic and other problems our people are faced with. It should use next week�s conference, which it is co-organising, to reflect on how best to solve those problems.
SOURCE: Guardian
sábado, outubro 13, 2007
Educação e Orgulho
A M. teve hoje um problema sério na escola.
O manejo aparentemente muito inépto da professora de um momento de estudo e de resultado escolar subsequente menos feliz produziu na menina uma ferida no seu orgulho pessoal e na sua relação honesta com a aprendizagem escolar de consequências ainda desconhecidas.
As nossas crianças merecem professores com sólida formação pedagógica. E todos os professores devem ter uma sólida formação pedagógica. Os verdes anos da profissão docente não deverão nunca servir de desculpa para não ter essa formação. Isso sim, deverão ser motivo de redobrado cuidado em a adquirir, de tão fundamental que ela é.
Sobretudo para esses professores de verdes anos, permito-me saltar por cima de copyrights e deixar aqui os versos de alguém que se sentiu feliz em escrevê-los e a interpretação de alguém que num dado momento da sua vida se viu neles espelhada: Whitney Houston .
The greatest love of all
I believe the children are our are future
Teach them well and let them lead the way
Show them all the beauty they possess inside
Give them a sense of pride to make it easier
Let the children’s laughter remind us how we used to be
Everybody searching for a hero
People need someone to look up to
I never found anyone to fulfill my needs
A lonely place to be
So I learned to depend on me
I decided long ago, never to walk in anyone’s shadows
If I fail, if I succeed
At least I live as I believe
No matter what they take from me
They cant take away my dignity
Because the greatest love of all
Is happening to me
I found the greatest love of all
Inside of me
The greatest love of all
Is easy to achieve
Learning to love yourself
It is the greatest love of allI believe the children are our future
Teach them well and let them lead the way
Show them all the beauty they possess inside
Give them a sense of pride to make it easier
Let the children’s laughter remind us how we used to be
I decided long ago, never to walk in anyone’s shadows
If I fail, if I succeed
At least I live as I believe
No matter what they take from me
They cant take away my dignity
Because the greatest love of all
Is happening to me
I found the greatest love of all
Inside of me
The greatest love of all
Is easy to achieve
Learning to love yourself
It is the greatest love of allAnd if by chance, that special place
That you’ve been dreaming of
Leads you to a lonely place
Find your strength in love
(Words and music by Michael Masser and Linda Creed)
O manejo aparentemente muito inépto da professora de um momento de estudo e de resultado escolar subsequente menos feliz produziu na menina uma ferida no seu orgulho pessoal e na sua relação honesta com a aprendizagem escolar de consequências ainda desconhecidas.
As nossas crianças merecem professores com sólida formação pedagógica. E todos os professores devem ter uma sólida formação pedagógica. Os verdes anos da profissão docente não deverão nunca servir de desculpa para não ter essa formação. Isso sim, deverão ser motivo de redobrado cuidado em a adquirir, de tão fundamental que ela é.
Sobretudo para esses professores de verdes anos, permito-me saltar por cima de copyrights e deixar aqui os versos de alguém que se sentiu feliz em escrevê-los e a interpretação de alguém que num dado momento da sua vida se viu neles espelhada: Whitney Houston .
The greatest love of all
I believe the children are our are future
Teach them well and let them lead the way
Show them all the beauty they possess inside
Give them a sense of pride to make it easier
Let the children’s laughter remind us how we used to be
Everybody searching for a hero
People need someone to look up to
I never found anyone to fulfill my needs
A lonely place to be
So I learned to depend on me
I decided long ago, never to walk in anyone’s shadows
If I fail, if I succeed
At least I live as I believe
No matter what they take from me
They cant take away my dignity
Because the greatest love of all
Is happening to me
I found the greatest love of all
Inside of me
The greatest love of all
Is easy to achieve
Learning to love yourself
It is the greatest love of allI believe the children are our future
Teach them well and let them lead the way
Show them all the beauty they possess inside
Give them a sense of pride to make it easier
Let the children’s laughter remind us how we used to be
I decided long ago, never to walk in anyone’s shadows
If I fail, if I succeed
At least I live as I believe
No matter what they take from me
They cant take away my dignity
Because the greatest love of all
Is happening to me
I found the greatest love of all
Inside of me
The greatest love of all
Is easy to achieve
Learning to love yourself
It is the greatest love of allAnd if by chance, that special place
That you’ve been dreaming of
Leads you to a lonely place
Find your strength in love
(Words and music by Michael Masser and Linda Creed)
quinta-feira, outubro 11, 2007
Tanzanian fellowship is really nice...
Como já disse algures, estive de férias na Tanzânia, na segunda quinzena do mês de Agosto. Num dos dias, numa longa viagem de autocarro entre Dar es Salaam e Arusha, uma simpática passageira teve a amabilidade de me emprestar o seu jornal. Tive assim ocasião para ler o artigo delicioso que a seguir transcrevo, tal qual me foi enviado pelo seu autor, a quem pedi autorização para o publicar. Prontamente o senhor jornalista acedeu, gesto que quero publicamente agradecer entusiasticamente.
O artigo é delicioso!... Diz muito, na minha opinião, a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, se ocupam com a educação intercultural e a multiculturalidade.
E não me alongo mais.
Leiam… Disfrutem!...
Brevemente aqui deixarei uma tradução portuguesa do artigo, também autorizada pelo autor.
The Guardian on Sunday,
(Published by The Guardian Limited)
Dar es Salaam,
Tanzania.
02.09.2007
My Friend Kukuru Kakara with Wilson Kaigarula
Tanzanian fellowship is really nice…
One prize-winning behavior of Tanzanians is that we don’t bother about tribes. We are Tanzanians first and foremost, and last and “behind-most”. And we shall remain thus till the end of the world. Amen.
Being born on the shores of lakes, the slopes of mountains, in valleys and the middle of forests represents geographical blessings and accidents over which no-one is too excited about or weeps over.
After murdering and burying tribal feelings, many of our children and grand children are ethnic half-castes, the surnames of their fathers being only incidental.
Names merely serve the purpose of distinguishing one person from another, in the same way as a donkey I distinguished from a horse, a baboon from a monkey and a leopard from a cheetah.
A Ruvuma man desperate to conquer bachelorhood and embrace “marriedhood” walks for nearly one million kilometres. He is sighted, with eyes as sharp as those of a healthy, middle-aged cat, and yet he doesn’t see any beautiful and well-mannered woman along the way.
He pretends to be blind and recovers the sight he had not lost in the first place, after reaching Musoma and sees a woman in respect of whom, like Jim Reeves, he would have declared:” My heart is in Rosario”.
Children born by that couple are neither Wangoni nor Wakurya and not even Wawa (Wangoni-Wakurya) but Tanzanians.
Likewise, a Mount Kilimanjaro slopes woman wanders around blindly for two yars and eventually re-surfaces as a sighted daughter of Eve on the shores of Lake Rukwa.
She opens her eyes just in time not to fall into and swim half-way across the lake. She could have ended up as a lunch-time delicacy for a friendly half-fish, half-animal called crocodile.
Ten minutes after opening her eyes, she sees a half-handsome, half-ugly man who stabs her heart like musician Marijani Rajabu`s “kuki moyoni”.
She marries him after digging deep into his family history and establishing that it is 100 per cent pure, by not only not practicing witchcraft, but not even knowing that it exists.
A child manufactured by such a couple is neither a Mpare nor a Mfipa but a pure Tanzanian.
But Tanzanian men and women are not just husband and wife hunters but social mixers as well.
Kukuru Kakara and I socialize in bars with people from various parts of Tanzania, but where our Kaigarula-ness, Kakara-ness, Massawe-ness, ole-ness, and all other “nesses” don’t matter.
Recently, we were at Upara Bar – so-named because the proprietor lost all his hair due to unavoidable circumstances which are too sensitive to disclose.
We were joined by a chap called Tony, a jovial stranger whom we gladly welcomed. We never bothered to establish his surname because doing so would have violated Tanzanian fellowship.
Tony dwelt on what he called spiritualism, saying he was alarmed by the trend of young people engaging in unholy things like drug abuse, prostitution and robberies.
He speculated that that this was because most people had ignored religious worship.
Before he gave us details of a new church whose construction he was the project chairman, his mobile phone rang.
Tony referred the person at the other end as God, and then proceeded to threaten him with death:
“Mungu wangu Godi n`takutoa roho. Usifanye mcheso na khela yangu, aisee…”
Translation, but minus God, because no-one can communicate with God on a phone: “I will kill you; don’t play monkey tricks with my money…”
He then moved a considerable distance away, apparently to prevent us from hearing what he would tell “God” next.
He didn’t return, and we continued to enjoy ourselves; or, rather, to enjoy the beer and the half-lies and half-truths we were exchanging free of charge.
Half an hour later, four police detectives politely asked us to accompany them to the police station to answer a few questions about a fellow called Tony, a notorious car thief who was reportedly in our company about half an hour previously.
We were released, but told that should the need arise, we would be summoned to help the police in their investigations.
Tanzanian fellowship is sweet, very sweet indeed! Long live Tanzanian-ness!
Wilson Kaigarula is the Associate Editor, The Guardian on Sunday. wkaigarula@yahoo.com. 0713-450-633
O artigo é delicioso!... Diz muito, na minha opinião, a todos aqueles que, de uma forma ou de outra, se ocupam com a educação intercultural e a multiculturalidade.
E não me alongo mais.
Leiam… Disfrutem!...
Brevemente aqui deixarei uma tradução portuguesa do artigo, também autorizada pelo autor.
The Guardian on Sunday,
(Published by The Guardian Limited)
Dar es Salaam,
Tanzania.
02.09.2007
My Friend Kukuru Kakara with Wilson Kaigarula
Tanzanian fellowship is really nice…
One prize-winning behavior of Tanzanians is that we don’t bother about tribes. We are Tanzanians first and foremost, and last and “behind-most”. And we shall remain thus till the end of the world. Amen.
Being born on the shores of lakes, the slopes of mountains, in valleys and the middle of forests represents geographical blessings and accidents over which no-one is too excited about or weeps over.
After murdering and burying tribal feelings, many of our children and grand children are ethnic half-castes, the surnames of their fathers being only incidental.
Names merely serve the purpose of distinguishing one person from another, in the same way as a donkey I distinguished from a horse, a baboon from a monkey and a leopard from a cheetah.
A Ruvuma man desperate to conquer bachelorhood and embrace “marriedhood” walks for nearly one million kilometres. He is sighted, with eyes as sharp as those of a healthy, middle-aged cat, and yet he doesn’t see any beautiful and well-mannered woman along the way.
He pretends to be blind and recovers the sight he had not lost in the first place, after reaching Musoma and sees a woman in respect of whom, like Jim Reeves, he would have declared:” My heart is in Rosario”.
Children born by that couple are neither Wangoni nor Wakurya and not even Wawa (Wangoni-Wakurya) but Tanzanians.
Likewise, a Mount Kilimanjaro slopes woman wanders around blindly for two yars and eventually re-surfaces as a sighted daughter of Eve on the shores of Lake Rukwa.
She opens her eyes just in time not to fall into and swim half-way across the lake. She could have ended up as a lunch-time delicacy for a friendly half-fish, half-animal called crocodile.
Ten minutes after opening her eyes, she sees a half-handsome, half-ugly man who stabs her heart like musician Marijani Rajabu`s “kuki moyoni”.
She marries him after digging deep into his family history and establishing that it is 100 per cent pure, by not only not practicing witchcraft, but not even knowing that it exists.
A child manufactured by such a couple is neither a Mpare nor a Mfipa but a pure Tanzanian.
But Tanzanian men and women are not just husband and wife hunters but social mixers as well.
Kukuru Kakara and I socialize in bars with people from various parts of Tanzania, but where our Kaigarula-ness, Kakara-ness, Massawe-ness, ole-ness, and all other “nesses” don’t matter.
Recently, we were at Upara Bar – so-named because the proprietor lost all his hair due to unavoidable circumstances which are too sensitive to disclose.
We were joined by a chap called Tony, a jovial stranger whom we gladly welcomed. We never bothered to establish his surname because doing so would have violated Tanzanian fellowship.
Tony dwelt on what he called spiritualism, saying he was alarmed by the trend of young people engaging in unholy things like drug abuse, prostitution and robberies.
He speculated that that this was because most people had ignored religious worship.
Before he gave us details of a new church whose construction he was the project chairman, his mobile phone rang.
Tony referred the person at the other end as God, and then proceeded to threaten him with death:
“Mungu wangu Godi n`takutoa roho. Usifanye mcheso na khela yangu, aisee…”
Translation, but minus God, because no-one can communicate with God on a phone: “I will kill you; don’t play monkey tricks with my money…”
He then moved a considerable distance away, apparently to prevent us from hearing what he would tell “God” next.
He didn’t return, and we continued to enjoy ourselves; or, rather, to enjoy the beer and the half-lies and half-truths we were exchanging free of charge.
Half an hour later, four police detectives politely asked us to accompany them to the police station to answer a few questions about a fellow called Tony, a notorious car thief who was reportedly in our company about half an hour previously.
We were released, but told that should the need arise, we would be summoned to help the police in their investigations.
Tanzanian fellowship is sweet, very sweet indeed! Long live Tanzanian-ness!
Wilson Kaigarula is the Associate Editor, The Guardian on Sunday. wkaigarula@yahoo.com. 0713-450-633
Afinal, Deus não conhece tudo...
Às vezes, pegamos quase (é que completamente nunca é…) inadvertidamente num livro e folheamo-lo também quase automaticamente. E acabamos por ver o que antes não vimos… ou melhor, vimos mas não ligámos.
Foi o que me aconteceu hoje, com a seguinte passagem, se calhar, porque estamos outra vez ainda no início do ano escolar e mais uma vez insisto com os meus alunos para que escrevam. Aliás, já este ano, também, procurei que o enredo do pequeno Peter com o escritor Barrie, ficcionado no filme “À procura da Terra do Nunca”, lhes servisse de incentivo para isso, para escrever.
Eis então a passagem, extraída da abertura do livro de Bill Bryson, Breve História de Quase Tudo (A Short History of Nearly Everything), publicado em português em 2004 pela Quetzal Editores:
“O físico Leo Szilard anunciou certa vez ao seu amigo Hans Bethe a sua intenção de começar a escrever um diário.
- Não tenho qualquer interesse em publicá-lo. Vou apenas registar os factos para informação de Deus.
- Não te parece que Deus já sabe quais são os factos? – respondeu Bethe.
- Sim – disse Szilard, e prosseguiu: Ele conhece os factos, o que Ele não conhece é esta versão dos factos (Hans Christian von Baeyer, Taming the Atom)”
The physicist Leo Szilard once announced to his friend Hans Bethe that he was thinking of keeping a diary: “I don’t intend to publish. I am merely going to record the facts for the information of God.”
“Don’t you think God knows the facts?” Bethe asked.
“Yes,” said Szilard. “He knows the facts, but He does not know this version of the facts.”
Ora aqui está uma razão muito interessante para escrevermos até o que nos parece que outros já escreveram!...
Foi o que me aconteceu hoje, com a seguinte passagem, se calhar, porque estamos outra vez ainda no início do ano escolar e mais uma vez insisto com os meus alunos para que escrevam. Aliás, já este ano, também, procurei que o enredo do pequeno Peter com o escritor Barrie, ficcionado no filme “À procura da Terra do Nunca”, lhes servisse de incentivo para isso, para escrever.
Eis então a passagem, extraída da abertura do livro de Bill Bryson, Breve História de Quase Tudo (A Short History of Nearly Everything), publicado em português em 2004 pela Quetzal Editores:
“O físico Leo Szilard anunciou certa vez ao seu amigo Hans Bethe a sua intenção de começar a escrever um diário.
- Não tenho qualquer interesse em publicá-lo. Vou apenas registar os factos para informação de Deus.
- Não te parece que Deus já sabe quais são os factos? – respondeu Bethe.
- Sim – disse Szilard, e prosseguiu: Ele conhece os factos, o que Ele não conhece é esta versão dos factos (Hans Christian von Baeyer, Taming the Atom)”
The physicist Leo Szilard once announced to his friend Hans Bethe that he was thinking of keeping a diary: “I don’t intend to publish. I am merely going to record the facts for the information of God.”
“Don’t you think God knows the facts?” Bethe asked.
“Yes,” said Szilard. “He knows the facts, but He does not know this version of the facts.”
Ora aqui está uma razão muito interessante para escrevermos até o que nos parece que outros já escreveram!...
domingo, agosto 12, 2007
Uma perplexidade... outra vez a Comunicação Social
Hoje, quando, mais uma vez, eu regressava de Abrantes, ouvi repetidamente o anúncio, em mais do que um posto da rádio, que a mãe da pequena Madeleine, numa entrevista à Lux (penso que não me estou a enganar no nome da revista), "confessou" que não tinha morto a filha... Estranho... confessa-se (ou não) os crimes que se cometem, não os que não se cometem, não é?... O que é que, na verdade, está aqui em causa?... A mãe falou mesmo assim, ou o jornalista pôs o pé mais além do que lhe permitia o chinelo?...
Que ficamos à mercê da falta de clareza e de rigor informativo (jornalístico?...), lá isso ficamos...
Que ficamos à mercê da falta de clareza e de rigor informativo (jornalístico?...), lá isso ficamos...
domingo, julho 29, 2007
Fim do banco, com a licença (que espero concedida) do Bruno Nogueira
O texto-poema que o Bruno Nogueira escreveu há pouco tempo num dos seus blogues parece-me de tal forma (tristemente) bonito e com tal impacto afectivo na maioria das pessoas, que, pela primeira vez, repito aqui o que deixei escrito já noutro blogue.
E se o deixei lá pela maneira como ele seguramente vai marcar a minha pessoa, aqui, destina-se apenas a espalhar um pouco mais o valor educativo que contém e que deveria ser explorado em qualquer área de formação das ciências humanas.
Foi assim que eu escrevi no outro blogue:
Ao domingo de manhã, alguns dos meus amigos, conhecidos ou familiares deixam-se ficar na cama, a acabar os sonos insuficientes da semana de trabalho; outros, com a devoção que manda cuidar da mente através do corpo, vão correr para o parque ou para a praia; outros ainda, levados por outra devoção, vão à missa.
Eu vou quase sempre, ao domingo de manhã, a Abrantes, ver a minha madrinha, velhinha de 84 anos, ao Lar de Idosos.
E se o deixei lá pela maneira como ele seguramente vai marcar a minha pessoa, aqui, destina-se apenas a espalhar um pouco mais o valor educativo que contém e que deveria ser explorado em qualquer área de formação das ciências humanas.
Foi assim que eu escrevi no outro blogue:
Ao domingo de manhã, alguns dos meus amigos, conhecidos ou familiares deixam-se ficar na cama, a acabar os sonos insuficientes da semana de trabalho; outros, com a devoção que manda cuidar da mente através do corpo, vão correr para o parque ou para a praia; outros ainda, levados por outra devoção, vão à missa.
Eu vou quase sempre, ao domingo de manhã, a Abrantes, ver a minha madrinha, velhinha de 84 anos, ao Lar de Idosos.
Sempre que saio do pé dela, trago a imagem da sua lucidez triste e repetidamente me interrogo sobre o que verdadeiramente sente e pensa. Um dia cruzei-me à saída do Lar com o Padre Narciso, velho de carnes secas, mas enérgico e sorridente, que, quando me deu aulas de Canto Coral há quase 40 anos, já não era novo. Disse-me ele, sobre a minha madrinha: "Tenho muita admiração por ela, ela sofre muito em silêncio."
Quando estou à beira dela - Deolinda é o seu nome - faço-lhe festinhas nas mãos e no cabelo, componho-lhe, tanto quanto posso (Ela sempre foi muito vaidosa!...), a roupa agora demasiadamente larga, e espalho-lhe no rosto, com muito cuidado, um creme hidratante. E falo-lhe da família. Às vezes, do Tejo e da cidade.
Hoje, já no regresso a Lisboa, tive a felicidade de ouvir Pedro Rolo Duarte, no seu habitual programa radiofónico sobre a Blogosfera, recitar um texto que ajudou a apaziguar as interrogações que trago sempre que regresso, aos domingos, de Abrantes para Lisboa.
É esse texto que quero deixar a todos já aqui:
Quando estou à beira dela - Deolinda é o seu nome - faço-lhe festinhas nas mãos e no cabelo, componho-lhe, tanto quanto posso (Ela sempre foi muito vaidosa!...), a roupa agora demasiadamente larga, e espalho-lhe no rosto, com muito cuidado, um creme hidratante. E falo-lhe da família. Às vezes, do Tejo e da cidade.
Hoje, já no regresso a Lisboa, tive a felicidade de ouvir Pedro Rolo Duarte, no seu habitual programa radiofónico sobre a Blogosfera, recitar um texto que ajudou a apaziguar as interrogações que trago sempre que regresso, aos domingos, de Abrantes para Lisboa.
É esse texto que quero deixar a todos já aqui:
Vai ratando o futuro, e nós (eles) a verem.
Acorda-se com um dia a menos, e adormece-se com um dia a mais.
O calendário vai-nos mudando o corpo.
O calendário vai-nos mudando o corpo.
Vai-nos empurrando as costas, para a queda ser pequena.
Os velhos sabem de cor o chão.
Como quem sabe que está quase a chegar lá.
Desde que perdi a minha avó, que ganhei o respeito por quem mora no terceiro andar da idade.
Perde-se para ganhar.
E assim foi.
Emociona-me.
Que vida inteira pode ser sentada sozinha, num banco de jardim?
Com a idade, nunca escolhem o meio, sempre o fim do banco.
Em crianças, ter-se-iam sentado na outra ponta?
E deixam-se estar.
Respiram como podem.
Os olhos já não procuram nada.
Já viram tudo.
Vão guardando o passado em rugas, para libertar a cabeça.
Em que pensam?
Na morte?
Os velhos não vivem. Deixam-se viver.
Os filhos já têm a vida deles, não os querem.
Têm de ir viajar e fazer compras para o jantar.
"O pai tem estado bem? Então vá, um beijinho."
Picaram o ponto, e para eles está feito.
Os novos choram com o corpo todo, gritam e fazem caras de quem sofre.
Os velhos choram só com os olhos, que o resto não se vê.
E assim o fazem, no fim do telefonema.
Ninguém os quer com as doenças cheias de idade.
As mãos da idade cheiram a tudo, com as veias cansadas de mostrar o sangue a toda a gente.
As pernas vão perdendo caminho.
Os braços deixam de abraçar.
O coração começa a falhar, já bateu demais mesmo para quem amou pouco.
Vai-se esquecendo de bater.
E uma noite, sem avisar, desaprende.
Desliga os olhos e atira o corpo para o fim.
Ocupam agora o banco todo.
Do principio ao fim, todo ele é corpo.
E os filhos, cansados de telefonar, resmungam.
Morreram oitenta e dois anos, e nem mais um dia.
A cidade não pára, o mundo não interrompe, nada.
Os filhos enterram vinte anos, e guardam os outros sessenta e dois.
Os últimos vinte davam trabalho e de pouco valiam.
Não têm vagar para os guardar.
Mas de hoje em diante, esses vinte vão acordá-los todos os dias.
Até se deitarem sozinhos no banco que os vai deitar.
posted by Bruno Nogueira @ Segunda-feira, Junho 11, 2007
http://corpodormente.blogspot.com/
posted by Bruno Nogueira @ Segunda-feira, Junho 11, 2007
http://corpodormente.blogspot.com/
domingo, junho 17, 2007
Aventura no Kilimanjaro (Quilimanjaro, em português)
De repente, sem saber bem como e quando, eis-me metido numa aventura ao Kilimanjaro... a Dar es Salaam... a Zanzibar...
A falar em aventura, ambiente, educação e futuro...
A embarcar num projecto de grupo, com gente amiga. Velhos amigos e novos amigos. A desejar levar muitos outros mais, companheiros de sempre e outros, seguramente companheiros de aventuras futuras.
Vale a pena dar uma olhada nos sites que criámos!
Cliquem no título.
A falar em aventura, ambiente, educação e futuro...
A embarcar num projecto de grupo, com gente amiga. Velhos amigos e novos amigos. A desejar levar muitos outros mais, companheiros de sempre e outros, seguramente companheiros de aventuras futuras.
Vale a pena dar uma olhada nos sites que criámos!
Cliquem no título.
domingo, abril 29, 2007
Da ponta donde o Sol nasce
Atravessei a Europa e vim até aqui, ao Delta do Danúbio.
Uma pequena notícia, lida algures, fala do antigo Danubius, agora Donau... e Dunaj... e Duna... e Dunav... e Dunãrea... e Dunay...
Estou em Sulina, o rio aqui chama-se Dunãrea. Pois cá estou, é mesmo verdade que estou, posso claramente ver as águas deste rio imenso a espraiarem-se, com que consolo!, no seu destino, e embrenharem-se definitivamente nas águas do Mar Negro.
Tenho muito nítida a sensação de que o Sol, que eu todos os dias vejo nascer da janela do meu quarto, parte daqui para lá, levando-me a manhã de todo o continente europeu.
É tudo de uma beleza tal, que chego a sentir a vertigem de me apressar para chegar a Lisboa e dizer aos meus amigos que aqui venham antes que a voragem dos interesses económicos dêem cabo de mais esta magia da Natureza.
Bendigo a quem me permitiu ter vindo a este berço!
sexta-feira, abril 20, 2007
A Fala do Índio e o DIA DA TERRA
Hoje falei de Yin e Yang e da cultura dos povos nativos da América do Norte, normalmente conhecidos por índios, a propósito da pulsão de vida e da pulsão de morte de Sigmund Freud. Foi na aula de Psicologia B do 12.º H1.
Ao fim da tarde, quando cheguei a casa, fui à estante e peguei no livro "A Fala do Índio", de Teri C. McLuhan, publicado em português, em 1988, pela Fenda.
Reli algumas passagens e fixei-me na que a seguir aqui reproduzo porque me parece que tem muito a ver com o debate que ajudei a dinamizar na segunda-feira passada e de que já dei conta em apontamento anterior.
"Eis o que um velho teton [habitante da pradaria] sioux, Okute ou Shooter, disse em 1911 [Há cerca de 100 anos!...] das suas crenças sagradas. Explica ele que o seu povo acreditava num poder misterioso cuja maior manifestação era a Natureza, sendo o Sol uma das suas representações. Red Bird, membro da mesma tribo, acrescentava: Oferecemos sacrifícios ao Sol, e os nossos anelos foram ouvidos.
Todas as criaturas vivas e todos os planetas obtêm a vida do Sol. Se o Sol não existisse, seria a noite, e nada haveria de crescer; a Terra não teria vida. Mas o Sol precisa da ajuda da Terra. Se o Sol agisse sozinho sobre os animais e as plantas, o calor seria de tal ordem que todos haveriam de morrer. Mas as nuvens trazem a chuva, e a acção irmanada do Sol e da Terra fornece a humidade necessária à vida. As raízes duma planta enterram-se, e quanto mais se enterram mais humidade elas encontram. Isto está de acordo com as leis da Natureza e mostra bem a sebedoria de Wakan Tanka [o Criador]."
Noutra parte, reli o seguinte:
"O velho lakota [uma das tribos Sioux] era sábio. Sabia que o coração do homem afastado da Natureza se torna duro; sabia que a falta de respeito para com o que cresce e vive depressa conduz também à falta de respeito para com os humanos. Por isso mantinha ele os jovens sob a mansa influência da Natureza."
E noutra ainda, dita por um chefe índio ao governador da Pensilvânia, em 1796:
"Nós amamos a tranquilidade; deixamos o rato brincar em sossego; quando os bosques sussurram, não sentimos medo."
Este é o apontamento que eu deveria escrever no dia 22. Aqui o deixo já hoje, dedicando-o aos alunos que constantemente me "puxam pela língua" e me puxam pela escrita.
Próximo apontamento: 29 de Abril de 2007
Ao fim da tarde, quando cheguei a casa, fui à estante e peguei no livro "A Fala do Índio", de Teri C. McLuhan, publicado em português, em 1988, pela Fenda.
Reli algumas passagens e fixei-me na que a seguir aqui reproduzo porque me parece que tem muito a ver com o debate que ajudei a dinamizar na segunda-feira passada e de que já dei conta em apontamento anterior.
"Eis o que um velho teton [habitante da pradaria] sioux, Okute ou Shooter, disse em 1911 [Há cerca de 100 anos!...] das suas crenças sagradas. Explica ele que o seu povo acreditava num poder misterioso cuja maior manifestação era a Natureza, sendo o Sol uma das suas representações. Red Bird, membro da mesma tribo, acrescentava: Oferecemos sacrifícios ao Sol, e os nossos anelos foram ouvidos.
Todas as criaturas vivas e todos os planetas obtêm a vida do Sol. Se o Sol não existisse, seria a noite, e nada haveria de crescer; a Terra não teria vida. Mas o Sol precisa da ajuda da Terra. Se o Sol agisse sozinho sobre os animais e as plantas, o calor seria de tal ordem que todos haveriam de morrer. Mas as nuvens trazem a chuva, e a acção irmanada do Sol e da Terra fornece a humidade necessária à vida. As raízes duma planta enterram-se, e quanto mais se enterram mais humidade elas encontram. Isto está de acordo com as leis da Natureza e mostra bem a sebedoria de Wakan Tanka [o Criador]."
Noutra parte, reli o seguinte:
"O velho lakota [uma das tribos Sioux] era sábio. Sabia que o coração do homem afastado da Natureza se torna duro; sabia que a falta de respeito para com o que cresce e vive depressa conduz também à falta de respeito para com os humanos. Por isso mantinha ele os jovens sob a mansa influência da Natureza."
E noutra ainda, dita por um chefe índio ao governador da Pensilvânia, em 1796:
"Nós amamos a tranquilidade; deixamos o rato brincar em sossego; quando os bosques sussurram, não sentimos medo."
Este é o apontamento que eu deveria escrever no dia 22. Aqui o deixo já hoje, dedicando-o aos alunos que constantemente me "puxam pela língua" e me puxam pela escrita.
Próximo apontamento: 29 de Abril de 2007
segunda-feira, abril 16, 2007
Mamã, nós cá em casa acreditamos no Inverno?
"Momma, do we believe in winter?"
(in Portnoy’s Complaint, de Philip Roth, 1969)
Esta pergunta, ao que parece, feita pelo pequeno Alexandre (o próprio Portnoy) presta-se a muitas e variadas interpretações, desde as que a encaram no mais estrito sentido clínico, doentio, até às que a encaram de um ponto de vista fantasista, poético mesmo, sugerindo laços pessoais e intensidades emocionais que, por vezes, se situam nos antípodas uns dos outros.
Hoje participei (mais uma vez, a convite do meu muito querido colega e amigo Acúrcio) num debate na Escola, aberto a alunos e professores da Escola, no âmbito do lançamento da Semana de E. M. R. Católica, e em que o documentário de Al Gore, Un Inconvenient Truth, se constituiu como o ponto de partida do debate.
O debate foi pouco participado pelos alunos. Do pouco que disseram, e também da impressão geral que a dinâmica do auditório me deixou, fiquei com a ideia de que faltam perguntas daquele género na vida dos nossos jovens.
Há muitas maneiras e exemplos de afirmações, perguntas e comentários que denunciam o esforço, a tentativa das crianças e dos jovens em participar numa espécie de, digamos, cultura e sistema de valores familiares. Provavelmente isso tem a ver com necessidades de desenvolvimento e integração social biologicamente inscritas na condição vital do ser humano. Mas, se calhar, nenhuma terá a força e a clareza daquela questão inicial, seja ela verdadeira na boca do seu autor, ou puro produto de ficção.
Parece-me que, cada vez menos, cultivamos a força e o prazer dos laços familiares. Parece que as famílias não têm tempo para se ocuparem com os seus membros. E sentirão que os seus membros, sobretudo os mais jovens, são cada vez mais sugados pela força da influência social fora da família, e contra a qual as famílas pouco ou nada podem já fazer.
Houve um momento em que olhei os jovens que tinha à minha frente e constatei que conhecia mais de metade do auditório, ou porque são meus alunos, ou porque já foram noutros anos.
Dificilmente encontrei alguns poucos em que a minha fantasia punha os pais a responderem-lhes coisas diferentes destas: "O que é que estás para aí a dizer?... És parvo ou quê?..." ou "Deixa-te de tolices!... Vejam lá, vejam lá, se isso é pergunta que se faça?!..." ou "Ouve lá, não tens mais nada com que entreter?... Não tens nada sério para estudar?..." ou... ou... ou...
Onde haverá o pai disponível que, perante aquela pergunta, se aproximasse do filho, poisasse a mão sobre o seu ombro, olhasse lá fora a neve que o filho estava a olhar e lhe dissesse qualquer coisa do género: É... sim, cá em casa acreditamos. E quando ele vem, temos de estar preparados para ele... Temos de habituarmo-nos a ele. O que é que tu achas?... Que achas do Inverno?... Sabes o que temos de fazer? Eu vou dizer-te. Ouve bem...
Sem rumo, sem guias, os jovens de hoje, por mais informados que estejam, terão muitas dificuldades em saber o que fazer com o documentário de Al Gore. E mesmo que a Escola passe um modelo social e proponha referências aos jovens, eles precisam sempre de algum ponto de ancoragem familiar que lhes diga que o modelo da Escola não é uma qualquer idealização, inalcançável por quem tem condições de vida muito estreitas, bem distantes das (aparentemente) idealizadas da Escola.
(in Portnoy’s Complaint, de Philip Roth, 1969)
Esta pergunta, ao que parece, feita pelo pequeno Alexandre (o próprio Portnoy) presta-se a muitas e variadas interpretações, desde as que a encaram no mais estrito sentido clínico, doentio, até às que a encaram de um ponto de vista fantasista, poético mesmo, sugerindo laços pessoais e intensidades emocionais que, por vezes, se situam nos antípodas uns dos outros.
Hoje participei (mais uma vez, a convite do meu muito querido colega e amigo Acúrcio) num debate na Escola, aberto a alunos e professores da Escola, no âmbito do lançamento da Semana de E. M. R. Católica, e em que o documentário de Al Gore, Un Inconvenient Truth, se constituiu como o ponto de partida do debate.
O debate foi pouco participado pelos alunos. Do pouco que disseram, e também da impressão geral que a dinâmica do auditório me deixou, fiquei com a ideia de que faltam perguntas daquele género na vida dos nossos jovens.
Há muitas maneiras e exemplos de afirmações, perguntas e comentários que denunciam o esforço, a tentativa das crianças e dos jovens em participar numa espécie de, digamos, cultura e sistema de valores familiares. Provavelmente isso tem a ver com necessidades de desenvolvimento e integração social biologicamente inscritas na condição vital do ser humano. Mas, se calhar, nenhuma terá a força e a clareza daquela questão inicial, seja ela verdadeira na boca do seu autor, ou puro produto de ficção.
Parece-me que, cada vez menos, cultivamos a força e o prazer dos laços familiares. Parece que as famílias não têm tempo para se ocuparem com os seus membros. E sentirão que os seus membros, sobretudo os mais jovens, são cada vez mais sugados pela força da influência social fora da família, e contra a qual as famílas pouco ou nada podem já fazer.
Houve um momento em que olhei os jovens que tinha à minha frente e constatei que conhecia mais de metade do auditório, ou porque são meus alunos, ou porque já foram noutros anos.
Dificilmente encontrei alguns poucos em que a minha fantasia punha os pais a responderem-lhes coisas diferentes destas: "O que é que estás para aí a dizer?... És parvo ou quê?..." ou "Deixa-te de tolices!... Vejam lá, vejam lá, se isso é pergunta que se faça?!..." ou "Ouve lá, não tens mais nada com que entreter?... Não tens nada sério para estudar?..." ou... ou... ou...
Onde haverá o pai disponível que, perante aquela pergunta, se aproximasse do filho, poisasse a mão sobre o seu ombro, olhasse lá fora a neve que o filho estava a olhar e lhe dissesse qualquer coisa do género: É... sim, cá em casa acreditamos. E quando ele vem, temos de estar preparados para ele... Temos de habituarmo-nos a ele. O que é que tu achas?... Que achas do Inverno?... Sabes o que temos de fazer? Eu vou dizer-te. Ouve bem...
Sem rumo, sem guias, os jovens de hoje, por mais informados que estejam, terão muitas dificuldades em saber o que fazer com o documentário de Al Gore. E mesmo que a Escola passe um modelo social e proponha referências aos jovens, eles precisam sempre de algum ponto de ancoragem familiar que lhes diga que o modelo da Escola não é uma qualquer idealização, inalcançável por quem tem condições de vida muito estreitas, bem distantes das (aparentemente) idealizadas da Escola.
Próximo apontamento: 22 de Abril de 2007
domingo, abril 08, 2007
"Pelo sonho é que vamos..."
[...]O mais que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Se Fernando Pessoa disse isto de Jesus Cristo, eu digo que nem consta que Fernando Pessoa alguma vez tivesse subido ou sequer se aproximado do Evereste. No entanto, ele escreveu assim:
“Nas encostas dos Himalaias só existem as encostas dos Himalaias. É à distância, ou na memória, ou na imaginação que os Himalaias assumem toda a sua altitude, e até um pouco mais.”
Fernando Pessoa morreu em 1935. Em 1953, tantos anos depois, Edmund Hillary e Tenzing Norgay alcançaram (tanto quanto se sabe, pela primeira vez), na manhã de 29 de Maio, o cume do Evereste. Mais tarde, Hillary escreveu: "Não sei porquê, não me senti particularmente entusiasmado com o nosso sucesso. Senti apenas que me tinha saído bem num grande desafio."
Em 1978, Reinhold Messner subiu ao Evereste. Sem auxílo de oxigénio, foi a primeira vez. Depois, voltou lá em 1980. Foi sozinho, também pela primeira vez. Caroline Alexander, jornalista que o entrevistou, diz que ao atingir o cume, Reinhold experimentou apenas emoções de enfado. E põe-lhe na boca as seguintes palavras: "Se alguém lhe disser que atingiu o clímax no topo do Evereste, é mentira. É um lugar horrível." E, noutra parte, noutro momento, terá dito "Só me interesam as experiências que vivemos, não as montanhas. Eu não sou um naturalista."
Pessoa, Hillary e Messner. E o Evereste. A jeito de que alguém um dia pudesse escrever o poema que nunca é demais reescrever:
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Se Fernando Pessoa disse isto de Jesus Cristo, eu digo que nem consta que Fernando Pessoa alguma vez tivesse subido ou sequer se aproximado do Evereste. No entanto, ele escreveu assim:
“Nas encostas dos Himalaias só existem as encostas dos Himalaias. É à distância, ou na memória, ou na imaginação que os Himalaias assumem toda a sua altitude, e até um pouco mais.”
Fernando Pessoa morreu em 1935. Em 1953, tantos anos depois, Edmund Hillary e Tenzing Norgay alcançaram (tanto quanto se sabe, pela primeira vez), na manhã de 29 de Maio, o cume do Evereste. Mais tarde, Hillary escreveu: "Não sei porquê, não me senti particularmente entusiasmado com o nosso sucesso. Senti apenas que me tinha saído bem num grande desafio."
Em 1978, Reinhold Messner subiu ao Evereste. Sem auxílo de oxigénio, foi a primeira vez. Depois, voltou lá em 1980. Foi sozinho, também pela primeira vez. Caroline Alexander, jornalista que o entrevistou, diz que ao atingir o cume, Reinhold experimentou apenas emoções de enfado. E põe-lhe na boca as seguintes palavras: "Se alguém lhe disser que atingiu o clímax no topo do Evereste, é mentira. É um lugar horrível." E, noutra parte, noutro momento, terá dito "Só me interesam as experiências que vivemos, não as montanhas. Eu não sou um naturalista."
Pessoa, Hillary e Messner. E o Evereste. A jeito de que alguém um dia pudesse escrever o poema que nunca é demais reescrever:
SONHO
de Sebastião da Gama
Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
de Sebastião da Gama
Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.
Chegamos? Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
Próximo apontamento: 15 de Abril de 2007.
sábado, abril 07, 2007
Life is nothing, but young men think it is...
(A vida não é nada, mas os jovens pensam que sim) E têm razão!
A leitura - muito aos soluços, afinal, tanta coisa para ler e estudar ao mesmo tempo!... - que vou fazendo do livro de Andrew Birkin, J. M. Barrie and the Bost Boys, the real story behind Peter Pan (edição de 2003), confrontou-me com o epitáfio que está gravado na pedra tumular de George Llewelyn Davies, o irmão mais velho da "fratria Peter Pan". Já o tinha lido quando recebi o livro e o folheei. Mas agora reli-o com outros olhos, com outro pensamento.
Diz assim, na página 246 do livro:
Aqui mortos estamos porque não escolhemos
Viver e envergonhar a terra donde brotámos;
Não tem, seguramente, valor a vida que perdemos,
A juventude pensa que tem, e jovens assim lutámos.
Estranhamente, anteontem, a 5 de Abril, completaram-se 47 anos após a morte trágica do mais célebre dos irmãos, o próprio Peter, que se atirou para baixo de um comboio, dominado pela angústia súbita avassaladora que continuadamente toma um e mais um de entre todos nós.
O George escreveu a sua última carta a Barrie, em 14 de Março (1915). Quando Barrie a recebeu, já sabia da morte de George, soldado na frente inglesa da Primeira Grande Guerra. Tinha 22 anos.
O filme que Marc Forster realizou sobre a saga do Peter Pan, Finding Neverland, é, até ver, o filme da minha vida. Tudo o que eu considero serem os ingredientes fundamentais do prazer de educar e aprender, dando sentido à fantasia estimulada e alimentada no prazer de se estar junto. Junto a outros iguais e junto de quem nos ama e têm sobre nós responsabilidades educativas.
Sinto-me feliz e realizado porque tentei dar como presente de Natal aos alunos que acompanho há 3 anos e que terão, no futuro, pelo desenvolvimento natural da sua formação académica, ocupações nas áreas da educação e do apoio social, o visionamento, comentário e discussão do filme. E eles gostaram, gostaram sinceramente. Perceberam e, estou certo, interiorizam a magia do filme. Transformaram-se um pouquinho nos seus seres a partir dele. Não tenho dúvidas sobre isso, daí a alegria muito grande que a apresentação do filme aos alunos me deu.
As coincidências nas datas (a morte de George; o suicídio de Peter; a actualização da minha leitura) estão aí, dispondo-se a tentadoras interpretações, mais ou menos místicas.
Mas, ainda assim, prefiro destacar, mais uma vez, a ocasião do ritual pascoal milenar, que é um apelo à luta e à defesa da vida, que volta sempre, mesmo quando se pensou que acabara definitivamente.
Voltando ao epitáfio de George, não terá razão o poeta, seu autor, se o quisermos tomar apenas na primeira interpretação das suas palavras. Na verdade, a juventude pensava bem. A juventude pensa bem: a vida deles tinha - tem - mesmo valor. Por isso eles estavam ali. E estarão sempre nas primeiras linhas dos combates.
Nas mãos dos mais velhos é que estão - e estarão sempre - os valores da honestidade e da verdade que realizam ou conspurcam (se deliberadamente preteridos pelos seus contrários) a generosidade social e humana que está inscrita na natureza biológica dos mais novos.
A leitura - muito aos soluços, afinal, tanta coisa para ler e estudar ao mesmo tempo!... - que vou fazendo do livro de Andrew Birkin, J. M. Barrie and the Bost Boys, the real story behind Peter Pan (edição de 2003), confrontou-me com o epitáfio que está gravado na pedra tumular de George Llewelyn Davies, o irmão mais velho da "fratria Peter Pan". Já o tinha lido quando recebi o livro e o folheei. Mas agora reli-o com outros olhos, com outro pensamento.
Diz assim, na página 246 do livro:
Here dead lie we because we did not choose
To live and shame the land from which we sprung;
Life, to be sure, is nothing much to lose,
But young men think it is, and we were young.
Que eu traduzi livremente...To live and shame the land from which we sprung;
Life, to be sure, is nothing much to lose,
But young men think it is, and we were young.
Aqui mortos estamos porque não escolhemos
Viver e envergonhar a terra donde brotámos;
Não tem, seguramente, valor a vida que perdemos,
A juventude pensa que tem, e jovens assim lutámos.
Estranhamente, anteontem, a 5 de Abril, completaram-se 47 anos após a morte trágica do mais célebre dos irmãos, o próprio Peter, que se atirou para baixo de um comboio, dominado pela angústia súbita avassaladora que continuadamente toma um e mais um de entre todos nós.
O George escreveu a sua última carta a Barrie, em 14 de Março (1915). Quando Barrie a recebeu, já sabia da morte de George, soldado na frente inglesa da Primeira Grande Guerra. Tinha 22 anos.
O filme que Marc Forster realizou sobre a saga do Peter Pan, Finding Neverland, é, até ver, o filme da minha vida. Tudo o que eu considero serem os ingredientes fundamentais do prazer de educar e aprender, dando sentido à fantasia estimulada e alimentada no prazer de se estar junto. Junto a outros iguais e junto de quem nos ama e têm sobre nós responsabilidades educativas.
Sinto-me feliz e realizado porque tentei dar como presente de Natal aos alunos que acompanho há 3 anos e que terão, no futuro, pelo desenvolvimento natural da sua formação académica, ocupações nas áreas da educação e do apoio social, o visionamento, comentário e discussão do filme. E eles gostaram, gostaram sinceramente. Perceberam e, estou certo, interiorizam a magia do filme. Transformaram-se um pouquinho nos seus seres a partir dele. Não tenho dúvidas sobre isso, daí a alegria muito grande que a apresentação do filme aos alunos me deu.
As coincidências nas datas (a morte de George; o suicídio de Peter; a actualização da minha leitura) estão aí, dispondo-se a tentadoras interpretações, mais ou menos místicas.
Mas, ainda assim, prefiro destacar, mais uma vez, a ocasião do ritual pascoal milenar, que é um apelo à luta e à defesa da vida, que volta sempre, mesmo quando se pensou que acabara definitivamente.
Voltando ao epitáfio de George, não terá razão o poeta, seu autor, se o quisermos tomar apenas na primeira interpretação das suas palavras. Na verdade, a juventude pensava bem. A juventude pensa bem: a vida deles tinha - tem - mesmo valor. Por isso eles estavam ali. E estarão sempre nas primeiras linhas dos combates.
Nas mãos dos mais velhos é que estão - e estarão sempre - os valores da honestidade e da verdade que realizam ou conspurcam (se deliberadamente preteridos pelos seus contrários) a generosidade social e humana que está inscrita na natureza biológica dos mais novos.
sexta-feira, abril 06, 2007
A vida é o nosso bem mais precioso
Ciclicamente, a cada novo ano escolar, cabe-me falar aos alunos das atitudes, o que são, como se formam, qual a sua dinâmica comportamental. Habitualmente, em jeito das "verdades provisórias e convenientes" que constantemente passo aos alunos, digo-lhes que as atitudes são predisposições comportamentais que têm na sua base a combinação entre uma crença e um valor. E costumo exemplificar assim:
Por exemplo, se eu disser "Sou contra a pena de morte", estou a exprimir uma atitude que, quando um dia for chamado a votar num referendo sobre a reposição da pena de morte como castigo para os criminosos, me fará votar contra o restabelecimento legal da pena de morte.
E acrescento:
Quando alguém me perguntar porque voto assim, digo: "Sou contra porque penso que a vida é o nosso bem mais precioso - Estou a exprimir um valor -; e também porque penso que todos os homens são recuperáveis - Estou a exprimir uma crença."
No próximo Verão irei tentar subir o Quilimanjaro. A espaços, vou lendo histórias de alpinistas, expedições e aventuras. Nos últimos dias, embrenhei-me nos relatos sobre Reinhold Messner.
Reinhold Messner é, consensualmente, nos dias de hoje, o maior alpinista de sempre. De currículo ímpar na exploração e escalada de montanhas por todo o mundo, um dia consciencializou, seguramente marcado, entre outras coisas, pela morte trágica do irmão e companheiro de aventuras, ligados unha-e-carne, o seguinte, que Caroline Alexander cristalizou num artigo que a National Geographic publicou, em várias línguas, no final de 2006:
"I am sure that the real key for understanding climbing is the coming back," Reinhold told me. "It means if you are really in difficult places, in dangerous places, if you are in ... thin air, and you come back, you feel that you got again a chance for life. You are reborn. And only in this moment, you understand deeply that life is the biggest gift we have." Reinhold was speaking from the perspective of a sage veteran of thirty-one 8,000-meter expeditions. There are few such veterans around. "In my generation, half of the leading climbers died in the mountains," he told me. For the 25-year-old survivor of Nanga Parbat, however, there was no question he had returned to climb again. (National Geographic, Nov2006)
Na nossa língua, a National Geographic, em Dezembro de 2006, escreve o seguinte: "Reinhold acredita que a chave para compreender a escalada é o regresso. Quero com isto dizer que, quando andamos por lugares difíceis, por lugares perigosos, a respirar ar rarefeito, e depois voltamos, sentimos que nos é dada uma nova oportunidade de viver. É um renascimento. E só nesse momento percebemos, de maneira profunda, qua a vida é o maior dom de todos. [...] Metade dos alpinistas mais importantes da minha geração morreu nas montanhas.
Os ritos culturais de tradição milenar que associamos à Páscoa não centram os seus actos na ideia de renascimento, mas, isso sim, na do mistério da Ressurreição. Bom, seja. Na dimensão razoável deste apontamento - que tem como destino desaparecer como o traço na água - o que quero acentuar é o seguinte: O importante é que, ciclicamente, nos reasseguremos que, tanto ao nível da experiência pessoal individual, como ao nível da experiência social e cultural, a vida tem sempre jeito e formas de recuperar. Mesmo quando lhe testamos os limites.
Se calhar, hoje mais do que nunca, precisamos de nos consciencializar disso. Mas, atenção! O que a tradição religiosa desta época do ano, bem assim como o relato de Messner nos dizem, é que a vida recupera a partir do nosso sofrimento e do nosso esforço voluntarioso. Nunca a partir da expectativa passiva de quem alguém velará por nós e por nós será a solução.
Por exemplo, se eu disser "Sou contra a pena de morte", estou a exprimir uma atitude que, quando um dia for chamado a votar num referendo sobre a reposição da pena de morte como castigo para os criminosos, me fará votar contra o restabelecimento legal da pena de morte.
E acrescento:
Quando alguém me perguntar porque voto assim, digo: "Sou contra porque penso que a vida é o nosso bem mais precioso - Estou a exprimir um valor -; e também porque penso que todos os homens são recuperáveis - Estou a exprimir uma crença."
No próximo Verão irei tentar subir o Quilimanjaro. A espaços, vou lendo histórias de alpinistas, expedições e aventuras. Nos últimos dias, embrenhei-me nos relatos sobre Reinhold Messner.
Reinhold Messner é, consensualmente, nos dias de hoje, o maior alpinista de sempre. De currículo ímpar na exploração e escalada de montanhas por todo o mundo, um dia consciencializou, seguramente marcado, entre outras coisas, pela morte trágica do irmão e companheiro de aventuras, ligados unha-e-carne, o seguinte, que Caroline Alexander cristalizou num artigo que a National Geographic publicou, em várias línguas, no final de 2006:
"I am sure that the real key for understanding climbing is the coming back," Reinhold told me. "It means if you are really in difficult places, in dangerous places, if you are in ... thin air, and you come back, you feel that you got again a chance for life. You are reborn. And only in this moment, you understand deeply that life is the biggest gift we have." Reinhold was speaking from the perspective of a sage veteran of thirty-one 8,000-meter expeditions. There are few such veterans around. "In my generation, half of the leading climbers died in the mountains," he told me. For the 25-year-old survivor of Nanga Parbat, however, there was no question he had returned to climb again. (National Geographic, Nov2006)
Na nossa língua, a National Geographic, em Dezembro de 2006, escreve o seguinte: "Reinhold acredita que a chave para compreender a escalada é o regresso. Quero com isto dizer que, quando andamos por lugares difíceis, por lugares perigosos, a respirar ar rarefeito, e depois voltamos, sentimos que nos é dada uma nova oportunidade de viver. É um renascimento. E só nesse momento percebemos, de maneira profunda, qua a vida é o maior dom de todos. [...] Metade dos alpinistas mais importantes da minha geração morreu nas montanhas.
Os ritos culturais de tradição milenar que associamos à Páscoa não centram os seus actos na ideia de renascimento, mas, isso sim, na do mistério da Ressurreição. Bom, seja. Na dimensão razoável deste apontamento - que tem como destino desaparecer como o traço na água - o que quero acentuar é o seguinte: O importante é que, ciclicamente, nos reasseguremos que, tanto ao nível da experiência pessoal individual, como ao nível da experiência social e cultural, a vida tem sempre jeito e formas de recuperar. Mesmo quando lhe testamos os limites.
Se calhar, hoje mais do que nunca, precisamos de nos consciencializar disso. Mas, atenção! O que a tradição religiosa desta época do ano, bem assim como o relato de Messner nos dizem, é que a vida recupera a partir do nosso sofrimento e do nosso esforço voluntarioso. Nunca a partir da expectativa passiva de quem alguém velará por nós e por nós será a solução.
terça-feira, abril 03, 2007
Ser professor, ontem, hoje e amanhã - uma precisão
Um eco muito interessante da minha colega e amiga Maria Eduarda levou-me a tentar precisar um pouco melhor os contornos da citação de Haim Ginott, traduzida e adaptada por Feliciano Veiga.
Fiz uma pequena pesquisa na Internet e, em resultado da mesma, permita-me Feliciano Veiga que eu apresente a história sem o ponto que ele acrescentou. Sim, na verdade, no caso do texto base, muitos Felicianos houve que, sensíveis à intensidade emocional, profunda em humanidade, da versão primordial, depois de a ouvirem, quando a contaram a outros, lhe acrescentaram o seu ponto.
Não tenho na minha posse, nem conheço a versão, tal qual ela aparece escrita no livro de Ginott. Lá chegarei, com a ajuda da Amazon. Mas pude, entretanto, chegar já ao seguinte:
Em The English Journal, Vol. 69, No. 7 (Out., 1980), pp. 14-18, num artigo intitulado "Children of the Holocaust", Judy Mitchell cita o texto Teacher and Child (Ginott, 1972), assim:
No primeiro dia de cada novo ano escolar, todos os professores de uma escola privada recebiam o seguinte texto do seu director:
Caro Professor: Sou um [uma?] sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos viram aquilo que nenhum homem deveria testemunhar: câmaras de gás construídas por sábios engenheiros. Crianças envenenadas por médicos eruditos. Crianças pequenas mortas por enfemeiras competentes. Mulheres e bebés abatidos e queimados por diplomados do liceu e de escolas superiores. É por isso que eu desconfio da educação.
O que eu peço é isto: Ajudem os vosso alunos a tornarem-se humanos. Os vossos esforços não deverão nunca produzir sábios monstros, psicopatas altamente competentes, Eichmanns eruditos.
Ler, escrever e contar são importantes na condição de que sirvam para tornar as nossas crianças mais humanas."
O Holocaust Museum Huston, no seu sítio na Internet (http://www.hmh.org/ed_faqs.asp), tem uma outra versão. Transcrevo-a para aqui directamente:
The late Chaim Ginott, who was a principal as well as a psychologist, included this comment told to him by a survivor of the Holocaust, on the last page of his book, Teacher and Child:
"I am a survivor of a concentration camp. My eyes saw what no man should witness: Gas chambers built by learned engineers, children poisoned by educated physicians, infants killed by trained nurses. Women and babies shot and buried by high school and college graduates. So, I am suspicious of education."
Ginott then added, "My request is: Help your students become human. Your efforts should never produce learned monsters, skilled psychopaths, educated Eichmans. Reading, writing, and arithmetic are important only if they serve to make our children more humane."
Pode-se ver que, mais ponto, menos ponto, as diferentes versões confrontam-nos com a mesma e fundamental evidência, ligada à profunda essência da função e da acção educativa do professor. No fundo, poder-se-á estabelecer a seguinte constatação: alguém (ocupado com a pedagogia, o ensino e a escola) pegou nas palavras (um dia escritas ou faladas) de outrem (que - ocorrência perfeitamente verosímil - terá testemunhado e sofrido na pele os horrores da intolerância macabra nazi) e fixou-as intencionalmente numa narrativa destinada a chegar às consciências de todos aqueles que são ou um dia serão professores de crianças e jovens. E as voltas que tais palavras fixadas têm dado acabam por atestar a ressonância que têm encontrado por toda a parte.
Mas, não obstante esta consonância, não deixemos de tomar consciência do seguinte: mesmo onde tudo parece pacífico e consensual convém que o nosso espírito crítico mantenha sempre um olho aberto. A bem da verdade, a bem da mais franca humanidade.
Fiz uma pequena pesquisa na Internet e, em resultado da mesma, permita-me Feliciano Veiga que eu apresente a história sem o ponto que ele acrescentou. Sim, na verdade, no caso do texto base, muitos Felicianos houve que, sensíveis à intensidade emocional, profunda em humanidade, da versão primordial, depois de a ouvirem, quando a contaram a outros, lhe acrescentaram o seu ponto.
Não tenho na minha posse, nem conheço a versão, tal qual ela aparece escrita no livro de Ginott. Lá chegarei, com a ajuda da Amazon. Mas pude, entretanto, chegar já ao seguinte:
Em The English Journal, Vol. 69, No. 7 (Out., 1980), pp. 14-18, num artigo intitulado "Children of the Holocaust", Judy Mitchell cita o texto Teacher and Child (Ginott, 1972), assim:
No primeiro dia de cada novo ano escolar, todos os professores de uma escola privada recebiam o seguinte texto do seu director:
Caro Professor: Sou um [uma?] sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos viram aquilo que nenhum homem deveria testemunhar: câmaras de gás construídas por sábios engenheiros. Crianças envenenadas por médicos eruditos. Crianças pequenas mortas por enfemeiras competentes. Mulheres e bebés abatidos e queimados por diplomados do liceu e de escolas superiores. É por isso que eu desconfio da educação.
O que eu peço é isto: Ajudem os vosso alunos a tornarem-se humanos. Os vossos esforços não deverão nunca produzir sábios monstros, psicopatas altamente competentes, Eichmanns eruditos.
Ler, escrever e contar são importantes na condição de que sirvam para tornar as nossas crianças mais humanas."
O Holocaust Museum Huston, no seu sítio na Internet (http://www.hmh.org/ed_faqs.asp), tem uma outra versão. Transcrevo-a para aqui directamente:
The late Chaim Ginott, who was a principal as well as a psychologist, included this comment told to him by a survivor of the Holocaust, on the last page of his book, Teacher and Child:
"I am a survivor of a concentration camp. My eyes saw what no man should witness: Gas chambers built by learned engineers, children poisoned by educated physicians, infants killed by trained nurses. Women and babies shot and buried by high school and college graduates. So, I am suspicious of education."
Ginott then added, "My request is: Help your students become human. Your efforts should never produce learned monsters, skilled psychopaths, educated Eichmans. Reading, writing, and arithmetic are important only if they serve to make our children more humane."
Pode-se ver que, mais ponto, menos ponto, as diferentes versões confrontam-nos com a mesma e fundamental evidência, ligada à profunda essência da função e da acção educativa do professor. No fundo, poder-se-á estabelecer a seguinte constatação: alguém (ocupado com a pedagogia, o ensino e a escola) pegou nas palavras (um dia escritas ou faladas) de outrem (que - ocorrência perfeitamente verosímil - terá testemunhado e sofrido na pele os horrores da intolerância macabra nazi) e fixou-as intencionalmente numa narrativa destinada a chegar às consciências de todos aqueles que são ou um dia serão professores de crianças e jovens. E as voltas que tais palavras fixadas têm dado acabam por atestar a ressonância que têm encontrado por toda a parte.
Mas, não obstante esta consonância, não deixemos de tomar consciência do seguinte: mesmo onde tudo parece pacífico e consensual convém que o nosso espírito crítico mantenha sempre um olho aberto. A bem da verdade, a bem da mais franca humanidade.
A condição educativa e afectiva do professor
Ainda em relação ao psicólogo israelita de quem falei no apontamento anterir, eis a sua citação mais famosa, que corre abundantemente pela Net:
I have come to a frightening conclusion.
I am the decisive element in the classroom.
It is my personal approach that creates the climate.
It is my daily mood that makes the weather.
As a teacher I possess tremendous power to make a child's life miserable or joyous.
I can be a tool of torture or an instrument of inspiration.
I can humiliate or humor, hurt or heal.
In all situations, it is my response that decides whether a crisis will be escalated or de-escalated, and a child humanized or de-humanized.
Teacher and Child, 1995
Permitam-me a tradução livre:
Cheguei a uma conclusão arrepiante.
Sou o elemento decisivo na sala de aula.
É a minha abordagem pessoal à aula que faz a sua envolvência.
É o humor que levo todos os dias para a escola que determina o clima da sala de aula.
Enquanto professor, tenho o poder tremendo de fazer a vida dos alunos infeliz ou alegre.
Tanto posso ser um instrumento de tortura como um veículo de inspiração.
Posso humilhar ou dispor bem, magoar ou cicatrizar.
Em todas as situações, é a minha reacção que determina se uma crise se acentua ou se desvanece, se um aluno se torna mais humano ou se mais se desumaniza.
I have come to a frightening conclusion.
I am the decisive element in the classroom.
It is my personal approach that creates the climate.
It is my daily mood that makes the weather.
As a teacher I possess tremendous power to make a child's life miserable or joyous.
I can be a tool of torture or an instrument of inspiration.
I can humiliate or humor, hurt or heal.
In all situations, it is my response that decides whether a crisis will be escalated or de-escalated, and a child humanized or de-humanized.
Teacher and Child, 1995
Permitam-me a tradução livre:
Cheguei a uma conclusão arrepiante.
Sou o elemento decisivo na sala de aula.
É a minha abordagem pessoal à aula que faz a sua envolvência.
É o humor que levo todos os dias para a escola que determina o clima da sala de aula.
Enquanto professor, tenho o poder tremendo de fazer a vida dos alunos infeliz ou alegre.
Tanto posso ser um instrumento de tortura como um veículo de inspiração.
Posso humilhar ou dispor bem, magoar ou cicatrizar.
Em todas as situações, é a minha reacção que determina se uma crise se acentua ou se desvanece, se um aluno se torna mais humano ou se mais se desumaniza.
segunda-feira, abril 02, 2007
Ser professor, ontem, hoje e amanhã
Há um livro que descobri, ou redescobri (na verdade, já o conhecia, mas não o tinha como referência especialmente valorizada). É sobre a indisciplina e a violência na escola, de Feliciano H. Veiga. É da Almedina e vai na 3.ª edição (2007).
No final no livro, mesmo a acabar, ele apresenta uma narrativa que foi buscar e adaptou de um livro best-seller de um psicólogo israelita, Haim Guinott, que morreu em meados dos anos 70, com a idade que eu tenho agora.
Revi há pouco tempo "A Lista de Schindler", vi muito recentemente o "Hotel Ruanda" e estou a ler "J. M. Barrie and the lost boys", a biografia do autor de Peter Pan, carinhosamente retratado no filme que não me canso de ver e rever "À procura da Terra do Nunca".
Diz assim Feliciano Veiga nessa narrativa que transcreve:
"No primeiro dia de aulas, o Presidente de uma Institução Educativa fazia distribuir pelos professores uma folha onde se lia:
Caro colega,
Sou um sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos chegaram a ver o que jamais algum homem deveria ter contemplado. Máquinas de guerra construídas por engenheiros sobredotados e eficientes; crianças envenenadas por médicos com muitos conhecimentos e talentos; recém-nascidos assassinados por enfermeiras muito entendidas; vi soldados de alta patente a matar e a queimar mulheres e crianças; muitos professores e alunos foram esperados às portas das escolas para serem fuzilados.
Enquanto Hitler pretendia levar a cabo a chamada solução final - exterminar os seus opositores e as raças ditas inferiores - a história dos homens sobre a terra pareceu parar. O número de pessoas assassinadas foi mais de 6 milhões. Parece inacreditável!... Mas... está gravado na história, a ferro e fogo!
Por tanto, mostro-me suspicaz cada vez que se pergunta o que significa a educação para o homem. Quero, por tanto, fazer-vos a seguinte petição: ajudem os vossos alunos, e os que vierem a ter, a tornarem-se seres mais humanos. Os vossos ensinamentos, a nossa comunicação não devem dirigir-se à produção de monstros de grande sabedoria, horrendos psicopatas, homens instruídos e educados como Eichman."
No final no livro, mesmo a acabar, ele apresenta uma narrativa que foi buscar e adaptou de um livro best-seller de um psicólogo israelita, Haim Guinott, que morreu em meados dos anos 70, com a idade que eu tenho agora.
Revi há pouco tempo "A Lista de Schindler", vi muito recentemente o "Hotel Ruanda" e estou a ler "J. M. Barrie and the lost boys", a biografia do autor de Peter Pan, carinhosamente retratado no filme que não me canso de ver e rever "À procura da Terra do Nunca".
Diz assim Feliciano Veiga nessa narrativa que transcreve:
"No primeiro dia de aulas, o Presidente de uma Institução Educativa fazia distribuir pelos professores uma folha onde se lia:
Caro colega,
Sou um sobrevivente de um campo de concentração. Os meus olhos chegaram a ver o que jamais algum homem deveria ter contemplado. Máquinas de guerra construídas por engenheiros sobredotados e eficientes; crianças envenenadas por médicos com muitos conhecimentos e talentos; recém-nascidos assassinados por enfermeiras muito entendidas; vi soldados de alta patente a matar e a queimar mulheres e crianças; muitos professores e alunos foram esperados às portas das escolas para serem fuzilados.
Enquanto Hitler pretendia levar a cabo a chamada solução final - exterminar os seus opositores e as raças ditas inferiores - a história dos homens sobre a terra pareceu parar. O número de pessoas assassinadas foi mais de 6 milhões. Parece inacreditável!... Mas... está gravado na história, a ferro e fogo!
Por tanto, mostro-me suspicaz cada vez que se pergunta o que significa a educação para o homem. Quero, por tanto, fazer-vos a seguinte petição: ajudem os vossos alunos, e os que vierem a ter, a tornarem-se seres mais humanos. Os vossos ensinamentos, a nossa comunicação não devem dirigir-se à produção de monstros de grande sabedoria, horrendos psicopatas, homens instruídos e educados como Eichman."
sábado, março 31, 2007
Dia da Terra, Earth Day, Jour de la Terre
Dia de la Tierra (es)
Γήινη ημέρα (gr)
Giorno della Terra (it)
Dia da Terra (pt)
Ziua Pamantului (ro)
(línguas dos países participantes no projecto de educação intercultural PLURALIA, que a Escola Secundária Eça de Queirós-Lisboa coordena)
Jour de la Terre (fr)
(língua oficial do projecto)
Earth Day (en)
(língua de disseminação)
O dia 22 de Abril é o dia da Terra.
Não nos esqueçamos, a Terra está muito doente. O dia 22 é, digamos, o dia de visitar a velha Gaia, a deusa da Terra, no Hospital.
Em Português (outros haverá interessantes também, concerteza):
http://www.confagri.pt/Ambiente/AreasTematicas/DomTransversais/Documentos/doc21.htm
Em Inglês (in English), http://earthday.wilderness.org/
E outro em Francês (en Français): http://www.jourdelaterre.org/
Γήινη ημέρα (gr)
Giorno della Terra (it)
Dia da Terra (pt)
Ziua Pamantului (ro)
(línguas dos países participantes no projecto de educação intercultural PLURALIA, que a Escola Secundária Eça de Queirós-Lisboa coordena)
Jour de la Terre (fr)
(língua oficial do projecto)
Earth Day (en)
(língua de disseminação)
O dia 22 de Abril é o dia da Terra.
Não nos esqueçamos, a Terra está muito doente. O dia 22 é, digamos, o dia de visitar a velha Gaia, a deusa da Terra, no Hospital.
Em Português (outros haverá interessantes também, concerteza):
http://www.confagri.pt/Ambiente/AreasTematicas/DomTransversais/Documentos/doc21.htm
Em Inglês (in English), http://earthday.wilderness.org/
E outro em Francês (en Français): http://www.jourdelaterre.org/
sexta-feira, março 30, 2007
Jorge de Sena, afinal, fez o mesmo!...
Na edição do Público de hoje, na página 45 do caderno principal, vem um artigo de Carlos Fiolhais, professor universitário e reputado cientista que habitualmente gosto de ouvir e ler.
O artigo, que comenta, em tom crítico e em defesa dos mestres (os professores), o enredo de programa de televisão, começa assim:
"Jorge de Sena, depois de zurzir longamente o romance Domingo à Tarde de Fernando Namora, rematava assim: E concluamos com uma nota comprovativa da total isenção com que foi escrito este artigo: eu nunca li nenhum romance de Namora, e muito menos este de que me ocupei. De onde deve concluir-se que a diferença fundamental entre a literatura autêntica e a literatura de consumo está em que, para falarmos desta última, não é necessário lê-la. (...)"
Bem!... O autor do comentário cinéfilo, que falei no apontamento anterior, estará, decerto, ufanando-se com esta chancela de Mestre!...
Na verdade, com exemplos destes, vindos de quem se alcandorou acima de nós, que poderemos nós exigir de quem está ainda abaixo dessa elite sapientíssima?...
O artigo, que comenta, em tom crítico e em defesa dos mestres (os professores), o enredo de programa de televisão, começa assim:
"Jorge de Sena, depois de zurzir longamente o romance Domingo à Tarde de Fernando Namora, rematava assim: E concluamos com uma nota comprovativa da total isenção com que foi escrito este artigo: eu nunca li nenhum romance de Namora, e muito menos este de que me ocupei. De onde deve concluir-se que a diferença fundamental entre a literatura autêntica e a literatura de consumo está em que, para falarmos desta última, não é necessário lê-la. (...)"
Bem!... O autor do comentário cinéfilo, que falei no apontamento anterior, estará, decerto, ufanando-se com esta chancela de Mestre!...
Na verdade, com exemplos destes, vindos de quem se alcandorou acima de nós, que poderemos nós exigir de quem está ainda abaixo dessa elite sapientíssima?...
domingo, março 25, 2007
Que se pode aprender com alguém que fala assim?...
Há poucos dias (Não tive oportunidade de escrever um apontamento nesse mesmo dia...), num breve intervalo de trabalho ao computador, em casa, apanhei um programa de crítica cinéfila em que o "conceituado" apresentador disse qualquer coisa assim: "O filme [tal e tal], eu penso que se mostra melhor com algumas imagens do próprio filme do que com palavras." A seguir - pasme-se! - acrescentou o seguinte: "Eu ainda não vi o filme, mas concerteza vou vê-lo para a semana."
Bem, confesso que fiquei boquiaberto. O programa não era em directo, era gravado. O que quer dizer que, se não fosse isto que o apresentador queria dizer, isto teria sido corrigido. Mas, não! Passou assim mesmo!
Ou há qualquer coisa que aqui me está a escapar, ou então, o homem não poderia ter dito o que disse sobre o filme... porque, afinal, ainda não o viu, não é?... E tenho a certeza de que ele não estava a falar de uma opinião alheia, mas dele próprio!
Para além da função educativa básica que qualquer canal de televisão tem, há aqui um critério de honestidade profissinal posto em causa. Ou não?...
Bem, confesso que fiquei boquiaberto. O programa não era em directo, era gravado. O que quer dizer que, se não fosse isto que o apresentador queria dizer, isto teria sido corrigido. Mas, não! Passou assim mesmo!
Ou há qualquer coisa que aqui me está a escapar, ou então, o homem não poderia ter dito o que disse sobre o filme... porque, afinal, ainda não o viu, não é?... E tenho a certeza de que ele não estava a falar de uma opinião alheia, mas dele próprio!
Para além da função educativa básica que qualquer canal de televisão tem, há aqui um critério de honestidade profissinal posto em causa. Ou não?...
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