quinta-feira, julho 31, 2025

#TOLERÂNCIA214 - PALESTINA: INTOLERANTES E COMPROMETIDOS

 #TOLERÂNCIA214 - PALESTINA: INTOLERANTES E COMPROMETIDOS

Fiquei na dúvida se dizia "comprometidos" ou "covardes"...

São cada vez mais os Governos que anunciam o reconhecimento do Estado da Palestina. Por mim, saúdo vivamente que assim seja.

Os Governos que não tomam posição de intolerância perante o sofrimento e a tragédia que o Estado de Israel continua a infligir à Faixa de Gaza e aos Palestinianos, na minha opinião, ou estão comprometidos com o Governo de Israel ou são covardes.

Por cá, em Portugal, saúdo o Partido Socialista, com o que lei na edição de hoje do Público:

«Na bancada do PS, que integrava o GPA [grupo parlamentar de amizade, com Israel]desde sempre, não há agora qualquer deputado interessado em pertencer-lhe devido à atitude mais radical de Israel no conflito na Faixa de Gaza desde Março, com atropelos ao direito internacional e aos direitos humanos. [...] "O PS sempre integrou os dois GPA desde que foram criados. A situação actual é fruto da situação intolerável que o Governo de Israel tem vindo a agravar desde Março deste ano"», argumenta Delgado Alves.

Que a Intolerância contra o Governo de Benjamin Netanyahu continue!

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quarta-feira, julho 30, 2025

#TOLERÂNCIA213 - NÃO HÁ TOLERÂNCIAS SEM TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA213 - NÃO HÁ TOLERÂNCIAS SEM TOLERÂNCIA

A ideia que hoje trago é a de que que não se tolera isto, ou aquilo, ou aqueloutro. Tolera-se isto e aquilo e aqueloutro. A tolerância não é disjuntiva, é copulativa.

Pedro Adão e Silva é colunista do diário Público, e assina na edição de hoje do jornal um artigo a partir do livro de memórias do jornalista [britânico] Daniel Finkelstein, em que relata as vidas dos seus avós, resistentes dos campos de concentração Nazis e da Sibéria, que encontraram uma nova vida na Inglaterra do pós-guerra. Diz Pedro Adão e Silva que «o livro inscreve-se numa tradição intelectual renovada, na qual descendentes de sobreviventes do Holocausto recuperam vivências familiares e, com isso, cumprem o dever moral de memória da memória. Nesse sentido, [o livro ] "Hitler, Stalin, Mum and Dad -A Family Memoir of Miraculous Survival" não difere de outros exercícios memorialísticos que, através das singularidades de histórias familiares, resgatam o passado e ajudam a impedir que este se repita.»

«a certo momento, Finkelstein reflecte sobre o processo de esquecimento do genocídio de judeus, iniciado logo em 1945. Os sobreviventes dos campos, muitas vezes, preferiam não falar, e, para os demais, a consciência do sucedido era colectivamente ingerível.

»Subitamente, poucos compreendiam a necessidade de estudar ideologias racistas ou de fixar a memória dos crimes do Holocausto. Aliás, assim que a guerra terminou, Wiener - cujo trabalho fora financiado pelos governos norte-americanos e britânico - perdeu o essencial do seu apoio. No entanto, com
financiamento privado, a biblioteca manteve-se viva e o seu mentor compreendeu que o seu propósito
não deveria limitar-se à compreensão do antissemitismo, pois este não podia ser isolado das outras formas de intolerância, ódio e racismo.

»Perdoem-me a longa digressão, mas, perante o que se passa em Gaza - um território marcado por um horror que recorda aquele que vitimou milhões de judeus nos campos de extermínio -, é inquietante pensar na manifestação de esquecimento destes actos. Como é possível que o Estado de Israel, erigido para resgatar o povo judeu do seu martírio histórico, seja capaz de infligir um terror absoluto ao
povo martirizado da Palestina?»

Tive curiosidade e fui procurar o livro. Sim, lá encontrei esta passagem:

«Por volta de 1960, a saúde de Alfred [Alfred Wiener (1885-1964), judeu alemão, intelectual e activista anti-nazi; avô materno de Daniel Finkelstein]começou a deteriorar-se. Reformou-se da Biblioteca – na

verdade, uma semi-reforma, pois só a morte poderia realmente pôr termo à sua vida laboral – em 1961, aos setenta e seis anos. Ao anunciar a sua decisão, enfatizou a necessidade de combater o problema mais amplo do racismo:

»"Sempre acreditámos que não adianta isolar o antissemitismo de todas as outras formas de intolerância e ódio nas relações humanas, e que não se pode combater com sucesso o preconceito antijudaico ignorando a barreira racial ou outras manifestações de racismo. Na Biblioteca, hoje, prestamos atenção não apenas ao antissemitismo e ao nazismo, mas também aos movimentos fascistas e racistas."

»Passado um ano ou dois, só conseguiu contribuir para este trabalho por correspondência. Cada vez mais acamado ou, quando muito, capaz de se sentar numa poltrona a ler.

»A 4 de Fevereiro de 1964, Alfred faleceu, pouco antes de completar setenta e nove anos, com Lotte e os meus pais ao seu lado. A notícia apareceu na maioria dos principais jornais da Grã-Bretanha, dos EUA e especialmente da Alemanha. "Alfred Wiener, o Homem que Arquivo os Dados Nazis", foi o título do artigo do The New York Times. O Presidente da República Federal da Alemanha, Heinrich Lübke, agradeceu-lhe publicamente pela sua "magnanimidade". O Chanceler Ludwig Erhard afirmou que Alfred seria longamente recordado na Alemanha e que fora um dos emigrantes mais importantes de sempre.

»Quando se reencontrou com as filhas em 1945 e elas lhe disseram que tinham deitado as suas condecorações de guerra ao mar, perto da Estátua da Liberdade, Alfred ficou perturbado. Isto parece desconcertante. Porque haveria ele de querer algo alemão, quanto mais insígnias militares? Certamente compreenderia que, naquelas circunstâncias, não valia a pena correr sequer o mais pequeno risco por uns pedaços de metal alemães.

»Mas deitar fora as suas medalhas negava duas coisas que eram fundamentais para Alfred. Ele acreditava no poder da verdade. Descobrir a verdade, revelar a verdade, ajudar as pessoas a compreender a verdade – esse fora o trabalho da sua vida. Em 1945, ainda aguardava a vindicação dessa crença. Não é difícil perceber porque é que este homem, com a sua fé na verdade, achou deprimente que a verdade do seu serviço e das suas condecorações de guerra fosse algo que tinha de ser escondido.

»No entanto, embora isto explicasse parte da sua reação, era a parte menor. O que terá pesado mais para Alfred, mais até do que a negação da verdade, foi a negação da sua identidade alemã. A indicação de que, no que lhe reservava o futuro, ser alemão era algo que seria melhor ser deixado nas profundezas.»

A proposta da reflexão de Daniel Finkelstein pede uma discussão bem objectiva: aprofundando a Educação da Tolerância, automaticamente estaremos a educar o combate ao anti-semitismo, ao racismo e a outras dinâmicas comportamentais de repulsa, discriminação e exclusão. As implicações para a escolha de focos de acção pedagógica são importantes.

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terça-feira, julho 29, 2025

#TOLERÂNCIA212 - A DESTRUIÇÃO EM MASSA DE GAZA É INTOLERÁVEL

 #TOLERÂNCIA212 - A DESTRUIÇÃO EM MASSA DE GAZA É INTOLERÁVEL

Intervenção do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, na sessão de encerramento da Conferência Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão da Palestina e Implementação da Solução de Dois Estados, em 28 de Julho de 2015:

Excelências,
Senhoras e Senhores,

Agradeço ao governo da França e ao Reino da Arábia Saudita pela organização desta conferência

internacional sobre a implementação da solução de dois Estados.

Estamos hoje aqui de olhos bem abertos – plenamente conscientes dos desafios que enfrentamos. Sabemos que o conflito israelo-palestiniano perdura há gerações – desafiando esperanças... desafiando a diplomacia... desafiando inúmeras resoluções e desafiando o direito internacional.

Sabemos que o conflito continua a ceifar vidas, a destruir futuros e a desestabilizar a região e o nosso mundo. Mas sabemos também que a sua persistência não é inevitável. Pode ser resolvido.

Isso exige vontade política e liderança corajosa. E exige verdade. A verdade é esta: estamos num ponto de rutura. A solução de dois Estados está mais distante do que nunca.

Excelências,

Nada pode justificar os horríveis ataques terroristas de 7 de outubro pelo Hamas e a tomada de reféns, os quais condenei repetidamente. E nada pode justificar a obliteração de Gaza que se desenrolou perante os olhos do mundo. A fome da população. O assassínio de dezenas de milhares de civis. A maior fragmentação do Território Palestiniano Ocupado. A expansão implacável dos colonatos. O aumento da violência dos colonos contra os palestinianos. A demolição de casas e o deslocamento forçado de populações. As alterações demográficas no terreno. A ausência de qualquer solução política credível.

E o apoio – expresso numa declaração do Knesset votada na semana passada – à anexação da Cisjordânia Ocupada.

Sejamos claros:

A anexação gradual da Cisjordânia ocupada é ilegal. Tem de parar. A destruição em massa de Gaza é intolerável. Tem de parar. As ações unilaterais que prejudicariam para sempre a solução de dois Estados são inaceitáveis. Têm de parar.

Excelências,

Estes não são eventos isolados. Fazem parte de uma realidade sistémica que está a desmantelar os alicerces da paz no Médio Oriente. E, no entanto, precisamente devido a estas realidades sombrias, devemos fazer ainda mais para concretizar a solução de dois Estados. A conferência de hoje é uma oportunidade rara e indispensável. Temos de garantir que não se torne mais um exercício de retórica bem-intencionada. Pode e deve servir como um ponto de viragem decisivo – um catalisador para progressos irreversíveis no sentido de pôr fim à ocupação e realizar a nossa aspiração comum de uma solução viável de dois Estados.

A solução de dois Estados continua a ser o único enquadramento enraizado no direito internacional, endossado por esta Assembleia e apoiado pela comunidade internacional. Especificamente:

Israel e Palestina, vivendo lado a lado em paz e segurança, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, com base nas linhas anteriores a 1967, com Jerusalém como capital de ambos os Estados – Em conformidade com o direito internacional, as resoluções da ONU e outros acordos relevantes.

Dois Estados independentes, contíguos, democráticos e soberanos, reconhecidos por todos e plenamente integrados na comunidade internacional. É o único caminho credível para uma paz justa e duradoura entre israelitas e palestinianos. E é condição 'sine qua non' para a paz em todo o Médio Oriente.

Excelências,

Israel, a Palestina e outros terão de tomar decisões difíceis neste caminho. Será necessária uma liderança corajosa e baseada em princípios de todos os lados. Estamos aqui para encorajar e apoiar esse esforço.

Obrigado por se reunirem para avançar esta causa essencial para os povos de Israel, da Palestina e para toda a humanidade. Obrigado.

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segunda-feira, julho 28, 2025

#TOLERÂNCIA211 - PÓS-VERDADE, 'FAKE NEWS, TRETAS (BULLSHIT): AS NOVAS VARIANTES DA ESTUPIDEZ

 #TOLERÂNCIA211 - PÓS-VERDADE, 'FAKE NEWS, TRETAS (BULLSHIT): AS NOVAS VARIANTES DA ESTUPIDEZ

Li na edição 'on-line' da Sciences Humaines, com a data de 19 de Julho, um artigo assinado por Sebastian Dieguez, neuropsicólogo e investigador no Laboratório de Ciências Cognitivas e Neurológicas da Universidade de Friburgo.

Em tempos em que os conceitos "fake news" e "desinformação" parecem funcionar como elementos absorventes do mal-informar, dificultando a percepção clara das mentiras, dos seus autores, e da determinação de estratégias adequadas para combater as mentiras e os aldrabões, o texto de Sebastian

Dieguez parece-me oportuno e útil para um proveitoso esclarecimento conceptual: porque se tolera o "artista da treta" como não se toleram outros aldrabões?

Vamos ao texto, ou melhor, ao primeiro terço dele, o artigo é muito grande.

«Quando a verdade se torna acessória e a desfaçatez faz lei, a estupidez ['connerie' no original francês] 2.0 instala-se no cerne do debate público. Bem-vindos à era da treta [do 'bullshit', da parvoíce].

»Num contexto de tensões diplomáticas, terrorismo e guerras intermináveis, de destruição metódica do nosso ambiente e de uma economia que só beneficia um punhado de indivíduos — aliás, sem indícios de que sejam particularmente inteligentes —, a nossa época parece totalmente devotada ao triunfo da estupidez. E se, no fundo, tudo isto não passasse de treta [bullshit]?

»Não que a estupidez não exista ou que a situação actual deixe de ser alarmante. Proponho antes que o que parece ser um declínio generalizado da inteligência se compreende melhor se interpretado como um aumento da treta. Na verdade, a estupidez não é — ou não é apenas — o oposto da inteligência. Pode-se ser muito inteligente e muito parvo: basta colocar qualquer intelectual num cargo político ou incentivar um qualquer especialista a falar sobre um tema que não domina. O que daí resulta chama-se treta.

»Segundo a célebre análise do filósofo Harry Frankfurt, a essência da treta é uma indiferença perante a verdade. Ao contrário do mentiroso, que precisa de manter um olho na verdade para a distorcer ou ocultar, o 'artista da treta' está-se nas tintas. Desata a dizer o que lhe vem à cabeça, desde que lhe convenha, sem qualquer preocupação com a veracidade ou falsidade do que afirma. Desbunda alegremente, e para tal dispõe de múltiplas estratégias: cortina de fumo, confusão deliberada, mudança de assunto, obscurantismo, lirismo, solenidade afetada, linguagem burocrática, discurso oco, tanga… Seja como for, o 'artista da treta', como diz Frankfurt, procura «safar-se» a custo zero, fingindo que diz algo quando na realidade não diz nada — no sentido de que não transmite qualquer informação relevante. A treta é, assim, uma forma de camuflagem epistémica: faz-se passar por contributo para a discussão, enquanto obstrui o seu avanço. É, em suma, o oposto do progresso discursivo.

»Porque toleramos este parasita intelectual? Afinal, o mentiroso, quando desmascarado, é geralmente repreendido, desprezado e rejeitado; já o 'artista da treta' parece agir com total impunidade. Por um lado, somos excessivamente indulgentes com a treta: se alguém diz qualquer disparate, o nosso primeiro reflexo é tentar encontrar sentido no seu discurso, inferir como poderá ser relevante na situação dada e, se necessário, fornecer uma interpretação que satisfaça essa necessidade. Muitas vezes, são as próprias vítimas da treta que fazem grande parte do trabalho por quem a produz.

»Por outro lado, a treta beneficia também de certa cultura predominante: se a desfaçatez, a autoconfiança, a 'autenticidade' e a 'sinceridade' forem mais valorizadas do que o simples acto de dizer algo claro e correcto, então a treta não só passará despercebida como poderá prosperar. Frankfurt concluía a sua análise com estas palavras: «A própria sinceridade é treta». Falar «com o coração», exprimir-se «com ardor e paixão», dizer «o que se pensa realmente», conversar «homem para homem», ser «directo» e «franco como um alqueire» — estes são, hoje, valores muito mais celebrados do que o rigor, a prudência, a precisão e a exactidão, chegando mesmo a substituí-los.

»Se esta análise estiver correcta, parece que temos uma explicação para o surgimento da «pós-verdade», definida pelos dicionários Oxford (que a elegeram a «palavra do ano» em 2016) como um adjetivo que descreve «circunstâncias em que os factos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública do que os apelos à emoção e às crenças pessoais». O corolário imediato desta situação seria que qualquer pessoa que não partilhe a nossa opinião está 'de facto' errada, procura manipular-nos, é profundamente imoral e não respeita as nossas crenças — que são a nossa verdade. Daí resulta uma polarização do debate.

»Neste processo infernal, naturalmente, a verdade, os factos, a realidade das coisas, o que é verdadeiramente assim ou não, tornam-se conceitos totalmente secundários — quando não francamente suspeitos. Um observador imparcial, perante esta dinâmica em acção, não teria outra opção senão questionar-se: no fundo, não será tudo isto um pouco estúpido?

»Treta, pós-verdade, factos alternativos, notícias falsas e teorias da conspiração serão simplesmente os novos nomes que damos à parvoíce

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domingo, julho 27, 2025

#TOLERÂNCIA2010 - A TOLERÂNCIA E A INVEJA

 #TOLERÂNCIA2010 - A TOLERÂNCIA E A INVEJA

Com sabor a homilia domingueira, bem poderia o padre celebrante discorrer a partir deste meio verso de Fernando Pessoa: «a minha alma não tolera». E o que é que a alma do sujeito poético não tolera? E quanta inveja alimenta a intolerância? Vale a pena ler o poema na íntegra. Num ambiente de reflexão comungada por várias pessoas, o proveito certamente será grande para todas elas. No fundo, como se deseja que sejam as celebrações religiosas de sábado ou domingo.

«O pensar, e o pensar sempre / Dá-me uma forma íntima e (…)(1) / De sentir, que me torna desumano. / Já irmanar não posso o sentimento / Com o sentimento doutros, misantropo / Inevitavelmente e em minha essência.

»Toda a alegria me gela, me faz ódio, / Toda a tristeza alheia me aborrece, / Absorto eu na minha, maior muito / Que outras. E a alegria faz-me odiar / Porque eu alegre já não posso ser, / E, conquanto

o não queira assim sentir / Sinto em mim que a minha alma não tolera / Que seja alguém do que ela mais feliz. / O rir insulta-me por existir, / Que eu sinto que não quero que alguém ria / Enquanto eu não puder! Se acaso tento / Sentir, querer, só quero incoerências / De indefinida aspiração imensa, / Que mesmo no seu sonho é desmedida. / E às vezes com pensar sinto crescer / Em mim loucuras de (…) / E impulsos que me transem de terror / Mas são apenas (…) e passam. / Mais de sempre é em mim (quando não penso / E estou no pensamento obscurecido) / Uma vaga e (…) aspiração / Quiescente, febril e dolorosa / Nascida do (…) pensamento / E acompanhando-o comovidamente / Nas inércias obscuras do meu ser.»

(1) As reticências entre parêntesis significam palavras do autor que não se conseguiram identificar.

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sábado, julho 26, 2025

#TOLERÂNCIA209 - SER TOLERANTE É SER CIDADÃO ACTIVO

 #TOLERÂNCIA209 - SER TOLERANTE É SER CIDADÃO ACTIVO

Muitas vezes, por mais que a gente pense que a nossa voz é muito importante e deve ser ouvida, o melhor que há a fazer é unir a nossa voz a outros, à escrita dos outros. É o que agora faço. Juntos, a nossa voz pode chegar mais longe. Temos de saber não tolerar mais e passar à acção que o mostre, que pare o que é preciso parar.

Em Gaza, a Tolerância nega a Humanidade, a Solidariedade, o Respeito, a Empatia, os Valores, a Democracia, os Ideais de um mundo melhor, amigos da Diversidade dos Povos e das Culturas Humanas.

Tiago Luz Pedro escreveu assim hoje no editorial do Público:

«Há momentos em que a dignidade do mundo se mede pelo silêncio que se aceita. Gaza é, hojе, esse espelho intolerável: uma terra sitiada onde crianças morrem à fome, hospitais operam sem anestesia e a água potável é um luxo inalcançável. Não se trata de uma calamidade natural. Trata-se de uma
engenharia deliberada da escassez, em que a fome se tornou instrumento de guerra e a sobrevivência, um mero acaso estatístico.

»Nenhuma democracia digna desse nome pode pactuar com a punição colectiva de um povo inteiro. E, no entanto, é isso que se normaliza dia após dia em Gaza. Israel, com o argumento legítimo da autodefesa, ultrapassou há muito os limites da proporcionalidade. Usa o bloqueio como arma, compromete corredores humanitários, externaliza a distribuição da ajuda a actores privados e sem controlo. O resultado está à vista: crianças com corpos de pele e osso, mães que cavam valas comuns, civis que são alvos enquanto correm por um saco de arroz.

»Mais de cem pessoas morreram de fome em Gaza desde o início da guerra. Quase metade dessas mortes ocorreu só neste mês de Julho. Mais de mil civis foram mortos enquanto tentavam obter ajuda humanitária. Estima-se que 16% das crianças só na cidade de Gaza sofram de desnutrição aguda.

»A comunidade internacional observa, condena, mas hesita. Os Estados Unidos protegem Israel de sanções na ONU. A Europa debate-se entre a culpa histórica e o cálculo geopolítico. É neste contexto que a decisão de Emmanuel Macron de reconhecer formalmente o Estado da Palestina, em Setembro, adquire um significado maior. A França torna-se o primeiro país do G7 a assumir que a única saída possível para este ciclo de destruição é a solução dos dois Estados - e que continuar a tratar os palestinianos como um povo sem direitos nem futuro é prolongar o ciclo do ódio e semear um futuro de novos radicais e novos massacres.

»É, acima de tudo, um apelo à consciência internacional. Porque nenhuma democracia se pode construir sobre a miséria absoluta de outro povo. E porque o Ocidente, que tantas vezes invoca o passado para justificar o presente, não pode ignorar que também o Holocausto começou com a desumanização gradual de um povo tornado invisível.

»Primo Levi escreveu que, nos campos de extermínio, a primeira morte era a da linguagem: quando já não se encontravam palavras parа nomear a destruição de um homem. Gaza é hoje a imagem vívida desse abismo moral. O que está em causa não é apenas a segurança de Israel nem o destino da Palestina. É a decência de todos nós.»

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P.S. - Pedi a um 'chatbot', o "ChatOpen", que me criasse uma imagem que ilustrasse o primeiro parágrafo do editorial. Porquê a este? Porque há pouco mais de um mês, sem saber como, pensando que estava a pagar uma coisa, paguei outra, e o ChatOpen papou-me uma inscrição anual de 100 euros. Ora bem, agora o ChatOpen recusou-se a criar a imagem! Disse que «Your prompt may contain text that is not allowed by our safety system.» É a censura — Paga por nós! — do Grande Irmão! É um desafio para a Liberdade de Expressão e a Defesa dos Direitos Humanos.

sexta-feira, julho 25, 2025

#TOLERÂNCIA208 - DE VOLTA A GANDHI, À TOLERÂNCIA MÚTUA

 #TOLERÂNCIA208 - DE VOLTA A GANDHI, À TOLERÂNCIA MÚTUA

Na estação da #TOLERÂNCIA10 parámos para ouvir Gandhi. Ele falava da "Tolerância Mútua".

Guardei um apontamento dessa etapa, a ideia era lá voltar. Aconteceu hoje.

Na obra da UNESCO "Todos os homens são irmãos", , na edição comemorativa do centenário 1869-1969, na página 143, transcreve-se este pensamento de Gandhi:

«A regra de ouro do comportamento é, portanto, a tolerância mútua, uma vez que nunca pensaremos todos da mesma forma e apenas veremos a Verdade em fragmentos e sob diferentes perspectivas. A consciência não é igual para todos. Assim, embora seja um bom guia para a conduta individual, impor essa conduta a todos constituirá uma intolerável interferência na liberdade de consciência de cada um.»

Mahatma Gandhi nunca ganhou o Prémio Nobel da Paz, apesar de ter sido indicado cinco vezes, em 1937, 1938, 1939, 1947 e, finalmente, poucos dias antes do seu assassinato em Janeiro de 1948. O

comité organizador do Nobel, que, ao que parece, até por volta de 1960, tinha uma preferência muito especial por candidatos europeus e norte-americanos, ter-se-á arrependido das suas opções contra Gandhi.

Gandhi não foi um santo, mas quantos dos laureados com o Prémio Nobel da Paz o foram?

Várias vezes Gandhi usou a adjectivação "mútuo/a", e não apenas em relação a sentimentos positivos; por exemplo, ele também falou em "inveja mútua".

Esta ideia, esta dinâmica comportamental da mutualidade, da reciprocidade, tem um potencial de modificação positiva do relacionamento entre pessoas e grupos muito grande. Não vou riscar de vez esta estação.

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quinta-feira, julho 24, 2025

#TOLERÂNCIA207 - INTOLERÂNCIA, DAS PALAVRAS À ACÇÃO

 #TOLERÂNCIA207 - INTOLERÂNCIA, DAS PALAVRAS À ACÇÃO

O que está a acontecer na Faixa de Gaza, em razão do que Israel (o Estado de Israel, não estou a falar dos judeus, não me venham com a acusação de antissemitismo) tem mantido de destruição e morte, desafia-nos a todos, nas palavras que dizemos e nas acções que praticamos.

Nunca como agora os líderes políticos europeus negaram a identidade histórica dos Direitos Humanos e dos Valores da Paz e da Solidariedade da União Europeia. É intolerante o comportamento do Estado de Israel; e é intolerante o comportamento da União Europeia e dos seus membros. O Reino Unido envergonha a Magna Carta e os Estados Unidos da América os princípios constitucionais fundadores.

Reconheço que o protesto e as manifestações dos cidadãos, em todo o mundo, têm sido muitos, mas sem qualquer sucesso prático, têm sido, em geral, bem educadinhos. Daquele jeito que os Governos gostam para mostrarem que garantem a liberdade de expressão.

Há uma banda desenhada da Mafalda em que a mãe lhe diz que vai à lavandaria e pede à Mafalda que tome conta do bebé por um minuto. A Mafalda anui com um simples «Claro.» A seguir, chega-se ao bebé e, marota, tira a chupeta da boca ao bebé. Resultado: o bebé rompe num berreiro de mil decibéis, a Mafalda entra em pânico, volta a pôr a chupeta na boca do bebé, o bebé sossega. Desabafa a Mafalda: «Se os povos soubessem usar os pulmões como tu, os ditadores iriam ver como é que elas lhes mordiam!»

Pois é, os cidadãos ainda não berraram o suficiente. Fazes falta, Quino... Fazes muita falta! Para nos pores ao espelho e tomarmos consciência das nossas contradições. Dos ditadores e dos (des)governantes do Mundo já não vale a pena falar.

No Público de hoje, Manuel Serrano, que é apresentado como analista de assuntos europeus, políticа
internacional e processos eleitorais, diz que «O silêncio europeu sobre Gaza não é apenas ensurdecedor - é uma humilhação que nos compromete, um olhar para o outro lado intolerável.
Comparativamente, fomos rápidos a levantar a voz contra Moscovo, firmes a condenar, ágeis a sancionar, apesar de Orbán e Fico. Porém, diante de Telavive, tornámo-nos hesitantes. Este é o sintoma de um contágio moral que já não conseguimos disfarçar: o continente que se orgulha dos seus princípios universais aplica-os consoante o rosto do agressor ou o interesse do momento. Dois pesos, duas medidas. Dois códigos que não se anulam, mas se acumulam, fragilizando-nos, porque cada incoerência deixa uma cicatriz que nenhum discurso consegue apagar.
Mais do que uma omissão, a Europa assiste ao avanço de um projeto que redefine, sem pudor, a barbárie no século XXI. A "cidade humanitária" - expressão cínica do ministro da Defesa israelita para designar a construção sobre as ruínas de Rafah - não passa de um eufemismo para um campo de concentração.
São palavras do próprio Ehud Olmert, ex-primeiro-ministro israelita, que não hesita em dar-lhe nome: uma prisão em grande escala, uma limpeza étnica disfarçada de política. Forçar a população palestiniana a viver enclausurada, proibida de sair - salvo para um exílio forçado - é um crime que não admite desculpas.»

12 páginas mais à frente, no mesmo jornal, Rita Siza escreve assim de Bruxelas: «Os termos do acordo que a chefe da diplomacia europeia fechou com o Governo de Israel para um reforço significativo da ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza não foram tornados públicos, mas, num ponto de informação aos Estados--membros da União Europeia, ontem, os serviços dirigidos por Kaja Kallas admitiram que "os números estão muito abaixo" das metas estabelecidas, e "são muito inadequados" para responder a uma situação que a cada dia se torna mais "intolerável".»

É outra vez o desafio que leva das palavras à acção: que fazem os líderes da União Europeia perante o que se torna a cada dia mais intolerável? Repito: os que eles fazem envergonham os Valores Europeus.

E nós — profissionais do Ensino, da Educação, da Acção Social, da Psicologia Comunitária — que fazemos? Quando as Mafaldas, os Guis, os Filipes, as Liberdades, os Manelitos, as Susanitas e os Miguelitos vierem ter connosco e nos pedirem respostas para as suas acutilantes perguntas e reflexões, que lhes vamos dizer? Vamos também envergonhar a riquíssima tradição pedagógica de tantos Mestres e Mestras que povoam a História Europeia desde que a reconhecemos na Antiguidade Clássica?

Que Pedagogia pedem estas realidades nas aulas de Educação para a Cidadania?

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quarta-feira, julho 23, 2025

#TOLERÂNCIA206 - QUANDO SE INVOCA A TOLERÂNCIA ZERO

 #TOLERÂNCIA206 - QUANDO SE INVOCA A TOLERÂNCIA ZERO

Na entrevista que a Sábado hoje publica ("Entrevista de vida a ÁLVARO BELEZA"), o entrevistado responde, a certa altura:

Pergunta: «Mas quando entrou depois de 2000, ainda fazia e faz sentido ser maçom?» Resposta: «Ah, claro que faz. Hoje em dia, então, faz mais sentido que nunca. Porque este é um mundo intolerante. Na maçonaria, pratica-se a tolerância pelas convicções dos outros.»

Ainda na Sábado, mais à frente, no artigo "Guia para ser candidato", escrito por Rita Rato Nunes, lê-se assim, no remate final: «Pedro Pinto [do partido Chega] acrescenta: "Tolerância zero à corrupção."»

Penso que vivemos tempos em que os sentimentos de insatisfação e de insegurança são de grande monta, e talvez se distribuam uniformemente por todos os países do mundo, pelo menos naqueles países em que se vulgarizou o uso do telemóvel e da Internet, e as notícias e as "desnotícias" chegam em abundante cascata aos murais das redes sociais e os confrontos entre líderes políticos e militares abrem os telejornais dos canais televisivos. Abrem e ficam quase até ao fim.

Nem o médico sueco Hans Rosling, nem o psicólogo canadiano naturalizado norte-americano Steven Pinker, nem quaisquer outros optimistas como eles, parecem capazes de convencer quem quer que seja do empolgante e promissor Futuro da Humanidade e da saudável Saúde do Ambiente do Planeta Terra.


Quase podemos dizer que a intolerância campeia. As pessoas, pelo menos as do chamado Mundo Ocidental, parecem viver na ânsia de retorno a uma (mítica?) sensação de tranquilidade e clima social sereno e seguro. Numa palavra, as pessoas querem paz de espírito, não querem acordar todos os dias com mais uma notícia de confronto, de oposição, de acusações e recriminações de grupos de pólos — e políticos! — contrários.

Quanto à Tolerância Zero, tem muito que se lhe diga, como já por aqui aflorei.

Conceito, ao que parece, com origem nos Estados Unidos, filho da "Broken Windows Theory" [Teoria das Janelas Partidas], inspiradora de estratégias policiais de contenção da criminalidade pública, é frequentemente usado quando, aparentemente fartos até à raiz dos cabelos, polícias e políticos procuram afirmar-se seguros e firmes na sua autoridade e gritam «Basta!» aos problemas.

Com tanta gente, de todo o espectro partidário, a propor-se combater a corrupção; e a, até agora, nunca ninguém o ter conseguido, talvez não seja uma perda de tempo fazer-se uma quase ingénua pergunta: «O que é a corrupção?»

Ao fim destas mais de 200 jornadas pela geografia da Tolerância, talvez o nosso pensamento rapidamente nos ponha a sugestão: «Como é, vamos fazer um perfil da Corrupção?» Por mim, acho a ideia interessante... A corrupção não castigada de uns poucos gerará a insatisfação legítima de muitos... Da insatisfação legítima da corrupção não castigada à conclusão de que isto está tudo mal a distância é reduzida...

Em Portugal, chegou-se a constituir uma "Alta Autoridade Contra a Corrupção"! A regulamentação legal foi publicada no Diário da República n.º 226/1986, Série I de 1986-10-01, páginas 2812 - 2814. Começava assim:

"A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea (d) do artigo 164.º e do n.º 2 do artigo 169.º da Constituição, o seguinte: ARTIGO 1.º (Definição): Junto da Assembleia da República funciona a Alta Autoridade contra a Corrupção, tendo por incumbência desenvolver as acções de prevenção, de averiguação e de denúncia à entidade competente para a acção penal ou disciplinar dos actos de corrupção e de fraudes e cometidos no exercício de funções administrativas, nomeadamente no âmbito da actividade dos serviços da administração pública central, regional e local, das Forças Armadas, dos institutos públicos, das empresas públicas e de capitais públicos, participadas pelo Estado ou concessionárias de serviços públicos, de exploração de bens do domínio público, incluindo os praticados por titulares dos órgãos de soberania." Passaram 40 anos... No que à corrupção e à percepção dos cidadãos sobre a corrupção diz respeito, o que mudou?

Uma vista de olhos rápida por estudos que avaliam o sucesso das medidas de Tolerância Zero deixa-me decepcionado. Uma ideia que ficará na cabeça das pessoas é que a Tolerância Zero só apanha o peixe pequeno, nunca o peixe graúdo.

Parece-me que o conceito e a atitude da Tolerância Zero precisa também de Educação e de Pedagogia. Registo e guardo, vou ter de voltar a esta estação. É que, nesta altura, já temos ideia de que há coisas, há momentos, há comportamentos que a partir de determinado momento não podem contar mais com a nossa tolerância: qual é a distância entre esse momento e a Tolerância Zero? Não sei responder, tenho de ruminar mais sobre este assunto.

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terça-feira, julho 22, 2025

#TOLERÂNCIA205 - O RISO, COMPREENSÃO E TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA205 - O RISO, COMPREENSÃO E TOLERÂNCIA

Como já por aqui fui dizendo, leio, estudo muito sobre o sono, comportamento biológico tão importante que ocupa cerca de um terço da vida dos seres humanos.

O desenvolvimento das sociedades têm dificultado a relação do Homem com o sono. Os abusos na redução do tempo do sono criam riscos tremendos para a nossa saúde física e mental.

Volto a um livro de que já por aqui falei, a sua leitura tem sido atropelada por outros livros que circunstancialmente tenho considerado prioritários, até mesmo outros livros sobre o sono.

Na transcrição que vou fazer, a perturbação do sono junta a narcolepsia a a cataplexia. São essencialmente 3 falas diante do médico (o autor do livro), um casal cujo relacionamento entre si e o ambiente social de bem-estar que criavam à sua volta era por muitos reconhecido como exemplar e único.

Repare-se como os nossos comportamentos podem promover a Tolerância. Repare-se na essência saudável do comportamento do riso. Estão em jogo a empatia, a compreensão, a tolerância e o respeito. E não preciso de dizer mais nada. Vamos ao texto:

«[...] Para ambos [Phil, o doente, e Kim, a mulher] , as atitudes de outros acrescentam o insulto aos danos [Está a falar dos efeitos da catalepxia]. «É uma doença invisível. Para as outras pessoas, o Phil parece estar bem e ser normal», diz a Kim.

«As pessoas não compreendem de todo a doença. Também nos debatemos com isso. O Phil, que Deus o abençoe, tem de se explicar um milhão de vezes a certas pessoas de cada vez que as vê, porque elas continuam sem perceber. Não me parece que as pessoas sejam sensíveis à pressão e à tensão que isto

exerce sobre nós como unidade familiar, como casal, como alguém que tem de lidar com a doença. Nem a quanto mais esforço e energia são necessários para aguentar tudo e prosseguir com a vida, com o trabalho, os filhos, a família e os amigos.»

Ela continua:

«As pessoas ainda acham que é muito engraçado. Vamos a um evento ou algo do tipo dos espectáculos dos nossos filhos na escola, e em seguida alguém pode fazer uma piada como: «O Phil conseguiu ficar acordado?» Interrogo-me: «Porque é que acham que tem graça? Aquilo será sequer uma pergunta? Como é que vos passou pela cabeça perguntar isso? Se o Phil tivesse cancro, perguntavam "O Phil sentiu-se mesmo doente durante o espectáculo?" Não perguntavam! Então, não perguntem. Não tem graça.»

Penso que a ira da Kim deriva de um desejo de proteger o Phil. Ele é um pouco mais tolerante. «Não me importo de me rir do assunto. Penso que se eles compreenderem do que se trata, podemos rir-nos todos. Porém, se não se percebe e se é ignorante, não acho que tenha piada alguma.»(1)

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(1) Guy Leschziner, "O Cérebro Nocturno - pesadelos, neurociência e o mundo secreto do sono", 20|20 Editora (2020 Vogais), 2020

segunda-feira, julho 21, 2025

#TOLERÂNCIA204 - OS "AMIGOS" QUE NEGAM A TRAGÉDIA HUMANITÁRIA EM GAZA

#TOLERÂNCIA204 - OS "AMIGOS" QUE NEGAM A TRAGÉDIA HUMANITÁRIA EM GAZA

A questão é: que fazer com os amigos que negam a tragédia humana em Gaza? Quais são os limites que a Tolerância deve ter?

Defender o direito de Israel a defender-se da incursão perpetrada pelo Hamas no dia 7 de Outubro de 2023, é uma coisa. Inclusivamente, tomando-se esse dia como o primeiro depois de um tempo em que tudo estava justo naquela região do mundo entre Palestinianos e Judeus.

Calar-se perante o que Israel está a fazer na Faixa de gaza é outra coisa. Se um dia Jesus respondeu a Pedro que deveria perdoar 70 vezes 7 a um irmão que pecasse contra ele, o que se vê na Faixa de Gaza é que parece que o governo israelita esta determinado a castigar 70 vezes 7.

Mais uma vez, hoje dou uma pequena volta, bastou uma pequena volta, ao mural do Facebook, e encontro risos a publicações que mostram o que se passa na Faixa de Gaza. Encontro também publicações que dizem que são mentiras, boatos, tolices, disparates e balelas o que se conta da fome, das mortes por inanição, a destruição dos cuidados de saúde de pessoas martirizadas por serem palestinianas.

Fico incrédulo perante os requintes de desumanidade que gente de bom nome, de boas famílias, diz, escreve, reage perante tanto sofrimento humano, perante a tragédia daqueles pais e mães que querem dar comida e protecção aos filhos. Tais pessoas nem sequer têm o pudor de se remeterem ao silêncio. Ostensivamente negam-no, para tais pessoas não se passa nada — apoiam que os governantes e militares israelitas continuem a barbárie, destas tais pessoas, eles, os governantes e militares, recebem "educada" anuência.

O mínimo que posso fazer é "desamigar" pessoas assim. Foi o que acabei de fazer. Desisti de qualquer intenção e esforço de mudar ideias e pontos de vista. Aquelas pessoas sabem que querem que as coisas sejam assim. A minha tolerância chegou ao limite. Repito: desamiguei um "amigo" do Facebook. Infelizmente, não é nada que ajude o tão sofrido povo palestiniano.

Àqueles que perversamente, desumanamente negam a tragédia do Povo Palestiniano, permito-me lembrar a fórmula completa do Talmude (Sanhedrin 4:4-5, Rabi Jack Abramowitz), que o filme "A Lista de Schindler" popularizou numa forma bem mais abreviada: "Quem salva uma vida salva o mundo inteiro".

É esta, então, a forma completa que os autores e os apoiantes do massacre do Povo Palestiniano evitam olhar e tomar consciência:

«Apenas um homem, Adão, foi originalmente criado para nos ensinar que, se alguém destruir uma única vida, é como se tivesse destruído um mundo inteiro, enquanto que, se alguém salvar uma única vida, é como se tivesse salvo um mundo inteiro.»

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domingo, julho 20, 2025

#TOLERÂNCIA203 - O VALOR DOS INIMIGOS

 #TOLERÂNCIA203 - O VALOR DOS INIMIGOS

Todos os dias recebo na minha caixa de emails principal um email da "Sélection Quora". O de hoje dava destaque a duas publicações do "Cercle des entrepreneurs" (Círculo de Empreendedores, "Associação de empresários reunida 'online' com o objetivo de promover o empreendedorismo").

A primeira das publicações é de Emmanuel Kasongo, que se apresenta como co-fundador do Círculo de Empreendedores Africanos, e diz dele mesmo o seguinte: «Olá, Sou o Emmanuel Kasongo, também conhecido como Emmanuel.tmt, jovem empresário congolês residente em Lubumbashi. Sou designer gráfico, 'community manager' e coach em desenvolvimento pessoal e financeiro. Jovem empreendedor e apaixonado por tudo o que diz respeito ao digital, inovação, tecnologias, finanças, avicultura e empreendedorismo, acompanho criadores de empresas, figuras públicas e políticas em diversas áreas. Cultivo um espírito de iniciativa e inovação, transmitindo a minha paixão pelo digital através das minhas criações gráficas e diversas competências.»

Embora o Sélection Quora divulgue o texto hoje, a data da publicação original é de 13 de Dezembro do ano passado. Depois de o ler, li também os comentários que recebeu. Acho o texto interessante, decidi juntá-lo aos meus recursos da Pedagogia da Tolerância.

O texto tem como título: "Os inimigos desempenham um papel crucial." É curto, lê-se bem.

"Para acedermos plenamente ao amor e à compaixão, é indispensável praticar a paciência e a tolerância.

É por isso que devemos esforçar-nos por encarar o ódio de um inimigo como uma oportunidade para fortalecer a nossa paciência e tolerância, tratando os nossos inimigos com a maior atenção,

precisamente pelas oportunidades que nos oferecem para amadurecer.

Os inimigos são por vezes mais úteis do que os amigos. Sim, se analisarem bem as coisas, perceberão que são eles os vossos verdadeiros amigos. Porque são implacáveis, não vos poupam, sublinham tudo o que está mal.

Dir-me-eis: «Mas muitas vezes exageram!» Sim, é verdade, mas não importa, servem-vos como microscópios, e isso é muito útil por vezes, os microscópios; os cientistas usam-nos todos os dias. Permitem ver pormenores que, de outro modo, passariam despercebidos.

Portanto, se querem verdadeiramente progredir, têm de aceitar a ideia de que os vossos inimigos são frequentemente mais úteis do que os vossos amigos. São eles que vos obrigam a trabalhar, a corrigir-vos, a encontrar soluções para os problemas que vos colocam e, assim, graças a eles, tornam-vos mais fortes, mais inteligentes."(1)

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(1) https://cercledesentrepreneurs.quora.com/Les-ennemies-jouent-un-r%C3%B4le-crucial

sábado, julho 19, 2025

#TOLERÂNCIA202 - A PANDEMIA DA INTOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA202 - A PANDEMIA DA INTOLERÂNCIA

"A intolerância como padrão de resposta colectiva".

O Pedro Almeida Vieira e eu tornámo-nos "amigos" no Facebook. Há muito tempo que somos "amigos" no Facebook. O Facebook tem-me permitido conhecer pessoas muito interessantes. Uma delas, que não reconheci na primeira vez que estive com ela face a face, foi o linguista Fernando Venâncio, que faleceu recentemente. Acabámos por nos tornar muito amigos, ele tratava-me por Fernandinho e ele para mim era o Fernandíssimo.

O Pedro Vieira de Almeida é jornalista, escritor e investigador; e é director do jornal Página Um. Hoje ele escreveu um texto acerca dum tema bem actual, de difícil manejo. Recomendo tão vivamente a sua leitura que o transcrevo para aqui, numa espécie de colaboração externa na minha peregrinação pela geografia da Tolerância. Depois de terminar o artigo, ele faz um convite: "Partilhe esta notícia nas redes sociais." Sim, vou fazê-lo aqui, no Facebook, no Blogger e no Instagram. Obrigado, Pedro! Parabéns pelo texto!

Título: "A pandemia da intolerância: da covid à imigração, não há adversários – apenas inimigos"(1)

De repente, uma estranha simetria une dois dos fenómenos sociais mais fracturantes do nosso tempo recente: a pandemia de covid-19 e a actual crise em torno da imigração. À primeira vista, parecem realidades inconciliáveis: uma, sanitária e de impacte global; outra, demográfica e de impacte nacional.

Mas, ao observarmos os mecanismos sociais, políticos e comunicacionais, que ambas desencadearam, partilham algo de essencial: a intolerância como padrão de resposta colectiva. E daí parte-se para uma hostilidade crescente não apenas em relação às posições extremas opostas, mas — talvez ainda mais

inquietante — contra quem tenta compreender, dialogar ou propor soluções de equilíbrio.

Durante a pandemia, bastava levantar uma dúvida sobre a proporcionalidade das medidas, questionar os confinamentos, interrogar a eficácia das vacinas ou simplesmente defender direitos constitucionais elementares para ser etiquetado de “negacionista”, “antivacinas”, “irresponsável” ou mesmo “assassino”. A emotividade pública, catalisada por uma comunicação social subserviente e por peritos promovidos ao estatuto de sacerdotes da verdade, interditava qualquer subtileza. O dogma instalou-se com uma eficácia capaz de ombrear com a Inquisição: quem não se ajoelhava perante o altar do medo era excomungado da vida cívica.

Hoje, algo semelhante sucede com o debate sobre imigração. Quem aponta os efeitos reais — e documentados — da imigração desordenada sobre o sistema de saúde, habitação, educação ou segurança, corre o risco de ser acusado de xenofobia ou racismo. Mas o contrário também se verifica: quem rejeita o alarmismo identitário e sublinha os direitos humanos, as histórias de vida dos migrantes ou a necessidade de políticas de integração bem desenhadas é de imediato classificado como “globalista”, “vendido ao sistema” ou “traidor da pátria”.

Pior ainda está quem ousa interrogar ambas as visões com prudência, tentando distinguir entre migração legal e tráfico humano, entre integração e guetização, entre impacto económico e vulnerabilidade social. Este é aquele que acaba por ser atacado de todos os lados — por traidor, por frouxo, por centrista táctico.

Na verdade, nos debates sobre a pandemia e agora sobre a imigração — e talvez noutros tantos campos — aquilo que se perdeu foi precisamente o que garante a sanidade de uma democracia: a capacidade de pensar o meio-termo, de analisar com rigor, de propor soluções ponderadas que evitem tanto a repressão cega como a permissividade ingénua.

A pulsão de radicalização em ambos os lados — alimentada por redes sociais, algoritmos de indignação e agendas políticas maniqueístas — transforma tudo em trincheira. Já não há adversários: há inimigos. E a posição intermédia, que sempre foi mais difícil de construir do que os extremos, parece hoje terreno minado.

Na pandemia, quem procurava uma via equilibrada — por exemplo, defendendo a protecção dos mais vulneráveis sem destruir as liberdades fundamentais — foi marginalizado, insultado, silenciado. Ou processado — como eu, que ainda este ano terei de responder judicialmente em três processos.

Na questão migratória, quem procura agora aplicar políticas sérias de controlo de fronteiras, mas ao mesmo tempo defender a dignidade humana — tanto dos imigrantes como dos autóctones —, sofre a mesma sorte: é demasiado duro para os progressistas e demasiado mole para os populistas.

O consenso tornou-se heresia.

Há nisto um paradoxo revelador. Se, teoricamente, os extremos se combatem melhor a partir do centro (não me refiro ao espectro ideológico) — com racionalidade, dados e proporcionalidade —, o que vemos hoje é o contrário: os extremos prosperam precisamente porque conseguiram minar o prestígio do centro, esvaziar-lhe a credibilidade, converter a prudência em tibieza e o pensamento crítico em traição. É a vitória do ressentimento contra o equilíbrio. Do ruído contra o discernimento. Do algoritmo contra o argumento.

As redes sociais, que durante a pandemia foram usadas como instrumentos de controlo emocional e repressão simbólica, agora funcionam como aceleradores de pânico moral e de fúria identitária. A lógica binária de “salva vidas” versus “negacionistas” foi apenas substituída por outra: “defensores da pátria” versus “traidores pró-imigração”. O molde é o mesmo; apenas se trocam os actores. E, mais curioso e preocupante, muitos daqueles que na pandemia sofreram penalidades por serem minorias, estão agora na linha da frente para serem algozes dos que pensam diferente na imigração.

E, como antes, quem tentar desmontar o jogo, desmontar o medo, desmontar a encenação, é eliminado do palco.

Talvez estejamos a assistir a um processo mais profundo: o esgotamento da razão pública como espaço de construção comum. O velho ideal iluminista de que podemos, pela razão e pela evidência, fundar consensos mínimos para enfrentar problemas complexos, está em erosão. Em seu lugar, estão a erguer-se afectos inflamados, tribalismos digitais e dogmas emocionais. E com eles vem a recusa do diálogo, a humilhação do outro, a purga dos moderados.

Na pandemia, fomos empurrados para o medo absoluto como forma de controlo. No debate migratório, estamos a ser empurrados para o medo difuso como forma de fragmentação. Em ambos os casos, o efeito é idêntico: o desaparecimento da política como espaço de ponderação e a sua substituição por actos reflexos emocionais e moralistas. No limite, deixa de haver verdade: apenas versões armadas da verdade.

É por isso que, mais do que escolher entre extremos, importa reconstruir o valor do meio. Não o meio-termo cómodo e inócuo, nem sequer ideológico, mas o meio ponderado, exigente — aquele que resiste à emotividade e se ancora na realidade.

A pandemia ensinou-nos, ou devia ter ensinado, que a histeria colectiva não é boa conselheira. A questão migratória exige agora essa mesma lição: sem tabus, mas também sem ódio. A liberdade — e a civilização — moram nesse equilíbrio precário que os radicais de ambos os lados querem demolir. Mas é lá que vale a pena continuar a construir. Mesmo que seja mais difícil — ou sobretudo por isso.

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(1) https://paginaum.pt/2025/07/19/a-pandemia-da-intolerancia-da-covid-a-imigracao-nao-ha-adversarios-apenas-inimigos?fbclid=IwY2xjawLoi9JleHRuA2FlbQIxMABicmlkETBkSkJEd1JhNGU0cHVMRHRyAR5w30xRSHeJju23j-X5Ogd-A22VCgdFZwAtfGg3r9Z_0KLeGVuklhXgx9XtyQ_aem_C9gqw-Kes-SPcUtJeIJmjw