#TOLERÂNCIA97- TOLERAR, SIM. E DEPOIS?
Não sei se é por estar a chegar a esse número redondo, o primeiro de 3 dígitos, o número 100... É bem capaz de ser.
É um número que, mesmo que não seja o primeiro a fazê-lo, parece reclamar um ponto de situação.E fazer um ponto de situação é dizer, entre outras coisas, que...
- devemos praticar a tolerância, mas nem tudo deve ser tolerado
- há uma tolerância natural no ser humano, mas a influência dos contextos sociais pode inibi-la ou anulá-la
- pode-se promover a aprendizagem da tolerância
- é importante promover também a aprendizagem dos limites da tolerância
- pode-se promover a aprendizagem da intolerância
- é importante promover também a aprendizagem dos limites da intolerância
Já em etapas anteriores desta viagem eu disse que não quero, nem devo, abordar ou discutir a Tolerância em abstracto ou no vazio, mas sim sempre dentro dum contexto, a propósito dum caso concreto.
Uma das questões que mais me tem desafiado a propósito da Tolerância é precisamente a que dá o título a este escrito: «Sim, tolero, mas depois? Depois, o que acontece? Mais importante ainda: Depois, o que é que faço?»
Hoje aconteceu-me receber mensagens no WhatsApp e ler 2 ou 3 'posts' do Facebook que tinham a
mesma característica: todos eram bons exemplos do caminho da chamada Lei de Murphy.
Sumariamente, a Lei de Murphy é um conceito não-científico, que resulta mais do conhecimento empírico, duma certa cultura feita mais de experiência pessoal do que investigação sociológica sistemática, que diz "Anything that can go wrong, will go wrong." (Tudo o que puder correr mal, acabará por correr mal.) A "lei", tanto quanto sei, foi popularizada na década de 1950, ficando associada a associada a Edward A. Murphy Jr., que era engenheiro aeroespacial e que trabalhava em projectos de testes de foguetes e sistemas de segurança para a Força Aérea dos EUA.
Eram assim essas mensagens e esses 'posts': repetiam mensagens e 'posts' anteriores, querendo, uns após os outros, mostrar, convencer, provar, que qualquer coisa não vai dar certo, vai mesmo correr mal, não havendo hipótese de que corra bem.
Perguntar-lhes se não querem pensar melhor, deixar explodir uma valente assopradela, deitar as mãos à cabeça, soltar um impropério, todas estas são formas de tentar a Tolerância, umas com mais componente agressiva, outras com menos.
Um exemplo: se eu penso que Zelensky tem culpa na invasão da Ucrânia pela Rússia, eu vou à procura de notícias que justifiquem esse meu ponto de vista e procurarei ir confirmando, com as notícias mais recentes, de que é assim que está a acontecer e é assim que vai acabar: Zelensky vai perder a guerra porque tem culpa dela.
Outro exemplo: se eu penso que a União Europeia está a ser mal liderada e está a tomar decisões erradas a propósito da guerra na Ucrânia, eu vou procurar as notícias que confirmam o meu ponto de vista e cada notícia nova que apareça vou ler e mandar aos amigos com quem habitualmente falo destes assuntos.
Tudo isto é muito humano, não são situações de excepção, são mesmo muito frequentes, e produzem-se tanto em relação aos acontecimentos mundiais (que nos ignoram) como em relação às coisas que acontecem com pessoas com quem contactamos diariamente; ou mesmo em relação a nós mesmos.
Às vezes, vem mesmo o desabafo do «Já não há pachorra!...», ou do «Fogo! Não aguento mais!» E desabafamos assim com os outros e connosco mesmos, não há diferença. O que é certo é que, em geral, vai havendo sempre mais um bocadinho de pachorra, a gente aguenta um pouquinho mais.
Em etapas anteriores, em estações por que já passámos, dei dicas e sugestões acerca da maneira como podemos lidar com certezas, teimosias, crenças de radicais raízes. Em geral, valem o mesmo para estes casos que parecem dominados por esta Lei (ou princípio) de Murphy.
Também podia ter invocado as chamadas profecias de auto-realização, de que, se calhar, falarei mais especificamente noutra altura. O que me parece que é preciso — É o "E depois?" do título — é não nos deixarmos resvalar para a vertigem do que já não pode deixar de acontecer, já não pode deixar de ser assim. É quase como saltarmos para a água para socorrer alguém que está em risco de se afogar e acabarmos por nos afogar com essa pessoa.
Parece-me que, enquanto os assunto forem o da guerra da Ucrânia e o da consistência da União Europeia, desde que o nosso interlocutor apanhado nas malhas da Lei de Murphy mantenha boa lucidez mental e boa gestão da sua vida diária,podemos continuar a tolerar as suas perspectivas.
Já no caso de se tratar de questões que envolvem pessoas do círculo de relações pessoais directas e regulares, aí deveremos passar da Tolerância à acção. Da Tolerância à acção, eu não disse da Tolerância à Intolerância. Nestes casos, a intolerância pode não ajudar à mudança de pensamento e à mudança de comportamento. A acção pede, antes de mais, estratégias pedagógicas para a Tolerância aos erros e às convicções radicais. Noutro escrito falarei de algumas delas, certamente as mais básicas, as que estão ao alcance de todos.
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