sábado, março 08, 2025

#TOLERÂNCIA69 - O ESTIGMA DA SUPERIORIDADE

 #TOLERÂNCIA69 - O ESTIGMA DA SUPERIORIDADE

Tenho-me surpreendido, mais vezes do que era a minha expectativa, com a reacção de algumas pessoas quando eu faço da Tolerância e do meu interesse da Tolerância. Às vezes é uma reacção de desconfiança ou de dúvida; de recusa ou de evitamento; de reserva, mas chega a ser de repulsa, quase do tipo «Vade retro, Satana!»

Já aqui falei do surgimento, digamos, oficial da Tolerância (apontamento #TOLERÂNCIA29, de 21 de Janeiro): «a palavra tolerância nasceu no século XVI das guerras religiosas entre católicos e protestantes: os católicos acabaram por tolerar os protestantes, e reciprocamente. Depois a tolerância foi reclamada a propósito de todas as outras religiões e de todas as crenças. Finalmente, no século XIX, a tolerância estendeu-se a todo o pensamento livre.»

Se num contexto de reflexão religiosa a ideia, o conceito de Tolerância é pacífico, transporta-nos logo para um objectivo ou ideal de diálogo inter-religioso, ecuménico, de aceitação recíproca entre diferentes credos, num contexto político ou sócio-cultural, o objectivo ou ideal de diálogo e reciprocidade não é imediato.

A justificação dessa desconfiança, contida ou explosiva, em relação à Tolerância é quase sempre a mesma, formulação mais para aqui, formulação mais para ali: «A tolerância é uma atitude e superioridade de alguém sobre outro que se considera inferior.» Superioridade ou arrogância.

Penso que até agora não dei a ideia de que considero a Tolerância a panaceia para resolver as oposições, confrontos, divergências, etc., entre as pessoas e os grupos humanos. Ora, nada é nem ninguém tem o Santo Graal da solução das divergências humanas. Peça-se à Tolerância na justa medida do seu valor, que é "só" algum; e que, como qualquer outro valor, ideal, princípio, fim, ou estratégia, pode ser pervertido e usado desonestamente para explorar o Outro.

Recusar liminarmente a Tolerância nesse sentido de ser expressão de superioridade sobre Outrem que se toma como inferior pode ter várias interpretações, de que destacarei duas: a primeira é a cristalização mental duma ideia, um preconceito cognitivo, um pensamento sincrético acerca da Tolerância e do seu valor, sendo isso espelho duma atitude de superioridade por parte de quem pensa que já tem a verdade sobre a Tolerância, que não tem necessidade de se questionar, questionar e dialogar com o Outro; a segunda é que, provavelmente de forma inconsciente, não se quer sair da sua zona de conforto, já que pensar dá trabalho, exige esforço, e o trabalho e o esforço produzem tensão, tensão essa que traz sempre desconforto e desprazer, mesmo para quem corre por gosto.

A Tolerância, assim estigmatizada, conforma-se num estereótipo cognitivo que bloqueia a acção, o diálogo, o confronto.

Pessoalmente, não me preocupa este estigma ou estereótipo da superioridade negativa da Tolerância. Estou seguro de que, nos apontamentos que nas pegadas que deixei em algumas das etapas passadas desta minha caminhada, tenho sugestões que a Pedagogia e a Educação podem usar para fazer romper o estigma da superioridade da Tolerância.

Uma das tomadas de consciência que podemos ir assumindo é a de que, por si só, a Tolerância pouco pode; e que para ser útil e eficaz tem de ser vista na sua relação dinâmica com, por exemplo, a Aceitação e a Compreensão; a Empatia e a Escuta; a Mutualidade e a Interajuda; a Identidade e a Alteridade; a Diversidade e a Semelhança; a Partilha Comum e a Distribuição Singular.

O mal não está na reserva à Tolerância, o mal está na indisponibilidade para pôr a reserva à prova da realidade, caso a caso, situação a situação. Recusar ser tolerante porque se tem arreigado o estereótipo da superioridade (negativa) da Tolerância é, repito, optar por manter-se confinado à sua zona de conforto, é optar por não tentar compreender, nem tentar aceitar.

Sim, a Pedagogia e a Educação têm remédio para o estigma da superioridade da Tolerância.

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sexta-feira, março 07, 2025

#TOLERÂNCIA68 - A TOLERÂNCIA ESTÁ NA RUA

 #TOLERÂNCIA68 - A TOLERÂNCIA ESTÁ NA RUA

Lembrei-me de que a Tolerância pode estar na rua, nos espaços urbanos, fixada simbolicamente em obras de arte, tal o 25 de Abril de 1974 foi fixado e simbolizado nos cartazes que a artista portuguesa Maria Helena Vieira da Silva desenhou para comemorar o primeiro aniversário da Revolução de Abril (25 de Abril de 1974).

Pesquisei na Internet e encontrei coisas interessantes, em várias partes do mundo. Tenho-me centrado na produção de materiais pedagógicos para explorar em espaço institucional (escola, hospital, centro social, clube desportivo, etc.), mas há também as visitas de estudo. Uma visita de estudo é essencialmente uma acção que nos põe a sair de nós mesmos (pessoa ou grupo) e ir a um lugar fora do nosso espaço de vida diária — sair da rotina.

Curiosamente, na busca que fiz, encontrei a proposta de visita guiada à ‘Lisboa Judaica - ao encontro do último cabalista’. Levo frequentemente os meus alunos à Igreja de São Domingos, ao Largo de São Domingos, que são o coração da acção de "O último cabalista de Lisboa", obra de Richard Zimler que li há alguns anos, e de que gostei muito. Vou tentar participar nesta visita.

Fico-me por aqui no que diz respeito à trágica expressão de Intolerância de que o Igreja de São Domingos e a o Largo de São Domingos são infelizes protagonistas, reservo essa escrita para depois da visita.

À medida que ia fazendo a pesquisa, foi-me crescendo a vontade de fazer um roteiro de vita às marcas de arquitectura, escultura e pintura que os espaços urbanos dedicam à Tolerância. É um roteiro mundial. Na totalidade, não terei vida para eles todos, mas a partir de um ou dois podem-se fazer visitas virtuais a mais meia dúzia deles, os recursos digitais, hoje em dia, permitem-nos isso com grande facilidade, e com grande qualidade de imagem.

Penso que foi em Mia Couto que pela primeira vez li a ideia de que uma cidade só se conhece se a percorrermos a pé, pode ser muito interessante, do ponto de vista da Pedagogia e da Educação, percorrer os espaços urbanos da Tolerância a pé. Pode ser, não, tenho a certeza, a partir da minha experiência pessoal, mesmo que seja pouca.

Um dos primeiros sítios que fico a desejar visitar é o Mural da Tolerância, criado por José Luis Puche, em 2017, em Fuengirola, na Costa del Sol, em Espanha. O mural tem dimensões impressionantes, medindo 50 metros de comprimento por 5 metros de altura. A obra apresenta uma série de retratos de pessoas de diferentes origens e culturas, simbolizando a diversidade e a convivência pacífica.

O Mural está a pouco mais de 6 horas de carro de Lisboa, a jeito dum raide de fim-de-semana (em período de trabalho) ou de uma deslocação mais tranquila (em período de férias).

A informação disponível descreve assim o Mural do ponto de vista da sua concepção: "O mural apresenta uma composição vibrante e colorida que capta a essência da tolerância e da unidade. No centro do desenho estão figuras de pessoas de diferentes culturas, idades e origens, representadas num abraço harmonioso. Estas figuras representam a beleza da diversidade e a importância de aceitar e celebrar as diferenças. A utilização de cores fortes e formas dinâmicas confere energia e vitalidade à peça, tornando-a numa obra de arte visualmente cativante."

Do ponto de vista do simbolismo e mensagem, lê-se assim: "Na sua essência, o Mural da Tolerância transmite uma mensagem de inclusão e respeito mútuo. Serve para recordar que, apesar das nossas diferenças, fazemos todos parte da mesma família humana. O mural também inclui elementos simbólicos, tais como: 1) as pombas, que representam a paz e a harmonia; 2) os motivos florais, que simbolizam o crescimento, a beleza e a interconexão da vida; 3) as mãos estendidas, que simbolizam um gesto universal de amizade e solidariedade."

De tudo o mais que encontro escrito acerca do mural, faço questão de destacar o seguinte, dado que põe a tónica no envolvimento da comunidade e na acção comunitária: "a criação do mural não foi apenas um esforço artístico, mas também um projeto comunitário. As escolas, organizações e residentes locais estiveram envolvidos no processo, participando em workshops e debates sobre os temas da tolerância e da diversidade. Esta abordagem colaborativa ajudou a reforçar o sentido de unidade e o objetivo comum no seio da comunidade."(1)

Uma coisa é a educação da Tolerância pessoal; outra coisa é a experiência comunitária, cultural, da Tolerância partilhada. É provavelmente este segundo tipo de Tolerância que as expressões artísticas urbanas dinamizadas como parece ser o Mural da Tolerância de Fuengirola parecem alimentar.

Há estratégias de Pedagogia Comunitária que podem localmente, em todos os lugares, promover a criação de "Murais da Tolerância". Por exemplo, por analogia, podemos socorrer-nos das já muito sistematicamente experimentadas propostas da iniciativa Roots & Shoots, desenvolvidas sob a liderança e o exemplo de Jane Goodall. De tal modelo falarei noutro dia.

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(1) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

quinta-feira, março 06, 2025

#TOLERÂNCIA67 - TOLERÂNCIA, EDUCAÇÃO E PSICOTERAPIA

 #TOLERÂNCIA67 - TOLERÂNCIA, EDUCAÇÃO E PSICOTERAPIA

É só mesmo uma abordagem muito superficial do tema: a Tolerância na Educação e a Tolerância na Intervenção Clínica — o Educador e o Terapeuta.

Penso que são mais frequentes do que que seriam de desejar as ambiguidades entre a acção educativa e a acção psicoterapeuta. As ambiguidades e as incursões — pela minha experiência, as incursões são muito mais da Educação na Intervenção Psicoterapêutica. Sempre na minha opinião, os psicoterapeutas tendem a pecar por omissão, por afastamento excessivo da Acção Educativa.

Como já disse, este é, neste tema, um texto ainda muito primitivo, mais esboço que ensaio, tese, ou constatação sistematicamente procurada, constatada e validada.

Basicamente, proponho algumas linhas de fronteira entre ambas as áreas de acção (que se podem ocupar com a tolerância):

  • Uma coisa é a Tolerância que o agente da acção (o educador e o terapeuta) deve ter no acto que pratica; outra coisa é a Tolerância que pretende estimular no sujeito da acção (o aluno e o paciente).
  • O foco da acção educativa diz respeito à diversidade e inclusão social; e aos erros de aprendizagem. O foco da acção psicoterapêutica diz respeito à regulação emocional, ao autoconhecimento, à severidade crítica sobre si mesmo; e à fruição do bem-estar pessoal.
  • A Tolerância à frustração: aqui está uma área que reclama acção em ambas as áreas, a da Educação e a da Psicoterapia. Na Educação, a reacção ao erro (fazer erradamente), ao insucesso na realização (não ser capaz de fazer), ao insucesso na avaliação (não atingir o desempenho desejado). Na Psicoterapia, a relação com a imagem de si mesmo e da distância entre o que se deseja atingir e o que de facto se atinge (implica aceitar-se nas suas competências actuais e tolerar os próprios limites pessoais).
  • A Educação lida com objectivos e metas determinados ou impostos por entidades exteriores ao indivíduo; a Psicoterapia lida com objectivos e metas auto-impostos. Quais são os mais exigentes ou desafiantes? Que tipo de Tolerância pedem os outros ao sujeito e que tipo de Tolerância reclama o sujeito de si para si mesmo?
  • O manejo das questões que solicita Tolerância na Educação é essencialmente público, exterior ao indivíduo; o das questões da Tolerância na Psicoterapia é essencialmente recatado e do foro privado. (Este é um dos aspectos em que os Educadores mais tendem a falhar: expõem publicamente, muitas vezes em sala de aula, o que deveria ser inteiramente lidado na esfera do privado.)
  • A Tolerância à ambiguidade e à incerteza: já falei noutro apontamento que tendemos a ter mais tolerantes com a ignorância do que com a ambiguidade. Ora, mesmo que a Psicoterapia, mesmo que seja próprio da Psicoterapia lidar com questões complexas e sem respostas claras, em que está em causa a promoção do autoconhecimento e da auto-regulação dos afetos e a tomada de opções e decisões pessoais (assim exigindo que tanto o terapeuta quanto o paciente desenvolvam tolerância à ambiguidade, por exemplo, o terapeuta ajudando o paciente a aceitar que nem todas as situações da vida têm uma solução imediata ou definitiva; dizia eu, mesmo que a Tolerância à ambiguidade e à incerteza seja um terreno muito próprio à Psicoterapia, a Educação tem também de ser capaz de ajudar o aluno, o estudante, a lidar tolerantemente com a ambiguidade e a incerteza da natureza do conhecimento científico.

Pronto, este é mesmo o primeiro apontamento numa questão que é especialmente difícil. A ela voltarei noutro apontamento (ou noutros apontamentos) e admito voltar a este e preceder a algum acrescentamento ou revisão. Pelo menos fica assumido que a Tolerância na Educação e a Tolerância na Psicoterapia são coisas diferentes; confundi-las e não lhes clarificar as diferenças é improdutivo e pode ser perigoso para os sujeitos sobre quem recai a acção educativa e a acção psicoterapêutica.

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quarta-feira, março 05, 2025

#TOLERÂNCIA66 - «ELES SÃO CÃO E GATO»

 #TOLERÂNCIA66 - «ELES SÃO CÃO E GATO»

«Eles são cão e gato.» Expressão bem popular, que tantas vezes é usada pelos pais quando lhes perguntam como se dão os dois irmãos entre si, sejam do mesmo sexo ou não, seja a rapariga mais velha, seja o rapaz mais velho.

As redes sociais (já agora, há as europeias e as não-europeias. Por mim, vou afastar-me aos poucos das

não-europeias, até já abri conta em duas europeias, a ver como funcionam) estão cada vez mais cheias de pequenos vídeos que mostram comportamentos entre os animais que rebentam completamente com essa imagem tradicional da relação entre o cão e o gato, e entre muitas outras espécies. Por exemplo, lembro-me de ver um em que cachorrinhos, ou gatinhos, já não sei bem, se anicham debaixo das asas duma galinha, que os acolhe com desvelo maternal enternecedor.

Talvez possamos fazer uma arrumação entre a observação dos comportamentos dentro da mesma espécie (intra-específica. Por exemplo, os cães, os gatos, os leões, os golfinhos, os corvos, etc.) e entre espécies diferentes (inter-específica. Por exemplo, cães com gatos, lobos com cordeiros, etc.).

Que podem até as pessoas mais citadinas observar nos animais, mesmo que não tenham contacto directo com eles, ou não gostem mesmo deles? Basta que tais pessoas vão fazendo 'scroll' na sua página do Facebook, do Instagram (a propósito, estas são redes sociais não-europeias, as quais, por mim, quero ir aos poucos trocando por redes sociais europeias — Não! Não me venham dizer que, afinal, agora estou a ficar intolerante ao que não é europeu e que me estou a tornar num rígido defensor do 'made in Europe'!... Não, não estou. Isso sim, estou a abrir-me mais à diversidade e à valorização do que é nosso, e eu sou cidadão europeu.), e dediquem alguma atenção a esses tais pequenos vídeo que agora, tempo em que toda a gente tem um telemóvel na mão (o jornal Correio da Manhã, na edição de hoje, apresenta como título principal na capa "Vendidos mais de 4 telemóveis por minuto" (em Portugal, em 2024), se pode fotografar e filmar tudo e mais alguma coisa que aconteça à nossa volta.

Seja dentro das casas das pessoas, seja na rua em que se vive, seja na praia ou no campo onde se foi passar umas feriazinhas, seja num safari africano, tantas vezes se observam espécies instintivamente inimigas convivendo lado a lado ou mesmo em interacção harmoniosa, mostrando-nos uma muito pouco tradicional, contrária aos estereótipos que todos temos na cabeça, numa palavra: uma muito clara aceitação da diferença, sem qualquer preconceito de raça, espécie ou aparência.

As redes sociais mostram também muitos animais que adoptam crias ou filhotes órfãos de outras espécies (Estou a lembrar-me, por exemplo, duma leoa que passou a cuidar duma cria-macaco depois de ter acabado de matar a mãe desta para comer. Quando ouviu o gemido da cria, desistiu da presa e foi cuidar da cria que tinha acabado de tornar órfã). A raiz do cuidado da prole está fortemente gravada no cérebro, até no cérebro humano!, é preciso saber cuidar desse tão instintivo sentimento, ao mesmo tempo, animal e humano).

Fazendo jus ao famoso lema hippie dos anos 60, o "Make love, not war", sabe-se que chimpanzés, e especialmente os bonobos, depois de brigarem entre si muitas vezes reconciliam-se uns com os outros trocando gestos de afecto, como abraços ou carícias, ou mesmo copulando. Parece que os animais, muito mais do que os seres humanos, não guardam rancor (ou resentimento): aconteceu, resolveu-se, passou, esqueceu-se. Sim, obviamente, nem todos são assim, basta ver as estratégias, a prazo, na disputa da liderança em grupos de primatas entre os candidatos a macho-alfa, mas essa é uma situação muito específica.

Não guardar rancor e perdoar não são bem a mesma coisa, mas, como parecem viver perto um do outro, merecem que um dia lhe dedique algum tempo e reflexão.

O comportamento de cooperação da matilha de lobos é proverbial. Até para com os elementos mais fracos e fragilizados da matilha. Aqui a tolerância é intra-específica, neste caso, para com os mais fracos do grupo.

A harmonização dos espaços, dos territórios de vida, entre diferentes espécies é também um exemplo muito interessante para os grupos humanos. Na verdade, é muita vez a interferência da acção humana nesses espaços que quebra a harmonia, cria desequilíbrios e assiste-se ao recrudescimento da agressividade e da competição na luta pela sobrevivência.

Uma palavrinha final, por hoje, neste exploração, muito à superfície, do que os outros animais têm para ensinar ao Homem acerca da Tolerância, para o cão.

O cão é mesmo o melhor amigo do homem. O cão é um animal carregadíssimo de tolerância para com o seu dono! Cada vez mais, o cão, que é de afectos fáceis, substitui, compensa, na vida de cada vez mais pessoas, a presença de outras pessoas. As pessoas têm necessidade do afecto e da presença. ali ao lado, do Outro, mas estamos a perder a paciência e a Tolerância para as diferenças dele. O cão, grande ou pequeno, macho ou fêmea, continua a ser infinitamente tolerante para com o seu dono. Mas esse assunto não é para agora. Fica para depois.

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terça-feira, março 04, 2025

#TOLERÂNCIA65 - AS LIÇÕES ANCESTRAIS SÁBIAS

 #TOLERÂNCIA65 - AS LIÇÕES ANCESTRAIS SÁBIAS

Há muitas lições sábias, ancestrais, acerca da Tolerância. Os livros de Meditação estão cheios delas, tanto os bons como os assim-assim; e também os maus. Por outro lado, as lições sábias acerca da Tolerância não são um exclusivo da Sabedoria Oriental, há certamente também coisas boas a Ocidente, não podemos é desvalorizá-las, ciliciando-nos por tanta intolerância, ganância e sentimento de superioridade que o Ocidente tenha produzido ao longo da História da Humanidade. Aliás, a Oriente também há muitos telhados de vidro...

Duas lições sábias, desta vez. Já compõem bem uma sessão do nosso Seminário Anual, extensivo.

1.ª lição: O MESTRE E O COPO DE ÁGUA

Um aluno chegou junto do mestre e disse-lhe:
– Mestre, não consigo tolerar as pessoas que pensam diferente de mim.
O mestre não lhe disse nada, em vez disso foi buscar um copo de água suja, entregou-lho e perguntou-lhe:
– O que vês aqui?
– Água suja – respondeu o aluno.
O mestre deixou o copo em repouso por alguns minutos e indicou ao seu discípulo:
– Olha outra vez para o copo. Que vês tu agora?
O aluno viu que a sujidade se tinha depositado no fundo, e a água estava límpida. O mestre então explicou:
– A tolerância é como esse copo. Se deixares as diferenças acomodarem-se, encontrarás clareza e paz.


2.ª lição: OS DOIS LOBOS

[esta lição, conheci-a ligada aos velhos chefes índios peles-vermelhas. Gosto desta versão (tantas há, na tão humana acção de quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto), que explicita a tolerância e a intolerância.]

Um velho índio confidenciou um dia ao seu neto, que o escutava com muita atenção:
– Dentro de mim há uma batalha entre dois lobos. Um é o lobo do ódio, da intolerância e do medo. O outro é o lobo do amor, da compreensão e da tolerância.
O neto ouviu o avô e logo perguntou:
– E qual é o lobo que vence, avô?
O velho sábio respondeu ao neto:
– Aquele que eu melhor alimentar.

Definir a Tolerância — e supondo que seria possível compor uma que fosse satisfatoriamente consensual — é para a Pedagogia e a Educação um beco sem saída, sem eficácia na mudança de comportamentos; numa palavra, inútil. Inútil do ponto de vista da acção.

Conversar uns com os outros à volta de situações-gatilho como estas, em sessões de trabalho sabiamente moderadas, pode ter um efeito modificador das mentes e dos comportamentos apreciável.

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segunda-feira, março 03, 2025

#TOLERÂNCIA64 - TOLERÂNCIA E INCERTEZA

 #TOLERÂNCIA64 - TOLERÂNCIA E INCERTEZA

Não sou cinéfilo suficiente para estar sempre em dia quanto ao que a indústria cinematográfica vai pondo nas salas de cinema, sou mais de ir vendo ao retardador... Ontem, um oscarizado lamentou que o cinema em casa esteja a tomar a dianteira ao do das salas de cinema. Bem, em minha defesa alego que me tenho como pouco influenciável pelo ambiente de reacção emocional aos filmes das salas de cinema; isso sim, detesto o ambiente de pipocas e quejandos!  Mas detesto mesmo! Ou seja, quando vou a uma sala de cinema, tolero as pipocas à custa da subida da tensão arterial, custo que só excepcionalmente estou disposto a pagar.

É claro, como já denunciei, dei alguma atenção à cerimónia dos óscares, mas, cá está, a posteriori, não sou pessoa para estar a ver em directo àquelas horas da noite, meu rico soninho!

No rescaldo que procurei já de manhã nas notícias, na atenção que fixei no filme candidato "Conclave"(1) encontrei este notável discurso do cardeal Lawrence (ao que parece, Lomeli no livro que deu origem ao filme), num dos momentos do conclave (vou passar por cima do que é dito em italiano e inglês):

«Caros irmãos em Cristo, no momento de grande incerteza, na história da Santa Igreja, devemos pensar em primeiro lugar no falecido Santo Padre, cujo brilhante pontificado foi um dom de Deus, agora devemos pedir a Nosso Senhor que nos envie um novo Santo Padre, através da solicitude pastoral dos padres cardeais. E devemos rezar a Deus por essa ajuda amorosa, e pedir-Lhe que nos guie para a escolha correta. Mas vós sabeis tudo isso.

»Deixai-me falar do coração por um momento. São Paulo disse: “Sujeitai-vos uns aos outros por reverência a Cristo”. Para trabalharmos juntos, e para crescermos juntos, temos de ser tolerantes. Nenhuma pessoa ou… ou facção, que procure dominar outra.

»E falando aos Efésios, que eram, naturalmente, uma mistura de judeus e gentios, Paulo recorda-nos que o dom de Deus à igreja… é a sua variedade. É esta variedade, esta diversidade de pessoas e de pontos de vista que dá à nossa Igreja a sua força. E ao longo de muitos anos ao serviço da nossa Mãe, a Santa Madre Igreja, deixai-me que vos diga que há um pecado que passei a temer acima de todos os outros: a certeza.

»A certeza é o grande inimigo da unidade. A certeza é o inimigo mortal da tolerância.(1) Mesmo Cristo não estava certo no final. “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste? ” gritou na sua agonia, à hora nona, na cruz.

»A nossa fé é uma coisa viva, precisamente porque anda de mãos dadas com a dúvida.(3) Se só houvesse certeza… e não houvesse dúvida… não haveria mistério… e, portanto, não haveria necessidade… de fé. Peçamos a Deus que nos conceda um Papa que duvide. E que nos conceda um Papa que peca e pede perdão, e que prossegue.»(4)

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(1) A novela original, de Robert Harris, com o mesmo nome do filme, é de 2016. Não fui ainda à procura das reacções críticas ao livro por parte dos sectores da Igreja Católica, mas nos que, quase à pressa, encontrei em relação ao filme, as críticas são muitas. Para mim, isso é bom, da discussão nasce a luz.

(2) Veio-me logo à cabeça a ficção bíblica de Eva a tentar Adão e assim pondo a risco a unidade com Jeová.

(3) Naturalmente, lembrei-me logo do que há há poucos dias trouxe para esta minha viagem: a ambiguidade. Quão importante é sermos capazes de suportar a ambiguidade, a dúvida, a incerteza. Da Verdade e do Conhecimento. «Só sei que nada sei.» Não não sou tão radical, prefiro dizer: «Estou seguro de algumas coisas que sei, e também sinto segurança na certeza das coisas que não sei, por isso tento ser humilde, paro, escuto, olho à minha volta.» Sinto uma confiança profunda no que posso aprender com os outros, gosto de ouvir quem sabe maios que eu, que me ensina, que me torna mais conhecedor. Talvez assim eu fique mais sábio.

Como que entrando em contradição comigo mesmo, sinto que o que tenho escrito acerca da Tolerância já alcança a dimensão dum seminário ou dum retiro de, no mínimo, 7 dias (é para puxar do tradicional "the magical number seven"); embora, em rigor, eu prefira as acções pedagógicas extensivas ao contrário das intensivas. Intensiva é a dinâmica própria dos congressos.

(4) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

domingo, março 02, 2025

#TOLERÂNCIA63 - SÊ MAIS TOLERANTE, RI DE TI MESMO

 #TOLERÂNCIA63 - SÊ MAIS TOLERANTE, RI DE TI MESMO

Aposto que quem ri de si mesmo é mais tolerante. Quem não acredita, pratique durante 1 mês, uma

anedota ou pensamento divertido acerca de si mesmo, e depois diga. Como no Génesis, em que o Senhor descansou ao 7.º dia — Bem, espero que não apareça quem considere isto uma blasfémia: invocar Deus para uma coisa destas. Repare-se que hoje é o dia santo da semana, e é também o Domingo Gordo, festividade pagã que muito sabiamente os ministros de Deus captaram para as celebrações do ciclo anual das Estações —, cada um escolhe o seu dia de descanso, neste dia não precisa de se empenhar na tarefa de se rir de si mesmo (mas não perderia nada se o fizesse...).

Duas ou três anedotas para me rir de mim mesmo:

1.ª anedota: O Psicólogo e o Paciente sem Tolerância

O paciente entra furioso no consultório:
— Doutor, estou sem paciência p'ra ninguém! A minha tolerância acabou! O que faço?
O psicólogo, calmamente, responde:
— Primeiro, senta-se. Depois, respira fundo. E por fim…
— E POR FIM O QUÊ?!
— Por fim, volta aqui, quando estiver disposto a ouvir a resposta.

2.ª anedota: O Psicólogo e a Tolerância ao Stress

O psicólogo pergunta ao paciente:
— Como está a sua tolerância ao stress?
— Óptima!
— Está mesmo? Pode dar-me um exemplo?
— Claro! Estou há 40 minutos a ouvir o senhor repetir hmm-hmm-hmm e ainda não lhe atirei com esta cadeira acima!

3.ª anedota: O Psicólogo e o Motorista Nervoso

O paciente diz:
— Doutor, sou muito nervoso no trânsito! Como posso ser mais tolerante?
O psicólogo responde:
— Tente imaginar que cada carro à sua volta é conduzido por uma criança de 5 anos.
— Isso não vai ajudar, doutor! Só vou ficar ainda mais nervoso, fico de certeza a pensar que estou rodeado por miúdos a conduzir!

4.ª anedota: O Paciente e a Sogra

Um paciente reclamou para o psicólogo:
– A minha sogra vem passar o fim-de-semana a nossa casa, e eu não sei se consigo tolerar isso outra vez.
O psicólogo disse:
– Tente ver o lado positivo. Pelo menos ela não é sua mãe.
O paciente respondeu:
– É verdade... a minha mãe, azar meu, vem no fim-de-semana a seguir.

NOTA: O quê, pensavam que eu só ia dizer mal das sogras, como toda a gente faz? Pois é, e as mãezinhas, hein?

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sábado, março 01, 2025

#TOLERÂNCIA62 - A APRENDIZAGEM DOLOROSA DA TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA62 - A APRENDIZAGEM DOLOROSA DA TOLERÂNCIA

N' "O Clube dos Poetas Mortos", o pai do rapaz que se suicida por causa da severa educação que recebe dele, o pai, e da mãe, não mostra arrependimento e faz do professor John Keating o bode expiatório do trágico destino do filho. O espectador sente-se esmagado, primeiro, com a intensidade da intolerância do pai perante a motivação do filho para o teatro, e depois com a expressão da raiva que projectou como pode para cima do professor do filho. Assim que pode, o espectador diz para si próprio que não passou duma ficção e aos poucos apaga-se da sua mente a possibilidade de essa ficção poder corresponder a casos reais.

N' "O Lado Selvagem", o pai do rapaz que parece entregar-se a um suicídio involuntário — tragicamente, o filho morreu mesmo, muito novo, muito fora de tempo. Morreu da maneira como morreu porque quis libertar-se das amarras do processo educativo que o pai, ou melhor, os pais tinham mantido com mão de ferro com ele —, este pai, dizia eu, arrependeu-se.

No livro em que retrospectivamente refaz a viagem solitária e anónima do jovem Christopher Johnson


McCandless, Jon Krakauer escreve assim acerca do pai de Christopher:

"Quando Walt fala, as pessoas ouvem-no. Se algo ou alguém o desagrada, os seus olhos semi-cerram-se e o seu discurso torna-se mais curto. De acordo com os membros da família, os seus humores podem ser sombrios e inconstantes, embora digam que o seu famoso temperamento tenha perdido muito da sua volatilidade nos últimos anos. Depois de o Chris ter fintado e escapado a toda a gente em 1990, algo mudou em Walt. O desaparecimento do seu filho assustou-o e castigou-o. Um lado mais suave e tolerante da sua personalidade veio à tona."

Esta é uma maneira dura de fazer a aprendizagem da tolerância.

Às vezes, os jovens têm maneiras airosas de dar a volta às exigências severas dos pais. Um músico português de grande prestígio nacional e internacional contou um dia aos meus alunos, numa aula de Psicologia, que o seu pai, à beira de morrer, o fez prometer que tiraria o curso de Direito. O filho prometeu ao pai que sim. Prometeu e cumpriu. Mas assim que cumpriu a promessa, nunca mais se dedicou ao Direito, voltou-se inteiramente para a sua grande paixão, e tornou-se um virtuoso executante da arte musical por que estava apaixonado.

Numa carta que deixou a Ron, um velhote notável que o jovem rebelde teve a felicidade de conhecer algures na sua viagem sem pegada, podemos ler um encantador conselho, um conselho do mais miúdo para o mais graúdo. É um muito precioso aviso aos pais severos e intolerantes. Vale a pena lermos a carta na íntegra:

«Olá, Ron. Fala o Alex. Estou a trabalhar aqui em Carthage, no Dakota do Sul, há quase duas semanas. Cheguei aqui três dias depois de nos termos separado em Grand Junction, Colorado. Espero que tenhas conseguido regressar a Salton City sem muitos problemas. Gosto de trabalhar aqui e as coisas estão a correr bem. O tempo não está muito mau e muitos dias são surpreendentemente amenos. Alguns dos agricultores até já estão a sair para os campos. Já deve estar a ficar bastante quente lá no sul da Califórnia. Pergunto-me se teve oportunidade de sair e ver quantas pessoas apareceram para a reunião do Arco-Íris de 20 de Março nas termas. Parece que deve ter sido muito divertido, mas acho que não se compreende muito bem este tipo de pessoas.

»Não vou ficar aqui no Dakota do Sul durante muito mais tempo. O meu amigo Wayne quer que eu continue a trabalhar no elevador de cereais até Maio e que depois vá trabalhar com ele durante todo o verão, mas eu tenho a minha alma inteiramente virada para a minha Odisseia no Alasca e espero partir o mais tardar a 15 de Abril. Isto significa que me vou embora daqui muito em breve, por isso preciso que envie todo o correio que possa ter recebido para o endereço de retorno indicado abaixo.

»Ron, gostei muito de toda a ajuda que me deu e dos momentos que passámos juntos. Espero que não fique demasiado triste com a nossa separação. Pode demorar muito tempo até nos voltarmos a ver. Mas, desde que eu consiga ultrapassar esta viagem ao Alasca sem problemas, voltará a ouvir falar de mim no futuro. Gostaria de repetir o conselho que já lhe dei antes, no sentido de que penso que deve realmente fazer uma mudança radical no seu estilo de vida e começar a fazer corajosamente coisas que talvez nunca tenha pensado antes em fazer, ou que tenha hesitado demais em tentar. Tantas pessoas vivem em circunstâncias infelizes e, no entanto, não tomam a iniciativa de mudar a sua situação porque estão condicionadas a uma vida de segurança, de conformidade e de conservadorismo, que podem parecer dar paz de espírito, mas, na realidade, nada é mais prejudicial para o espírito aventureiro de um homem do que um futuro seguro. O núcleo fundamental do espírito vivo de um homem é a sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem dos nossos encontros com novas experiências e, por isso, não há maior alegria do que ter um horizonte em constante mudança, para que cada dia tenha um sol novo e diferente. Se quer tirar mais proveito da vida, Ron, tem de perder a sua tendência para a segurança monótona e adoptar um estilo de vida que, no início, lhe parecerá uma loucura. Mas quando se habituar a esse estilo de vida, verá todo o seu significado e a sua incrível beleza.

»E assim, Ron, em resumo, saia de Salton City e faça-se à estrada. Garanto-lhe que ficará muito contente por o ter feito. Mas receio que vá ignorar o meu conselho. Pensa que sou teimoso, mas você é ainda mais teimoso do que eu. Na sua viagem de regresso, teve uma oportunidade maravilhosa de ver uma das maiores paisagens do mundo, o Grand Canyon, algo que todos os americanos deviam ver pelo menos uma vez na vida. Mas, por alguma razão incompreensível para mim, não quiseram mais nada senão fugir para casa o mais depressa possível, voltando à mesma situação que vêem dia após dia. Receio que, no futuro, siga a mesma tendência e não consiga descobrir todas as coisas maravilhosas que Deus colocou à nossa volta para descobrirmos. Não se acomode e não fique num só lugar. Mexa-se, seja nómada, faça de cada dia um novo horizonte. Ainda vai viver muito tempo, Ron, e seria uma pena se não aproveitasse a oportunidade de revolucionar a sua vida e passar para um domínio de experiência inteiramente novo. Engana-se quem pensa que a alegria emana apenas ou principalmente das relações humanas. Deus colocou-a à nossa volta. Ela está em tudo e em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de nos voltarmos contra o nosso estilo de vida habitual e de nos empenharmos numa vida não-convencional.

»O que quero dizer é que não precisa de mim ou de qualquer outra pessoa para trazer este novo tipo de luz à sua vida. Ela está simplesmente à espera que a agarre, e tudo o que tem de fazer é alcançá-la. A única pessoa com quem está a lutar é consigo próprio e com a sua teimosia em se envolver em novas circunstâncias.

»Ron, espero realmente que, assim que puder, saia de Salton City, ponhas uma pequena caravana na parte de trás da sua carrinha e comece a ver algumas das grandes obras que Deus tem feito aqui no Oeste americano. Verá coisas e conhecer pessoas e há muito a aprender com elas. E deve fazê-lo em estilo económico, sem motéis, cozinhando a sua própria comida, regra geral gastando o mínimo possível e desfrutará muito mais. Espero que, da próxima vez que o vir, seja um homem novo, com um vasto leque de novas aventuras e experiências atrás de si. Não hesite nem se permitas arranjar desculpas. Saia e faça-o. Saia e faça-o. Vai ficar muito, muito contente por o ter feito.

»CUIDE DE SI, RON»(1)(2)

Teremos nós a noção do que é o privilégio de receber uma carta assim dum jovem que está intensamente dedicado ao imenso sonho de descobrir-se e descobrir a Vida, no que a Vida tem de mais belo para dar a todos os seres humanos?

Esta carta poderia ter sido escrita pelo Adolescente Peregrino de Guerra Junqueiro, o qual, para sua sorte, conseguiu regressar são e salvo da ilusão do sonho.

Ao Christopher/Alex (na verdade, o único jovem verdadeiro deste escrito) faltou a atitude educativa tolerante dos pais (mais do que a sorte), por isso teve de se fazer sozinho à aventura sem eles, sem o seu apoio. E se ele o tivesse tido, quão diferente teria sido tudo?

Se o que lhe aconteceu não lhe tivesse acontecido, eu não estaria aqui a falar dele, certamente. E o que vale mais: é a história que ele nos deixou ou a vida que ele perdeu? Continuaremos esta conversa num lugar de encontro, seja ele aberto ou fechado.

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(1) Krakauer, Jon. "Into the Wild". Knopf Doubleday Publishing Group. Edição do Kindle.

(2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

sexta-feira, fevereiro 28, 2025

#TOLERÂNCIA 61 - A EDUCAÇÃO DO COMPANHEIRISMO DÁ FRUTOS

 #TOLERÂNCIA 61 - A EDUCAÇÃO DO COMPANHEIRISMO DÁ FRUTOS

O livro "Os filhos de Atena, intelectuais gregos na era de Roma: 250 aC - 400 dC", de Charles Freeman (tenho a edição digital, em inglês, na edição de 2023), é muito interessante.

O capítulo 8 intitula-se "O filósofo e biógrafo: Plutarco (c. 46 dC - depois de 119 dC), e logo a primeira frase do capítulo diz que «Plutarco é talvez a figura mais apelativa de todas de que este livro fala».

A meio do capítulo lê-se assim: Quando se parte para a ação, é essencial abordar com cuidado mesmo

as tarefas mais simples. É igualmente útil ter um mentor, sob a forma de um político que já tenha conquistado a estima pela sua oratória e virtude. A generosidade na partilha de tarefas consolida as relações e acaba por trazer muito mais benefícios para a cidade. Plutarco conta a história de como, quando era jovem, ele e um colega iam ser enviados numa embaixada. Como o colega se atrasou, Plutarco foi sozinho e completou a missão com sucesso. Quando regressou, o pai disse-lhe para dizer que o colega tinha efectivamente ido com ele, para não humilhar o retardatário. O objetivo principal é “assegurar a concórdia e a amizade perpétuas entre os seus semelhantes e eliminar toda a espécie de conflitos, dissensões e hostilidades”. A tolerância, mesmo em relação aos cidadãos mais difíceis, é preferível à discórdia social.(1)

Este parágrafo vale uma aula, vale, por si só, uma sessão de trabalho acerca da tolerância: o pai (na linha do que diz João dos Santos, que «Educar é oferecer-se como modelo»), sensato e avisado com a própria experiência pessoal, procura incutir no filho os valores da compreensão, do companheirismo, da solidariedade e da tolerância.

Esta é a educação autêntica dos mais novos, a que sabe ir deitando sementes em terreno que ainda está nos seus verdes anos; e em que não se valorizam os sucessos imediatos, pelo contrário, valorizam-se os sucessos mais preciosos, mais distantes, que têm a ver com o espírito de concórdia entre os homens. ... generosidade na partilha...

É a tal educação feita sem pressas, pausadamente, em que o que menos importa é o efémero sucesso individual, o que importa é valorizar o companheirismo e a tolerância. Até podemos dar-nos a liberdade de imaginar o pai de Plutarco dizer assim ao filho, inspirando o aparecimento do famoso provérbio africano: «Filho, sozinho foste mais depressa, mas juntos vocês irão mais longe. Pensa nisto, querido filho: "A generosidade na partilha de tarefas — entre ti e o teu colega — consolida as relações — entre vocês os dois — e acaba por trazer muito mais benefícios para a cidade — que somos todos nós

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(1) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

quinta-feira, fevereiro 27, 2025

#TOLERÂNCIA 60 - TOLERÂNCIA E CARNAVAL

 #TOLERÂNCIA 60 - TOLERÂNCIA E CARNAVAL

ado popular português mais conhecido é o que diz que "No Carnaval ninguém leva a mal". E com a tradicional tolerância de ponto, a que até o austero 1.º-ministro Cavaco Silva não resistiu, podemos dizer que "No Carnaval, a folia é geral e a tolerância é oficial."

Não, não vou falar das origens culturais e antropológicas do Carnaval, quero apenas manter o foco no que, no âmbito do caminho que estou trilhando, pode ligar o Carnaval à Tolerância.

O que vou listar não tem nada a ver com as 95 teses de Lutero, e mesmo que eu tivesse essa presunção, cá está: no Carnaval ninguém leva a mal.

  1. O Carnaval é, nos países em que é celebrado (penso que são os países de tradição católica e de forte influência europeia ocidental), a festa social e cultural do ciclo anual que, por um lado, mais excessos comportamentais exibe e também a que mais encontra nas pessoas a atitude da Tolerância.
  2. Pessoas felizes são mais tolerantes, logo, se mais satisfação (social, económica, profissional; de saúde pessoal) for proporcionada às pessoas, elas tornam-se mais tolerantes.
  3. O Carnaval é uma oportunidade de fazer a experiência de afinação dos limites dos excessos, e dos limites da Tolerância.
  4. Se a folia for livre, e o respeito for lei, o Carnaval é sucesso que nem sei! (De resto, esta tese eu plagiei, no Instagram encontrei — mas só a primeira parte!, até "lei")
  5. O tempo do Carnaval é curto, não podia ser doutra maneira, os excessos têm de ser sempre sol de pouca dura, no fundo é assim com todas as festividades,(1) os grupos sociais não aguentam funcionar sempre no vermelho. Mas o tempo do Carnaval mostra onde a intolerância pode estar reprimida e dá pistas para estratégias de promoção da Tolerância.(1)
  6. No Carnaval, a fantasia cobre o rosto e revela a alma. Desta ou doutra maneira, muita gente por aí diz a mesma coisa. No fundo, esta tese é irmã gémea da tese n.º 5.
  7. Quem não tolera o frevo(2) alheio, não dança no Carnaval. Também cacei esta tese aí pela Net. Talvez seja uma provocaçãozinha aos indefectíveis do samba, os que professam radicalmente que Carnaval é Samba. Seja como seja, esta tese deve fazer jurisprudência a tantas outras rivalidades que por todo o Mundo vão espicaçando a Intolerância e desafiando a Tolerância.
  8. Carnaval é dissolvência, Tolerância é excelência, Respeito é essência. Vem-me à cabeça os excessos a que chegaram algumas praxes académicas.
  9. Se o Carnaval é inebriante canção, a Tolerância é prudente refrão. Quem quiser, canta, goste ou não da canção; quem não quiser, deixa-se ficar quietinho ou passa ao lado, procura outra reinação.
  10. Carnaval salutar é fácil tolerar. Perverter o Carnaval, fazendo dele oportunidade doutras coisas que não sejam as ancestrais folias pagãs, é estragar a festa e a alegria que as pessoas nele procuram. (É, eu não podia deixar de fazer uma referenciazinha, por muito ao de leve que fosse, ao âmago antropológico da folia carnavalesca).

Fico-me por estas 10 teses, que, afinal, se aparentam mais em número com as Tábuas de Moisés do que com as Folhas de Papel de Lutero.

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(1) Talvez a celebração que mais se tem abastardado seja o Natal, muitas cidades estão já a preparar o Natal no início de Outubro! E porquê? Porque o Natal é cada vez mais uma "celebração" comercial, em que muito dinheiro se gasta, muito de tudo se consome — é a grande oportunidade de negócio para os comerciantes, sejam as grandes lojas sejam os retalhistas, há que esmifrar o subsídio de Natal que, afinal, tanto, ao longo do ano, custou a ganhar aos cidadãos-consumidores.

(2) Segundo o Livro de Registros das Formas de Expressão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) do Brasil, o frevo é “uma forma de expressão musical, coreográfica e poética, enraizada no Recife e em Olinda, no estado de Pernambuco”. É Património Cultural Imaterial Brasileiro desde 2007, e da Humanidade desde 2012.

quarta-feira, fevereiro 26, 2025

#TOLERÂNCIA 59 - A TOLERÂNCIA NA SABEDORIA ORIENTAL

 #TOLERÂNCIA 59 - A TOLERÂNCIA NA SABEDORIA ORIENTAL

Há pouco pousei os olhos no precioso livrinho de cerca de 750 páginas, um daqueles muito úteis dicionários, escritos em francês, da editora Robert Laffont: "Dictionaire de la sagesse orientale, bouddhisme - hindouisme - taoïsme - zen", publicado 1986 (original alemão) e 1989 (tradução francesa).

Que fui eu procurar? Pois claro, a Tolerância. É claro, não a encontrei...

Fui à procura de ajuda, noutros livros e na Internet.

Pois, parece que não há um conceito específico nesta "Sabedoria Oriental" que possa ser o equivalente directo da Tolerância... Será que procurei mal? Será que na mundividência da Sabedoria Oriental a Tolerância não ascende, enquanto atitude ou comportamento humano a uma ideia ou conceito que justifique uma entrada no dicionário? Bem, são perguntas que ficarão na minha mente a ruminar. Pode ser que noutro momento do futuro voltem à consciência e delas me ocupe.

Para já, parece que nas tradicões orientais a Tolerância está ligada, ou está implícita, a conceitos que põem o acento tónico na harmonia, na compaixão (ui!, palavra de tradução difícil...) e na aceitação das diferenças. Parece também que estes princípios da Sabedoria Oriental não se satisfazem com a Tolerância passiva, mas convidam à atitude activa de respeito e de gentileza para com os Outros. Os outros seres, não apenas os humanos.

Entre várias fontes consultadas, a ideia (conceito ou princípio) que mais vezes surgiu quando pesquisei sobre a Tolerância foi a de "Mettâ-Sutta", que é um conceito budista directamente ligado à bondade.

O conceito é apresentado na forma de uma reza ou oração, qualificada como popular. Encontrei versões diferentes. Optei por uma sem qualquer critério que não fosse o de me parecer fidedigna e de ser fácil traduzi-la para português.

Aqui está ela:

Eis o que deve fazer o homem que é hábil na busca da felicidade
E quer viver em paz:
Ser capaz, íntegro, perfeitamente íntegro
Conciliador, gentil e humilde.
Satisfeito com tudo e suportando facilmente a sua sorte
Que ele não se deixe dominar pelos assuntos mundanos e viva com simplicidade
Que os seus sentidos sejam controlados e que ele permaneça prudente
Não seja arrogante nem ávido de prazeres mundanos.
Que ele não faça nada que seja mesquinho
E que possa ser desaprovado pelos sábios
Que todos os seres vivam em alegria e segurança
Que todos sejam felizes
Que todos os seres, sem exceção
Os fracos e os fortes
O gordo e o alto
O médio, o pequeno, o grosseiro
Sejam visíveis ou invisíveis
Quer estejam perto ou longe
Quer já tenham nascido ou ainda estejam para nascer.
Que todos sejam felizes.
Para qualquer pessoa e em qualquer circunstância
Nunca enganar ou desprezar
Com ódio ou raiva
Nunca desejar mal aos outros
Como uma mãe ama o seu único filho
Pronta a fazer qualquer sacrifício para o proteger
Assim, com um amor que não tem limites
Devemos acarinhar todos os seres
Devemos cultivar uma bondade ilimitada para com o mundo inteiro
Para cima e para baixo, bem como horizontalmente
Sem ódio ou inimizade
De pé ou a andar, sentados ou deitados
E enquanto a mente permanecer lúcida e desperta
Esta atenção correta deve ser desenvolvida
Pois é a forma suprema de viver.
Não te percas em falsas visões
Cultivar uma vida virtuosa, ter uma visão interior profunda
Afastarmo-nos dos apetites dos sentidos
Então não haverá mais renascimento neste mundo.
(1) (2)

Pronto, estou apenas a ir um pouco mais fundo na minha permanente necessidade: entender mais, entender mais profundamente, qual Ícaro buscando o sonho duma universalidade. Sim, consciente de que, num certo sentido, buscar a Universalidade é desvalorizar a Diversidade — lá estou eu a meter um pezinho da Ambiguidade (ver #TOLERÂNCIA 51)

(1) https://bouddhanews.fr/le-metta-sutta/

(2) Traduzido com a versão gratuita do tradutor - DeepL.com

terça-feira, fevereiro 25, 2025

#TOLERÂNCIA 58 - A ESPERA E A PACIÊNCIA

 #TOLERÂNCIA 58 - A ESPERA E A PACIÊNCIA

Este é ainda o tempo da Paciência.

Por iniciativa da minha colega Paula Faia, esteve hoje na escola o dr. Vítor Madail Herdeiro, o autor do livro RARET - A Guerra Fria Combatida a Partir da Charneca Ribatejana (2021).

No resumo da tese de mestrado que deu origem ao livro, o autor escreveu assim:

"(...) Em 19 de dezembro de 1950, o embaixador dos EUA em Portugal foi recebido em audiência pelo Presidente do Conselho de Ministros Oliveira Salazar. A audiência tinha dois objetivos; por um lado, revelar às autoridades portuguesas os esforços realizados pelos EUA no combate à expansão do comunismo na Europa e, ao mesmo tempo, convidá-lo a participar dessa luta, autorizando a construção de um centro de retransmissão Radio Free Europe (RFE) em Portugal. Nenhuma documentação é conhecida sobre as conclusões daquela audiência, exceto um "Aide Memoire" elaborado na época. No entanto, desde a reunião inicial em São Bento, até a constituição da Sociedade Anônima de Rádio Retransmissão - (RARET), em 10 abril de 1951, cinco meses se passaram. A primeira retransmissão da RARET ocorreu em 4 de julho de 1951, dirigida à Checoslováquia.

A RARET tinha como objetivo retransmitir, a partir do Centro de Emissor da Glória do Ribatejo, as emissões da RFE, organização patrocinada pelo National Committee Free Europe (NCFE), fundado nos EUA em 1949, financiada pela CIA e pelos fundos angariados pela Cruzada pela Liberdade (Crusade for Freedom). A adesão das autoridades portuguesas à iniciativa americana colocou Portugal no epicentro de um combate hertziano, que envolveu os dois blocos ideológicos da Guerra Fria ao longo de quarenta e cinco anos. (...)"

Na escola, ele contou a história toda. Foi uma sessão muito interessante.

Já no período da conversa informal que sempre acontece numa escola após ser o conferencista anunciar o fim da apresentação, já os slides estão esquecidos na projecção que continua ligada, falou-se sobre «aqueles tempos» e «os tempos agora».

A minha colega Paula Faia, professora de História e directora de turma, sempre muito maternal para os alunos, foi dizendo à plateia, composta por alunos de duas turmas de História, como era a comunicação dela com o namorado há quarenta e poucos anos, à distância, um em Lisboa e o outro em Paris, com um deles nas velhas cabines telefónicas públicas e o outro à espera em casa da pessoa que tinha um telefone, fixo (e sem ecrã!), em casa, era naquele momento, de horas antes combinadas, ou a oportunidade da conversa ao telefone passava.

Espontaneamente, ela faz esta afirmação lapidar: «Passava-se mais tempo sem a necessidade de estarmos sempre contactáveis, não é? Não havia essa necessidade e as coisas realizavam-se na mesma, não é?»

É isso: viciámo-nos na necessidade de estarmos sempre contactáveis. O efeito mais trágico, dramático, é que a espera tornou-se-nos insuportável. Perdemos a paciência, ou melhor, não aprendemos a Paciência da espera. As nossas vidas parece que ganharam o absolutismo do aqui-e-agora, para além dele só existe o que vai acontecer no minuto a seguir, quer dizer, no fundo, nunca saímos do aqui-e-agora.

Tornou-se um estereótipo social dizer que para as gerações novas só há direitos, não há obrigações, tudo lhes deve ser servido a tempo e horas, logo que o querem, a isso têm direito, isso lhes é devido. Não, não é isso que quero discutir agora, o meu caminho não é esse.

Mais do direito a tudo terem direito, o que me parece que se distorceu na vida dos mais novos é a experiência humana — ao mesmo tempo vital e animal (quer dizer, é intrínseca à nossa própria natureza) — da espera, do que não é imediato. Quem é capaz da paciência da espera tem outra mundividência, tem outra maneira de estar no mundo, tem outra liberdade.

Curiosamente, isto de que se falou neste final informal toca directamente no que "acrescentei" aos perfis da Tolerância (ver apontamento #TOLERÂNCIA 56), que fala de que os alunos pedem tempo, que não se tenha pressa, que se façam pausas, que se vá mais devagar, que se espere por eles.

Ora, o que hoje ganhámos a oportunidade de lhes levar foi precisamente a de tomarem consciência, a desafiante consciência de que eles também têm de fazer a aprendizagem da espera, da pausa, do contrário da pressa; e não apenas de reclamar isso como um direito. Atenção! Direito esse que espero ter deixado claro no apontamento em que sobre isto escrevi lhes seja respeitado, concretizando as condições para que assim aconteça. Direi que, quem sabe, se trata de ajudar os mais jovens a libertarem-se da escravatura do imediatismo.

Lembro-me de há bem poucos anos um alunos vir ter comigo no final duma aula, com ar a um tempo aflito e desapontado, e dizer-me: «'Stôr', se calhar vou desistir deste sujeito monográfico e escolher outro...» «Então, que se passa?» «Escrevi-lhe, mandei um email ao meu sujeito monográfico, mas ele nunca mais me responde...» «Quando é que lhe escreveste?» «Ontem.» Lapidar, não é?

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