domingo, agosto 24, 2025

#TOLERÂNCIA237 - COMO PODEM OS QUE PERDEM SEMPRE SER TOLERANTES?

 #TOLERÂNCIA237 - COMO PODEM OS QUE PERDEM SEMPRE SER TOLERANTES?

Reconheci numa vinheta de banda desenhada publicada pelo meu amigo José Manuel Paulino uma daquelas minhas ruminações que vêm e vão, parece que esperando a madureza para se transformarem no texto-fruto de qualquer coisa.

Na imagem, cómica, uma figura adulta, que nos deixa na dúvida ser o pai ou o avô, está visivelmente chateado, ergue os braços ao alto, olha o tabuleiro em que acaba de perder mais uma partida de xadrez com o filho/neto, que o olha incrédulo, e desabafa: «Como é que tu queres que eu seja bom a perder se tu é que ganhas sempre?»

Enquanto é a feijões... enquanto é ali entretidos a jogar confortavelmente em casa... enquanto há regras claras que ambos os contendores conhecem e cumprem... enquanto os dois pensam que a disputa será justa... enquanto isto tudo, que ganhe a partida quem for melhor no jogo!

Há uma idade nas crianças em que elas gostam de fazer jogos (com outras crianças, com os pais ou com os avós) em que vão criando as regras; e que vão modificando as regras à medida das suas conveniências, logo que as coisas não lhes correm de feição. É uma fase muito oportuna para a educação de regras sociais, da coerência, da justiça e da tolerância à frustração e ao insucesso.

O problema é quando este comportamento infantil acontece na vida adulta, seja entre pessoas, seja entre países.

É, no caso dos países, há uns que perdem sempre. Não são jogos a feijões, o conforto da casa está sempre a ser posto em causa, as regras não são claras e nem sempre são cumpridas, a disputa não é justa porque um dos lados tem as peças todas, ou pelo menos as mais valiosas... Conclusão: a "criança" que estava a aprender a arte da disputa, do compromisso e da negociação não foi educada como deveria ter sido, ou nunca quis submeter-se às regras da disputa justa.

Nestas condições, como se pode exigir que quem perde seja dócil, tolerante, se resigne e não se revolte?

Quando nos pomos a pensar que líderes políticos personificam estas crianças que nunca aprenderam ou aceitaram o comportamento da disputa justa, quem são eles?... Era engraçado criar-se um questionário e fazer-se uma sondagem para ver quem aparecia mais vezes.

De pequenino se torce o pepino, não é? Há poucos dias falei, a propósito dos lixos na praia que a filha puxava os pais para os irem recolher, de que na infância e na juventude se aprende e que depois, chegando-se à adultícia, se desaprende, sem que, em geral, se consigam identificar os momentos, os processos mentais e comportamentais e os pequeninos conteúdos, quais peças de lego, de tais desaprendizagens.

Há qualquer coisa da tragédia eterna de Sísifo na acção da Educação, mas a Educação tem um trunfo que Sísifo não tinha, ou melhor, não tem: na Educação nunca se está sozinho. Sísifo, sozinho, até pode ir mais depressa, como diz o ditado africano, mas na Educação vamos mais longe.

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sexta-feira, agosto 22, 2025

#TOLERÂNCIA236 - PREOCUPANTES CERTEZAS PESSOAIS

 #TOLERÂNCIA236 - PREOCUPANTES CERTEZAS PESSOAIS

Na edição do Nascer do Sol (revista Luz) de hoje, Zita Seabra, afirma, no último parágrafo da entrevista (não sabemos se acabou mesmo assim a entrevista ou se foi assim que a jornalista quis que acabasse...) o seguinte:

Pergunta: O que é que a vida, ao fim de 76 anos, lhe ensinou? Resposta: «Ensinou-me, primeiro, que a tolerância é muito importante quando se discute política. Penso que a sociedade política está um bocadinho crispada e muito pouco tolerante. Aos que estão mais à direita chama-se logo "fascista" e

esta faz o mesmo a quem está mais à esquerda. Esta expressão foi inaugurada por Estaline. Essa crispação tem de ser combatida. Também já rotulei pessoas por discordarem das minhas opiniões. Hoje, penso que há sempre alguma coisa de positivo nos contrários, nas opiniões dos outros. Agora, não é possível ser comunista e ser tolerante. Isso não existe.»

Leio outra vez: «Agora, não é possível ser comunista e ser tolerante. Isso não existe.» Leio e fico a pensar na contundência absoluta da afirmação.

A primeira coisa que me vem à cabeça, quase por impulso, faz-me sorrir: se há pessoa para quem os comunistas têm sido tolerantes (não nos foquemos apenas no julgamento interno no PCP que levou à expulsão de Zita Seabra do partido), os comunistas e partidários de outras ideologias políticas, é precisamente para com Rita Seabra, que tem dito e feito, que tem desdito e desfeito, o que bem lhe tem aprazido.

A seguir, quase automaticamente, quis categorizar a afirmação: se uma proposição, se um axioma, se um teorema, se um lema, se um corolário. No contexto da entrevista toda, optei pelo axioma — a verdade inquestionável. Na idade em que está, com a experiência pessoal e política que tem, talvez se compreendesse mais um corolário. Só que, sendo corolário, pedia explicação justificadora. Sendo a última afirmação da entrevista, assim sem mais nada, pois, só mesmo axioma.

Sendo axioma a propósito da relação entre os grupos e da relação entre as pessoas é radical e... intolerante! Não admite a diferença, nem sequer a matização.

Ora, se há coisa que a história das ideologias políticas e das práticas políticas sempre nos tem mostrado é que não há absolutos em nenhuma, mas mesmo nenhuma, ideologia ou prática política; e que a intolerância aparece servida por regimes políticos radicais tanto de esquerda como de direita, comunistas e não comunistas. (Num texto com outra extensão e desenvolvimento, falaria do radicalismo das ideologias religiosas, sobretudo as monoteístas. Talvez o faça noutra altura.)

Parece-me que Zita Seabra ainda não se pacificou com o seu passado comunista, a ideologia, os ideais e a experiência partidária... Não está sozinha nestes processos de trajectórias resvalantes e ziguezagueantes do espectro político-partidário. Só que uns são mais tolerantes do que outros, mesmo que me pareça que, em geral, não abonam muito em favor dos seus protagonistas (por exemplo, Durão Barroso e Freitas do Amaral).

De resto, como lutadora comunista, anti-fascista, antes do 25 de Abril, Zita Seabra merece-me todo o respeito. Respeito e gratidão. Desejo-lhe toda a paz do mundo.

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quinta-feira, agosto 21, 2025

#TOLERÂNCIA235 - "TEMPOS DE TRUMP". INTOLERANTES

 #TOLERÂNCIA235 - "TEMPOS DE TRUMP". INTOLERANTES

"Tempos de Trump" é o título do artigo de José Carlos Vasconcelos, no Bloco-Notas da edição de hoje do Público. Transcrevo o primeiro e o último parágrafo.

Primeiro parágrafo: «Tragicamente, são estes os tempos que vivemos: Tempos de Trumps. O pior, na sua terrível desumanidade e crueldade, aquele – Netanyahu – que Trump apoia, inclusive fornecendo-lhe armas, quando poderia talvez ser o único a conseguir travar a chacina que implacavelmente

prossegue. As imagens rasgam-nos o coração e suscitam sempre a mesma dolorosa interrogação: como é possível? Como deveremos chamar àqueles que, apesar de todas as mentiras e luvas protectoras, se sabe terem as mãos tão tintas de sangue? E não só de sangue, porque não “sangram” as crianças que morrem de fome, nem (talvez) as que jazem sob os escombros dos bairros, das casas, dos hospitais bombardeados.»

Último parágrafo: «Tragicamente estes são tempos também de valas comuns. Nalgumas se amontoam dezenas e dezenas de milhares de supliciados e mortos inocentes. Noutras se enterram valores civilizacionais e humanistas, de dignidade de povos e pessoas, de respeito mútuo e tolerância, que julgávamos adquiridos para sempre, pelo menos em países considerados democráticos e evoluídos. Afinal…»

Na nossa viagem pela geografia da Tolerância, desta estação guardo duas perguntas:
— Por que razão, ou razões, se perdem as coisas boas adquiridas?
— Sabendo que estão sempre em risco de se perderem, como pode a Educação ajudar na prevenção e evitamento das perdas?

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quarta-feira, agosto 20, 2025

#TOLERÂNCIA234 - INCÊNDIOS: EXIBICIONISMO INTOLERÁVEL

 #TOLERÂNCIA234 - INCÊNDIOS: EXIBICIONISMO INTOLERÁVEL

Penso que a tragédia dos incêndios desperta nos cidadãos, primeiro, um sentimento de aflição; depois, um sentimento de impotência.

É um tema que muitas vezes recorre, nas falas e nos escritos, à palavra "Tolerância", sobretudo para dizer que não há tolerância para mais, que «Basta!». Ficamos incrédulos, estupefactos com coisas que ouvimos ao sr. Presidente da República: «Cada caso é um caso...» Isto é uma justificação?... É uma generalização desculpante?... «[Com o que se tem passado nos últimos 10 anos, que é o tempo do seu magistério] Aprendemos que é preciso preservar vidas humanas...» É mesmo preciso aprender isso?!... Não se sabe isso desde sempre?!... «Aprendemos que é preciso prevenir mais...» Não, não aprendemos! Aprender é fazer diferente, fazer diferente de forma continuada, mas, afinal, continua-se a fazer o que se fazia, ou melhor, o que não se fazia e era preciso fazer-se! «Há reflexões a fazer porque se aprende...» Andamos há 10 anos a fazer reflexões! «Admito que quem chegou há 2 meses — está a referir-se à sr.ª Ministra da Administração Interna — esteja a descobrir os problemas e esteja a descobrir as respostas a dar...» A sr.ª Ministra está a descobrir os problemas que se repetem, repetem, repetem, ao longo de anos, anos, anos? Bem, por alguma razão a senhora é ministra e eu não: eu seguramente não estou preparado, não conheço e não sou competente. Além disso, a senhora não está sozinha no Ministério: tem secretários, equipas, técnicos... Não, senhor Presidente, eu vi-o em Pedrógão Grande! O sr. Presidente está de consciência tranquila? Tem a certeza de que de lá até agora fez o que devia ter feito, com uma magistratura de influência, para que a aprendizagem e a prevenção fossem, de facto, adquiridas e consolidadas?

Hoje li assim no Público, num artigo de opinião escrito pelo biólogo Jorge Paiva:

«Os nossos governantes e políticos, além de palavrearem em vez de governarem, passaram a ter a preocupação de aparecer nas
televisões, num exibicionismo intolerável. Há alguns que aparecem todos os dias. Nos telejornais, esses exibicionistas falam abanando constantemente a cabeça para os vários microfones e rodeados de
aduladores.

»Camões já refere estes aduladores n'Os Lusíadas (Canto IX.27), que não eram mais do que uns inúteis do Reino, incapazes de mondar o trigo florescente: "Vê que esses que frequentam os reais/paços por verdadeira e sã doutrina/vendem adulação, que mal consente/mondar-se o novo trigo florecente."

»Para me informar, leio diariamente jornais porque não vejo noticiários televisivos, principalmente na época estival. Isso porque, além dos exibicionistas, estão transformados em pirotelejornais, incentivadores à piromania por apresentarem imagens de fundo de pavorosos incêndios enquanto o locutor noticia e fala com os pirorrepórteres regionais que se colocam de modo a que os pirómanos vejam pavorosas imagens da vegetação e habitações a arderem.»

O resto do artigo não é mais do mesmo, desabafo atrás de desabafo, é enumerar de razões, é lembrar o que tantas vezes já foi dito e redito. Sabe, sr. Presidente, porque dei destaque a esta parte do "exibicionismo intolerável"? É porque eu tenho tido repetidamente vontade de escrever uma coisa assim.

A minha questão, a minha interrogação, é como é que se passa da palavra do sentimento de intolerância, legítimo!, para a acção que concretiza o «Basta!» que todos, todos, todos, andamos há muitos anos a proclamar?

Fico a pensar na Educação para uma Cidadania Activa... O que tolerar? O que não tolerar? O que fazer quando o vermelho do vermelho da Tolerância acende? Acende e queima!

Os governantes, como o sr. Presidente da República anda desde ontem a fazer, têm sempre justificações e atenuantes. Dizem que são julgados pelo Povo depois, mais tarde, nas eleições seguintes.

Escreve Jorge Paiva quase a concluir o seu artigo de opinião: «Sinto-me um condenado à prisão perpétua no meu país, pois já quase não tenho natureza com biodiversidade para me deliciar a estudar, a não ser residual no meio urbano, para onde alguns animais selvagens estão a migrar.»

Há pouquinho, no Joker, o concurso da RPT1, o concorrente disse que se tem ocupado a ir com a filha à praia apanhar os lixos. Porque a filha reclama que assim ele faça com ela. Ela aprendeu na escola que se deve fazer assim. Quantos dos actuais governantes também já aprenderam assim? Há cerca de 40 anos, eu já levava grupos a participarem em actividades de limpezas de praia (o projecto Europeu Coastwatch). Quer dizer que há um momento a partir do qual o que se aprende em pequeno se desaprende em grande. Um ou vários. Não estando nas mãos da Educação resolver esses momentos de desaprendizagem, pelo menos que a Educação saiba alertar quem tiver de alertar para a Prevenção da(s) Desaprendizagem(ns). Não será nada fácil, mas a Educação não deve furtar-se a este esforço, mesmo que hercúleo.

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terça-feira, agosto 19, 2025

#TOLERÂNCIA233 - TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO. E SE ESPERARMOS MAIS UM BOCADINHO?

 #TOLERÂNCIA233 - TOLERÂNCIA À FRUSTRAÇÃO. E SE ESPERARMOS MAIS UM BOCADINHO?

Acho que nos habituámos a que o que verdadeiramente importa no mundo e no nosso mundo está no telemóvel, e o que não aparece lá, pois, não existe ou não tem valor.

Eu hoje também ia esperando menos do que devia... por causa das horas que ia vendo no telemóvel.

Ainda não percebi (quer dizer, ainda não me dei ao esforço de perceber) como é que o Google "sabe" as horas do nascer-do-sol... Agora, no Faial, já nasce nitidamente depois das 7. Mantenho a rotina diária, levanto-me, em geral, entre as 6 e as 6 e meia. Hoje, às 7 e cinco já eu estava encostado ao muro, à espera do Sol. O céu parecia-me rigorosamente nítido sobre a ilha de São Jorge, os contornos dos altos e morros viam-se com absoluta nitidez.

O tempo passava (gosto de ver a lenta mudança dos matizes de cores no céu, na água, e no Pico). No mar, um barco à vela a afastar-se do Faial; outro, também à vela, fundeado praticamente à saída do pontão; aparece depois um poderoso barco a motor de pesca de alto-mar para turistas; ao longe, ao norte de São Jorge, mais outro barco. Não é normal, no cenário que todos os dias observo, tanto barco a esta hora da manhã.

7 e dez... 7 e doze... 7 e quinze... nada de Sol a nascer. Estranhamente, por cima de São Jorge, parece não haver qualquer alteração nos matizes de cores matinais... excepto no Pico, que se acendia lentamente em cor de fogo como de costume. Concluo que para lá de São Jorge a nebulosidade é grande, e tala o Sol como uma grande cortina cor-de-laranja deslavado.

Volto-me para regressar a casa, não me apetece esperar mais. Já tinha as fotografias do momento do nascer-do-sol, são 7 e quase vinte. Dou dois 2 passos, mas lanço ainda um olhar à direita, para São Jorge. Precisamente nessa altura o Sol começa a espreitar entre os dois morros mais altos de São Jorge. Já tinha arrumado a máquina fotográfica na bolsa, tiro-a à pressa e regresso ao ponto de observação. Já a caminho de casa, senti-me satisfeito: valeu a pena ter esperado mais um bocadinho. Quase sempre vale a pena.

Meti-me à bolina, e pus-me a pensar na síndrome FOMO (Fear Of Missing Out - Medo de Estar a Perder), talvez seja essa uma das razões porque as pessoas (sobretudo se são jovens) não gostam de

esperar: têm medo de estar a perder qualquer coisa.

Está cada vez pior entre os jovens a Tolerância à espera, a Tolerância à frustração, e essa coisa cada vez mais assim clinicamente institucionalizada chamada Tolerância ao Tédio. Este último tipo de frustração está intimamente ligado à incapacidade de suportar momentos de tédio, espera, ou falta de estímulos imediatos, tornando-se telemóvel tornou-se a ferramenta perfeita para evitar qualquer estado emocional ligeiramente desconfortável.

Antes da existência dos telemóveis, na paragem do autocarro ou na plataforma duma estação do metropolitano; ou num ponto de encontro, aguardando alguém, as pessoas observavam o ambiente, pensavam, ou simplesmente "não faziam nada". Esses momentos exercitavam a paciência e a tolerância ao tédio. Agora, com os telemóveis, qualquer pausa é imediatamente preenchida com o telemóvel. Isso cria um ciclo vicioso: quanto menos praticamos a tolerância ao tédio, menor ela se torna.

Treinar a espera é preciso... Treinar a espera é preciso... Treinar a espera é preciso...

O treino começa em casa, os pais não devem deixar-se levar pela aflição de terem o bebé, os filhos, a chorarem com falta de qualquer coisa. É em casa que as crianças aprendem que esperar é natural. Registo, para acções de formação dos pais

Coisa diferente é a educação do prazer de esperar, de que vale a pena esperar. Que actividades podem ser levadas a cabo para educar o prazer da espera e o valor da espera? Registo também. Acho que isto tem alguma coisa a ver com o apontamento de ontem, acerca da Tolerância no bridge.

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segunda-feira, agosto 18, 2025

#TOLERÂNCIA232 - COMO A TOLERÂNCIA NO BRIDGE PODE INSPIRAR A PAZ GLOBAL

 #TOLERÂNCIA232 - COMO A TOLERÂNCIA NO BRIDGE PODE INSPIRAR A PAZ GLOBAL

Não sei jogar bridge, mas se calhar está na altura de aprender...

Hoje tive a prova de que, mesmo que disso não tenha consciência, estou em estado de alerta permanente, pronto a encontrar a Tolerância em todo o lado: folheava a edição do Público de hoje, já a chegar às últimas páginas, as dedicadas ao lazer, ao entretenimento e aos jogos, esbarrei na Tolerância do bridge, onde dizia assim: "Resposta: Passe - Abertura mínima e sem tolerância para paus, o passe é a voz mais sensata."

Fui logo ao DeepSeek e pedi-lhe que me explicasse o conceito de Tolerância no bridge; e depois perguntei-lhe que analogia esse conceito podia ter com o relacionamento entre as sociedades ou os países do Mundo.

O 'chatbot' começou por me dar uma "Definição Avançada de Tolerância": «Tolerância ('holding power') é a capacidade de um par: a) manter controle num naipe por mais voltas sem perder imediatamente, mesmo sem as cartas mais altas. b) atrasar o estabelecimento do naipe adversário, ganhando tempo para executar outras acções (como cortes ou desenvolvimento de trunfos).»

E por que razão isso é importante?

O 'chatbot' responde-me: «No bridge, tempo é recurso. Se o jogador pode "segurar" um naipe por uma

ou duas voltas extras, pode: a) forçar o adversário a gastar trunfos antes do necessário. b) desenvolver seus próprios naipes vencedores. c) evitar que o oponente execute o seu plano.»

A seguir diz-me que há 3 tipos de Tolerância (e exemplifica, o que me permito agora não o fazer): a) tolerância por Cartas Intermediárias. b) tolerância por Distribuição (Comprimento). c) tolerância por Honras Divididas.

Depois diz, em jeito de conclusão, que a Tolerância é um dos conceitos mais subtis e poderosos no bridge, pois permite que o jogador faça a gestão do tempo do jogo a seu favor. Dominá-la exige: a) reconhecer combinações de cartas que oferecem resistência. b) saber quando segurar ou jogar honras. c) usar o tempo ganho para executar o seu plano.

Pedi finalmente ao DeepSeek um texto -síntese do que me foi dizendo antes, centrado na analogia com as questões geopolíticas mundiais. O 'chatbot' escreveu-me assim:

A) Tolerância como forma de "Resistir à Pressão" (Evitar Conflitos): no bridge, segurar uma carta intermédia (como o 10 de espadas) em vez de jogar uma honra (rei de espadas) impede que o adversário domine o jogo de imediato.

    A - Analogia Geopolítica: os países podem usar diplomacia contida em vez de reagir de forma agressiva a provocações. Exemplo: durante a Guerra Fria, os EUA e a URSS evitavam confrontos directos, recorrendo a dissuasão estratégica (tal como no bridge, onde segurar cartas mantém o equilíbrio).

    B) Tolerância como forma de "Ganhar Tempo para Soluções": no bridge, manter tolerância num naipe permite resolver problemas noutras áreas (como, por exemplo, estabelecer trunfos).

      B - Analogia Geopolítica: países em crise podem adiar conflitos imediatos para se focarem no desenvolvimento económico ou em alianças. Exemplo: a União Europeia surgiu após a Segunda Grande Guerra como um projecto de cooperação gradual, em que rivais históricos (França e Alemanha) ganharam tempo para reconstruir relações.

      C) Tolerância como forma de obter "Equilíbrio de Poder" (Nenhum Domina Sozinho): no bridge, se um jogador tem ás, rei e dama de espadas, domina o naipe. Mas se as honras estão divididas (ás de espadas com um parceiro, rei de espadas com outro), há mais equilíbrio.

        C - Analogia Geopolítica: um mundo multipolar (EUA, China, Rússia, UE) é mais estável do que um mundo unipolar, pois obriga à negociação. Exemplo: A ONU (apesar das falhas) tenta distribuir influência através do Conselho de Segurança, impedindo que uma única potência decida tudo.

        D) Tolerância como produzir "Confiança entre Parceiros": no bridge, os parceiros devem confiar que um segura um naipe enquanto o outro ataca noutro sítio.

          D - Analogia Geopolítica: alianças (como a NATO) dependem de cooperação tácita: um país lidera numa crise, outros dão apoio. Exemplo: na crise ucraniana, a UE impôs sanções, enquanto os EUA forneceram armas – cada um "segurando" uma parte do conflito.

          E) Tolerância como forma de "Evitar Acções Prematuras": no bridge, jogar uma honra demasiado cedo pode entregar o controlo ao adversário.

            E - Analogia Geopolítica: diplomacia discreta (como negociações secretas entre Irão e EUA) evita humilhações públicas e mantém portas abertas para acordos futuros. Exemplo: o Acordo de Paris sobre o clima só foi possível porque os países adiaram exigências radicais e aceitaram compromissos graduais.

            F) Quando a Tolerância Falha (Lições para Crises Reais): por vezes, no bridge, não há tolerância e é preciso cortar o naipe adversário com trunfos.

              F - Analogia Geopolítica: quando a diplomacia falha, sanções económicas ou intervenções limitadas (como no Kosovo em 1999) podem ser o "trunfo" para evitar desastres maiores. Risco: se mal calculado, pode levar a escaladas descontroladas (ex.: Guerra do Iraque em 2003).

              Conclusão: a tolerância no bridge ensina que por vezes é melhor conter, observar e negociar do que reagir impulsivamente. No mundo real, isto significa: a) evitar escaladas perigosas (como ameaças nucleares). b) fortalecer instituições multilaterais (ONU, UE). c) dar prioridade ao desenvolvimento económico em detrimento dos conflitos ideológicos.

              Metáfora Final: se os líderes mundiais jogassem mais bridge, talvez o mundo fosse menos volátil, inseguro e perigoso.

              Eu já tenho em carteira estratégias de dinâmica de grupo com cartas, mas ainda não tinha nenhuma a contar com o bridge. Vai passar a estar. Olhem para mim a escrever um dia destes, o texto "A Pedagogia do Bridge, um excelente trunfo da Tolerância".

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              domingo, agosto 17, 2025

              #TOLERÂNCIA231 - OS ANIMAIS NÃO SÃO INTOLERANTES

               #TOLERÂNCIA231 - OS ANIMAIS NÃO SÃO INTOLERANTES

              Os pensamentos de hoje cruzaram uma notícia de jornal com o comportamentos de 2 cães, pai e filho, que se deram bem, com razoável até há 15 dias atrás. Agora, o confronto entre eles é radical: mal se vêem, atacam-se um ao outro. Já falei deles aqui, há poucos dias. Todos cá em casa temos a noção de que, se os deixarmos entregues ao confronto um com o outro, a coisa vai acabar mal para um dos lados, talvez mesmo para os dois. São animais de estimação, com o que de bom e de mal isso tem, amanhã um deles vai mudar de morada (sem sair da família). Esta rivalidade não é "desumana": rivalidade, disputa pela liderança é uma condição inerente à vida, coesão e defesa do grupo animal.

              Por sua vez, a notícia é a seguinte, assinada por Maria João Guimarães, na edição do Público de hoje: «O chefe da secreta militar em funções a 7 de Outubro, Aharon Haliva, afirmou que o grande número de palestinianos mortos na Faixa de Gaza era "necessário", numa série de gravações a que o Canal 12 da televisão teve acesso.

              »Segundo a imprensa israelita, nas gravações, Haliva disse que "deveriam morrer 50 palestinianos" por
              cada vítima israelita do ataque do Hamas de 7 de Outubro de 2023.

              »No ataque a uma série de comunidades perto da Faixa de Gaza e a um festival de música, o Hamas matou mais de 1200 pessoas e levou 251 reféns, dos quais 50 estão ainda na Faixa de Gaza, estimando-se que 20 deles ainda vivos.

              »A guerra que Israel levou a cabo na Faixa de Gaza fez já mais de 61 mil mortos.

              »"Não há escolha, eles precisam de uma Nakba [Catástrofe] de vez em quando para sentir as consequências", declarou Haliva, referindo-se à saída de centenas de milhares de palestinianos das suas terras por volta da altura da criação do Estado de Israel, em1948.

              »Não era claro o contexto das gravações, feitas "ao longo dos últimos meses", segundo o canal de televisão.

              »A dada altura, Haliva refere-se "ao facto de haver 50 mil mortos em Gaza" como "necessário e exigido
              para gerações futuras", e não "como vingança".»

              O tom de desumanidade e sobranceria imperialista desperta-me afectos de repulsa, raiva e ódio.

              A atalhar a reflexão que noutras circunstâncias faria doutra maneira, perguntei a dois ou três 'chatbots': «O que se sabe sobre as raízes biológicas e animais da Intolerância? Responde em português de Portugal.»

              As respostas que os 'chatbots' me dera, levaram em consideração variáveis biológicas, neurológicas, hormonais, sociais, psicológicas, antropológicas, filosóficas, culturais, étnicas... A afirmação de que mais gostei foi a seguinte: «Diferenças Fundamentais: A intolerância humana é frequentemente simbólica (baseada em ideologia, religião, nacionalismo) e não apenas biológica. Animais não formam sistemas de ódio institucionalizado.»

              A seguir, fiz-lhes esta pergunta: «Quais são as fontes desta afirmação? "A intolerância humana é frequentemente simbólica (baseada em ideologia, religião, nacionalismo) e não apenas biológica. Animais não formam sistemas de ódio institucionalizado."»

              Sinceramente, nenhuma das respostas a esta pergunta me satisfez plenamente, todos eles me trouxeram conhecimentos básicos de autores seminais como Konrad Lorenz, Henri Tajfel, Sigmund Freud, Robert Wright, Robert Sapolsky, etc. Conhece-os a todos, é preciso ir bem além deles — evidentemente, com

              eles, não contra eles, mas temos de ir bem além deles.

              As ideologias, as religiões e os nacionalismos são construções mentais das sociedades humanas. Há poucos dias, duas ou três jornadas atrás, eu aqui falei de quanto os credos religiosos que tomam os preceitos do Velho Testamento (por isso também da Tora) são radicais e intolerantes.

              Aos meus alunos, durante muitos anos, eu falei-lhes do que Jane Goodall nos dizia no documentário que a Nacional Geographic lhe dedicou nos anos da década de 1980: que um dos principais grupos de chimpanzés estudados por ela se clivou em dois e que um deles, o mais forte, só descansou quando eliminou todos os elementos do grupo que se tornou rival. Anos depois, a própria Jane Goodall veio a reconhecer que a sua acção, que alterou as condições naturais de disponibilidade de alimentos, foi parte essencial nesse comportamento aniquilador dos nossos principais parentes evolutivos. Mais uma vez, onde o Homem criou uma interferência, mesmo que com boa-fé, o desequilíbrio irrompeu e provocou danos.

              É verdade: o ser humano odeia, não tolera, exclui e elimina iguais como mais nenhuma outra espécie animal o faz. A nossa sede de poder, desejo de domínio, intensidade de raiva e ódio, tornam-se insaciáveis.

              A maneira como os actuais dirigentes políticos e militares de Israel exercem o poder e destilam o ódio, pois é, pensávamos que depois dos nazis alemães, dos estalinistas russos, dos radicais cambojanos de Pol Pot, dos extremistas muçulmanos, dos Ku Klux Klan norte-americanos, etc., as sociedades "civilizadas" mostrariam ao mundo como as instituições democráticas expressariam assertivamente, convincentemente, a vitória da Tolerância sobre a Intolerância, do Respeito sobre a Exploração Pessoal, da Coexistência sobre a Exclusão e a Eliminação.

              Não sei se alguma vez a Educação das crianças e dos jovens vencerá a Política dos adultos. O que me parece é que a Educação não pode nunca deixar de tentar fazer o seu melhor. Deixem os professores trabalhar. Às tantas, Governos haverá que achem que, "pensando bem", é melhor não se dar condições de trabalho aos professores: ainda arriscam a que os professores consigam mesmo fazer das crianças e dos jovens bons cidadãos.

              Vem-me à cabeça a quadra de António Aleixo: «Vós que lá, do vosso império / Prometeis um mundo novo / Calai-vos que pode o povo / Querer um mundo novo, a sério!» É milenar a recomendação aos Políticos que (des)governam os Povos "Panem et circenses" [Pão e circo, frase tradicionalmente atribuída ao poeta romano Juvenal]. Junte-se a isso a agitação do papão do medo dos outros que estão prontos para virem explorar-nos a casa e levar-nos tudo o que temos.

              William Golding, na ficção de "O Deus das Moscas" mostra-se pessimista em relação: a organização democrática do búzio soçobra perante a avidez de poder do líder e dos que ele arregimentou à volta dele. Mais do que revelar-nos a natureza humana, em que o Mal vence o Bem, Golding está a avisar-nos: cuidem da Educação das Crianças, cuidem da Educação dos jovens, se não querem que o Mal vença o Bem.

              Repito: há quem queira que a Educação não seja poderosa, não seja eficaz, não dê frutos.

              #tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التس 

              sábado, agosto 16, 2025

              #TOLERÂNCIA230 - ACUSAR OU DENUNCIAR TOLERANTE OU INTOLERANTEMENTE

               #TOLERÂNCIA230 - ACUSAR OU DENUNCIAR TOLERANTE OU INTOLERANTEMENTE

              Que nas redes sociais as pessoas soltem as línguas e soltem as emoções, já tenho jeito de muito treino de passar ao largo. Agora, que nos meios de comunicação social, idóneos, jornalistas também idóneos soltem línguas e emoções em prosas ou falas de, digamos, contundência negativa, isso já me pede outra reflexão e cuidado, pois são os protagonistas da experiência social alargada que tendo a propor aos meus alunos — quantos deles, todos os anos, se sentem motivados pela formação e carreira em Jornalismo! —como profissionais sociais da Comunicação que devem respeitar, dar atenção e ouvir.

              Hoje, mais uma vez, um dos mais consagrados jornalistas da nossa praça — ele é jornais diários, ele é semanários, ele é canais de televisão, ele é livros... O asco que tem aos professores é também conhecido e de longa data — vem de prosa bem rija e contundente zurzir, pimba-pimba-pimba, como ele gosta tanto de fazer.

              O jeito ruidoso do jornalista — não digo o nome dele porque não quero dar-lhe a mais pequenina ponta de publicidade — põe-me a pensar o que é acusar ou denunciar na Comunicação Social com tolerância

              ou com intolerância...

              Em jeito — sim, também tenho os meus jeitos — de pensamento crista da onda do mar dolente do calor das férias de Agosto — ondas baixinhas, baixinhas, baixinhas — direi que quando se acusa ou denuncia com tolerância, o foco está na acção errada, não na pessoa. O objectivo é buscar justiça e corrigir o problema, não humilhar ou ferir o outro.

              Pôr o foco na acção é dizer que a denúncia é posta no acto (por exemplo, "fulano cometeu uma fraude"), e não sobre o carácter da pessoa ("fulano é uma pessoa horrível e desonesta"), as acções diferenciam-se pelo motivo, pela forma e pelo objectivo. A tolerância, nesse contexto, não significa conivência com um erro ou crime, mas sim a capacidade de agir com respeito e equilíbrio, mesmo diante de algo que se discorda. Já a intolerância manifesta-se de maneira agressiva e preconceituosa.

              A intolerância, por outro lado, transforma a acusação ou a denúncia numa forma de agressão. O foco muda-se do acto para o indivíduo, parece que busca a desqualificação da pessoa ou da entidade, a destruição da reputação ou a punição esmagadora. Focar na pessoa: é atacar o indivíduo (a pessoa ou a entidade) com base em preconceitos (por exemplo, "fulano fez isso porque é da religião X" ou "porque pertence ao grupo Y").

              Pode-se dizer que, no fundo, a diferença fundamental entre a acusação/denúncia tolerante e intolerante está na motivação: o que pretende o jornalista? A acusação/denúncia com tolerância é um acto de responsabilidade cívica, que visa a justiça e a protecção da sociedade. Já a acusação/denúncia carregada de intolerância é um acto provavelmente de vingança, de preconceito, procura de protagonismo social; e que tem como efeito o dano pessoal, a disseminação do ódio e o afastamento do diálogo que aproxima, produz reparação, congrega, faz avançar no sentido da melhoria da situação e da da promoção do bem-estar pessoal de todos.

              Há aqui razão para a Educação se ocupar? Sim, no meu entender há. É mesmo uma necessidade cada vez mais pressionante, não lhe podemos virar as costas nas salas de aula, nos grupos de jovens, nos clubes desportivos e em todos os demais lugares que juntem adultos — de todas as idades!

              #tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التس

              #TOLERÂNCIA229 - OBSERVAR, É PRECISO CONTINUAR A TENTAR

               #TOLERÂNCIA229 - OBSERVAR, É PRECISO CONTINUAR A TENTAR

              A revista da edição desta semana do semanário Expresso traz uma reportagem com o título "Observar
              a democracia", e apresenta-o assim: "Em Outubro de 2024, a UE colocou quase 200 observadores eleitorais em Moçambique, concluindo que a eleição do novo Presidente da República foi pouco transparente. Mas, indiferentes às denúncias, os vencedores tomaram posse. Afinal, para que servem os observadores? Falámos com quatro portugueses que já deram várias voltas ao mundo." O texto é do jornalista Licínio Lima.

              Alguns parágrafos chamam a atenção para o tanto que há a fazer no Mundo, esse lugar de vida que há cerca de 150 anos anda a tentar que a bandeira dos Direitos Humanos seja respeitada por todas as pessoas do mundo:

              «Ou seja, a questão badalada por Madalena [Contreras Passos] em 2005 — "Não sei o que é que estou aqui a fazer" — voltou a soar em 2024. O amigo sacerdote explicara então, segundo nos contou a observadora, o sentido do sorriso: "Sem o olhar dos observadores internacionais, a falta de transparência seria embrulhada num tenebroso manto de silêncio."»

              «Madalena Contreras de Passos garante que, no terreno, os observadores falam de democracia, de
              direitos humanos e de valores, tais como os da participação, da solidariedade, da tolerância. “Valores

              que consideramos universais”, frisou. É nisto que acredita verdadeiramente. É o que a motiva, desde
              a primeira missão na Bósnia, em 1996.»

              «"Isto é viciante”, admite. Em 2003 inscreveu-se no Ministério dos Negócios Estrangeiros, via Instituto Camões, para integrar as missões da UE. [...] Madalena, 57 anos, licenciada em Relações Internacionais, com mestrado em Ciência Política, professora de dança (flamenco), poliglota, solteira e sem filhos, passava praticamente apenas três meses por ano em casa a descansar. “Notei que os colegas, sobretudo os que iam integrados no 'core team', envelheciam muito rápido”, observa.»

              «Uma última pergunta: Valeu a pena? “Claro que sim. Senti-me com mundo em mim.” E quanto a
              resultados? “Tínhamos a perfeita noção de que em certos países seria de todo impossível impedir práticas fraudulentas. Por exemplo, em São Tomé e Príncipe, como se combate aquilo que eles chamam de
              ‘dar o banho’? [Os dirigentes partidários oferecerem dinheiro em troca dos votos.] Faz parte.”
              Os observadores cumprem a sua missão. Fazem relatórios que o mundo pode ler e tirar as devidas ilações. A
              sua perspectiva sobre a “inutilidade” dos observadores é clara: “Ter ou não ter observadores não é a
              mesma coisa. Os relatórios podem ser ignorados, mas a verdade é revelada.”
              »

              «“É importante estar para perceber a cultura”, sublinha Carlos Guímaro, lembrando que em Moçambique, por exemplo, nunca se diz “ainda não”… Se perguntam; “Já foste votar?” A resposta será: “Ainda” — significando “ainda não”. “Um observador tem de saber ler com todos os sentidos”, salientou. Carlos Guímaro e Pedro Teixeira, que estiveram presentes nas últimas eleições em Moçambique, partilham a convicção de que suas ações são como sementes lançadas à terra, com o potencial de crescer e de dar bons frutos. Madalena, por sua vez, acredita firmemente que, entre sorrisos e lágrimas, a verdade que sustenta os direitos humanos sempre prevalecerá. Martim Freire, que dedicou a vida a desenterrar silêncios hostis à liberdade, reitera o seu compromisso: mesmo de bicicleta, continuará a lutar incansavelmente para que os valores da democracia, por todo o lado, dêem à razão a sua própria voz.»

              Do ponto de vista da Tolerância, o que se pode concluir a partir destes excertos ou de toda a reportagem? Na minha opinião, que a Tolerância pede muitas vezes pede persistência e força para resistir; capacidade para saber perder, serenidade no contacto com a mentira, perceber o que é para tratar agora e o que pode ser deixado para depois; e o que, não obstante toda a largueza da Tolerância, nunca deve tolerado.

              São mais algumas pistas para os trabalhos da Educação para a Tolerância. Estou a lembrar-me de alguns jogos... Jogos longos, que durem muito, com derrotas pelo meio, mas que a hipótese de ganhar no fim se mantenha duradouramente... Até jogo de cartas, à mesa... Observar os adversários, perceber-lhes o 'bluff' nos olhos, nos gestos e nas palavras...

              #tolerância#tolerance#Tolerancia#tolérance#tolleranza#toleranz#tolerantie#宽容#寛容#관용#सहिष्णुता , #סובלנות#हष्णत#Ανοχή#Hoşgörü#tolerans#toleranță#толерантность#التس 

              quinta-feira, agosto 14, 2025

              #TOLERÂNCIA228 - TOLERÂNCIA E MANSIDÃO

               #TOLERÂNCIA228 - TOLERÂNCIA E MANSIDÃO

              Quando se fala em mansidão, na Cultura Ocidental é quase automático vir ao pensamento as ovelhas e o Sermão da Montanha e a bem-aventurança afirmada por Jesus em que são "Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra."

              Hoje apeteceu-me chegar aos autores italianos, bem-aventurado seria eu se soubesse a razão porque assim me apeteceu. Uma vaga busca na Net levou-me a Norberto Bobbio (1909-2004), que me foi apresentado como um dos mais importantes filósofos, juristas e historiadores italianos do século XX. Foi Professor de Filosofia do Direito e de Filosofia Política na Universidade de Turim, e destacou-se por uma visão liberal-socialista, a pela defesa da democracia e dos direitos humanos.

              Fui procurá-lo e encontrei um pequeno texto em que ele relaciona a Tolerância (tolleranza) com a Mansidão (mitezza). A minha primeira reacção à defesa da Mansidão, reconheci-o imediatamente, foi de repulsa, mas não deixei de tentar conhecer um pouco melhor o pensamento do autor italiano.

              Talvez movido pela proverbial preguiça mental das férias estivais e do calor, puxei pelos 'chatbots' e juntei alguma informação a partir de 2 ou 3 textos originais em italiano. Mesmo que preguiçosamente, foram mais de três horas agarrado aos textos e às pesquisas na Net!

              Fixou-me o interesse no autor o facto de os seus textos ajudarem numa coisa que eu gosto muito: a discriminação ou diferenciação conceptual. Ao fim das tais 3 horas (mais de 3 horas...), sintetizo as o pensamento conceptual de Norberto Bobbio assim, num universo de virtudes:

              1) A mansidão é uma virtude social e activa, distinta da passividade da mansuetude, que só se manifesta na relação com o outro. É oposta à arrogância, prepotência e vontade de dominar, recusando a lógica da competição e do poder.

              2) N. Bobbio distingue “virtudes fortes” (coragem, audácia) das “virtudes fracas” (humildade, simplicidade, mansidão), igualmente nobres, mas sem vínculo ao poder político.

              3) O manso “deixa o outro ser o que é” sem exigir reciprocidade, actuando por convicção e não por fraqueza. (Ele vai depois dizer que é precisamente aqui que a Mansidão se distingue da Tolerância, porque, na sua perspectiva, a Tolerância reclama sempre reciprocidade)

              4) A mansidão difere de remissividade, cedência, humildade ou modéstia, embora possa coexistir com elas. E complementa-se com a simplicidade (clareza, ausência de duplicidade) e a compaixão.

              5) A mansidão é a virtude mais “impolítica”, incompatível com a luta pelo poder definida por Maquiavel ou Schmitt. Funciona como antídoto contra a violência, inclusive a ameaça nuclear e o terrorismo do século XX.

              6) A mansidão representa uma escolha ética e “metafísica”, imaginando uma sociedade governada pela gentileza e não pela força. Identifica-se com a não-violência e com a esperança de um mundo sem vencedores nem vencidos.

              7) Focando um pouco mais profundamente a diferença entre a Mansidão e a Tolerância, o autor italiano diz que a Mansidão é a "atitude activa e social de não-violência, que “deixa o outro ser o que é” sem exigir reciprocidade" e a Tolerância é o "respeito activo por ideias, práticas ou modos de vida diferentes, desde que não prejudiquem direitos fundamentais. O manso é naturalmente tolerante, mas a sua acção não depende de reciprocidade. Tolerância é recíproca por definição; a mansidão não exige que o outro retribua.

              No texto "Elogio da Mansidão", Norberto Bobbio escreve assim a certa altura: «Como toda a virtude se define melhor tendo presente o vício contrário, o contrário de mansidão, no sentido em que se diz ‘pena mansa’, é severidade, rigor — pelo que ‘mansidão’, nesta acepção, pode também ser traduzida por ‘indulgência’. E não é certamente este o significado que adoptei nesta minha apologia.» Diz que a Tolerância é um contrato e dura enquanto dura o contrato, a Mansidão é uma dádiva e não limite de prestabilidade.

              Sim, são interessantes propostas de reflexão. Estaremos sempre necessitados de alargar os nossos pensamentos à volta da Tolerância e de outros conceitos, tanto afins como opostos. Guardo esta estação na lista das estações a revisitar.

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