sábado, agosto 02, 2025

#TOLERÂNCIA216 - TRUMP, UM LÍDER INTOLERANTE?

 #TOLERÂNCIA216 - TRUMP, UM LÍDER INTOLERANTE?

Infelizmente, não é o único em muitas das lideranças vigentes nos países do Mundo.

Donald Trump, que governa um dos 2 ou 3 países mais influentes nas dinâmicas políticas, económicas e bélicas do Mundo, é um personagem bastante polémico, desconcertante, desesperante para muita gente de praticamente todos os países. Invectivado e odiado por uns e adorado e adulado por outros, é personagem complicada para as mentes humanas que, em geral, gostam de entender os líderes políticos e terem deles alguma previsibilidade de comportamento e acções.

Jean-François Marmion é psicólogo de formação, é escritor e jornalista de temas científicos. É, no fundo, um daqueles profissionais da escrita que ajuda os cidadãos a organizarem entendimentos e a encontrarem palavras para exprimirem o que sentem e pensam. Por isso dele trago para aqui este seu texto, publicado na "Sciences Humaines" no dia 23 de Julho de 2025:

«Donald Trump, o troll supremo?

»O 45.º e 47.º presidente dos Estados Unidos é frequentemente apelidado de idiota. Isso é pouco! Poder-se-ia dizer, ó Deus!, muitas coisas em suma. Ele é um troll, um trickster! Que digo eu, é uma

tétrade negra! Mas não nos entusiasmemos e verifiquemos tudo isto.

»Donald Trump ousa tudo: é mesmo por isso que o reconhecemos. Desde 2018, quando dezenas de académicos foram convidados pela Sciences Humaines a dar o seu próprio esclarecimento sobre a estupidez humana, muitos, especialmente nos Estados Unidos, citaram-no espontaneamente como o idiota por excelência. Aaron James, professor de filosofia em Irvine, até o qualifica como "über idiota", uma espécie de super-homem e padrão da estupidez menos brilhante.

»Um parvalhão exemplar?

»Aaron James explica que o idiota comum acredita ser moralmente superior aos outros, exige privilégios sem os merecer e é impermeável a qualquer crítica. Donald Trump, deste ponto de vista, poderia de facto ser um caso exemplar, tratando as instituições como acessórios, os indivíduos como instrumentos e as regras como obstáculos a contornar, exceto quando o protegem. Acusado de 91 crimes em 4 casos, considerado culpado em 34 num deles (o resto está pendente), ele diz-se perseguido enquanto incita ao linchamento mediático ou judicial dos seus adversários. Robert Sutton, professor de Gestão em Stanford, sublinha ainda que o idiota se revela como um destruidor do ambiente relacional: alguém que humilha, domina, stressa e esgota os outros. Ora, Donald Trump, empresário e depois presidente, é acusado de transformar o assédio hierárquico numa arte de viver, com explosões irracionais, desprezo por conselheiros competentes e valorização dos aduladores. A sua réplica mais famosa, afinal, é um "You’re fired!" ("Está despedido!"), proferido friamente ao longo da sua carreira, desde a televisão real até aos tweets. Ele vive num mundo que molda à sua medida, onde qualquer crítica é percebida como uma traição ao seu estatuto de macho alfa visionário. Robert Sutton fala do "teste do efeito": o idiota putativo destrói mais energia à sua volta do que cria? No caso de Trump, a resposta parece ser esmagadoramente positiva. Se Donald Trump fosse realmente um idiota, seria então um idiota estrutural: as suas extravagâncias não seriam desvios de conduta, mas sim uma tendência de fundo.

»Dito isto, os maldosos poderiam atribuir-lhe outros epítetos, como o transtorno de personalidade antissocial, descrito na 5.ª edição do DSM (o manual de classificação psiquiátrica americana) como um desprezo persistente pelos direitos dos outros, comportamentos impulsivos e manipuladores, tendência para a irresponsabilidade, ausência de remorsos… Em Donald Trump, vários comportamentos públicos coincidem ou aproximam-se perigosamente destas características: impulsividade nas redes sociais, incapacidade manifesta de reconhecer um erro ou expressar qualquer remorso (sobre a invasão do Capitólio, as suas infidelidades à mulher grávida…), falta de empatia pelas vítimas das suas políticas (como a ideia de declarar oficialmente mortos e, portanto, inelegíveis para qualquer ajuda social 6.000 imigrantes latinos, ou a proibição aos americanos expatriados na China de se apaixonarem por um local…). O diagnóstico de personalidade antissocial nunca foi oficialmente feito, mas dezenas de especialistas questionam-se seriamente sobre isso. Incluindo a sua própria sobrinha, psicóloga clínica.

»Tétrade negra e ‘trollismo’

Mais especulativa do que a personalidade antissocial, mas interessante para o caso Trump, a Psicologia propõe uma noção próxima chamada "tríade negra" da personalidade. Neste caso, um aglomerado de três traços de carácter tóxicos:

»Narcisismo (sentimento de superioridade, necessidade constante de admiração). Donald Trump parece obcecado pela sua grandeza, totalmente dependente da adulação, alimentando uma necessidade constante de dominação simbólica. A sorte extraordinária que lhe permitiu ser reeleito apesar dos seus problemas judiciais e escapar à morte por um triz confirmaria qualquer um menos narcisista do que ele no seu direito…

»Maquiavelismo (manipulação fria, instrumentalização dos outros). Donald Trump é suspeito de usar não apenas os seus subordinados, mas também os seus apoiantes como peões num jogo de poder.

»Psicopatia (ausência de empatia e impulsividade). Trump demonstra uma incapacidade de antecipar as consequências dos seus actos (minimizar a Covid ou preconizar injeções de lixívia…), ausência de remorsos e indiferença pelo destino daqueles a quem prejudica, desde que ganhe algo.

»Alguns investigadores propõem acrescentar um quarto traço de personalidade:

»Sadismo (prazer em infligir sofrimento ou humilhação). O presidente parece ter prazer em humilhar, especialmente em público. Atribui alcunhas depreciativas aos adversários ("Crooked Hillary", "Sleepy Joe"…), goza com as aparências físicas (chamando à apresentadora Rosie O’Donnell porca ou dizendo da sua rival Carly Fiorina: "Olhem para esta cara! Alguém votaria nisto?"), deleita-se com o sofrimento moral dos jornalistas ou das minorias. E convida Zelensky para o Gabinete Oval só para o rebaixar perante o mundo.

»O sadismo não é aceite por todos os investigadores como devendo acompanhar os três traços anteriores. Seja como for, Donald Trump destaca-se pela crueldade social sem complexos. Ora, o sadismo quotidiano é um bom preditor do ‘trollismo’.

»Sim, desde o aparecimento dos fóruns na Internet, mesmo antes das redes sociais, o ‘troll’ é um autêntico objeto de estudo em Psicologia Social. Longe de ser um brincalhão que provoca por diversão, ele procura activamente provocar, frustrar e chocar os outros, para seu próprio prazer. O ‘trollismo’ está, portanto, frequentemente associado a uma forma de sadismo, combinado com narcisismo e prazer na disrupção. É fácil imaginar Trump como um ‘troll’ a praticar a provocação permanente, incitando ao conflito, contradizendo-se de um dia para o outro, improvisando. No primeiro debate presidencial com Biden, por exemplo, que ele interrompeu 128 vezes em 90 minutos, pode-se pensar que estava numa lógica de ‘trollagem’ destrutiva, não de debate. Algumas das suas afirmações são por vezes tão surpreendentes ("Não há um único lugar vazio", declarou ele num comício perante uma sala meio vazia filmada pela televisão) que parecem feitas não para serem acreditadas, mas para serem repetidas, como um meme.

»Não contente em explodir as normas discursivas, Donald Trump parece divertir-se com a indignação que provoca, como um ‘troll’ de estatuto elevado, uma espécie de ‘über idiota’ ainda mais intencional: quanto mais choca, mais visível é, mais o seu comportamento é reforçado. Trump encarnaria então uma figura totémica da personalidade tóxica pós-moderna: um ‘troll’ criado na televisão real, alimentado pelo conflito, eleito pelo ressentimento e sobrevivendo graças à indignação que provoca.

»O rei vai nu, mas passa em ‘loop’ na televisão

»Tal como o idiota, a personalidade antissocial, o ‘troll’ ou o indivíduo marcado pela tétrade negra, falta decididamente a Donald Trump um ingrediente importante do que faz um ser humano: a empatia. Recordemos uma observação que Alison Gopnik, professora de Psicologia em Berkeley, menciona regularmente: Trump apresentaria as características de uma criança malcriada obcecada pelo seu próprio prazer. Mal-educado, caprichoso, tirânico, barulhento, intolerante à frustração. Se quisermos especular sobre o melhor rótulo para lhe atribuir, talvez este aspecto imprevisível e infantil o faça destacar-se numa outra categoria ainda, aqui apresentada como hipótese: Donald Trump assemelha-se surpreendentemente a um ‘trickster’. O que quer isto dizer? Em Antropologia, o ‘trickster’ (ou "embusteiro divino") é uma entidade divina, espiritual ou demoníaca, que engana e transgride como respira. Muitas vezes ridículo, por vezes perigoso, é um mentiroso astuto (Trump em modo ‘fake news’ permanente), um profanador (Trump a abençoar os seus apoiantes que invadem o Capitólio), um agente de ambiguidade moral. Na mitologia ameríndia, por exemplo, o ‘trickster’ Coyote rouba, engana, choca, mas também revela as insuficiências e hipocrisias dos mortais e da sua sociedade. Talvez Donald Trump proceda assim, sem o querer: mostrou pela sua carreira que a democracia americana é mais frágil do que se pensava, que o jornalismo "objetivo" é permeável ao espetáculo, que a classe média branca contém a sua raiva há muito tempo, que a ira popular pode eleger um palhaço triste.

»Galeria dos deuses idiotas e odiosos

»Com ele, o rei vai nu: não é preciso diploma, boas maneiras, empatia, projeto que não seja enriquecer, respeito pela palavra ou pela lei. O ‘trickster’ Trump revela o que a democracia tolera, o que o espetáculo celebra e o que o digital amplifica. Ele mostra que o problema não é ele, mas que possa aceder legalmente, não ao comando de uma república das bananas, mas à Casa Branca. Duas vezes. É como no episódio III de Star Wars, quando Palpatine adquire legalmente plenos poderes: "É assim que a liberdade morre: com uma salva de palmas." Mas Palpatine é um jogador de xadrez, não um ‘punk’ permanentemente preocupado em chamar a atenção com as suas bravatas.

»É por isso que decretar que Trump é um idiota é uma explicação um pouco curta. Se ele fosse só isso! Aviso à população: o homem mais poderoso do mundo, aquele que pode desencadear uma guerra nuclear, é talvez um ‘trickster’. Bom em nada, mas capaz de tudo. Ele está aqui pela vontade do povo. Portanto, é possível. Tal como se pensou que não se poderia descer mais baixo do que George W. Bush, talvez um dia o lamentemos, pois um dos seus sucessores poderá aplicar a mesma receita de forma ainda pior. Não há razão para que Trump seja o último do seu género ou o pior.

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quinta-feira, julho 31, 2025

#TOLERÂNCIA214 - PALESTINA: INTOLERANTES E COMPROMETIDOS

 #TOLERÂNCIA214 - PALESTINA: INTOLERANTES E COMPROMETIDOS

Fiquei na dúvida se dizia "comprometidos" ou "covardes"...

São cada vez mais os Governos que anunciam o reconhecimento do Estado da Palestina. Por mim, saúdo vivamente que assim seja.

Os Governos que não tomam posição de intolerância perante o sofrimento e a tragédia que o Estado de Israel continua a infligir à Faixa de Gaza e aos Palestinianos, na minha opinião, ou estão comprometidos com o Governo de Israel ou são covardes.

Por cá, em Portugal, saúdo o Partido Socialista, com o que lei na edição de hoje do Público:

«Na bancada do PS, que integrava o GPA [grupo parlamentar de amizade, com Israel]desde sempre, não há agora qualquer deputado interessado em pertencer-lhe devido à atitude mais radical de Israel no conflito na Faixa de Gaza desde Março, com atropelos ao direito internacional e aos direitos humanos. [...] "O PS sempre integrou os dois GPA desde que foram criados. A situação actual é fruto da situação intolerável que o Governo de Israel tem vindo a agravar desde Março deste ano"», argumenta Delgado Alves.

Que a Intolerância contra o Governo de Benjamin Netanyahu continue!

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quarta-feira, julho 30, 2025

#TOLERÂNCIA213 - NÃO HÁ TOLERÂNCIAS SEM TOLERÂNCIA

 #TOLERÂNCIA213 - NÃO HÁ TOLERÂNCIAS SEM TOLERÂNCIA

A ideia que hoje trago é a de que que não se tolera isto, ou aquilo, ou aqueloutro. Tolera-se isto e aquilo e aqueloutro. A tolerância não é disjuntiva, é copulativa.

Pedro Adão e Silva é colunista do diário Público, e assina na edição de hoje do jornal um artigo a partir do livro de memórias do jornalista [britânico] Daniel Finkelstein, em que relata as vidas dos seus avós, resistentes dos campos de concentração Nazis e da Sibéria, que encontraram uma nova vida na Inglaterra do pós-guerra. Diz Pedro Adão e Silva que «o livro inscreve-se numa tradição intelectual renovada, na qual descendentes de sobreviventes do Holocausto recuperam vivências familiares e, com isso, cumprem o dever moral de memória da memória. Nesse sentido, [o livro ] "Hitler, Stalin, Mum and Dad -A Family Memoir of Miraculous Survival" não difere de outros exercícios memorialísticos que, através das singularidades de histórias familiares, resgatam o passado e ajudam a impedir que este se repita.»

«a certo momento, Finkelstein reflecte sobre o processo de esquecimento do genocídio de judeus, iniciado logo em 1945. Os sobreviventes dos campos, muitas vezes, preferiam não falar, e, para os demais, a consciência do sucedido era colectivamente ingerível.

»Subitamente, poucos compreendiam a necessidade de estudar ideologias racistas ou de fixar a memória dos crimes do Holocausto. Aliás, assim que a guerra terminou, Wiener - cujo trabalho fora financiado pelos governos norte-americanos e britânico - perdeu o essencial do seu apoio. No entanto, com
financiamento privado, a biblioteca manteve-se viva e o seu mentor compreendeu que o seu propósito
não deveria limitar-se à compreensão do antissemitismo, pois este não podia ser isolado das outras formas de intolerância, ódio e racismo.

»Perdoem-me a longa digressão, mas, perante o que se passa em Gaza - um território marcado por um horror que recorda aquele que vitimou milhões de judeus nos campos de extermínio -, é inquietante pensar na manifestação de esquecimento destes actos. Como é possível que o Estado de Israel, erigido para resgatar o povo judeu do seu martírio histórico, seja capaz de infligir um terror absoluto ao
povo martirizado da Palestina?»

Tive curiosidade e fui procurar o livro. Sim, lá encontrei esta passagem:

«Por volta de 1960, a saúde de Alfred [Alfred Wiener (1885-1964), judeu alemão, intelectual e activista anti-nazi; avô materno de Daniel Finkelstein]começou a deteriorar-se. Reformou-se da Biblioteca – na

verdade, uma semi-reforma, pois só a morte poderia realmente pôr termo à sua vida laboral – em 1961, aos setenta e seis anos. Ao anunciar a sua decisão, enfatizou a necessidade de combater o problema mais amplo do racismo:

»"Sempre acreditámos que não adianta isolar o antissemitismo de todas as outras formas de intolerância e ódio nas relações humanas, e que não se pode combater com sucesso o preconceito antijudaico ignorando a barreira racial ou outras manifestações de racismo. Na Biblioteca, hoje, prestamos atenção não apenas ao antissemitismo e ao nazismo, mas também aos movimentos fascistas e racistas."

»Passado um ano ou dois, só conseguiu contribuir para este trabalho por correspondência. Cada vez mais acamado ou, quando muito, capaz de se sentar numa poltrona a ler.

»A 4 de Fevereiro de 1964, Alfred faleceu, pouco antes de completar setenta e nove anos, com Lotte e os meus pais ao seu lado. A notícia apareceu na maioria dos principais jornais da Grã-Bretanha, dos EUA e especialmente da Alemanha. "Alfred Wiener, o Homem que Arquivo os Dados Nazis", foi o título do artigo do The New York Times. O Presidente da República Federal da Alemanha, Heinrich Lübke, agradeceu-lhe publicamente pela sua "magnanimidade". O Chanceler Ludwig Erhard afirmou que Alfred seria longamente recordado na Alemanha e que fora um dos emigrantes mais importantes de sempre.

»Quando se reencontrou com as filhas em 1945 e elas lhe disseram que tinham deitado as suas condecorações de guerra ao mar, perto da Estátua da Liberdade, Alfred ficou perturbado. Isto parece desconcertante. Porque haveria ele de querer algo alemão, quanto mais insígnias militares? Certamente compreenderia que, naquelas circunstâncias, não valia a pena correr sequer o mais pequeno risco por uns pedaços de metal alemães.

»Mas deitar fora as suas medalhas negava duas coisas que eram fundamentais para Alfred. Ele acreditava no poder da verdade. Descobrir a verdade, revelar a verdade, ajudar as pessoas a compreender a verdade – esse fora o trabalho da sua vida. Em 1945, ainda aguardava a vindicação dessa crença. Não é difícil perceber porque é que este homem, com a sua fé na verdade, achou deprimente que a verdade do seu serviço e das suas condecorações de guerra fosse algo que tinha de ser escondido.

»No entanto, embora isto explicasse parte da sua reação, era a parte menor. O que terá pesado mais para Alfred, mais até do que a negação da verdade, foi a negação da sua identidade alemã. A indicação de que, no que lhe reservava o futuro, ser alemão era algo que seria melhor ser deixado nas profundezas.»

A proposta da reflexão de Daniel Finkelstein pede uma discussão bem objectiva: aprofundando a Educação da Tolerância, automaticamente estaremos a educar o combate ao anti-semitismo, ao racismo e a outras dinâmicas comportamentais de repulsa, discriminação e exclusão. As implicações para a escolha de focos de acção pedagógica são importantes.

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terça-feira, julho 29, 2025

#TOLERÂNCIA212 - A DESTRUIÇÃO EM MASSA DE GAZA É INTOLERÁVEL

 #TOLERÂNCIA212 - A DESTRUIÇÃO EM MASSA DE GAZA É INTOLERÁVEL

Intervenção do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, na sessão de encerramento da Conferência Internacional de Alto Nível para a Resolução Pacífica da Questão da Palestina e Implementação da Solução de Dois Estados, em 28 de Julho de 2015:

Excelências,
Senhoras e Senhores,

Agradeço ao governo da França e ao Reino da Arábia Saudita pela organização desta conferência

internacional sobre a implementação da solução de dois Estados.

Estamos hoje aqui de olhos bem abertos – plenamente conscientes dos desafios que enfrentamos. Sabemos que o conflito israelo-palestiniano perdura há gerações – desafiando esperanças... desafiando a diplomacia... desafiando inúmeras resoluções e desafiando o direito internacional.

Sabemos que o conflito continua a ceifar vidas, a destruir futuros e a desestabilizar a região e o nosso mundo. Mas sabemos também que a sua persistência não é inevitável. Pode ser resolvido.

Isso exige vontade política e liderança corajosa. E exige verdade. A verdade é esta: estamos num ponto de rutura. A solução de dois Estados está mais distante do que nunca.

Excelências,

Nada pode justificar os horríveis ataques terroristas de 7 de outubro pelo Hamas e a tomada de reféns, os quais condenei repetidamente. E nada pode justificar a obliteração de Gaza que se desenrolou perante os olhos do mundo. A fome da população. O assassínio de dezenas de milhares de civis. A maior fragmentação do Território Palestiniano Ocupado. A expansão implacável dos colonatos. O aumento da violência dos colonos contra os palestinianos. A demolição de casas e o deslocamento forçado de populações. As alterações demográficas no terreno. A ausência de qualquer solução política credível.

E o apoio – expresso numa declaração do Knesset votada na semana passada – à anexação da Cisjordânia Ocupada.

Sejamos claros:

A anexação gradual da Cisjordânia ocupada é ilegal. Tem de parar. A destruição em massa de Gaza é intolerável. Tem de parar. As ações unilaterais que prejudicariam para sempre a solução de dois Estados são inaceitáveis. Têm de parar.

Excelências,

Estes não são eventos isolados. Fazem parte de uma realidade sistémica que está a desmantelar os alicerces da paz no Médio Oriente. E, no entanto, precisamente devido a estas realidades sombrias, devemos fazer ainda mais para concretizar a solução de dois Estados. A conferência de hoje é uma oportunidade rara e indispensável. Temos de garantir que não se torne mais um exercício de retórica bem-intencionada. Pode e deve servir como um ponto de viragem decisivo – um catalisador para progressos irreversíveis no sentido de pôr fim à ocupação e realizar a nossa aspiração comum de uma solução viável de dois Estados.

A solução de dois Estados continua a ser o único enquadramento enraizado no direito internacional, endossado por esta Assembleia e apoiado pela comunidade internacional. Especificamente:

Israel e Palestina, vivendo lado a lado em paz e segurança, dentro de fronteiras seguras e reconhecidas, com base nas linhas anteriores a 1967, com Jerusalém como capital de ambos os Estados – Em conformidade com o direito internacional, as resoluções da ONU e outros acordos relevantes.

Dois Estados independentes, contíguos, democráticos e soberanos, reconhecidos por todos e plenamente integrados na comunidade internacional. É o único caminho credível para uma paz justa e duradoura entre israelitas e palestinianos. E é condição 'sine qua non' para a paz em todo o Médio Oriente.

Excelências,

Israel, a Palestina e outros terão de tomar decisões difíceis neste caminho. Será necessária uma liderança corajosa e baseada em princípios de todos os lados. Estamos aqui para encorajar e apoiar esse esforço.

Obrigado por se reunirem para avançar esta causa essencial para os povos de Israel, da Palestina e para toda a humanidade. Obrigado.

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segunda-feira, julho 28, 2025

#TOLERÂNCIA211 - PÓS-VERDADE, 'FAKE NEWS, TRETAS (BULLSHIT): AS NOVAS VARIANTES DA ESTUPIDEZ

 #TOLERÂNCIA211 - PÓS-VERDADE, 'FAKE NEWS, TRETAS (BULLSHIT): AS NOVAS VARIANTES DA ESTUPIDEZ

Li na edição 'on-line' da Sciences Humaines, com a data de 19 de Julho, um artigo assinado por Sebastian Dieguez, neuropsicólogo e investigador no Laboratório de Ciências Cognitivas e Neurológicas da Universidade de Friburgo.

Em tempos em que os conceitos "fake news" e "desinformação" parecem funcionar como elementos absorventes do mal-informar, dificultando a percepção clara das mentiras, dos seus autores, e da determinação de estratégias adequadas para combater as mentiras e os aldrabões, o texto de Sebastian

Dieguez parece-me oportuno e útil para um proveitoso esclarecimento conceptual: porque se tolera o "artista da treta" como não se toleram outros aldrabões?

Vamos ao texto, ou melhor, ao primeiro terço dele, o artigo é muito grande.

«Quando a verdade se torna acessória e a desfaçatez faz lei, a estupidez ['connerie' no original francês] 2.0 instala-se no cerne do debate público. Bem-vindos à era da treta [do 'bullshit', da parvoíce].

»Num contexto de tensões diplomáticas, terrorismo e guerras intermináveis, de destruição metódica do nosso ambiente e de uma economia que só beneficia um punhado de indivíduos — aliás, sem indícios de que sejam particularmente inteligentes —, a nossa época parece totalmente devotada ao triunfo da estupidez. E se, no fundo, tudo isto não passasse de treta [bullshit]?

»Não que a estupidez não exista ou que a situação actual deixe de ser alarmante. Proponho antes que o que parece ser um declínio generalizado da inteligência se compreende melhor se interpretado como um aumento da treta. Na verdade, a estupidez não é — ou não é apenas — o oposto da inteligência. Pode-se ser muito inteligente e muito parvo: basta colocar qualquer intelectual num cargo político ou incentivar um qualquer especialista a falar sobre um tema que não domina. O que daí resulta chama-se treta.

»Segundo a célebre análise do filósofo Harry Frankfurt, a essência da treta é uma indiferença perante a verdade. Ao contrário do mentiroso, que precisa de manter um olho na verdade para a distorcer ou ocultar, o 'artista da treta' está-se nas tintas. Desata a dizer o que lhe vem à cabeça, desde que lhe convenha, sem qualquer preocupação com a veracidade ou falsidade do que afirma. Desbunda alegremente, e para tal dispõe de múltiplas estratégias: cortina de fumo, confusão deliberada, mudança de assunto, obscurantismo, lirismo, solenidade afetada, linguagem burocrática, discurso oco, tanga… Seja como for, o 'artista da treta', como diz Frankfurt, procura «safar-se» a custo zero, fingindo que diz algo quando na realidade não diz nada — no sentido de que não transmite qualquer informação relevante. A treta é, assim, uma forma de camuflagem epistémica: faz-se passar por contributo para a discussão, enquanto obstrui o seu avanço. É, em suma, o oposto do progresso discursivo.

»Porque toleramos este parasita intelectual? Afinal, o mentiroso, quando desmascarado, é geralmente repreendido, desprezado e rejeitado; já o 'artista da treta' parece agir com total impunidade. Por um lado, somos excessivamente indulgentes com a treta: se alguém diz qualquer disparate, o nosso primeiro reflexo é tentar encontrar sentido no seu discurso, inferir como poderá ser relevante na situação dada e, se necessário, fornecer uma interpretação que satisfaça essa necessidade. Muitas vezes, são as próprias vítimas da treta que fazem grande parte do trabalho por quem a produz.

»Por outro lado, a treta beneficia também de certa cultura predominante: se a desfaçatez, a autoconfiança, a 'autenticidade' e a 'sinceridade' forem mais valorizadas do que o simples acto de dizer algo claro e correcto, então a treta não só passará despercebida como poderá prosperar. Frankfurt concluía a sua análise com estas palavras: «A própria sinceridade é treta». Falar «com o coração», exprimir-se «com ardor e paixão», dizer «o que se pensa realmente», conversar «homem para homem», ser «directo» e «franco como um alqueire» — estes são, hoje, valores muito mais celebrados do que o rigor, a prudência, a precisão e a exactidão, chegando mesmo a substituí-los.

»Se esta análise estiver correcta, parece que temos uma explicação para o surgimento da «pós-verdade», definida pelos dicionários Oxford (que a elegeram a «palavra do ano» em 2016) como um adjetivo que descreve «circunstâncias em que os factos objetivos têm menos influência na formação da opinião pública do que os apelos à emoção e às crenças pessoais». O corolário imediato desta situação seria que qualquer pessoa que não partilhe a nossa opinião está 'de facto' errada, procura manipular-nos, é profundamente imoral e não respeita as nossas crenças — que são a nossa verdade. Daí resulta uma polarização do debate.

»Neste processo infernal, naturalmente, a verdade, os factos, a realidade das coisas, o que é verdadeiramente assim ou não, tornam-se conceitos totalmente secundários — quando não francamente suspeitos. Um observador imparcial, perante esta dinâmica em acção, não teria outra opção senão questionar-se: no fundo, não será tudo isto um pouco estúpido?

»Treta, pós-verdade, factos alternativos, notícias falsas e teorias da conspiração serão simplesmente os novos nomes que damos à parvoíce

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domingo, julho 27, 2025

#TOLERÂNCIA2010 - A TOLERÂNCIA E A INVEJA

 #TOLERÂNCIA2010 - A TOLERÂNCIA E A INVEJA

Com sabor a homilia domingueira, bem poderia o padre celebrante discorrer a partir deste meio verso de Fernando Pessoa: «a minha alma não tolera». E o que é que a alma do sujeito poético não tolera? E quanta inveja alimenta a intolerância? Vale a pena ler o poema na íntegra. Num ambiente de reflexão comungada por várias pessoas, o proveito certamente será grande para todas elas. No fundo, como se deseja que sejam as celebrações religiosas de sábado ou domingo.

«O pensar, e o pensar sempre / Dá-me uma forma íntima e (…)(1) / De sentir, que me torna desumano. / Já irmanar não posso o sentimento / Com o sentimento doutros, misantropo / Inevitavelmente e em minha essência.

»Toda a alegria me gela, me faz ódio, / Toda a tristeza alheia me aborrece, / Absorto eu na minha, maior muito / Que outras. E a alegria faz-me odiar / Porque eu alegre já não posso ser, / E, conquanto

o não queira assim sentir / Sinto em mim que a minha alma não tolera / Que seja alguém do que ela mais feliz. / O rir insulta-me por existir, / Que eu sinto que não quero que alguém ria / Enquanto eu não puder! Se acaso tento / Sentir, querer, só quero incoerências / De indefinida aspiração imensa, / Que mesmo no seu sonho é desmedida. / E às vezes com pensar sinto crescer / Em mim loucuras de (…) / E impulsos que me transem de terror / Mas são apenas (…) e passam. / Mais de sempre é em mim (quando não penso / E estou no pensamento obscurecido) / Uma vaga e (…) aspiração / Quiescente, febril e dolorosa / Nascida do (…) pensamento / E acompanhando-o comovidamente / Nas inércias obscuras do meu ser.»

(1) As reticências entre parêntesis significam palavras do autor que não se conseguiram identificar.

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sábado, julho 26, 2025

#TOLERÂNCIA209 - SER TOLERANTE É SER CIDADÃO ACTIVO

 #TOLERÂNCIA209 - SER TOLERANTE É SER CIDADÃO ACTIVO

Muitas vezes, por mais que a gente pense que a nossa voz é muito importante e deve ser ouvida, o melhor que há a fazer é unir a nossa voz a outros, à escrita dos outros. É o que agora faço. Juntos, a nossa voz pode chegar mais longe. Temos de saber não tolerar mais e passar à acção que o mostre, que pare o que é preciso parar.

Em Gaza, a Tolerância nega a Humanidade, a Solidariedade, o Respeito, a Empatia, os Valores, a Democracia, os Ideais de um mundo melhor, amigos da Diversidade dos Povos e das Culturas Humanas.

Tiago Luz Pedro escreveu assim hoje no editorial do Público:

«Há momentos em que a dignidade do mundo se mede pelo silêncio que se aceita. Gaza é, hojе, esse espelho intolerável: uma terra sitiada onde crianças morrem à fome, hospitais operam sem anestesia e a água potável é um luxo inalcançável. Não se trata de uma calamidade natural. Trata-se de uma
engenharia deliberada da escassez, em que a fome se tornou instrumento de guerra e a sobrevivência, um mero acaso estatístico.

»Nenhuma democracia digna desse nome pode pactuar com a punição colectiva de um povo inteiro. E, no entanto, é isso que se normaliza dia após dia em Gaza. Israel, com o argumento legítimo da autodefesa, ultrapassou há muito os limites da proporcionalidade. Usa o bloqueio como arma, compromete corredores humanitários, externaliza a distribuição da ajuda a actores privados e sem controlo. O resultado está à vista: crianças com corpos de pele e osso, mães que cavam valas comuns, civis que são alvos enquanto correm por um saco de arroz.

»Mais de cem pessoas morreram de fome em Gaza desde o início da guerra. Quase metade dessas mortes ocorreu só neste mês de Julho. Mais de mil civis foram mortos enquanto tentavam obter ajuda humanitária. Estima-se que 16% das crianças só na cidade de Gaza sofram de desnutrição aguda.

»A comunidade internacional observa, condena, mas hesita. Os Estados Unidos protegem Israel de sanções na ONU. A Europa debate-se entre a culpa histórica e o cálculo geopolítico. É neste contexto que a decisão de Emmanuel Macron de reconhecer formalmente o Estado da Palestina, em Setembro, adquire um significado maior. A França torna-se o primeiro país do G7 a assumir que a única saída possível para este ciclo de destruição é a solução dos dois Estados - e que continuar a tratar os palestinianos como um povo sem direitos nem futuro é prolongar o ciclo do ódio e semear um futuro de novos radicais e novos massacres.

»É, acima de tudo, um apelo à consciência internacional. Porque nenhuma democracia se pode construir sobre a miséria absoluta de outro povo. E porque o Ocidente, que tantas vezes invoca o passado para justificar o presente, não pode ignorar que também o Holocausto começou com a desumanização gradual de um povo tornado invisível.

»Primo Levi escreveu que, nos campos de extermínio, a primeira morte era a da linguagem: quando já não se encontravam palavras parа nomear a destruição de um homem. Gaza é hoje a imagem vívida desse abismo moral. O que está em causa não é apenas a segurança de Israel nem o destino da Palestina. É a decência de todos nós.»

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P.S. - Pedi a um 'chatbot', o "ChatOpen", que me criasse uma imagem que ilustrasse o primeiro parágrafo do editorial. Porquê a este? Porque há pouco mais de um mês, sem saber como, pensando que estava a pagar uma coisa, paguei outra, e o ChatOpen papou-me uma inscrição anual de 100 euros. Ora bem, agora o ChatOpen recusou-se a criar a imagem! Disse que «Your prompt may contain text that is not allowed by our safety system.» É a censura — Paga por nós! — do Grande Irmão! É um desafio para a Liberdade de Expressão e a Defesa dos Direitos Humanos.

sexta-feira, julho 25, 2025

#TOLERÂNCIA208 - DE VOLTA A GANDHI, À TOLERÂNCIA MÚTUA

 #TOLERÂNCIA208 - DE VOLTA A GANDHI, À TOLERÂNCIA MÚTUA

Na estação da #TOLERÂNCIA10 parámos para ouvir Gandhi. Ele falava da "Tolerância Mútua".

Guardei um apontamento dessa etapa, a ideia era lá voltar. Aconteceu hoje.

Na obra da UNESCO "Todos os homens são irmãos", , na edição comemorativa do centenário 1869-1969, na página 143, transcreve-se este pensamento de Gandhi:

«A regra de ouro do comportamento é, portanto, a tolerância mútua, uma vez que nunca pensaremos todos da mesma forma e apenas veremos a Verdade em fragmentos e sob diferentes perspectivas. A consciência não é igual para todos. Assim, embora seja um bom guia para a conduta individual, impor essa conduta a todos constituirá uma intolerável interferência na liberdade de consciência de cada um.»

Mahatma Gandhi nunca ganhou o Prémio Nobel da Paz, apesar de ter sido indicado cinco vezes, em 1937, 1938, 1939, 1947 e, finalmente, poucos dias antes do seu assassinato em Janeiro de 1948. O

comité organizador do Nobel, que, ao que parece, até por volta de 1960, tinha uma preferência muito especial por candidatos europeus e norte-americanos, ter-se-á arrependido das suas opções contra Gandhi.

Gandhi não foi um santo, mas quantos dos laureados com o Prémio Nobel da Paz o foram?

Várias vezes Gandhi usou a adjectivação "mútuo/a", e não apenas em relação a sentimentos positivos; por exemplo, ele também falou em "inveja mútua".

Esta ideia, esta dinâmica comportamental da mutualidade, da reciprocidade, tem um potencial de modificação positiva do relacionamento entre pessoas e grupos muito grande. Não vou riscar de vez esta estação.

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quinta-feira, julho 24, 2025

#TOLERÂNCIA207 - INTOLERÂNCIA, DAS PALAVRAS À ACÇÃO

 #TOLERÂNCIA207 - INTOLERÂNCIA, DAS PALAVRAS À ACÇÃO

O que está a acontecer na Faixa de Gaza, em razão do que Israel (o Estado de Israel, não estou a falar dos judeus, não me venham com a acusação de antissemitismo) tem mantido de destruição e morte, desafia-nos a todos, nas palavras que dizemos e nas acções que praticamos.

Nunca como agora os líderes políticos europeus negaram a identidade histórica dos Direitos Humanos e dos Valores da Paz e da Solidariedade da União Europeia. É intolerante o comportamento do Estado de Israel; e é intolerante o comportamento da União Europeia e dos seus membros. O Reino Unido envergonha a Magna Carta e os Estados Unidos da América os princípios constitucionais fundadores.

Reconheço que o protesto e as manifestações dos cidadãos, em todo o mundo, têm sido muitos, mas sem qualquer sucesso prático, têm sido, em geral, bem educadinhos. Daquele jeito que os Governos gostam para mostrarem que garantem a liberdade de expressão.

Há uma banda desenhada da Mafalda em que a mãe lhe diz que vai à lavandaria e pede à Mafalda que tome conta do bebé por um minuto. A Mafalda anui com um simples «Claro.» A seguir, chega-se ao bebé e, marota, tira a chupeta da boca ao bebé. Resultado: o bebé rompe num berreiro de mil decibéis, a Mafalda entra em pânico, volta a pôr a chupeta na boca do bebé, o bebé sossega. Desabafa a Mafalda: «Se os povos soubessem usar os pulmões como tu, os ditadores iriam ver como é que elas lhes mordiam!»

Pois é, os cidadãos ainda não berraram o suficiente. Fazes falta, Quino... Fazes muita falta! Para nos pores ao espelho e tomarmos consciência das nossas contradições. Dos ditadores e dos (des)governantes do Mundo já não vale a pena falar.

No Público de hoje, Manuel Serrano, que é apresentado como analista de assuntos europeus, políticа
internacional e processos eleitorais, diz que «O silêncio europeu sobre Gaza não é apenas ensurdecedor - é uma humilhação que nos compromete, um olhar para o outro lado intolerável.
Comparativamente, fomos rápidos a levantar a voz contra Moscovo, firmes a condenar, ágeis a sancionar, apesar de Orbán e Fico. Porém, diante de Telavive, tornámo-nos hesitantes. Este é o sintoma de um contágio moral que já não conseguimos disfarçar: o continente que se orgulha dos seus princípios universais aplica-os consoante o rosto do agressor ou o interesse do momento. Dois pesos, duas medidas. Dois códigos que não se anulam, mas se acumulam, fragilizando-nos, porque cada incoerência deixa uma cicatriz que nenhum discurso consegue apagar.
Mais do que uma omissão, a Europa assiste ao avanço de um projeto que redefine, sem pudor, a barbárie no século XXI. A "cidade humanitária" - expressão cínica do ministro da Defesa israelita para designar a construção sobre as ruínas de Rafah - não passa de um eufemismo para um campo de concentração.
São palavras do próprio Ehud Olmert, ex-primeiro-ministro israelita, que não hesita em dar-lhe nome: uma prisão em grande escala, uma limpeza étnica disfarçada de política. Forçar a população palestiniana a viver enclausurada, proibida de sair - salvo para um exílio forçado - é um crime que não admite desculpas.»

12 páginas mais à frente, no mesmo jornal, Rita Siza escreve assim de Bruxelas: «Os termos do acordo que a chefe da diplomacia europeia fechou com o Governo de Israel para um reforço significativo da ajuda humanitária à população da Faixa de Gaza não foram tornados públicos, mas, num ponto de informação aos Estados--membros da União Europeia, ontem, os serviços dirigidos por Kaja Kallas admitiram que "os números estão muito abaixo" das metas estabelecidas, e "são muito inadequados" para responder a uma situação que a cada dia se torna mais "intolerável".»

É outra vez o desafio que leva das palavras à acção: que fazem os líderes da União Europeia perante o que se torna a cada dia mais intolerável? Repito: os que eles fazem envergonham os Valores Europeus.

E nós — profissionais do Ensino, da Educação, da Acção Social, da Psicologia Comunitária — que fazemos? Quando as Mafaldas, os Guis, os Filipes, as Liberdades, os Manelitos, as Susanitas e os Miguelitos vierem ter connosco e nos pedirem respostas para as suas acutilantes perguntas e reflexões, que lhes vamos dizer? Vamos também envergonhar a riquíssima tradição pedagógica de tantos Mestres e Mestras que povoam a História Europeia desde que a reconhecemos na Antiguidade Clássica?

Que Pedagogia pedem estas realidades nas aulas de Educação para a Cidadania?

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quarta-feira, julho 23, 2025

#TOLERÂNCIA206 - QUANDO SE INVOCA A TOLERÂNCIA ZERO

 #TOLERÂNCIA206 - QUANDO SE INVOCA A TOLERÂNCIA ZERO

Na entrevista que a Sábado hoje publica ("Entrevista de vida a ÁLVARO BELEZA"), o entrevistado responde, a certa altura:

Pergunta: «Mas quando entrou depois de 2000, ainda fazia e faz sentido ser maçom?» Resposta: «Ah, claro que faz. Hoje em dia, então, faz mais sentido que nunca. Porque este é um mundo intolerante. Na maçonaria, pratica-se a tolerância pelas convicções dos outros.»

Ainda na Sábado, mais à frente, no artigo "Guia para ser candidato", escrito por Rita Rato Nunes, lê-se assim, no remate final: «Pedro Pinto [do partido Chega] acrescenta: "Tolerância zero à corrupção."»

Penso que vivemos tempos em que os sentimentos de insatisfação e de insegurança são de grande monta, e talvez se distribuam uniformemente por todos os países do mundo, pelo menos naqueles países em que se vulgarizou o uso do telemóvel e da Internet, e as notícias e as "desnotícias" chegam em abundante cascata aos murais das redes sociais e os confrontos entre líderes políticos e militares abrem os telejornais dos canais televisivos. Abrem e ficam quase até ao fim.

Nem o médico sueco Hans Rosling, nem o psicólogo canadiano naturalizado norte-americano Steven Pinker, nem quaisquer outros optimistas como eles, parecem capazes de convencer quem quer que seja do empolgante e promissor Futuro da Humanidade e da saudável Saúde do Ambiente do Planeta Terra.


Quase podemos dizer que a intolerância campeia. As pessoas, pelo menos as do chamado Mundo Ocidental, parecem viver na ânsia de retorno a uma (mítica?) sensação de tranquilidade e clima social sereno e seguro. Numa palavra, as pessoas querem paz de espírito, não querem acordar todos os dias com mais uma notícia de confronto, de oposição, de acusações e recriminações de grupos de pólos — e políticos! — contrários.

Quanto à Tolerância Zero, tem muito que se lhe diga, como já por aqui aflorei.

Conceito, ao que parece, com origem nos Estados Unidos, filho da "Broken Windows Theory" [Teoria das Janelas Partidas], inspiradora de estratégias policiais de contenção da criminalidade pública, é frequentemente usado quando, aparentemente fartos até à raiz dos cabelos, polícias e políticos procuram afirmar-se seguros e firmes na sua autoridade e gritam «Basta!» aos problemas.

Com tanta gente, de todo o espectro partidário, a propor-se combater a corrupção; e a, até agora, nunca ninguém o ter conseguido, talvez não seja uma perda de tempo fazer-se uma quase ingénua pergunta: «O que é a corrupção?»

Ao fim destas mais de 200 jornadas pela geografia da Tolerância, talvez o nosso pensamento rapidamente nos ponha a sugestão: «Como é, vamos fazer um perfil da Corrupção?» Por mim, acho a ideia interessante... A corrupção não castigada de uns poucos gerará a insatisfação legítima de muitos... Da insatisfação legítima da corrupção não castigada à conclusão de que isto está tudo mal a distância é reduzida...

Em Portugal, chegou-se a constituir uma "Alta Autoridade Contra a Corrupção"! A regulamentação legal foi publicada no Diário da República n.º 226/1986, Série I de 1986-10-01, páginas 2812 - 2814. Começava assim:

"A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea (d) do artigo 164.º e do n.º 2 do artigo 169.º da Constituição, o seguinte: ARTIGO 1.º (Definição): Junto da Assembleia da República funciona a Alta Autoridade contra a Corrupção, tendo por incumbência desenvolver as acções de prevenção, de averiguação e de denúncia à entidade competente para a acção penal ou disciplinar dos actos de corrupção e de fraudes e cometidos no exercício de funções administrativas, nomeadamente no âmbito da actividade dos serviços da administração pública central, regional e local, das Forças Armadas, dos institutos públicos, das empresas públicas e de capitais públicos, participadas pelo Estado ou concessionárias de serviços públicos, de exploração de bens do domínio público, incluindo os praticados por titulares dos órgãos de soberania." Passaram 40 anos... No que à corrupção e à percepção dos cidadãos sobre a corrupção diz respeito, o que mudou?

Uma vista de olhos rápida por estudos que avaliam o sucesso das medidas de Tolerância Zero deixa-me decepcionado. Uma ideia que ficará na cabeça das pessoas é que a Tolerância Zero só apanha o peixe pequeno, nunca o peixe graúdo.

Parece-me que o conceito e a atitude da Tolerância Zero precisa também de Educação e de Pedagogia. Registo e guardo, vou ter de voltar a esta estação. É que, nesta altura, já temos ideia de que há coisas, há momentos, há comportamentos que a partir de determinado momento não podem contar mais com a nossa tolerância: qual é a distância entre esse momento e a Tolerância Zero? Não sei responder, tenho de ruminar mais sobre este assunto.

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